terça-feira, 30 de junho de 2015

FAITH NO MORE - SOL INVICTUS

   E lá se foram 18 anos desde o último lançamento do Faith No More, o ótimo Album of the Year. A banda que marcou positivamente, algo raro no mainstream, a década de 90 passou a maior parte deste tempo parada, salvo a tour que passou pelo Brasil em 2009 e outros shows esporádicos, como no SWU de 2011. A expectativa gerada pelo "apenas" sétimo disco de estúdio da banda era enorme, e o resultado é simplesmente fantástico, como todos os outros 6 trabalhos de estúdio. O tempo parece não ter passado, e muito do que se vê em Sol Invictus poderia estar facilmente em Angel Dust ou King for a Day... Fool for a Lifetime. 
   Uma das bandas mais originais da história do Rock, o Faith No More tem a tradição de se reinventar a cada disco, para não dizer a cada música, fazendo sempre uma grande mistura de sons que chegam a um resultado inclassificável. A cabeça extremamente criativa, para não dizer bizarra, do grande Mike Patton é mais uma vez posta a prova com sucesso. Com tudo isso, a sonoridade é realmente única, com o baixo do grande Billy Gould sempre em destaque, assim sendo variável a cada uma das 10 ótimas faixas do trabalho. Posso destacar vários momentos, como a de tom épico e acertadamente arrastado Matador, ou a já clássica Superhero, o típico hit by FNM, nos moldes de From Out of Nowhere. Motherfucker tem aquele refrão grudento e acertado que é uma das marcas da banda, ao lado do tradicional experimentalismo que perdura o restante da canção, sendo também um destaque. As bizarrices completas e indecifráveis do nível de Caralho Voador dão as caras na única Cone of Shame. From The Dead é aquele som perfeito para encerramento de um trabalho. A faixa título é lenta para uma abertura, mas é mais um destaque ao meu ver. Sunny Side Up, Separation Anxiety, Rise Of The Fall e Black Friday também merecem atenção. 
   O saldo é para lá de positivo, exatamente com a diversidade que se espera de um lançamento do Faith No More, obviamente com muita qualidade envolvida. Sol Invictus é a continuação mais que precisa na discografia de uma banda ainda relativamente jovem. Vamos torcer para que a reunião seja definitiva, porque o Rock ainda precisa muito de uma banda como o Faith No More. 


domingo, 28 de junho de 2015

MX - UM NOME OBRIGATÓRIO QUANDO O ASSUNTO É THRASH METAL NO BRASIL

   Prestes a se apresentar no Rio de Janeiro, como parte de uma série de shows do alto escalão do Heavy Metal nacional agendados para a cidade nos próximos meses, num trabalho fantástico da produtora Be Magic, acho válido lembrar a importância da banda no cenário brasileiro e mundial. 
   É simplesmente impossível contar a história do Thrash Metal neste país, ou mesmo ouvir genuinamente o sub-gênero mais fantástico do Heavy Metal, na minha opinião, por aqui sem citar o nome MX na conversa. A banda , que registrou o 2o trabalho do gênero por aqui com o ao vivo "Headthrashers Live", vem do ABC paulista, região que contava com uma cena fortíssima nos espetaculares anos oitenta, com a famosa sigla sempre urrada pelos locais em qualquer evento da época. Junta com a também ABC Attomica, Korzus e Anthares, ajudaram a eternizar o nome do estado que é sinônimo de Heavy Metal, assim escrevendo algumas das páginas mais importantes na história do estilo no Brasil, principalmente quando o assunto é Thrash Metal. 
   Falando especificamente do MX, o grupo estreia em estúdio com o indispensável e magnífico Simoniacal. O registro é até hoje o mais relevante da banda, com hinos do porte de Jason, Fighting For The Bastards e Dirty Bitch, só para citar 3. A capa também chama atenção, e o conjunto da obra fez com que a estreia fosse premiado pela conceituadíssima Rock Brigade como  "melhor banda do ano", "banda revelação" e "melhor capa". A sequência com Mental Slavery no ano seguinte também foi matadora, levando o grupo a abrir para o Testament em plena tour do New Order. 
   Com a saída de Décio jr, a coisa esfriou, mas em 1995 Alexandre Cunha (bateria e vocal), Alexandre “Morto” (baixo e vocal), Alexandre “Dumbo” (guitarra e backing vocals) e C.M. (guitarra – que havia tocado em bandas como Mutilator e Cova) retomam a banda, lançando os ótimos Again e The Last File, mas que não alcançaram a popularidade dos anos de ouro. 
   Em 2012 o MX retomou sua trajetória, marcada pela superação de todos os problemas de se fazer Heavy Metal nesse país, com Decio de volta a guitarra, configurando assim sua formação original. Ano passado veio o ótimo Re-Lapse, com regravações do disco de estreia, com um tratamento digno das músicas, algo muito difícil naquele tempo. As vendas foram boas, e o nome da banda voltou com força total no underground. 
   Agora chegou a hora do público carioca fazer a sua parte, encher o Rio Rock Blues no próximo sábado, e ver um show matador, com direito as ótimas aberturas das bandas Vingador e Absolem. Infelizmente, o grande público não procura se aprofundar no estilo nos dias de hoje, se limitando ao chamado "big four" e na briguinha Metallica x Megadeth, mas agora é a melhor hora para nos curvarmos diante de quem fez e faz história na música extrema de um país afundado em porcarias musicais. MX na veia, e Fighting For The Bastards! 



