domingo, 27 de março de 2016

DREAM THEATER - THE ASTONISHING

    Para conseguirmos alguma base para entender o mais que desafiador novo disco do Dream Theater, acho importante começar o texto com a explicação do guitarrista John Petrucci para ele na recente entrevista para a revista Roadie Crew: "A história acontece em aproximadamente 300 anos no futuro e nele algo contribuiu para o esfacelamento da sociedade. É um futuro distópico em que as coisas deram muito errado. Há o retorno dos impérios e reinados e as pessoas vivem na pobreza (...). A razão para isso acontecer foi as pessoas pararem de criar música. Música e arte passaram a ser criadas somente por maquinas. No meio disso, nasce Gabriel, uma pessoa com o dom mágico para a música. As pessoas olham para ele como o salvador. Com isso, uma revolução começa envolvendo as pessoas do império." 
     Mesmo utópica, é inegável que a história base para o trabalho tem um fundo de realidade, sendo um tema de sábia escolha. A ideia é ótima, e o disco tem uma qualidade musical muito acima da média. Tratasse do melhor trabalho do Dream Theater na fase pós-Portnoy, superando os já muito interessantes antecessores, mas é inegável certo exagero no que tange o tamanho da obra. Um disco com 34 músicas inéditas divididas em 2 horas e 10 minutos é simplesmente uma loucura até para fãs acostumados com músicas de 15, 20, 25 e até 42 minutos. Tudo na banda sempre foi explorado até o limite, mas algo novo de tal magnitude confunde profundamente o ouvinte. 
     Mesmo ultrapassando todos os limites do aceitável, The Astonishing tem momentos fantásticos que lembram o auge musical da banda. É inegável o trabalho fenomenal desenvolvido por cada membro, mas o seu tamanho é tão grande que o ouvinte facilmente se vê perdido ao longo da audição. Seja como for, a reação de qualquer fã do Dream Theater ao escutar When Your Time Has Come, Act of Faythe e The Grift of Music por exemplo é de extrema felicidade. Isso faz de um trabalho extremamente exagerado algo fantástico. Quem quiser se arriscar ao longo da obra deve ter uma noção básica da história e prestar bastante atenção na letra. Se não for esse o caso, nem tente a sorte. 
     O saldo final é positivo, sendo mais uma prova da capacidade ilimitada da banda em criar grandes obras. Aos que não acompanham tão de perto seu trabalho e pretende ver algum show do Dream Theater na nova tour - que fatalmente vai passar pelo Brasil em algum momento - o novo show da banda é feito apenas com músicas do novo trabalho, fazendo um show-história para auxiliar a contar ao público o que a banda pretende com um disco tão ousado. Mais um exagero ao meu ver, mas assim como o disco em sí, de inegável qualidade. 


quarta-feira, 23 de março de 2016

ANGRA - HOLY LAND

     Passado o choque que o Angra causou na cena nacional lançando o indescritível Angels Cry, chega a hora de provar sua força num segundo trabalho. Em Holy Land, Kiko Loureiro, Rafael Bittencourt, Andre Matos, Luis Mariutti e Ricardo Confessori no mínimo igualam a perfeição da estreia, e ao meu ver até supera, no disco que o tempo provaria ser o melhor da sua carreira. Toda aquela mistura de Heavy Metal e música erudita ganha aqui toneladas de influências brasileiras, assim como o Sepultura fez no contemporâneo Roots. 
     Falar de Holy Land para mim é falar de uma trilha para diversos momentos da minha vida. Tudo de melhor que o Angra tem a oferecer está aqui. A abertura com Nothing to Say é o clássico do trabalho, começando assim uma nobre seleção de grandes músicas. Make Belive é daquelas baladas para emocionar até uma pedra, dando destaque absoluto a performance fantástica de Andre Matos. A faixa-título vem surpreendentemente dançante, em arranjos arrojados e absurdamente maravilhosos, que ao meu ver só perdem para a melhor música que o Angra já fez:Carolina IV. Esse é a auge da banda. Momentos de puro Power Metal, show de solos dos mestres na guitarra brasileira e toneladas de música brasileira. Isso caracteriza essa obra indescritível de 10 minutos de duração. Não por acaso, Kiko Loureiro disse certa vez ser a música que define a sua carreira. A misteriosa nominalmente Z.I.T.O, eterna curiosidade dos fãs, transborda força numa paulada Power Metal daquelas que definem com perfeição o estilo. Deep Blue vai na outra extremidade do Power com muita inspiração. Enfim, não existe uma música sequer em Holy Land que não seja fantástica.
     Depois de lançar o disco, a carreira nacional e internacional estava mais que consolidada, fazendo do Angra um dos representantes máximos do Heavy Metal brasileiro em toda sua história. Em pouco tempo, o clima dessa formação não ficaria dos melhores - sendo a ruptura inevitável - mas o que foi feito é mais do que suficiente para eterniza-la numa prateleira gloriosa da história do Angra. 


