sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

NOSSOS IDOLOS NÃO SÃO DEUSES. INFELIZMENTE...

    Lamentavelmente o assunto desse texto não é nada legal, mas não tem como fugir dele. Phil Anselmo, um dos maiores ídolos e referências da história do Metal, cometeu uma cagada incalculavelmente triste recentemente. Vocês sabem o que foi, e prefiro não repetir, mas a gravidade chegou a um ponto injustificável, e proporciona toda uma reflexão. 
    Nossos ídolos do Rock alcançam uma importância em nossas vidas de tal tamanho que costumamos trata-los como deuses. Na verdade, são humanos como nós, com histórias de vida que transformaram eles no que são. Em sua esmagadora maioria, existe a combinação de genialidade artística, personalidade e boa visão de mundo em geral. Exemplos de "ídolos completos" não faltam, como Paul Stanley, Tony Iommi, Paul McCartney, Angus Young, Rob Halford, Brian May e tantos outros. Mesmo assim, existem outros com ideias e atitudes completamente opostas ao que compreendemos como Rock, um estilo que aceita todos os excluídos e que prega a harmonia, algo que predomina em eventos diversos. 
       Só nos resta lamentar profundamente o ato que Anselmo cometeu justamente num evento que homenageava o grande Dimebag Darrell. Foi a gota d'água de uma sujeira que sempre pairava no ar, de uma acusação que sempre existiu baseada em fatos, mas nós como fãs do Pantera procurávamos ignorar. Ao meu ver, é um ato que não existe justificativa, simplesmente inaceitável numa sociedade, ainda mais vindo de quem veio. Qualquer tentativa de fã cego na defesa do indefensável é doentio. Devemos sim cobrar dele, mostra-lo quanto errado é o tipo de pensamento pregado, e o quanto nos envergonha tal caso. 
     Isso posto, chegamos num ponto delicado, o boicote artístico. Eu sempre procurei relevar ideias e atitudes que condeno em nome da arte. Apesar de condenar o ato, não tiro de James Hetfield o status de ídolo por causa da desnecessária caça da qual ele era praticante. Também nunca condenei amigos e ídolos com pensamentos políticos diferentes do meu, pois numa democracia é direito de todos pensar diferente. Apenas em casos como Ted Nuggent (esse respeitando profundamente sua influência) e Varg Vikernes que os pormenores antes descobertos influenciaram no meu gosto pela arte - sendo franco, nem que o dito Varg fosse um ser humano maravilhoso eu iria gostar da tosqueira do Burzum. Anselmo chegou no limite, e sendo franco, se eu fosse conhecer o Pantera hoje simplesmente não escutaria pela postura de seu vocalista. Mas o caso não é esse, e sou fã da banda desde que me entendo por gente, tendo ela uma grande importância na minha vida. Por consequência, seu líder tem papel enorme nisso ai. Não vou sair quebrando meus discos, mas a história de Phil ganhou agora uma mancha do tamanho de um caminhão. Não existe forma de defender o indefensável, temos sim que cobrar, e no meu caso diferenciar o seu legado incrível de suas ideias tortas. 
   O caso me fez refletir também sobre a comunidade do Heavy Metal. Já conheci alguns ídolos maravilhosos como pessoa, como todos os integrantes do Angra, Sepultura, Krisiun, Entombed e Obituary, Dave Lombardo do Slayer, Mark Jansen do Epica, entre muitos outros. O ambiente em shows é da mais pura amizade, como aconteceu ontem na apresentação do Exodus ao lado de vários irmãos de estilo, companheiros numa paixão. Mesmo assim, o meio do Heavy Metal está repleto de pessoas com os pensamentos mais estúpidos, algo notório para muitos frequentadores da chamada "cena". E pelo que sabiamente foi dito por Robb Flynn, não é só aqui que isso acontece. Muitos são capazes de achar normal, e se ver na pele de Anselmo com ideias igualmente condenáveis. Por vezes o estilo transgressor se vê semelhante a família tradicional, o berço do racismo lá e aqui. 
     Como esse triste episódio será superado ainda não sabemos. Continuo fã da arte de Phil Anselmo, mas meu respeito e admiração pessoal por ele caiu proporcionalmente ao orgulho que senti de Gene Simmons ao viajar para encontrar um fã de Kiss em estágio terminal que tinha como último desejo conhece-lo. Ambos acontecimentos escancararam o mais bonito e sujo lados do estilo de música e vida que tanto amamos. Que ele compense a merda sem tamanho que fez, porque sua imagem de ídolo está permanentemente arranhada! 