sábado, 27 de junho de 2015

BON JOVI-THESE DAYS

   E lá se foram 20 anos do último suspiro do Bon Jovi na minha opinião. These Days é um disco clássico, e se caracteriza por ser um divisor de águas na carreira da banda, só que infelizmente de maneira negativa. O Hard Rock que consagrou a banda em todos os trabalhos até aqui chega num clima mais soturno, mas ainda muito bom, e distante do pop que imperou nos anos seguintes. Tem quem não curta, mas as famosas baladas que a banda sempre fez com precisão chegam num nível fantástico nesse que é um dos discos que eu mais escutei na minha vida.
   Do lado mais melancólico, e não por isso menos qualificado, podemos destacar momentos como Bitter Wine, Diamond Ring, If That's What It Takes, (It's Hard) Letting You Go, Lie to Me e a clássica This Ain't a Love Song. Entre todas, o maior destaque do trabalho é My Guitar Lies Bleeding in My Arms, uma das melhores da carreira deles na minha opinião, com um dos solos mais inspirados do grande Richie Sambora. A faixa-título também se transformou num hino, lembrada em shows até hoje e sempre muito celebrada, com destaque absoluto para sua letra fantástica. Hey God e Something for the Pain são as mais agitadas, mas é inegável que o trabalho não tem o peso encontrado em certos momentos de Keep The Faith, New Jersey e Slippery When Wet, por exemplo. Mesmo assim, para quem compreende e curte o trabalho do Bon Jovi, esse disco tem uma aceitação incrível e qualidade de sobra. A tour proporcionou shows realmente clássicos, como as três noites em Londres, com uma banda ainda no auge, que passou no Brasil em shows lembrados até hoje por todos com muito carinho.  
   O último momento de inspiração de uma grande banda, salvo raros momentos nos trabalhos duvidosos que estavam por vir, e lá se foram vinte anos. Infelizmente a banda sem Sambora está cada vez mais distante do Hard Rock, o que parece ser um caminho sem volta. Ainda com tudo isso, mesmo sendo uma banda que muitos amam odiar, These Days é um trabalho fantástico, que merece ser ouvido com carinho pelos fãs do chamado Glam Metal. Querendo ou não, ou Bon Jovi tem seu nome marcado na história, lotando estádios ao longo dos anos, e These Days é um capítulo fundamental dessa história. 


quarta-feira, 24 de junho de 2015

VIÚVAS, DEIXEM O SEPULTURA VIVER!

