segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

SHOW DOS ROLLING STONES + TITÃS - MORUMBI - SÃO PAULO - DIA 27

    Na noite do dia 27 de fevereiro, os Stones encerraram sua passagem por São Paulo na atual turnê com um show que ficará eternizado na memória dos felizardos que lotaram cada centímetro do Morumbi. Foi o segundo show da turnê que tive a oportunidade de assistir, sendo o 1o o do Rio de Janeiro. Em comum, a forma física e musical impecáveis desses senhores, que por duas horas encantaram os presentes. Entretanto, o que o público paulista viu foi ao meu ver algo ainda mais grandioso, graças a aparições do nível de She's A Rainbow (escolhida em votação popular), All Down the Line e Wild Horses, por exemplo.
    Não poderia começar a falar dos shows em si sem citar a magnífica abertura da noite. Se tem uma banda de Rock nesse país digna de abrir um show dos Rolling Stones, essa banda é o Titãs. A história dela fala por si, e nos 50 minutos disponíveis a banda fez uma bela seleção de clássicos. Tome Bichos Escrotos, AA UU, Policia, Desordem, Cabeça Dinossauro, Diversão e Lugar Nenhum, entre outras. O público recebeu muito bem a apresentação, cantando e aplaudindo o tempo todo, acompanhando a performance excelente de Paulo Miklos (vocal e guitarra), Branco Melo (vocal e baixo), Sergio Britto (vocal e teclado), Tony Belloto e Mario Fabre (bateria). Uma abertura de manual, com todos devidamente aquecidos para o momento máximo da noite.
    Com uma pontualidade absurda, Mick Jagger, Charlie Watts, Ronnie Wood e Keith Richards estavam precisamente às 21h em cima do palco do Morumbi. A abertura foi trocada em relação ao 1o show de São Paulo e do Rio, ficando a cargo do hino Jumpin' Jack Flash tão nobre posto. Assim como no Rio, senti o público um pouco frio para a força da apresentação, mas nada que comprometa absurdamente. Nos maiores clássicos se via um certo agito, principalmente mais para o fim da noite. O que continua impressionando é a performance, que foi simplesmente impecável. Todos ali estão na plenitude da forma, e não se permitem errar. O som também estava divino, com a mesma qualidade absurda vista no Maracanã, algo que facilita em muito o trabalho dos músicos. It's Only Rock 'n' Roll (But I Like It) e Tumbling Dice formam uma trinca brilhante para o começo, fazendo qualquer pedra se emocionar profundamente. Out Of Control cai bem demais também, provando que Bridges to Babylon passou com louvor pelo teste implacável do tempo. Agora é chegada a parte do set destinada as inovações, que varia noite após noite. A seleção feita para esse segundo show de São Paulo foi irretocável. All Down The Line, épico momento de Exile on Main St., dispensa comentários. O público paulista votou com sabedoria, e escolheu simplesmente She's a Rainbow, de Their Satanic Majesties Request, momento mais psicodélico da história da banda. A maravilhosa balada Wild Horses chega para arrematar corações. Som levemente aumentado, é hora de Keith estremecer o Morumbi com o riff de Paint It Black, uma dádiva da banda no atual set. Então o mesmo Keith mostra sua afinação em sol aberto, sua marca, proporcionando em Honky Tonk Women um estrondo único e maravilhoso. A música que segundo relatos surgiu numa casa escondida em Matão, interior do estado, foi mais um momento glorioso da noite de sábado.
      Jagger apresenta a banda com a irreverência de sempre. Destaques para o "Rogério Ceni do Rock" Ronnie Wood e "a rainha da Bossa Nova" Charlie Watts. Simplesmente impagável. Jagger sempre se prova um dos grandes frontman's que conhecemos, esbanjando presença de palco e carisma nas falas em português com o público. Hora dele passar a bola para Richards, que canta os próximos dois números da noite. As escolhidas foram Slipping Away - pérola escondida em Slipping Away - e Before They Make Me Run. Sábias escolhas, já que ambas não apareceram no 1o show. Eu acabei dando o azar de não escutar Happy nos dois shows que fui, mas não posso reclamar de forma alguma das escolhas. 
     Midnight Rambler chega para o show de Blues e improvisação tradicional em sua versão de 12 minutos dos shows. Miss You tem seu riff cantado pelo estádio todo, precendendo a absurdamente emocionante e maravilhosa  Gimme Shelter. Com ela vem a chuva, mas ninguém da a mínima para ela. Jagger continua andando pela passarela como se nada estivesse acontecendo, e a competentíssima e carismática Sasha Allen o acompanha, dando seu show vocal tradicional. A tal chuva continua sem ninguém dar atenção durante o agito de Start Me Up - verdadeiro hino do Rock. Ai a matadora Sympathy for the Devil chega, sempre crescendo ainda mais ao vivo. O show de efeitos demoníacos no palco em meio a narração histórica em 1a pessoa do coisa ruim criam um clima único, que faz a chuva se borrar de medo. A mesma se foi para não voltar mais, ficando claro que ali não era o seu lugar. Brown Sugar chega para encerrar o set regular num show de interpretação da banda. 
     Para o bis, vem You Can't Always Get What You Want, cantada como no disco Let It Bleed, o que exige um coral de verdade. O papel em São Paulo coube ao !Sampa Coral", criando com a banda algo sensacional. O hino definitivo Satisfection ao vivo é uma verdadeira celebração ao Rock. O show fecha com uma legítima festa para 70 mil convidados. 
       Assim acaba a passagem dos Rolling Stones pela capital paulista, num show maravilhoso e emocionante. Me sinto um privilegiado de ter visto talvez pela última vez uma das maiores bandas da história em ação no Brasil - isso tudo mais de 50 anos depois de seus primeiros passos no Rock. O show paulista foi ainda melhor no setlist, e contou com a mesma performance impecável dos quatro que vi no Maracanã. Pelo que percebemos, a banda ainda tem muita lenha pra queimar, disposição de sobra para muito mais Rock N'Roll. 