JUDAS PRIEST - SAD WINGS OF DESTINY

     Sim amigos, todos nós sabemos que a estreia do Judas Priest foi no razoável Rocka Rolla, mas ao meu ver a verdadeira estreia de gala de uma das maiores entidades do Heavy Metal foi nessa obra-prima que completa 40 anos de idade hoje. Falar de Sad Wings of Destiny é voltar as origens do Heavy Metal nos efervescentes anos 70, e celebrar uma das obras mais importantes da história do estilo. Nele o Judas mostrou realmente a que veio, definindo as bases de sua música no inicio da consagração do Heavy Metal puro e legítimo que atravessou todos os limites do tempo, ainda intacto 40 anos depois. 
      As duas primeiras músicas já falam tudo. Victim of Changes e The Ripper são dois dos maiores hinos da banda e carros-chefes do disco como um tudo. Ambas são caracterizadas pelos memoráveis riffs e solos que a indescritível dupla K.K. Downing/Glenn Tipton forjou. Como todos sabem, sua parceria estava apenas começando. Fora a aula dos dois, ainda temos um Halford mais solto, dando seus agudos de sempre e mostrando para o mundo uma das maiores vozes que conhecemos. Palavras não são suficientes para tentar explicar as duas 1as músicas do trabalho, apenas coloque play e se ajoelhe diante do Heavy Metal na sua forma mais maravilhosa. Alguém consegue segurar a onda quando o riff de The Ripper começa na história narrada por Halford? Como se ainda fosse preciso, Sad Wings of Destiny tem muito mais a oferecer. A belíssima Dreamer Deceiver, Genocide, Epitaph e Island of Domination são de indispensável audição. Na verdade, a coesão em cada faixa é outra grande marca do disco. Escute tudo sem medo!  
     Daqui para frente, o Judas Priest vai a cada lançamento se mostrando cada vez maior. Mesmo numa discografia rica como é, não são poucos que consideram a obra-prima Sad Wings of Destiny a melhor - e entendo totalmente os que pensam assim. Ouvir Victim of Changes ao vivo nos shows do ano passado foi uma experiência simplesmente memorável, sendo talvez o ponto alto dos mesmos. No começo de Ripper, chega a mensagem definitiva: "Você vai se surpreender. Você vai ter um choque. Nas ruas da cidade de Londres. Onde há escuridão e névoa. Quando você menos esperar por mim. E você virar as costas. Eu atacarei". Esta dado o recado de um gigante se consolidando! 


domingo, 20 de março de 2016

SEPULTURA - ARISE

    O ano de 1991 começo da melhor maneira possível para o Sepultura. O prestígio internacional - e por consequência também nacional - alcançado com o lançamento de Beneath the Remains era enorme, dando origem a uma turnê matadora. O auge foi o show imposto pelos fãs no Rock in Rio de 91, que obrigou uma antecipação do lançamento de Arise por aqui. A apresentação era a confirmação do sonho de criança de Max, Iggor, Andreas e Paulo. O disco chega para estabelecer de vez o nome do Sepultura no mundo. 
    Para muitos o seu melhor trabalho, Arise apresenta momentos simplesmente perfeitos do mais puro Thrash Metal. A faixa-título é um hino do estilo. As não menos fantásticas Dead Embryonic Cells e Desperate Cry formam uma trinca irrepreensível de abertura, garantido de cara a total satisfação do ouvinte. Com o jogo ganho, é só dar sequência com pérolas do porte de Murder, Under Siege (Regnum Irae) e Infected Voice, só para citar algumas. O clássico cover para Orgasmatron do Motorhead também marcou a história da banda. Com uma dose de experimentalismo mesclado a fúria Thrash, o Sepultura moldava definitivamente seu nome e estilo. 
     Os acontecimentos da tour foram também marcantes. Shows como o histórico vídeo de Barcelona, a turnê beatlemaníaca na Indonésia - leia o livro de Max para ter noção do tamanho dela - e o triste assassinato de um fã no show gratuito em frente ao Pacaembu para 40 mil pessoas são marcos de qualquer conversa sobre a história do Sepultura. Com tudo isso, a banda estava pronta para seu passo definitivo de grandeza em 93, mas Arise conseguiu deixar um marco de similar importância. 


