sexta-feira, 23 de outubro de 2015

SHOW DO ASPHYX + MIASTHENIA + COLDBOOL - TEATRO ODISSEIA - RIO DE JANEIRO

   A noite do dia 22 de outubro marcou mais uma estreia totalmente inesperada no Rio de Janeiro. O Asphyx é um nome de importância incalculável para a história do Death Metal, e entre muitas idas e vindas, ainda segue na estrada do underground ao redor do mundo. Mesmo com preço até certo ponto acessível para os dias atuais - 60 antecipado e 80 na porta - eu poucas vezes vi um Odisseia tão esvaziado, algo que de evento em evento vem contribuindo para uma provável minguada para 2016. As ausências de nomes como Machine Head, Tankard, Overkill, Opeth, Onslaught, UDO e tantos outros indica isso. Com o atual panorama econômico do país, a tendência é focar em nomes com retorno garantido em lugares escolhidos a dedo. Em outras palavras, mais e mais shows apenas em São Paulo. 
   Isso posto, vamos ao evento. Por volta das 7h, hora inicialmente programada para a 1a abertura, se tinham 10 pessoas dentro do lugar era muito. Uma sábia espera de fez necessária, até que o Coldblood tivesse acesso a um público minimamente aceitável. O seu show se provou o esperado, uma escolha fenomenal para abrir a apresentação de um monstro do porte do Asphyx. A banda tem uma longa bagagem na cena carioca, em mais de 20 anos de história com dois Full-length lançados. Muitos já conheciam o trabalho, e viram um show de Death Metal legítimo de um grande nome do estilo no Brasil. Um passeio pela história da banda que culminou numa bela celebração ao metal da morte. Abertura irretocável. 
   Antes da banda principal, a noite ainda reservava mais uma abertura. Diferente do Colblood, seria para a maior parte dos presentes um grande mistério. O Miasthenia é um trio de Brasilia que pratica um autointitulado Pagan Black Metal e carrega na bagagem quatro lançamentos. Sua formação é no mínimo peculiar. Para começar, não tem baixo, algo que chama atenção de cara. Ao invés do clássico instrumento, eles optaram pelo teclado, que ´fica a cargo da também vocalista Hécate, o grande destaque do grupo. Completa o time o guitarrista Thormianak e o baterista V. Digger. O som é um tanto quanto diferente para o meu gosto, mas a correção do que eles fazem em sua proposta é inquestionável. Grande parte do público parecia disperso, incluindo eu, que aquela altura estava mais na expectativa pela atração principal.
   Finalmente, era chegada a hora do Asphyx lavar a alma da turma do Death Metal presente no Odisseia. O número era para lá de reduzido, mas a felicidade e empolgação fizeram valer a noite. O que vimos a partir daquele momento foi um show de Death Metal de manual, com um som altíssimo e uma grande banda numa performance irretocável. Aabertura ficou por conta do clássico Vemin, presente na obra-prima The Rack. De lá fomos para o tão perfeito quanto Last One on Earth, com Food For The Ignorant. Um começo melhor seria impensável naquele momento. O lendário vocalista Martin van Drunen estava em estado de graça, sempre agradecendo os presentes e comandando a noite com uma bela performance vocal. O ótimo baixista Alwin Zuur é uma grande figura. Vale destacar que o mesmo assistiu do público aos dois shows de abertura, e se comunicou com ele antes, durante e depois do show. O também veterano Bob Bagchus espancou com classe seu kit, e  Paul Baayens não deixou por menos nas seis cordas. A brincadeira seguiu com Death the Brutal Way, faixa-título do trabalho que marca o retorno da banda. The Sickening Dwell retorna ao passado glorioso, num dos grandes momentos de The Rack. Indo agora para o seu sucessor temos M.S. Bismarck, botando fogo no mosh pit que tomava conta da esvaziada pista. Hora de retornar então ao passado mais recente, para a faixa-título de Deathhammer, trabalho lançado pela banda em 2012 que ainda é o tema a ser divulgado na tour. Eisenbahnmörser, de Death...the Brutal Way, também apresenta o poder de fogo do Asphyx em seus trabalhos mais recentes. We Doom You to Death segue nessa linha, sendo outra do disco mais novo. De volta aos tempos de The Rack, temos a bombástica Wasteland of Terror e o clássico de Last One on Earth, Asphyx (Forgotten War). Simplesmente fenomenal. Into the Timewastes volta a atenção para o presente, assim como Scorbutics, que mostra a importância que Death...the Brutal Way tem na trajetória do Asphyx. O encerramento fica por conta dos hinos The Rack e Last One On Earth, que dão nome aos melhores trabalhos dos holandeses. 
   Com um set fincado em quatro discos, dois os mais clássicos, e os dois mais recentes, o Asphyx mostrou um set inteligente, que foi apresentado com muito profissionalismo para um público muito pequeno, mas extremamente participativo. Foi um show de Death Metal digno do nome que a banda carrega, daqueles para ficar na memória dos guerreiros que lá estavam. Só resta torcer para que shows assim continuem acontecendo, algo que pelo panorama atual, tende a diminuir consideravelmente. 