SHOW DO EXODUS - CIRCO VOADOR - RIO DE JANEIRO

    Ficou nas mãos do Exodus a responsabilidade de abrir o calendário de grandes shows de 2016, que em pleno janeiro já conta com um número considerável de atrações de peso. Depois de fazer um show realmente memorável no mesmo Circo Voador em 2014, tendo lançado o bom Blood in, Blood Out pouco depois, é chegada a hora do retorno para a sua divulgação. O retorno teve uma baixa considerável (bota considerável nisso) no line up. O também guitarrista do Slayer Gary Holt acabou cancelando sua participação poucas semanas antes. O caso não foi devidamente esclarecido, mas rumores dão conta de que ele se comoveu com o pedido de sua filha autista. Na prática, o grande guitarrista Kragen Lum - companheiro de Lee Altus na mais que clássica Heathen - deu conta com sobras. Mesmo assim, o público respondeu ao fato, e compareceu em número ao menos 2x menor do que aquele que lotou a lona na última empreitada carioca do Exodus. Aos que não foram, só fica meu lamento, porque o show dessa referência máxima do Thrash Metal foi impecável. 
     Depois da abertura do Test, já tradicional em diversos shows do estilo pelo país, chegou a hora da 2a lição de violência que o Exodus proporciona aos cariocas em menos de dois anos. Cerca de 20 minutos depois do horário programado, a já citada dupla do Heathen, o sempre carismático Steve Zetro Souza, o baixista Jack Gibson e o batera Tom Hunting - único da formação que gravou Bonded by Blood - tomava conta do palco sagrado do Circo. A intro eletrônica de Black 13 já estoura os tímpanos, dando inicio aos trabalhos com correção. Nela acontecem alguns problemas com a guitarra de Kragen - logo ele -, que felizmente foram rapidamente contornados, mas não sem deixar grande parte da música com uma guitarra só. Dali para frente, tudo nos conformes, com um som impecável e uma performance digna de nota. Blood In, Blood Out já tem status de clássico. Caiu no gosto dos fãs, que cantam cada verso, mostrando o valor de alguns números do bom trabalho. Ai chega a hora de hino, indo direto para a obra-prima da banda, com  And Then There Were None. Ai a lona pega fogo de vez, com um público não tão grande, mas ligado sempre no 220. A espetacular  Children of a Worthless God, única representante da "fase Dukes", mostra toda a qualidade dos "Exhibits A e B", que de tão bons impõe ao menos uma citação em qualquer show da banda. A presença de Deranged surpreende, mas é mais que acertada, já que um trabalho Pleasures of the Flesh - estreia de Zetro na banda - não poderia passar em branco. O mesmo é um belo frontman, com sua voz rasgada comandando a carnificina na pista, somado a um papo na medida certa com os presentes em um intervalo ou outro. A nova Salt the Wound cresce absurdamente ao vivo, sendo daquelas ótimas para um bate-cabeça daqueles. A espetacular Body Harvest se destaca no disco novo, na minha opinião ao lado de Numb. O mesmo foi explorado na medida certa e mostrou enorme poder de fogo, dando um ar de renovação e muita qualidade em meio aos hinos eternos do Thrash Metal. Falando nisso, chega a hora de uma dobradinha daquelas. Metal Command e Piranha amigos, preciso dizer algo mais? Impossível traduzir o que virou a pista nesse momento com dois dos momentos mais brilhantes do estilo. War Is My Shepherd apresenta o ótimo  Tempo of the Damned pela 1a vez na noite, deixando o clima ainda lá em cima, para estourar com o clássico máximo A lesson in Violence, que sempre me emociona profundamente a cada audição. Seguindo a mistura Bonded/Tempo, vem a maravilhosa Blacklist. Impaler é mais uma do disco de 2004, muito bem explorado também, encerando a parte regulamentar do show.
   Para o bis, fica reservado um trio matador para acabar com o último pingo de energia dos presentes. Os hinos sagrados Bonded By Blood, The Toxic Waltz e Strike of the Beast - com o tradicional wall of death no meio - já fariam valer qualquer show, e deixaram um enorme sorriso no rosto de cada presente ao final da brincadeira. Foi uma noite realmente única, mais um show indescritível de uma banda única. Os caras simplesmente superaram as dificuldades de ver a alma da banda fora da turnê, e entregaram aos fãs um show digno do nome Exodus. Mais uma bela lição aos cariocas de como se faz Thrash Metal, e um belo começo para um ano que promete. Uma pena que a resposta em números não tenha sido tão satisfatória, o que pode atrapalhar planos futuros da cidade em shows assim.