   Ainda estou impactado com a apresentação memorável do Sepultura na última sexta-feira, dia 19 de junho, na "perna carioca" da tour de 30 anos, e impressionado com a atual forma da banda. Isso dito, acabo de me deparar com mais uma declaração lamentável do grande Iggor Cavalera dizendo que a banda já era, deveria acabar e coisas assim. Amigos, me revolto de tal maneira com esse tipo de ciumeira que preciso escrever um pouco sobre o que penso a respeito. 
   A opinião não é só do baterista da chamada "formação clássica", e se faz presente nos discursos de antigos fãs da banda, atualmente verdadeiras viúvas dos Cavaleras. A verdade é que Andreas e Paulo nunca deixaram a banda morrer, e junto do ótimo vocalista Derrick e agora com o monstro Eloy Casagrande, mantém para lá de vivo o nome da maior e melhor banda do nosso Heavy Metal. 
   Quem viu a banda recentemente, presenciou a apresentação de um grupo na plenitude de sua forma, com 4 gigantes no palco. Fora o "ao vivo", em estúdio eles também respondem, com dois petardos lançados recentemente, o fantástico Kairos e o não menos espetacular The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart. Esses são para mim os melhores da "nova era", e foi justamente quando os irmãos se uniram e Iggor saiu que o Sepultura deu um salto no estúdio, por mais que nenhum dos discos lançados depois de Roots podem ser chamados de fracos. Mesmo com tudo isso, tem gente que prefere ignorar o Sepultura atual, sem a menor explicação lógica para tanto. 
   Falando um pouco do "outro lado", a família Cavalera ainda tem lenha para queimar, continua lançando coisas boas, mas numa comparação inevitável com Eloy e Derrick em 2015, estão perdendo sim. Ambos não estão na mesma forma de seus anos dourados, principalmente Max Cavalera, que não toca e por muitas vezes não canta nos shows do Cavalera Conspiracy e do Soulfly. Vi a banda dos irmão em 2014, num ótimo show, mas o mesmo ao meu ver ficou abaixo do que o Sepultura atual anda apresentando, e o mesmo vale para os discos. 
   A maior prova que a forma fantástica da atual banda incomoda os irmãos, ao menos o baterista, que anda mais "falante", está exatamente no fato de isso ser motivo de comentários. Jean Dolabella era um bom baterista, mas não era capaz de tirar o sono de Iggor. Agora que a banda achou um cara do mesmo nível, e no presente, melhor que ele, veio a deixa para o famoso papo que o "Sepultura morreu", algo que ninguém que ouviu o último disco ou viu a banda em ação tem a loucura de dizer.
  Por tudo isso, eu peço aos que viram as costas para reverem os seus (pré)conceitos, e deem uma chance aos que ainda mantém a banda viva. Eu sou fã dos Cavaleras, e sigo prestigiando as suas bandas ainda relevantes, mas nem por isso sou obrigado a aceitar absurdos desse nível. Quem não quer ouvir, siga a sua vida, mas deixa o Sepultura viver! 