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

SLAYER - REPENTLESS

   O que aconteceu com o Slayer desde que lançou World Painted Blood até conseguir colocar no mercado o seu sucessor renderia assunto para uns bons 3 capítulos numa biografia. De mais uma saída do lendário baterista Dave Lombardo, passando pelo retorno de Paul Bostaph, até o acidente com uma aranha e morte do grande Jeff Hanneman e a entrada de Gary Holt, com muitos pormenores complicados em meio a tudo isso, foram anos com um turbilhão de emoções internos para ninguém botar defeito. Dito isso, é mais que natural uma certa espera até que o mundo pudesse conhecer Repentless. 
   O trabalho apresenta bons e ótimos momentos, passando por alguns não tão inspirados. Fica longe da perfeição apresentada nos anos de ouro, e ao meu ver, sai perdendo em comparação com os recentes World Painted Blood e Christ Illusion. Mesmo assim, em alguns momentos temos mostras daquele Slayer que todo headbanger ama, fazendo valer a audição. Obviamente, ninguém espera uma revolução sonoro de uma banda consagrada e com identidade que ajudou a formar o que conhecemos por Thrash Metal. Isso é o que o Slayer sempre soube fazer, e quando tentou "Inovar" não alcançou um resultado muito satisfatório. 
   Após a grande intro  Delusions Of Saviour, vemos na faixa-título o ponto máximo do disco. Aquela avalanche Thrash que só o Slayer sabe fazer está intacta nela. Tom Araya transbordando fúria em seu vocal único, Kerry King em sua tradicional alavanca durante duelos fantásticos com Holt, além de Bostaph mostrando ser o único baterista desse mundo capaz de substituir Lombardo no Slayer. Duvidar dos predicados dessa lenda espancando kits de gente como Forbidden, Exodus e Testament é loucura digna de quem não tem a mínima iniciação no assunto Thrash Metal. Holt não contribui como esperado nas composições, e na ausência de Hanneman, quem lidera o grupo em todos os aspectos é o senhor Kerry King. Num próximo disco com o Slayer, esperamos uma entrega maior do homem que comanda o Exodus por tanto tempo nessa parte, coisa que depende exclusivamente do "chefe". Outros grandes momentos vemos na avassaladora  You Against You, reinando absoluta, e bons momentos como Take Control, Piano Wire, colaboração de Hanneman, Implode, Cast the First Stone e Vices. Uma banda mais cadenciada se apresenta em When The Stillness Comes, e um pouco na ótima  Pride In Prejudice, muito agradável para um encerramento de trabalho.
   Se fosse para dar nota, eu ficaria com um 7 ou 7,5. Entre momentos realmente empolgantes, bons e para cumprir tabela, o Slayer entregou um disco bom para o momento que atravessa. Mesmo assim, longe do auge criativo recente encontrado em Christ Illusion. De qualquer jeito, temos um disco com a legítima assinatura de uma lenda do Heavy Metal mundial, mais um para botarmos no som e glorificar de pé! 