Duas imagens amadoras que fiz com o celular, quando cheguei no Morumbi e no final do show:


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

IRON MAIDEN: O QUE ESPERAR DOS SHOWS NO BRASIL

    Para quem conhece razoavelmente o Iron Maiden está cansado de saber disso, mas sempre é bom explicar. A banda leva o conceito de turnê - ter seu show e rodar o mundo com ele - ao pé da letra. O nome dela não é uma lustração para justificar os shows, e sim um conceito definido de direcionamento. Agora ela é para divulgar o ótimo The Book of Souls, e o show que o Brasil vai ver em março foi apresentado ao mundo na noite de ontem. O mais importante disso, que é o setlist, já está definido. 
    Pessoalmente não sou grande fã de um set fixo em turnês amplas assim, ainda mais para uma banda com uma infinidade de ótimas músicas. Toda banda tem seus 5 ou 6 sons obrigatórios, que não saem do set por nada nesse mundo. Como o Iron Maiden sempre levou a tour de disco novo a sério, tocando várias músicas novas, o espaço para números diferentes é limitado, principalmente levando em consideração a concorrência. Em linhas gerais, o que foi apresentado está bom, e vamos ser francos, escolher um set fixo assim não é tarefa das mais simples. Cada um tem sua opinião a respeito das escolhas, mas daqui pra frente pretendo discutir cada uma delas, e no final o que eu penso sobre o show que está para acontecer por aqui. 
    
SETLIST:
If Eternity Should Fail (The Book of Souls)

A abertura perfeita para a turnê. A música que também abre o disco foi feita para um começo de show. Sua intro é ótima, e abre espaço para uma música daquelas. Acho essa uma das melhores do disco, só perdendo para Empire of the Clouds, e essa é a posição para ela no show. Começo certo!