domingo, 24 de janeiro de 2016

R.I.P JIMMY BAIN

    E lá vamos nós, dando sequência a triste rotina de dar adeus a grandes nomes da música, algo lamentavelmente um tanto quanto comum nos últimos tempos. O grande Jimmy Bain é a bola da vez. Ele era, e sempre foi, o cara do apoio em bandas lendárias, que trabalhou duro em parcerias com gente do porte de Dio e Phil Lynott, só para citar dois. 
   Além de criar magníficas linhas de baixo, Jimmy também era um compositor de mão cheia, ajudando a dar vida para clássicos do porte de The Last In Line, Mystery, Stand Up and Shout, Straight Through the Heart e Rainbow in the Dark, entre muitos outros. Sua carreira decolou no Rainbow, onde gravou o fundamental Rising ao lado de um time de sonhos formado por Ritchie Blackmore (guitarra), Cozy Powel (bateria), Tony Carey (teclado) e Dio. Depois de fazer história num clássico definitivo, tocou com o Thin Lizzy, e firmou parceria com o grande Phil Lynott em seus discos solos. Em seguida, foi chamado pelo velho amigo Dio para fazer parte de sua banda solo. Foram anos de amizade e parceria com a voz definitiva do Heavy Metal, anotando seu nome em todos os clássicos lançamentos da banda até Killing The Dragon de 2002. 
      Um currículo de operário do Rock, que com toda a sua genialidade nas 4 cordas criou linhas que fizeram parte de alguns dos discos mais importantes da história, chegou a hora de Jimmy Bain descansar. Nos últimos tempos, o homem formou o grupo Last In Line com os velhos companheiros de Dio Vivian Campbell e Vinnie Appice, com quem se apresentou recentemente no aquecimento para o cruzeiro do Def Leppard. Em breve será lançado o trabalho Heavy Crown, a última oportunidade de ver um mestre em ação. Pelo time de estrelas envolvido no projeto, não é de se esperar nada menos que um belo trabalho. Até lá, não é sacrifício nenhum fazer um tributo ao som dos clássicos irretocáveis que Jimmy Bain anotou ao longo de todos esses anos de dedicação a boa música. Descanse em paz grande! 


sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

AVANTASIA - THE METAL OPERA

   Em 2001 o nome de Tobias Sammet já era gigante dentro do Heavy Metal, ou mais especificamente, do Power Metal. Tendo lançado o espetacular Theater of Salvation pouco antes, disco que considero o melhor do Edguy, o vocalista decidiu embarcar num ousado projeto musical. A ideia era contar uma história em forma de música, com um time invejável de vocalistas sendo seus personagens. Não era algo inédito, mas o sucesso absurdo que o projeto alcançou fez surgir alguns semelhantes, mas nada se igualou ao que o Avantasia fez desde então. 
     Me atendo a parte musical da coisa, The Metal Opera é um dos discos mais importantes da história do estilo, e o resultado foi tão significativo que a banda teve uma continuação em trabalhos ótimos lançados até hoje, em paralelo com o Edguy, com um ajudando o outro a crescer ainda mais. Andre Matos, Michael Kiske, Rob Rock e Kai Hansen estão entre os convidados de Tobias, e ao seu lado tem papel fundamental no resultado final. 
    A obra-prima do Avantasia começa - depois da intro Prelude - com a minha música preferida da banda. Reach Out for the Light é aquele típico Power Metal na sua mais perfeita forma. Um riff inspirado e versos que vão crescendo até desembocar num refrão daqueles. Simplesmente impecável, já deixando o ouvinte com a melhor das impressões. Dali para frente vemos uma sequência de clássicos. E tome Sign of the Cross, Farewell, Avantasia, The Tower e tantas outras maravilhas. Destaque também para Breaking Away e Serpents in Paradise, mas a audição completa é mais que justa, já que é um trabalho linear que chega ao final de maneira completa. Discos assim não devem ser ouvidos fora de ordem, e cada parte tem sua importância.  
    Nesse tempo tudo que Tobias fazia dava certo. Logo depois de lançar essa perfeição, ele fez Mandrake com o Edguy, talvez o trabalho mais importante lançado com a sua banda de origem. Com Metal Opera, o homem deixou um marco muito importante no estilo, que naquele tempo ainda estava no auge, ou muito perto disso. 


quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

DAVID BOWIE - BLACKSTAR

    Poucos - para não dizer nenhum - discos da história tem o apelo emocional de Blackstar, a despedida que David Bowie entregou aos fãs dias antes de morrer. O que faltava para o homem megacriativo que antecipou diversas tendências e deixou uma ampla discografia de legado? A última cartada, a última inovação que sua mente brilhante poderia realizar. Transformar a dor e sofrimento de uma morte anunciada pelas desgraças da vida em arte. Foi  essa a proposta de um homem consumido pelo Câncer no disco feito de presente aos fãs. 
     Bowie escolheu ter uma vida sossegada, com a privacidade prevalecendo, nos seus últimos anos de vida. Desde a Reality Tour (2004) ele não faz mais shows, e em 2013 rompeu o silêncio com o lançamento do bom The Next Day. Mesmo assim, depois de vários ataques cardíacos e da derradeira luta de um ano e meio contra o câncer, fazia questão de lembrar que a vida na estrada já não era mais possível. Em Blackstar o silêncio foi novamente rompido, inicialmente num clima pesado dificil de explicar. Em breve a noticia de sua morte explicou muito bem.
    O disco apresenta um clima carregado, com letras profundas e geniais autobiográficas para o momento em que foram compostas. Ouvimos um murmúrio arrepiante de um homem em sofrimento, ainda assim com a espetacular voz em ótimo estado, transformando em arte seu inevitável fim. Lazarus ganhou uma nova proporção depois da noticia, com o clipe sendo o mais perfeito possível, se encaixando perfeitamente na detalhada e complexa letra. Até aquele "todo mundo me conhece agora" - de amplo significado - aparece nela. A faixa-título é outro grande destaque. Com um arranjo amplo e magnífico viajando pelos 10 minutos e uma letra inspiradíssima, simplesmente não tem erro! Fora as duas, o maior destaque ao meu ver é Dollar Days, que lembra vagamente os momentos mais inspirados de sua carreira. Fora elas, o trabalho segue uma linha jazz/experimental, com o baixo e a bateria aparecendo em primeiro plano. Dificil avaliar muito tecnicamente um trabalho feito nessas condições, com tamanha carga emocional, mas em linhas gerais achei ele bem interessante. 
     Os fãs devem sempre agradecer o presente que David Bowie fez questão de entregar em um de seus últimos atos em vida. Blackstar apresenta momentos muito interessantes para a nossa despedida da gloriosa vida artistica de um dos maiores artistas da história da música. Muito obrigado Bowie, especialmente pelo presente final! 


quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

DISCOGRAFIA COMENTADA - MOTORHEAD

    Depois de um tempinho, vou fazer aquela classificação para alguns discos da lista de bandas clássicas do Rock N'Roll. O momento clama por algo assim do Motorhead, que dispensa maiores apresentações, e dispõe de um material vasto para a devida apreciação. A discografia do Motorhead não possui um disco em especial para ser chamado de péssimo, ou mesmo ruim, e inúmeros clássicos ou trabalhos muito bons. Sem mais delongas, vamos a eles:

EXCELENTES
Ace of Spades (1980)

    A disputa pelo título de clássico maior do Motorhead é para lá de equilibrada, mas não são poucos os que intitulam Ace of Spades como tal. O disco é a evolução natural da discreta estreia e da consagração com Overkill e Bomber, apresentando uma série de maravilhas sonoras e o hino definitivo da banda. A faixa-título é a tradução perfeita do espírito de Lemmy, Taylor e Clark naquele começo. Fora a magnífica faixa título - com um dos riffs de baixo mais marcantes do Rock -, ainda temos pérolas do porte de Love Me Like a Reptile, Shoot You in the Back, The Chase Is Better Than the Catch, Live to Win, entre outros. São 12 faixas com o melhor que a banda pode produzir. Imperdível por completo!