segunda-feira, 19 de outubro de 2015

R.I.P FRANK WATKINS

   Falar em perdas nunca é algo muito agradável ainda mais quando elas acontecem bem antes do previsto, mas infelizmente é esse o caso. Com apenas 47 anos de idade, fomos forçados a ver o grande Frank Watkins dar adeus à vida, em decorrência do maldito câncer que insiste em assolar grandes pessoas com uma antecedência assustadora. O objetivo de textos assim é sempre celebrar a vida e obra dos grandes que vemos partir, e é isso que faremos agora.
    Depois de gravar uma demo com o Hellwitch, sua carreira ganhou forma no Obituary. Com essa lenda do Death Metal, ele gravou o baixo de grande parte de sua discografia. Frank entrou na banda já no seu segundo trabalho, o mais que clássico Cause of Death, que é considerado por grande parte dos fãs a obra-prima da banda, e um dos discos mais importantes da história do Death Metal. Cause of Death carrega em seu traklist pérolas como Infected, Chopped in Half, Find the Arise e Dying, obrigatórias no som de qualquer banger que se preze. Contando o tempo parado, foram 21 anos de Obituary, e marca imposta em obras do nível de The End Complete, outro clássico indiscutível e fundamental, World Demise, Frozen in Time e do derradeiro Darkest Day. Sua linha de baixo sempre foi algo presente na destruição sonora promovida pela banda da Florida, parte de uma musicalidade facilmente reconhecida por todos.
   Em 2010, Frank deixou o Obituary, mas seguiu no Heavy Metal assumindo o posto de baixista do Gorgoroth, outra banda de fundamental importância, só que essa dentro do Black Metal. Com eles, gravou   Quantos Possunt ad Satanitatem Trahunt, ainda em 2009, quando integrava o Obituary, e  o recém-lançado Instinctus Bestialis, que acabou sendo seu último trabalho.
   Como nunca fui grande fã do Gorgoroth, a obra que ao meu ver transformou Frank em lenda foi o seu trabalho no Obituary, banda pela qual me considero apaixonado. A história deles não poderia ser escrita sem os precisos dedos de Frank maltratando o baixo, parte fundamental em sua sonoridade única. O legado deixado por essa figura, que infelizmente deu adeus ao mundo muito antes da hora, é incalculavelmente precioso!