Speed of Light (The Book of Souls)

Sequência natural, no disco e ao vivo. O 1o hit do disco, que já está na boca de todos os fãs, deverá fazer o show seguir naturalmente num começo ótimo. 

Children of the Damned (The Number of the Beast)

Para tudo né amigo? A música dispensa apresentações, é uma das melhores do disco que é referência máxima da banda. Se apareceu em outras turnês, não importa, esse seguramente será um dos grandes momentos do show. Escolha fenomenal! 

Tears of a Clown (The Book of Souls)

Mais um ótimo número do disco recente, com total merecimento para aparecer em sua turnê. 

The Red and the Black (The Book of Souls)

Um tanto quanto longa, mas tem uma linha de guitarra que se destaca no trabalho. Sua duração joga contra numa apresentação, mas a qualidade dela é incontestável. 

The Trooper (Piece of Mind)

Essa é daquelas com lugar mais que garantido em qualquer setlist do Iron Maiden, e que muitos teriam um troço se não rolasse. Mesmo assim, para mim ela já ficou cansativa. Vindo de um disco maravilhoso, por mim em ao menos uma tour ela poderia ser substituída por Still Life ou To Tame A Land, mas não passa de um sonho. 

Powerslave (Powerslave) 

Minha música preferida do Iron Maiden. Preciso dizer algo mais? Grande momento do show de longe, e uma escolha que dispensa elogios! 

Death or Glory (The Book of Souls)

Essa eu já achei um certo exagero. Não acho fundamental sua aparição, mesmo sendo boa, esse tipo de inclusão engorda demais o espaço do trabalho novo no set. Eu teria escolhido entre ela e a próxima. Seis novas é um número bem elevado. 

The Book of Souls (The Book of Souls)

Mais ou menos o que achei da anterior. A sua duração também joga contra.

Hallowed Be Thy Name (The Number of the Beast)

Retorno fundamental! Essa obra-prima não pode nunca mais ficar de fora de nenhuma turnê. Além de hit, é uma das melhores da banda. Sábia decisão! 

Fear of the Dark (Fear of the Dark)

É unânime entre os mais fanáticos que ela já é cansativa, mas está no time de Trooper, com lugar mais que garantido em qualquer set. Ela é atualmente a de maior apelo popular, que é mais cantada, e isso faz dela o que é para a banda na escolha de sets. 

Iron Maiden (Iron Maiden)

O fechamento do 1o disco é a legítima apresentação do Iron Maiden ao mundo. A donzela vai te pegar onde quer que esteja, e em todo show da banda é obrigatório que tal grito seja entoado! 

The Number of the Beast (The Number of the Beast)

Para começar o bis, lá vem o hino máximo do Iron Maiden. Essa é uma daquelas que nunca cansa, um seleto grupo de músicas "tradicionais" que podem tocar eternamente. Nunca vou cansar disso...

Blood Brothers (Brave New World)

Mas olha só! Que surpresa maravilhosa! A configuração completamente diferente do bis é talvez a maior inovação dessa tour. A música em si dispensa comentários, para mim é a melhor desde o retorno de Bruce, e será um momento simplesmente épico!

Wasted Years (Somewhere in Time)
Wasted Years fechando! Que coisa linda será isso aqui! Um hino que sempre vale a pena em qualquer show do Iron Maiden, belíssima escolha e posição!


    Bem pessoal, temos muito para falar sobre esse assunto, e a discussão de setlist do Iron Maiden em inicio de turnê é uma das mais maravilhosas do Rock. Achei curto em número de músicas, talvez por causa da duração de algumas delas. Seis novas também achei um tanto exagerado. Penso que 4 ou 5 são o número ideal. Isso posto, achei ótimo a exclusão de 2 Minutes To Midnight e The Evil That Man Do, que já estavam pedindo uma pausa faz tempo. Escolher coisas como Children of the Damned e Powerslave no lugar foi simplesmente genial! No mais, o que penso foi bem resumido nesse texto. Vejo vocês em março no show!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