Overkill (1979)


   Overkill divide com Ace of Spades o título de melhor disco da banda para 95% dos fãs. Para mim é empate técnico, com leve vantagem para o já citado, já que é o disco que me viciou completamente em Motorhead e um dos que mais escutei na vida. Overkill consagrou a banda em definitivo, sendo infinitamente superior a estreia que leva o seu nome. Fora a maravilhosa faixa-título, o hino do trabalho com o alucinante Animal Taylor arregaçando no bumbo duplo, aqui temos uma verdadeira coleção de clássicos. Stay Clean, No Class, Damage Case e Metropolis são alguns deles. Outra maravilha indispensável! 

ÓTIMOS

1916 (1991)

    Depois de algumas idas e vindas oriundas das saídas de Phil Taylor e Eddie Clarke, a banda apresentou uma bela formação para gravar esse belíssimo trabalho. Naquele breve momento de quarteto, se juntaram a Lemmy o "retornado" Animal Taylor e a dupla de guitarristas Phil Campbell e Würzel. Não são poucos os que idolatram esse time. Considero este trabalho, até certo ponto, injustiçado. É um momento de absurda inspiração do Motorhead, um trabalho absolutamente equilibrado recheado de ótimos momentos, que em nada deve aos trabalhos dos 1os anos. Sem novidades sonoras, apenas com aquele Rock basico e acelerado que consagrou a turma, temos maravilhas como No Voices in the Sky, Angel City (para mim a melhor do disco), R.A.M.O.N.E.S., Love Me Forever e The One to Sing the Blues. Fora essas, temos o maior clássico daqui, a magnífica Going to Brazil - nossa eterna homenagem. Quem olha a letra percebe a melhor descrição de uma longa viagem de avião, no caso a que levava a banda para cá na histórica turnê de 1989, 1a de muitas que viriam até hoje. Outro disco pronto para uma completa apreciação. 

Bastards (1993)

   A dupla Bastards/1916 é outro empate técnico ao meu ver. Para mim a vantagem mínima do anterior está num maior equilibrio do trabalho como um todo, mas Bastards é outro momento magnífico da trajetória do Motorhead, na qual a descrição do anterior cabe perfeitamente. Depois de uma leve derrapada em March ör Die, Bastards apresenta uma retomada ao que foi feito em 1916, com a estreia oficial de Mikkey Dee nas baquetas da banda - ao menos na criação. Mais uma coleção de ótimos momentos, com destaque para On Your Feet or on Your Knees, Death or Glory, Don't Let Daddy Kiss Me e Liar. Fora essas, o disco tem a melhor música do Motorhead na minha opinião, a inigualável Born to Raise Hell. Minha 1a providência ao saber da morte de Lemmy foi coloca-la no volume máximo, e cair nas lágrimas em sequência. Bem, só isso já justifica seu posto. 

BONS

Bomber (1979)

     Bomber surgiu de um expediente comum nos anos 70, que é pegar carona no sucesso arrebatador de um trabalho - no caso Overkill - e lançar um disco novo logo em sequência para arrematar. Assim sendo, poucos meses depois da consagração, mais um clássico chega arrombando as portas dos amantes de Rock N'Roll em 1979. Bomber não chega a perfeição dos discos anterior/futuro, mas não faz feio em momento algum. Mais uma coleção de clássicos diretos, com destaque para a faixa-título, mas também para a maravilhosa Dead Men Tell No Tales, Lawman, Stone Dead Forever e Poison, entre outras, fazem do disco em questão mais uma pérola na vasta discografia da banda. 

Iron Fist (1982)

   Aquele início de década de 80 foi uma fase de ouro na carreira do Motorhead. Depois da consagração mais que definitiva em Ace of Spades, da gravação do arrebatador "alive" No Sleep Til Hammersmith durante a proveitosa tour e de todo sucesso alcançado, Lemmy, Eddie e Phil retornam ao estúdio para gravar mais um clássico indiscutível. A faixa-título é de longe o maior destaque, mas as boas (Don't Need) Religion, Shut It Down, Go To Hell, Loser e Heart of Stone, para citar algumas, ajudam a fazer uma base ótima. Apesar do resultado fantástico, o clima não é dos melhores, e Eddie Clarke deixa a banda no auge, fazendo a mesma passar por maus bocados com o "diferentão" Brian Robertson, seu substituto. Seja como for, Iron Fist é uma despedida mais que digna da formação clássica da banda.