sábado, 20 de junho de 2015

SHOW DO SEPULTURA-CIRCO VOADOR-RIO DE JANEIRO

   A noite do dia 19 de junho se apresentava histórica para os cariocas. A maior e melhor banda que esse país já viu faria um show de 30 anos, depois de muito tempo sem se apresentar "sozinha" na cidade. O Sepultura passa por uma fase fantástica, com uma formação simplesmente destruidora, algo colocado a prova no show do ano passado na cidade de Volta Redonda. Aqui seria ainda melhor, com um setlist fantástico e um público ligado no 220, participando intensamente de diversos momentos. O mesmo compareceu de maneira razoavelmente boa, dentro de um certo padrão encontrado nos shows de Metal no Circo Voador. Vou contar agora o que vi, nessa noite que como prometido, entrou para a história. 
   A cidade estava num dia caótico, com chuva desde cedo e trânsito em todos os caminhos que levavam ao Circo Voador, o que atrasou o show em meia hora para que todos chegassem. Meu compromisso era um pouco mais cedo, já que tive a sorte de vencer um sorteio que dava direito a encontrar meus ídolos. Graças ao dito trânsito, por pouco não perdi essa oportunidade, chegando já com todos os sorteados lá dentro, com fila formada e a banda atendendo. Foi rápido, mas o suficiente para ver que os caras são gente fina até dizer chega, agradecer aos mesmos pelos serviços prestados na trilha sonora da minha vida e autografar os dois itens permitidos, que dentro da minha coleção, escolhi o vinil do Schizophrenia e o cd mais recente, o ótimo The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart. Agora era só esperar o tempo passar, e o show histórico começar. 
   A galera ainda vai se posicionando, e a apresentação tem inicio com a ótima The Vatican, a única presente no disco mais recente a ser apresentada, algo surpreendente. Ela serviu para aquecer os ouvidos e dar inicio ao mosh pit destruidor que tomou conta da pista ao longo da noite. Em seguida vem a já consagrada Kairos, mostrando como o lançamento é relevante e já marcante para os fãs da banda. Presente apresentado, banda já aquecida e desfilando categoria, era hora de voltar no tempo e começar um desfile de clássicos. Propaganda, uma das melhores do clássico Chaos A.D, como também  um dos pontos altos da carreira da banda, coloca a lona abaixo, com destaque para o seu refrão fantástico, que convida o público a urrar junto com o grande Derrick. 
   Falando no homem, é notável a sua forma vocal, que não falha durante todo show e impõe uma força descomunal ao repertório. Eloy Casagrande é o maior batera do Metal brasileiro atualmente, e simplesmente destroi seu kit com muita categoria. Paulo e Andreas não precisa nem falar, e o show do guitarrista e líder da atual formação foi de um legítimo Guitar Hero que é. 
   A pancadaria tem sequência na primeira surpresa da noite, o hino Inner Self, que é cantado em uníssono pelos presentes, fazendo o obrigatório  Beneath the Remains não passar em branco numa noite tão especial. Breed Apart é a 1a das cinco pérolas sacadas de Roots, o disco mais lembrado. A escolha é acertada, e como nem sempre aparece nos shows, foi capaz de emocionar bastante. Então vamos ao icônico Arise, e Dead Embryonic Cells aparece como surpresa aos cariocas, sendo muito celebrada. Depois dessa viagem pelos clássicos, a era Derrick, já grandiosa e digna de respeito tinha a obrigação