SHOW DOS ROLLING STONES - MARACANÃ - RIO DE JANEIRO

    Para começo de conversa, o fato de estarmos em pleno 2016 e ainda termos a oportunidade de assistir a uma banda como os Rolling Stones ao vivo é uma verdadeira dádiva dos deuses do Rock. A banda que contrariou todas a lógica possível continua ativa - com uma quantidade menor de shows é verdade, mas os mesmos possuem uma intensidade absurda. Na noite inicialmente chuvosa, mas que depois firmou, os cariocas tiveram a magnífica oportunidade de provar toda essa teoria ao vivo. Nós vimos um show tecnicamente impecável de uma das maiores bandas de Rock de todos os tempos. Isso já diz tudo.
     O começo da brincadeira foi debaixo de uma chuva torrencial, que felizmente caiu na hora certa, e parou cerca de uma hora e meia antes do show. Quem sofreu com ela foi a banda de abertura, o Ultraje a Rigor. Honestamente, gosto do som da banda, mas a figura de seu líder nunca me agradou muito, numa questão que vai muito além do partido que ele ataca, que também não me agrada nem um pouco. Digamos que algumas de suas posições mais extremas e briguinhas onlines refletem em diversos momentos, até num show de abertura para os Stones. A ocasião foi palco para mais um de seus chiliques, que felizmente não presenciei por preferir aguardar a diminuição da água tomando umas geladas num bar próximo ao estádio. Depois de tudo, sobraram reclamações para a equipe da banda, algo semelhante ao ocorrido no SWU de 2011 com a equipe de Peter Gabriel. Seria ele um perseguido isolado? Ignorando a parte desnecessária, vamos ao que interessa.
     Mesmo passando na hora certa, a chuva atrasou o show em cerca de 20 minutos, quando o estádio já estava entupido por 66 mil pessoas secas para ver uma lenda em ação. Um ótimo clipe de abertura introduz os senhores Mick Jagger, Charlie Watts, Ronnie Wood e Keith Richards ao palco do Maracanã, ao som do hino Start Me Up - mais que adequado para a abertura de um show. It’s Only Rock ‘n’ Roll (But I Like It), outro hino sagrado do estilo, arrebata a multidão de vez. A emoção era fortíssima nesse momento, já que esse simples refrão entoado por Jagger é a síntese de tudo de mais maravilhoso que esse estilo de música e vida proporciona. Tumbling Dice, pérola de Exile on Main St., faz da trinca de abertura uma das mais maravilhosas que já presenciei. Isso tudo com um som simplesmente perfeito, estando alto e nítido por toda a apresentação, proporcionando aos músicos a melhor condição possível para a brincadeira. Os mesmos não perderam tempo, com disposição de sobra e forma musical igualmente impecável. Watts é um dos raríssimos bateristas sessentistas que ainda mantém o pique por duas horas, algo digno de nota, assim como a performance vocal perfeita de Jagger. A dupla Wood/Richards não deixam por menos, e dão um show de riffs e solos ao longo da noite.
     Out of Control representa o relativamente recente Bridges to Babylon, sendo uma escolha até certo ponto surpreendente para os sets da turnê. Ela é um dos destaques do disco, e tem um efeito interessantíssimo ao vivo. Like a Rolling Stone foi a escolhida entre as 4 opções que o público fez, e o cover de Dylan que parece ser feito para os Stones caiu muito bem ao vivo. A nova Doom and Gloom é boa, inegavelmente, mas sua estreia na turnê no lugar de clássicos como Let's Spend The Night Together, apresentados em shows