RUIM

Snake Bite Love (1998)

    Como já foi dito, o Motorhead não tem um trabalho propriamente "ruim" em sua trajetória. Mesmo assim, alguns deles estão num nível claramente abaixo dos demais, mesmo apresentando momentos bons e não sendo uma audição complicada. Alguns trabalhos no final da década de 90 e inicio de 2000 não são lá muito inspirados, e esse é um desses casos. Um disco completamente esquecido dentro da discografia, que segundo a própria banda foi efeito de um trabalho feito às pressas. Não chega a ser algo para ser esquecido, mas em meio a uma discografia extremamente coesa, Snake Bite Love aparece por muitas vezes renegado. 


    Bem, é sempre ótimo viajar na história dessa banda maravilhosa que lamentavelmente chegou ao fim. Como a regra prevê apenas 6 discos nas categorias nobres, muita coisa boa fica de fora. Discos como Another Perfect Day (1983), Orgasmatron (1986), Sacrifice (1995) e a grande sequência recente com Inferno (2004), Kiss Of Death (2006), Motorizer(2008), The World Is Yours (2010),  Aftershock (2013) e o derradeiro Bad Magic (2015) são audições obrigatórias. No mais, só temos a agradecer aos deuses do Rock por Lemmy ter passado seus últimos 40 anos de vida fazendo música da melhor qualidade. Sua obra fica de herança para todos nós. 


quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

ESTAMOS VENDO O FIM DE UMA ERA DE OURO?

   O Rock N'Roll começou a tomar forma nos anos 50, pelas mãos de mestres como Little Richard, Elvis Presley, Chuck Berry, Jerry Lee Lewis e tantos outros. Ali foi o marco inicial, um pontapé para muita maravilha que iria se multiplicando pouco a pouco, chegando ao seu auge nas duas décadas seguintes. Se os anos 80 são os anos definitivos do Heavy Metal e do Hard Rock (ou Glam), as décadas de 60 e 70 são os anos definitivos do Rock N'Roll. Lá surgiram os gigantes do estilo, as bandas que são eternas referências dos amantes da boa música, e até hoje estão num posto inigualável. 
    Beatles, Rolling Stones, Iggy Pop, Deep Purple, Queen, Led Zeppelin, Black Sabbath, AC/DC, Pink Floyd, Judas Priest, Bob Dylan, The Who, Aerosmith, Kiss e outros infinitos nomes abrilhantavam os olhos dos garotos. Era o Rock N'Roll cada vez mais potente. Nesses tempos, o estilo de vida sexo, drogas e Rock N'Roll era levado as últimas consequências. Por vezes a combinação é fatal, e muitos integrantes dessas lendárias bandas acabaram dando adeus a vida muito cedo. Outros tantos sobreviveram ao agito e aos acidentes a que estamos expostos dia após dia, e já na casa dos 70 anos de idade, ainda estão entre nós, sendo muitos deles ativos artisticamente. Infelizmente, isso parece ser questão de tempo,  suas permanências por aqui parecem cada vez mais questão de tempo. 
     A vida tem um ciclo, e com o passar do tempo, o dos astros das maiores bandas de Rock da história está chegando ao fim. Recentemente, vimos na prática toda essa teoria. David Bowie e Lemmy, dois ícones eternos do estilo, perderam a luta para o câncer, e morreram. Com eles, o Motorhead e a "banda" David Bowie deixaram de existir no nosso plano, sendo a partir de agora presentes apenas nas nossas discografias. Duas pauladas impiedosas no estilo musical que tanto amamos. É triste pensar nisso agora, mas eles são os primeiros de uma lista que veremos partir nos anos que estão por vir. Em nó máximo dez anos, a época de ouro do Rock vai deixar de existir no nosso plano.
    Isso posto, chegamos a uma conclusão ainda mais perturbadora. Cadê seus discípulos? Cadê as novas bandas de arena, os novos Paul McCartney, Tony Iommi, Robert Plant e Neil Peart? Apesar de um bom número de boas bandas novas, não vejo nada com potencial ao menos semelhante a dos gigantes. Os motivos são muitos, e merecem um outro texto exclusivo, mas a real situação é essa. Estaríamos com os dias contados? A resposta está nas nossas mãos, nas novas bandas, e na disposição dos fãs em aceita-las. O planeta do Rock precisa com urgência de novos Lemmy's e David Bowie's, que tracem trajetórias semelhantes, e em 50 anos tenham importância semelhante aos dois monstros que nos deixaram. O buraco artístico  da dupla é enorme, e suas respectivas obras são eternas. O cenário no momento é realmente muito preocupante. Vamos ver o que o futuro próximo nos reserva, mas o certo é que uma era de ouro do Rock está nos últimos dias no nosso mundo.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