de ser lembrada num show especial de 30 anos. Choke é muito cantada, o que prova que as viúvas dos Cavaleras não estavam ali, representando o por vezes esquecido Against, 1o disco com o novo vocalista. Convicted in Life já é um clássico da nova era, e o mosh cresce nesse momento. Então é hora de hino, com a espetacular Attitude, obviamente causadora de uma catarse coletiva na lona. O resultado foi espetacular, mas amigos, nada se compara ao que vem depois, com simplesmente Troops of Doom. O que aconteceu nesse momento é impossível explicar, algo de encher os olhos, com o riff cantado, assim  como cada verso, e a pancadaria tomando conta de cada metro do lugar. Algo que só um show de uma banda como o Sepultura proporciona. Sepulnation vem depois, sendo um verdadeiro marco na atual formação. Agora foi o momento mais espetacular ao meu ver. From the Past Comes the Storms amigos, apenas isso. Schizophrenia na área, para arrepiar a turma old-school presente no lugar. Esse momento eu apenas olhava boquiaberto para o palco, lembrando o quanto esse trabalho e essa música representam para os fãs. Que momento lindo. É chegada a hora de Territory, um hino, que proporciona o maior mosh da noite, algo realmente grandioso e emocionante. Policia, que há tempos não aparece, mantém a pegada, mostrando como os Titãs capricharam em um clássico desse porte. Orgasmatron, mais uma cover consagrada pela banda nos tempos de Arise, da as caras. Os hinos máximos Arise e Refuse/Resist encerram o set normal. 
   Estava tudo fantástico, mas o bis veio para fechar com classe um show simplesmente perfeito. Bestial Devastation, não encontro adjetivos para descrever o que foi isso. Os primórdios da banda apresentados trinta anos depois em forma da faixa título do famoso split com o grande Overdose. Ai Andreas lembra da votação que rolou na internet, e três das mais votadas foram apresentadas agora. Apes of God surpreende, apresentando o esquecido e ótimo Roorback ao público. Como se Bestial já não bastasse, vem Necromancer, mais uma maravilha do primeiro trabalho. Isso foi um show feito para matar velhinho do coração, com doses cavalares de músicas dos primeiros dias de Sepultura.  Cut-Throat, a mais lembrada por quem votou, mostra um dos melhores momentos de Roots aos presentes, já cansados, mas dispostos a gastar o último gás. Sepultura Under My Skin, a música mais recente, vem para que todos tomassem um ar diante da bela letra. Agora vem o momento "by request". Biotech Is Godzilla foi pedida por todos com força, e a banda atende, causando um verdadeiro alvoroço na pista. Mais um belo momento, provando que naquela noite o Sepultura estava lá disposto a lavar a alma dos fãs. O hino Ratamahatta, transformando a pista do Circo numa legítima roda de capoeira, e a clássica e indispensável Roots Bloody Roots vem para encerrar o show com chave de diamante. 
   É dificil descrever um show como esse, mas em poucas palavras, foi tecnicamente e emocionalmente perfeito. Uma banda simplesmente impecável, com um som e estrutura ótimos oferecidos pela ótima casa, junto com um público disposto a dar a vida na apresentação fizeram dessa noite de sexta-feira um acontecimento histórico, que ficará presente na memoria dos cariocas. Um show digno de 30 anos do Sepultura, banda mais viva do que nunca, e pronta para os anos que se apresentam pela frente! 