anteriores, foi ao meu ver o ponto fraco do set. Nada que prejudique o show. Outra grande surpresa foi a aparição da maravilhosa Angie, um belíssimo momento, mas que lamentavelmente substituiu a incomparável Wild Horses. Paint It Black foi simplesmente de arrepiar! Não consigo encontrar palavras para descrever a força dessa música com o som no talo e o timbre maravilhoso de Keith ao vivo. O mesmo teve seu momento de maior glória na noite durante o clássico Honky Tonk Women - que dizem alguns, foi feito numa fazenda no interior de São Paulo distante de todo o tipo de civilização. Sua tradicional afinação em Sol aberto apresentou nela um som absurdo, um dos mais assustadores que já presenciei em apresentações do gênero, provando que esse homem é de fato um dos grandes da história. O público que foi bem pouco participativo ao longo da noite, mesmo por vezes sendo empolgado por um dos maiores frontman's que se tem noticia. Uma banda em estado de graça merecia bem mais, só que atualmente o que mais vemos é gente mais preocupada com tecnologia do que com o show em si. Depois de Mick apresentar a banda completa, hora de Keith assumir os vocais para as duas próximas. Happy foi limada do set, mas é impossível falar algo com escolhas do porte da matadora You Got the Silver e da não menos fantástica Before They Make Me Run. Dois dos melhores momentos do show! Para arrematar, vem a tradicional Midnight Rambler, bem esticada ao vivo, com um show da veia Blues pulsante da banda. Miss You, que mesmo sendo um clássico nunca me empolgou muito, agita de vez a turma mais tímida, dando início ao desfile final de hinos eternos do Rock. Gimme Shelter dispensa apresentações, é seguramente um dos números mais maravilhosos da carreira da banda, e aqui serve para um show a parte da sensacional  Sasha Allen. A moça se divertia como poucas no palco, sempre esbanjando competência.  Brown Sugar, a clássica abertura de Sticky Fingers, bota o estádio abaixo, seguida pela espetacular Sympathy for the Devil. A narração de acontecimentos históricos em 1a pessoa pelo coisa ruim vem acompanhado de diversos pentagramas, bodes e cruzes nos telões, criando um clima fantástico para uma das músicas preferidas da galera. Seu efeito ao vivo é simplesmente devastador. Jumpin' Jack Flash, sempre agitando as coisas, não deixa por menos, e fecha com classe o set regular.
    Para o bis ficaram You Can't Always Get What You Want, tocada como no disco Let it Bleed - o que exige a presença de um coral. O escolhido foi o da universidade PUC Rio, e eles deram um show! Para fechar, vem o hino máximo Satisfection, que transforma o estádio numa verdadeira festa de celebração a uma das grandes bandas da história.
    Difícil arrumar palavras para descrever a emoção de ver os Stones ao vivo. Cantar a letra marcante de It's Only Rock 'n' Roll (But I Like It) olhando para 4 deuses do Rock, sentir as guitarras de Wood e Richards pulsantes e agitar até o fim da noite junto com Jagger é uma experiência que faz uma vida valer a pena. Felizmente ainda temos a oportunidade de ver uma lenda sessentista em ação, e mais que isso, em grande forma. Mais de 50 anos de carreira nunca parecem pesar quando vemos o quanto a turma se diverte com o show. A noite de 20 de fevereiro de 2016 nunca será esquecida pelos 66 mil sortudos presentes no Maracanã.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