R.I.P DAVID BOWIE

   Todos sabem que não faz muito tempo que o Lemmy morreu, sendo assim impossível não comparar os casos dele e de David Bowie. A noticia me apresentou um choque de realidade, ao ver um glorioso capítulo do Rock N'Roll se encerrar. Ai parei um segundo e pensei - isso é algo que precisamos nos acostumar. O momento mostra que não resta muito tempo a uma gloriosa geração que fez história nos anos 60/70, num momento da vida onde os excessos podem custar caro. A cada dia teremos que nos despedir de gênios insubstituíveis, que em suas partidas deixarão uma lacuna de preenchimento impossível. Ali pensei, hoje é Lemmy, em breve será Keith Rchards, Paul McCartney, Jimmy Page, Tony Iommi, Iggy Pop.......e David Bowie. Não demorou muito para a realidade se apresentar. Mais uma triste despedida aconteceu no dia de hoje, a do mestre Bowie. 
     O legado deixado pelo "homem que vendeu o mundo" é realmente de uma profundidade invejável. São várias "fases", discos indispensáveis e uma tonelada de hinos eternos do estilo. Sua importância transcende o Rock e a música em si, fazendo o mundo em geral parar em respeito nessa manhã. Um desses clássicos é a lendária e espetacular parceria com o Queen em Under Pressure, momento de luz em meio ao fraquíssimo Hot Space. E é só o começo. Trabalhos como Space Oddity, The Man Who Sold the World, Hunky Dory, The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars, Low, Heroes e tantos outros são audições indispensáveis. A obra-prima Life On Mars? é ao meu ver o destaque absoluto, uma das mais belas e inspiradas que já escutei. Bem, um texto é muito pouco para dissertar sobre a sua marca.
    O certo é que a morte de Bowie, menos de um mês depois de Lemmy, deixa outro rombo incalculável no Rock mundial. O momento escancara a necessidade de substitutos decentes, mas lamentavelmente eu vejo poucos capazes de fazer frente aos mestres. Novamente recomendo que aproveitem esses nomes em vida. Infelizmente agora temos mais um artista presente apenas em suas obras e em nossas memórias. A obra é farta, e vai nos oferecer um bom divertimento. Descanse em paz grande Bowie, já sentimos muito a sua falta por aqui! 