Lembrança da noite

quinta-feira, 18 de junho de 2015

PAUL MCCARTNEY,O GAROTO DE 73 ANOS

   Não é sempre que escrevo em aniversários de músicos, mas o caso do sir é algo que chama atenção, e deveria ser motivo de estudo para cientistas. Discorrer sobre uma carreira na banda que todos sabem qual é, fora a coleção de hits do Wings e de sua banda solo é totalmente desnecessário, mas o que realmente chama atenção é o amor que o cara tem pelo que faz.
   Amigos, só pelo fato de um senhor com 73 anos se apresentar rotineiramente por cerca de 3 horas já é algo notável. Esse tempo, é bom lembrar, de puro som, sem maiores enrolações ou artifícios para driblar a falta de capacidade vocal do mesmo, algo bem comum nos dias atuais. A voz do homem em nada mudou, e o setlist costuma incluir raridades de todas as épocas em doses cavalares. 
   Também não custa lembrar que Paul McCartney é um artista plenamente realizado e com uma conta bancária incalculável, já que fez parte da maior banda da história da música e é dono de uma carreira solo muito bem sucedida. Ao chegar nessa idade, se não fosse o amor, já estaria de pernas para o ar gastando seus milhões de dolares. Não são poucos também que, em situação parecida, até se apresentam de vez ou nunca, mas com sets burocráticos e um tanto quanto curtos, algo por obrigação pura. Mesmo se apresentando ainda, ninguém ousaria reclamar de um show mais curto, de 5 a 20 músicas, mas o homem faz questão de entregar o dobro disso, noite após noite, mesmo tendo que pagar para tocar as músicas que o consagrou nos anos 60, fruto de um negócio até hoje inesplicável envolvendo o saudoso Michael Jackson. 
   Bem, esse é Paul McCartney, um homem de 73 anos, que conquistou o máximo que poderia imaginar, mas se recusa a aceitar a idade, seguindo com shows longos e espetaculares de qualidade indiscutível por todo o mundo, lançando coisas ainda relevantes como o ótimo New, e desafiando o tempo e a ciência. Em breve, já que até os deuses são humanos, ele será forçado a encurtar e diminuir a frequência de seus shows, algo ainda distante pela vitalidade absurda que apresenta. Vamos aproveitar enquanto uma das maiores lendas da música ainda está diante de nós. Viva Paul McCartney! 