sábado, 10 de outubro de 2015

SHOW DO BLIND GUARDIAN - VIVO RIO - RIO DE JANEIRO

   A noite do dia 9 de outubro se apresentava como uma das mais especiais do ano para quem curte Heavy Metal no Rio de Janeiro. A noite era de gala, numa casa para 4 mil pessoas que é imponente em sua estrutura, chegando a assustar a galera acostumada com os buracos undergrounds que costumamos frequentar. Isso tudo para um fiel e numeroso público assistir ao show do Blind Guardian, seguramente uma das maiores bandas da atualidade, mais relevante dentro do Power Metal mundial e consagrada entre os grandes do Heavy Metal. Se a casa não estava sold-out, podemos considerar o público muito bom, ainda mais quando cada um ama realmente a banda, e canta cada verso.
    Ao lado do Helloween, o Guardian sempre foi além das fronteiras do Power Metal, agradando em cheio muitos que não gostam do estilo. A banda passou pelo declínio do gênero com classe, se afirma a cada lançamento como gente grande. Mesmo com lançamentos "demorados", digamos assim, uma tour brasileira a cada novidade já é certa, e com o ótimo Beyond the Red Mirror não seria diferente.
   Com uma assustadora pontualidade, que ameaçava ser até antecipada em 10 minutos, um coro de cerca de 3 mil pessoas está pronto para ccomeçar a festa. The Ninth Wave, tema que abre o novo trabalho, é bem recebida. Mesmo assim, a coisa esquenta de vez com a paulada maravilhosa Banish From Sanctuary, fazendo queixos irem ao chão por toda a pista, numa mostra precisa da pérola Fallow  the Blind, trabalho dos primórdios da banda, quando o som era mais voltado ao Speed Metal. Ela é uma das melhores já feita pelos alamães ao meu ver. A sequência veio para me matar do coração, com o hino Nightfall. Essa dobradinha foi para mim um dos grandes momentos, e tudo isso logo no começo. A relação de todos com a obra-prima Nightfall in Middle-Earth é diferenciada, e como esse disco é um dos que mais escutei na minha vida, me emociono pra cacete a cada momento dele que é apresentado. Depois de duas mostras da fase de ouro, é hora de voltar a um passsado não tão distante, com Fly. A música é a única representante do ótimo  A Twist in the Myth, fazendo lembrar quando a banda passou naquela mesma casa na sua tour de divulgação. Tanelorn (Into the Void) é umtema complexo e de qualidade inquestionável de At the Edge of Time. O público não deixa de reagir em momento algum, sempre participa de alguma maneira dos temas escolhidos, que parecem ter a intenção de viajar por todas as fases. De fato, só A Night at the Opera foi esquecido, algo justo por ser ao meu ver o disco mais fraco deles. Prophecies é mais uma nova que funciona super bem ao vivo. Depois de 3 músicas dos "anos 2000", hora de voltar a gloriosa década de 90. The Last Candle tem seus últimos versos cantados por minutos após o encerramento, deixando o visivelmente feliz Hansi Kürsch com um sorriso emocionado no rosto. O também empolgado baterista Frederik Ehmke é o responsável por comandar o coral só com breves batidas no kit. Lembrar de Tales from the Twilight World é sempre bom, ainda mais na semana em que ele completou 25 anos de "idade". Imaginations from the Other Side vem ganhando alguns números na atual turnê, que variam de show para show. A dupla de guitarristas André Olbrich e Marcus Siepen, que dão um show de solos e riffs por todo o show, sacam agora um violão para apresentar a belíssima A Past and Future Secret, mais um momento do show capaz de emocionar uma pedra. Ainda no disco que ganhou uma continuação no lançamento mais recente, temos Bright Eyes, um dos maiores acertos da noite, que deixa olhos molhados ao longo  da pista. A grande surpresa da noite fica por conta de Lost in the Twilight Hall, raríssima no set da banda, e que não vinha aparecendo na atual turnê. Escondida em algum lugar de Tales from the Twilight World, essa porrada emociona e assusta os fãs, que agitam do começo ao fim. Hansi fala com o público a cada intervalo, apresentando o próximo núnero e  agradecendo a participação espetacular de todos. And the Story Ends fecha as mostras de Imaginations, e o set regular, numa despedida forçada que ninguém acreditou, já que temas indispensáveis ainda estavam por vir.
   No retorno, vemos mais um pouco dos trabalhos mais recentes, com a fenomenal Sacred Worlds, e o novo clássico  Twilight of the Gods, que mesmo sem uma calorosa recepção, se mostra como a música que será lembrada em Beyond the Red Mirror. Eu ainda incluiria The Grand Parede, mas não da para dizer que o disco novo não apareceu como merecia. O hino Valhalla vem em seguida para ser cantada em uníssono durante e depois por um público ainda mais eufórico. A tradicional repetição dos versos "Valhalla - Deliverance. Why've you ever forgotten me?" não pode faltar em nenhum show. Ainda teria o último bis, agora só com hinos definitivos. O amor do público por Nightfall in Middle-Earth se mostra até em War of Wrath, uma das famosas intros que o disco tem, cantada por muitos. Obviamente, viria a sequência natural com  Into the Storm, a abertura de um dos discos mais fantásticos da história do Heavy Metal. Não são poucos que choraram copiosamente abraçados em The Bard's Song - In the Forest, uma das mais belas baladas da história. Não existem palavras para descrever isso. Como costuma acontecer, Majesty foi pedida por toda a pista, e a banda como sempre acatou, com um verdadeiro caos instalado na pista do Vivo Rio. O hino máximo Mirror Mirror vem para fazer a coisa sair ainda mais do controle, fazendo meu pescoço ir pro espaço, numa das maiores emoções que já tive ao vivo na canção que consegue ser perfeita nos mínimos detalhes.
    Eu só não considero o set impecável pelos cortes das maravilhosas Lord of the Rings, muito pedida pelo público que chegou a canta-la no final e da bomba Time Stands Still, mas o que foi apresentado não deixou por menos. Vímos uma banda em plena forma, com destaque para a voz intocável de Hansi, tocando músicas preciosas. Isso tudo para um público numeroso e participativo ao extremo. Uma verdadeira noite de sonhos para os fãs de Heavy Metal do Rio de Janeiro, uma sexta para ser lembrada mesmo!  