SEPULTURA - ROOTS

    Depois de lançar o que é para mim o melhor disco da história do Heavy Metal nacional, o Sepultura viu seu nome chegar num tamanho simplesmente impensável no exterior - como também no Brasil. Chaos AD já trazia doses cavalares de música brasileira embutida, o que fez ainda mais a cabeça dos headbangers gringos, fazendo as sempre presentes e chatas comparações com o Slayer caírem por terra. O próximo passo seria intensificar ainda mais esse toque BR no som da banda, e o resultado seria Roots. 
     O clássico veio ao mundo com gravações com a tribo Xavante - sendo assim o único ícone brasileiro a mostrar para os gringos a cultura indígena do país -, além da muito bem sucedida parceria com Carlinhos Brown no hino Ratamahatta. Bem, 20 anos depois, muito fã mais radical da banda torceu o nariz para a participação deles no trio de Brown no carnaval, ignorando toda a influência brasileira em trabalhos como esse aqui, mas essa incoerência é assunto para depois. O certo é que toda a batucada e experimentalismo de Roots simplesmente revolucionou tudo dentro do Heavy Metal naquela década, onde ao lado do Pantera, o Sepultura era o responsável por carregar a bandeira do estilo. 
      O playlist apresenta ao menos 3 grandes hinos. Roots Bloody Roots se transformou no maior clássico da banda, com um riff daqueles e um refrão bombástico. Fora ele, temos ainda a maravilhosa Attitude, essa carregada de brasilidade, e a já citada Ratamahatta. Outras porradas lindas fazem parte do trabalho, como Cut-Throat, Breed Apart, Straighthate e Dusted, só para citar algumas. Itsari apresenta a tribo Xavante ao universo headbanger, provando que uma banda como o Sepultura não tinha limites. 
     Bem, Roots não é para mim o melhor trabalho do Sepultura, mas sua importância e altíssima qualidade são inegáveis, assim como o sucesso da ousadia proposta por eles. Lamentavelmente, o clima não era dos melhores, e pouco tempo depois do lançamento, a banda teve uma ruptura definitiva, com a saída do líder Max Cavalera. Iggor, Andreas e Paulo seguiram, mas a banda sofreu horrores para recuperar a força de trabalhos como esse. A verdade é que tanto o Sepultura quanto Max lançaram coisas ótimas desde então, mas a verdadeira magia desses tempos só são alcançados com os quatro juntos. Seja como for, o Sepultura atual passa por um momento ótimo, com a melhor formação desde 96 e tocando com força absurda ao vivo. A história segue, mas é sempre bom lembrar de discos como Roots. 


terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

MEGADETH - DYSTOPIA

    Dystopia chegou cercado de expectativas. Para começar, o Megadeth vem de um lançamento fraquíssimo que atende pelo nome de Super Collider - destoando da ótima sequência alcançada desde The System Has Failed (2004). Com duas mudanças na formação, era o momento de provar que o dito fracasso foi um acidente de percurso. Essas mudanças também despertaram muita curiosidade, já que são figuras consagradas no meio. O que eles agregariam ao som do Megadeth era a pergunta que não queria calar. Bem, o resultado vem em forma de um trabalho irretocável, para disputar com End Game o título de melhor do novo milênio da banda, e um dos melhores da história. 
      O líder Mustaine não poupa elogios ao novato Kiko Loureiro - muito mais do que o habitual no meio. E sua participação é notável em diversos momentos, assim como a impecável linha de bateria de Chris Adler, deixando seu antecessor na saudade! O que Adler fez em  Fatal Illusion é simplesmente impressionante. O cara possibilitou a levada final insana da música, no momento mais Thrash e um dos maiores destaques do trabalho. Junto a ela, temos também a maravilhosa faixa-título, que tem um duelo de riffs Mustaine/Kiko para lembrar Hangar 18. Simplesmente espetacular. Longe de ser só isso. The Threat Is Real lembra aquele Megadeth noventista de trabalhos como Countdown to Extinction e Youthtanasia, uma linha seguida no disco quase todo - o que é ótimo. As três são de cara os hits máximos, mas a mais melódica Poisonous Shadows também merece destaque. Nela temos a clara percepção de Kiko num todo, numa canção que já começa épica e com jogo ganho. Depois dela, a instrumental Conquer... or Die! abre caminho para a porrada Lying in State. Essa é outra que Adler faz chover, muito bem acompanhado por Ellefson. Poderia citar muitas outras, mas só essas já dão uma ideia da grandiosidade de Dystopia. É um playlist inspiradíssimo que não chega a cansar em hora alguma.
     Se o Megadeth precisava provar algo depois de errar a mão, fez isso com sobras. A banda segue como uma das poucas de enorme relevância que continua lançando coisas ótimas nos anos 2000. Dystopia já garante um lugar de destaque na ampla discografia de uma banda que nunca se deu ao luxo de sossegar. Que venha agosto! 