sábado, 13 de junho de 2015

RATT-INVASION OF YOUR PRIVACY

   Com o passar dos anos, o Ratt talvez seja a banda do chamado Hard Rock oitentista a ter conquistado o maior reconhecimento entre os músicos dos mais diversos seguimentos do Heavy Metal, e isso não acontece por acaso. A trajetória da banda que marcou época numa década gloriosa para a música pesada em geral foi conturbada, mas o assunto por aqui é o que foi feito no seu segundo disco, o seminal e indispensável Invasion of Your Privacy. A estreia não foi apenas uma estreia, e sim uma compilação de hits e clássicos eternos, que venderam como água e colocaram de cara o Ratt no topo do cenário do estilo. O disco seguinte não repetiu o estrondo causado por uma das estreias mais fantásticas da história do Rock N'Roll, mas seguramente não faz feio. 
   Invasion Of Your Privacy faz a cabeça de qualquer fã de Hard Rock até os dias de hoje, com legítimos hinos do estilo. Considero o trabalho perfeito, e ao meu ver não fica devendo ao único Out of the Cellar. De clássicos, podemos tirar What You Give is What You Get, You're In Love, Never Use Love e Lay it Down, só para citar os mais bombásticos, mas momentos como Give it All, a power ballad Closer To My Heart, a pagajosa You Should Know By Now e o fantástico final com Dangerous But Worth The Risk fazem qualquer um pirar na audição. Em resumo, é disco clássico para ouvir do inicio ao fim, vendo a aula da dupla De Martini/ Crosby nas guitarras, a cozinha corretíssima de Bobby Blotzer e Juan Croucier, e a voz marcante de Stephen Pearcy. 
   O Hard Rock anos oitenta divide opiniões, e no Brasil por vezes não é visto com bons olhos, mas se tem uma banda que é capaz de agradar a qualquer um com ouvido mais apurado, essa banda é o Ratt. Coisas boas foram feitas depois, mas problemas internos fizeram a banda nunca mais repetir a magia presente nos seus dois primeiros trabalhos. Bem, o que foi lançado há 30 anos já foi magnífico o suficiente para eterniza-los nas mais gloriosas galerias da história do Rock N'Roll. 


segunda-feira, 8 de junho de 2015

O METALLICA ESTÁ ACOMODADO?

   Antes de qualquer coisa, gostaria de falar que o Metallica é a minha banda do coração, e coleciono cds, dvds e tudo mais, além de ter visto 5 shows da banda (incluindo 1 no México) e uma tatuagem. Isso posto, não significa que eu sou aquele tipo de fã cego e doente, que aceita tudo da banda, igual a algum adolescente fã da boy band da moda. Ao meu ver, é inaceitável uma banda com formação estável, livre de problemas pessoais e vícios, com vitalidade de sobra demorar 8 anos para lançar um material novo. Pensando sobre o assunto, vejo que isso não é um problema de hoje. 
   O Metallica fez o seu nome em 10 anos, quando até 1991 lançou 5 discos fantásticos em sequência, tendo no último e definitivo Black Album alcançado o auge da popularidade, vendendo absurdamente até hoje as suas cópias, e ultrapassando todos os limites do Heavy Metal. Desde então, vieram mais 5 trabalhos em 24 anos, o que já é assustador, sendo que entre eles temos 1 de covers (sem desmerecer o ótimo Garage Inc., que apresenta versões definitivas, mas é bem diferente de algo inédito) e um dividido em dois. Sem levar em conta o fato de que nenhum deles consegue fazer cócegas em clássicos do porte de Ride The Lightning e Master of Puppets, fica claro que desde que alcançou o seu auge, a banda chegou sem perceber a conclusão que não precisava mais provar nada. 
   Muita coisa aconteceu nesse meio tempo, com troca traumática de integrantes, problemas com drogas e pessoais, todos escancarados no desastroso documentário Some Kind Of Monster. Depois do fraco St Anger, veio a resposta de uma banda pressionada com o ótimo Death Magnetic, bem recebido por fãs e critica. Depois de se acertar musicalmente e em todos os outros aspectos de relações humanas, a banda fez uma tour gloriosa, tocando como nunca ao vivo. Ai em 2010 essa tour chegou ao fim, e já são 5 anos de "folga", com uma tour anual pelos festivais europeus, sets cada vez mais inovadores - tome discos clássicos tocados completos, sets escolhidos pelos fãs, e agora um cheio de raridades - nos poucos shows anuais e invenções malucas do nível de um filme faraônico que trouxe um prejuízo incalculável, tudo com o objetivo de adiar o tal disco novo. 
   A situação não é inédita, mas o que diferencia o Metallica de bandas como Kiss, Rush, Judas Priest, Iron Maiden, Aerosmith, Black Sabbath e Scorpions, por exemplo, é a quantidade de trabalhos relevantes lançados. A banda de James Hetfield e Lars Ulrich já tem seu nome na história com 5 grandes trabalhos, o que é sim respeitável, mas isso é pouco se comparado aos nomes citados, que há tempos já sossegaram. O Metallica parece ter ficado satisfeito com o que fez nos seus 10 primeiros anos, e desde então não tem a sede pela conquista que faz com que a banda saia do estúdio com um trabalho clássico em mãos. O intervalo de cada lançamento assusta, e esse último ultrapassou todos os limites do aceitável. Agora fica a pergunta no ar, mesmo sendo quem é, já é hora do Metallica sossegar? 