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

NATAL/ANO NOVO PARA ABALAR AS ESTRUTURAS DO ROCK MUNDIAL COM SENTIMENTOS OPOSTOS

   Numa época tradicionalmente "tranquila" - para não dizer parada -, duas noticias de sentimentos opostos chegaram para abalar completamente as estruturas do Rock mundial. A terrível morte de Lemmy e o para lá de improvável e requisitado retorno de Slash e Duff para o Guns N'Roses levaram os fãs a extremos emocionais. Bem, o assunto rende textos que mais parecem pequenos livros, mas vou tentar resumir tudo que penso em um só. 
     A morte do Lemmy é uma daquelas para paralisar tudo quando o assunto é Rock. O efeito dela e do consequente/óbivio fim do Motorhead apresenta um prejuizo sem tamanho para o estilo. Na arte em geral, o trabalho bem feito dura eternamente, e seguramente é esse o caso. Mesmo assim, é triste pensar que daqui para frente uma das maiores bandas que conhecemos só existe a cada tributo de seus fãs ao colocar o disco no play. A realidade sem discos novos e apresentações é devastadora, e pior, algo que devemos nos acostumar. Em breve será a vez de tantos outros com idade semelhante. Por tudo isso, aproveite cada show que rolar, esses caras não vivem para sempre. Em 2011, muitos podem ter faltado ao show do Motorhead alegando que "eles sempre vem". Hoje muitos falam o mesmo quando Iron Maiden, Megadeth, Aerosmith, Paul McCartney, Metallica e tantos outros dão as caras. Será que em 2020 esse show de agora não vai fazer falta? Fica a reflexão, já que falar mais qualquer coisa a cerca da importância do senhor Lemmy nada mais é do que chover no molhado.
     Depois dessa bomba, vem a revelação oficial que muitos sonhavam, e ao longo de 2015 foi se materializando pouco a pouco. Muito tr00 pode fechar a cara para o Guns N'Roses, que por vezes é um tanto quanto superestimado pela parcela rockista de seus fãs, mas negar sua grandeza e importância - assim como a qualidade de seus componentes - é um equívoco sem tamanho. Dito isso, muitos passaram uma vida sonhando com o dia em que Slash e Axl voltariam a ser amigos, e por consequência, dariam sequência a trajetória interrompida precocemente.
       A brincadeira tomou contornos de realidade quando Duff fez alguns shows com Axl e sua banda de apoio em 2014. O clima criado foi tão bom que Duff teria - por enquanto, essa é a expressão - sido efetivado pelo amigo de longa data para um futuro próximo. Isso se daria pelas mancadas do então baixista, e obviamente, por tudo que rolou em cima dos shows já feitos. Boa-praça que é, Duff então fez ser possível um papo entre a dupla rival por mais de 20 anos. Resultado disso? Reconciliação assumida por Slash em entrevista recente, quando tudo começou a  tomar forma.
   Até ali, era só paz celada, mas vamos falar a verdade. Ninguém está aqui para rasgar verdinhas. Todos sabem que esse tipo de reunião da um retorno fantástico, e só sérias brigas fazem com que parceiros infalíveis se afastem. Quando o papo é posto em dia, não teria porque negar isso aos fãs e a sí mesmo. Em pouco tempo, uma série de fatos foram acontecendo, fazendo a tal impossível reunião virar algo real. Declarações de gente importante no backstage da coisa, demissões pontuais e tudo mais, foram fazendo dos boatos insuportáveis de internet não serem o caso no presente momento. Eram sim informações, notas de bastidores de algo grande que estava para acontecer, e que todos que entendem do assunto passaram a ver como questão de tempo. Depois do surgimento do logo antigo na página da banda, a questão estava encerrada para qualquer um que conhece minimamente sua história.
   Agora é oficial, e os ingressos para o 1o show no indie/bosta festival Coachella já evaporaram. Slash, Duff e Axl vão tocar juntos novamente, e o tal line-up é outra questão que da o que falar. Em resumo, penso que gente como Izzy, Adler, Matt e Clarke, necessariamente nessa ordem, são fundamentais para a banda na sua história. A ausência de Adler e Izzy, os originais, não faz da "volta" uma reunião original, e sim uma nova formação. Mesmo assim, essa nova formação faz do Guns uma banda de verdade novamente, e não uma paródia. O trio forma ao meu ver a linha de frente, e quando foi modificado, a vaca foi pro brejo. Izzy já disse que não pretendia voltar para a vida de GNR, e possívelmente recusou a oferta. Adler não está num estado físico que inspira confiança para tal empreitada, e muitos não seriam nem loucos de tentar algo com ele. O caso de Matt é enigmático, mas acredito na confiança de Axl no atual batera, e em rusgas antigas mal resolvidas. De qualquer maneira, ver o trio junto novamente é algo a se comemorar, e muito!
    Num curto espaço de férias, as duas bombas vieram. Como já falei de Lemmy antes, preferi abordar mais o assunto GNR, mas ainda é complicado digerir a perda. Com a reunião, ando vendo gente acreditando na volta de Jesus com os apóstolos presentes na última ceia, mas pelo amor de Dio, CADA CASO É UM CASO! As coisas foram acontecendo e possibilitaram o retorno, e ainda dizem, uma volta do Skid Row foi pedida pelo velho amigo do Tião, mas ainda não temos muito o que falar sobre isso. Nada de ficar pensando em Pantera (até porque nesse caso tem morte no meio da treta, o que complica absurdamente qualquer coisa), Sepultura, Angra, Led Zeppelin, Pink Floyd ou sabe-se lá mais quem. Tentei resumir ao máximo esses assuntos para lá de palpitantes. Vamos ver o que 2016 nos reserva, mas por enquanto, a única certeza é que um gigante já nos desfalca.