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

RUSH - MOVING PICTURE

    O assunto Moving Picture sempre causou certa polêmica entre os fãs mais ferrenhos do Rush - muitos torcem o nariz para uma certa característica mais comercial dele - mas é inegável que o trabalho que completa 35 anos de lançamento hoje é uma obra magnífica. De longe o maior sucesso comercial alcançado pela banda em todos os tempos, o disco em questão não é para mim o melhor (para muitos é), mas a relevância de hinos eternos como Tom Sawyer, Limelight e da épica instrumental YYZ faz dele imprescindível para qualquer fã de Rock que se preze. 
     Vindo da obra-prima Permanent Waves - trabalho que já adotava formula levemente diferente do Hard Progressivo que imperou nos anos 70 - a ideia era dar a ele sua sequência natural. E podemos sentir isso fazendo uma comparação entre elas. Se Waves tem The Spirit of Radio como clássico máximo e Freewill na sequência para arrematar, Picture tem Tom Sawyer e pouco depois Limelight. Os leves toques de Reggae também são sentidos, uma das novidades do Rush no começo dos anos 80. O disco vai muito além disso, e tem um playlist primoroso, com obras como a ótima Red Barchetta e a impecável The Camera Eye. Vale a audição completa, daquelas que nem sentimos passar. Em Tom Sawyer, a performance é tão complicada que os três mosqueteiros já falaram várias vezes que ela acaba não cansando nunca, já que cada acerto merece uma comemoração. 
     Por mais que não considere esse o melhor disco do Rush, talvez ele seja o mais importante em números e relevância musical. A história da banda viveu em 1981 um dos seus capítulos mais gloriosos sem sombra de dúvidas. 


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

QUEEN - INNUENDO

    Depois da tour grandiosa de divulgação do ótimo A Kind of Magic - sem saber - o Queen dava adeus aos palcos. Isso tudo pela inesperada e desastrosa doença que tomou conta do corpo de Freddie Mercury, escondida da mídia, e bravamente enfrentada até o último ato no final de 1991. Até lá, o Queen não se afastou completamente de cena, ainda lançando The Miracle em 89, e o derradeiro Innuendo, a despedida em vida da lenda aos seus súditos. 
     O clima melancólico era evidente, assim como a fragilidade apresentada por Freddie nas imagens da época. Mesmo com todos os percalços, Freddie se despediu de nós com um dos trabalhos mais geniais da carreira. A carga emocional contida nele é forte, mas a qualidade é indiscutível, já que Brian May, John Deacon, Roger Taylor e Freddie Mercury não costumam brincar em serviço. 
    Os pontos mais elevados respondem pela ótima These Are the Days of Our Lives, na magnífica e indescritível faixa título e na despedida oficial The Show Must Go On - essa última se tornando um dos maiores hits da carreira. Em The Show Must Gon On - não por acaso a última faixa do disco - vem a mensagem final de um artista extremamente sacrificado numa prova final de genialidade indescritível e inigualável. Meu amor por essa música só é superada por Innuendo, faixa presente num top 5 de toda a carreira da banda ao meu ver. Complexa como tem que ser, Freddie entrega sua alma nela, e May arruma um solo daqueles que só ele é capaz. O playlist não consegue igualar a genialidade dessas citadas, mas ainda oferece outros ótimos momentos, como I'm Going Slightly Mad, Headlong e Don't Try So Hard.
    Em resumo, uma despedida em vida digna da genialidade de um dos maiores, que conseguiu entregar em Innuendo, mesmo combalido, uma obra primorosa. Made in Heaven ainda seria lançado pouco depois de sua morte, disco também gravado em um ato de bravura, mas é justo dar a Innuendo o título de despedida oficial da maior banda de Rock de todos os tempos.