domingo, 7 de junho de 2015

SHOW DO RATOS DE PORÃO-IMPERATOR-RIO DE JANEIRO

   Antes de falar qualquer coisa sobre mais um show épico do Ratos de Porão que eu tive a oportunidade de assistir, gostaria de lembrar rapidamente da história do Imperator, casa de shows localizada no Meier onde o show ocorreu. Na década de 90, o lugar recebeu shows históricos do Pantera, Slayer, Megadeth, Dream Theater, Suicidal Tendencies, Angra, Sepultura e do próprio Ratos, lembrados até hoje com muito carinho por quem viu e viveu essa época. Num lugar de fácil acesso, comércio forte e com muita gente morando perto, ele marcou uma era, mas passou um bom tempo fechado, sendo reformado e abrindo recentemente. Recebendo todo tipo de evento na nova casa, que é um pouco menor do que aquela, mas ainda tem bastante espaço, o novo Imperator volta aos poucos a reviver a tradição de grandes shows de Rock. O primeiro que tive notícia foi do Ghost ano passado, que mesmo não sendo muito fã estive presente com a minha namorada, que ama a banda. Tive a melhor das impressões. Vários eventos independentes rolam com frequência por lá, sendo o mais notável  um com a banda carioca Statik Majik. Então chega a vez do R.D.P botar o lugar abaixo depois de tanto tempo.
   A banda ainda colhe os frutos do ótimo Século Sinistro, e volta ao Rio pela a 2a vez na atual tour. O show contou com as aberturas das bandas Protesto Suburbano e 8MM, mas cheguei ao local somente na hora da atração principal mesmo. O público era bem pequeno e decepcionante, girando em torno de 300 a 500 pessoas, o que é pouco para um lugar com capacidade para algo como 1.500 e 2.000. Durante a turnê, a banda manteve um padrão de setlist, incluindo algumas coisas de lugar para lugar, mas mantendo a base. Com isso, o show foi bem semelhante ao caos visto no Circo Voador em agosto passado, mas com novidades muito bem vindas. Quem foi agitou bastante, deixando um João Gordo visivelmente alegre e emocionado. A banda está com uma formação incrível, seguramente a melhor desde que o grande Jabá deixou o baixo do grupo depois do clássico Anarkophobia. Jão, Boka e Juninho tocam com classe a desgraceira sonora que só o R.D.P sabe fazer. 
   A brincadeira começa com a já clássica Conflito Violento, destaque do disco mais recente. Viciado Digital segue nele com categoria. Ascensão e Queda é o primeiro clássico da noite, vindo diretamente da obra-prima Anarkophobia, causando um verdadeiro caos na pista. Era a deixa para o hino máximo Crucificados Pelo Sistema, que dispensa comentários. Em seguida o grande Gordo faz um ótimo discurso, que vem de encontro com a minha opinião, a respeito da onda de boçalidade virtual espalhada pelos "revoltados onlines" extremistas que estão aos montes por ai, assim introduzindo mais um clássico, Anarkophobia. Vida Animal é a 1a do fantástico Brasil a dar as caras. Dos clássicos voltamos diretamente para o presente, com direito a alfinetadas ao futebol que tudo tem a ver com a letra de Grande Bosta. Nessa o som chega a um volume aceitável, já que no começo ele estava extremamente baixo e embolado. Numa conexão 2014-1983, vem mais clássico, com as devastadoras Morrer e Não Me Importo, duas das mais fantásticas de Crucificados Pelo Sistema.  O set faz uma viagem completa pelos trabalhos da banda, da época em que Jão era vocalista e Betinho baterista, até o Século Sinistro, com passagens amplas pelos trabalhos mais clássicos, como também por alguns dos mais esquecidos. A prova disso vem com a ótima Cérebros Atômicos, a melhor do desprezado por muitos Descanse em Paz. Vem então uma mostra categórica do ótimo Carniceria Tropical, talvez o trabalho mais extremo da banda.  Difícil de Entender, Arranca Toco e Atitude Zero vem avassaladores, sendo muito celebradas, provando a força que o disco tem e o valor que os fãs da banda dão ao trabalho icônico. Agressão/Repressão, um clássico, vem numa versão ligeiramente mais lenta, porém de extremo bom gosto, colocando fogo na pista. Toma Trouxa apresenta o ótimo Guerra Civil Canibal, mostrando a ideia dos Ratos de mostrar ao público o mais amplo e diversificado repertório. Pobreza e FMI, principalmente a última, surpreendem, sendo ótimas sacadas. Do clássico, vamos ao lado b, ou nesse caso, c.  Diet Paranoia é introduzida por João como um bom momento num disco controverso, o tal do Just Another Crime in... Massacreland,  feito numa época de abuso de drogas, com o bravíssimo Walter no baixo. Chegou a ser hilario, já que o 1o a tentar a sorte no baixo deixado pelo fundador Jabá chamava atenção por não ter documentos e não estar em sintonia com a banda em momento algum, fazendo da sua passagem algo breve e desastroso, história contada hoje de maneira divertida por Jão, Gordo e Boka. Crocodila mostra novamente aos Ratos maníacos um pouco de Carniceria Tropical. Progreria of Power e Stress Pós-Traumático são novas ainda não apresentadas aos cariocas, que tem um ótimo efeito ao vivo. Vem então em sequência as três músicas mais marcantes da trajetória da banda ao meu ver. Simplesmente Igreja Universal, com a melhor letra que já vi em português, Beber Até Morrer e Aids, Pop, Repressão não deixam ninguém vivo. Realidades da Guerra, da clássica coletânea SUB, mata os fãs old-school do coração, e da uma aula de Punk Rock para a garotada. Amazônia Nunca Mais e Terra do Carnaval encerram o set normal mostrando o poder de fogo do clássico Brasil. Para o bis, ainda no dito disco, vem a ótima Crianças Sem Futuro. Sofrer é uma grata surpresa, sendo uma das mais marcantes de Anarkophobia no meu entender. Crise Geral fecha com classe um show memorável mostrando o fantástico Cada Dia Mais Sujo e Agressivo, um dos passos definitivos na trajetória da banda. 
   Com 30 dos momentos mais gloriosos de uma banda icônica da nossa música mostrados para um público insano, que compensava a quantidade reduzida, o sábado a noite no Imperator foi especial. O set mostrou um pouco de quase todas as fazes da banda, com o merecido destaque para os seus melhores trabalhos. Isso tudo apresentado por uma formação impecável musicalmente. O Rio viu mais um grande show do Ratos de Porão, uma banda ainda forte e relevante para a música extrema desse país.