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

SHOW DO TURISAS - TEATRO ODISSEIA - RIO DE JENEIRO

    Num atípico domingo chuvoso carioca, os fãs de Folk Metal da cidade teriam o que comemorar, com a inédita e por anos impensável apresentação do Turisas. Ainda divulgando o ótimo  Turisas2013, 4o full length da banda, ficou para o Rio o encerramento da tour brasileira, que contou com apresentações também em Curitiba e São Paulo. O público compareceu ao Teatro Odisseia de maneira apenas razoável, mas compensou com muita intensidade durante cada música, tudo isso destacado pelo vocalista Mathias "Warlord" Nygård em dado momento. Felizmente, a ideia inicial de fazer o show no Circo Voador, casa ao menos três vezes maior, foi deixada de lado pela impecável produção.
   A apresentação começou pouco depois das 20h, horário ideal para shows aos domingos. Com todos posicionados nas proximidades do acanhado palco, Mathias "Warlord" Nygård (vocal), Jussi Wickström (guitarra), Olli Vänskä (violino), Kasper Mårtenson (teclado), Jesper Anastasiadis (baixo) e Jaakko Jakku (bateria) se espremem no pouco espaço disponível. O que vimos em seguida foi uma apresentação irretocável de uma banda em grande forma. Muito se falou do show em São Paulo em 2013, mas vendo na prática, o Turisas se mostra como uma das mais relevantes bandas da atualidade. 
   O começo com Ten More Miles não poderia ser melhor, tendo cada verso urrado pelo público, que agitava sem parar de acordo com o andamento. Isso mostra a ótima aceitação do trabalho mais recente por parte do público. Em A Portage to the Unknown a coisa fica ainda mais séria, provando a força que The Varangian Way tem. Ainda nele, temos a épica To Holmgard and Beyond em seguida. Dentro de toda a complexidade sonora apresentada pela banda de estilo único, um dos grandes destaques é o trabalho fenomenal de Olli no violino, algo no mínimo peculiar quando o assunto é Heavy Metal, mas relativamente comum em bandas com essa proposta. Com o jogo já ganho, a essa altura por goleada, o Turisas saca mais uma recente do bau, com For Your Own Good. Aqui o trabalho do baixista Jesper em parceria com o tecladista Kasper é digno de nota. Com seu belo riff, The Great Escape introduz os cariocas ao clássico Stand Up and Fight. A introdução de Rex Regi Rebellis mostra aos presentes que é hora de Battle Metal.  A viagem pela breve discografia da banda segue com as ótimas Dnieper Rapids e Hunting Pirates, essa uma bela síntese do que se propõe o Folk Metal. No já clássico Battle Metal, como previsto, a coisa sai do controle de vez. A força dessa pérola para uma plateia é realmente assustadora. No Good Story Ever Starts With Drinking Tea, um dos melhores títulos possíveis para uma canção, não deixa por menos. A também clássica We Ride Together encerra a 1a parte.
   O bis é introduzido com muitos agradecimentos do magnífico vocalista Mathias a participação da audiência. É impressionante o desempenho do cara, assim como a variedade vocal que ele apresenta, indo do limpo ao gutural sem ser notado, não desafinando em hora alguma. Sem duvidas o Turisas não seria o que é sem sua voz e carisma em cima do palco. Vale lembrar o profissionalismo da banda também, que mesmo diante de um público não tão numeroso, fez uma apresentação tecnicamente perfeita. O som da casa também ajudou, estando limpo e num bom volume, algo comum nos shows lá sem um público gigante. Stand Up and Fight vem para formar uma roda que toma conta de quase toda a pista, sendo a recepção mais calorosa da noite. O encerramento vem com a curiosíssima versão para Rasputin, da banda disco Boney M.
   Num show que teve 13 músicas espalhadas em cerca de 1h20, um pouco curto é verdade, é quase impossível apontar um defeito grave. O Turisas mostrou porque recebe tanta atenção atualmente, tendo dos presentes uma resposta a altura. Um show grandioso para começar uma semana forte para quem gosta de Heavy Metal no Rio de Janeiro, já que no próximo fim de semana teremos o aguardadíssimo show do Blind Guardian e o não menos impactante show do Fear Factory. Apenas esperamos públicos mais numerosos em apresentações futuras, para que a cena carioca continue recebendo shows de tamanha relevância, algo menos comum em 2015 numa comparação com os dois anos anteriores. 

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

MOTORHEAD - BAD MAGIC

   A análise a ser feita em cima do novo disco do Motorhead deve levar em conta, antes de mais nada, a carga emocional envolvida nele. Um novo trabalho da banda nessa altura do campeonato é antes de mais nada uma prova de amor ao estilo de música e vida ao qual Lemmy se dedicou desde que botou os pés nesse mundo. Todos sabem que a saúde do líder do Motorhead vem cobrando a conta pelos anos e anos de excessos, resultando em cancelamentos sucessivos de apresentações, incluindo a mais recente por aqui no festival Monsters of Rock. Eu mesmo podia jurar que a despedida tinha sido em 2013, com o bom Aftershock, mas o Motorhead nos surpreende novamente, num trabalho consideravelmente superior ao anterior. Alguém ousa garantir que não virá um próximo?
   Musicalmente falando, ninguém espera que uma banda com a identidade do Motorhead faça algo completamente inovador nessas condições, e a sequência daquele rockão básico que só eles sabem fazer já é certa antes mesmo da audição. Também ninguém é louco de esperar um outro Ace of Spades, Overkill ou Bomber, algo que sempre é bom lembrar. Isso posto, ao meu ver esse é o melhor trabalho da banda desde o fantástico Motörizer, lançado em 2008, inclusive fazendo frente ao mesmo. 
   Não tem como começar a falar das músicas sem citar a incrível Til The End. Num começo como aquelas baladas com clima pesado que a banda fez vez ou outra, caso de Love Me Forever e Don't Let Daddy Kiss Me, para citar duas, a coisa ganha um peso descumunal num arranjo excepcional. Isso já basta, mas a letra é simplesmente de arrepiar, onde qualquer fã consegue identificar o recado de Lemmy através de arte sobre tudo que vem passando. O desempenho de Phil Campbell também é digno de nota. O trio, fechado como o magistral batera Mikkey Dee, nas outras apresenta aquela metralhadora afinada com baixo forte, guitarra e bateria em cima e voz destruidora. Nesse emaranhado para amante do Rock N'Roll nenhum botar defeito, temos o auge nas ótimas Teach The How To Bleed, Shoot Out All Of Your Lights, Victory Or Die e Evil Eye. Vale citar também a gloriosa participação do mestre Brian May em The Devil, outra que não deixa por menos em comparação as já citadas. O cover de  Sympathy For The Devil também ficou fenomenal, para dizer o mínimo, tão boa quanto ao clássico definitivo dos Stones, sendo uma daquelas músicas aparentemente feitas para a voz devastadora de Lemmy. 
    Não vemos aqui a fúria de Lemmy nos dias de gloria, em função das óbvias limitações que a vida impôs a ele, mas dentro das possibilidades, é um registro para lá de digno. Se será o último, só o tempo dirá, mas enquanto der o homem vai tentar, e Bad Magic é a prova disso. Sendo como for, os 40 anos de uma das maiores bandas da história foram celebrados a altura.