sábado, 19 de março de 2016

SHOW DO IRON MAIDEN + ANTHRAX - HSBC ARENA - RIO DE JANEIRO

     Passados 3 anos desde o maravilhoso show no Rock in Rio, o Iron Maiden retorna ao Rio de Janeiro com a aguardada apresentação que divulga o ótimo disco The Book of Souls. Para completar, o Maiden trouxe na bagagem simplesmente o Anthrax para fazer a luxuosa abertura. Tem como uma noite assim ser algo menos que épica? Não mesmo! 
      Uma chuva daquelas caiu sobre a cidade na "hora da ida", dificultando a chegada de muitos a para lá de distante HSBC Arena. Isso certamente explica o fato de muitos não terem chegado em tempo para a apresentação do Anthrax. Fazer shows em meio de semana por lá é um desafio a mais para o fiel público. Graças ao caos, não consegui chegar a tempo para ver o The Raven Age - banda do filho de Harris - muito bem falada. Uns 10 minutos antes do inicio do show do Anthrax, estava numa pista premium que permitia uma aproximação absurda do palco. Como muito raramente vejo shows desse setor, fiquei de queixo caído com tal situação.
      Lamentavelmente sem a presença do grande Charlie Benante - substituído com classe por Jon Dette - o Anthrax estava no palco para fazer um show absurdamente intenso. Com tempo reduzido devido a condição de banda de abertura, uma das referências máximas do Thrash Metal mundial tocou apenas 8 músicas - deixando de fora coisas como I Am The Law e Madhouse. Mesmo assim, o que vímos foi simplesmente impecável. A banda continua em grande forma, provando isso no lançamento de For All Kings. Dele foram duas, a já conhecida Evil Twin e Breathing Lightning - essa me causando ótima impressão! Fora elas, veio a já clássica Fight 'Em 'Til You Can't e os eternos hinos Caught in a Mosh, Got the Time, Antisocial, Medusa e Indians - algumas sacadas entre a coleção de clássicos da banda. Belladona agita como um louco, se divertindo naquele palco enorme - sendo acompanhado por grandes músicos. O público já ali me surpreendeu positivamente. Perto de mim só formou mosh em Indians - última música do show - mas ouvi relatos que os seguranças estavam reprimindo os que apareciam, mostrando total desconhecimento de tudo que envolve um show de Heavy Metal. De fato tinha uns deles espalhados pela pista, e na hora do Maiden, rolou quase uma conferência para explicar o que ia acontecer em seguida na parte mais agitada de Fear of the Dark. Simplesmente patético! Dito isso, vi muitos cantando e agitando com o Anthrax, curtindo o show intensamente, algo que realmente eu não esperava. Enfim, um belo show de uma grande banda, mesmo que tenha sido forçadamente curto.
        Agora chega a hora do Eddie subir diretamente do inferno para cair no palco da HSBC Arena. Cerca de 15 minutos depois da hora e com todo o público posicionado em cada buraco da lotada arena, é hora de ver o Iron Maiden em ação. Doctor Doctor no talo, todos já sabem o que está por vir, já cantando a clássica música do UFO. E a brincadeira já começa para lá de emocionante. If Eternity Should Fail tem sua magnífica introdução vocal cantada com perfeição por Bruce Dickinson no ponto mais elevado do palco, com uma espécie de caldeirão a sua frente. Melhor começo impossível. A música de Book of Souls feita para uma abertura cumpre com perfeição seu papel. Já nela a participação do público próximo é realmente notável, algo que se repetiria por toda a apresentação. Fã do Iron Maiden é de fato um ponto fora da curva. Já sentia que o mesmo estava endiabrado quando na entrada da pista o famoso "ôôô" de Heaven Can Hait era entoado por muitos. Speed of Light vem em seguida, num casamento lógico com a abertura.
    O som ainda vai se ajustando, estando um pouco embolado, mas a performance dos mestres Adrian Simith, Steve Harris, Dave Murray, Nicko McBrain e por que não Janick Gers em seus respectivos instrumentos impressiona. O que impressionou mais ainda foi o que Bruce Dickinson fez ao longo da noite. O que as 15 mil pessoas presentes se perguntavam sem parar era: O homem tava doente mesmo? Seja como for, o que o frontman fez em cada música era admirável, somado ao domínio absoluto do palco e do público. Até nas falas ele estava inspirado, com uma bandeira do Brasil nas mãos, falando em tom de brincadeira que andava vendo muito a mesma na CNN nos últimos tempos. Num discurso apartidário de um estrangeiro, que via tudo que vem acontecendo de fora, falou que espera que os "caras maus" se lasquem. Era impossível passar pelo caos politico que o país atravessa. O discurso antes de Blood Brothers também emociona no final, falando da união que existe numa noite como aquela, onde todos os problemas do mundo ficam de fora do lugar.
    De volta ao show, é hora do 1o clássico da noite, a maravilhosa Children of the Damned. Impossível descrever a emoção que os versos dessa pérola de Number of the Beast provoca. Depois do furacão, vem a magnífica nova Tears of a Clown - uma das mais inspiradas do novo trabalho. A enorme The Red and the Black cresce ao vivo no show a parte dos guitarristas. Um bom disco se prova no palco, com o efeito das novidades. The Book of Souls passa com louvor no teste. Agora era hora de voltar aos "golden years". A sempre presente The Trooper causa o tradicional pandemônio na pista da arena. Para quem já ta no 4o Iron Maiden, ela já pede espaço para outras - de preferência do sempre esquecido Piece of Mind - mas o espetáculo da bandeira nas mãos de Bruce e do público devem ser destacados. Em seguida vem o grande momento do show. Em apenas uma palavra, POWERSLAVE! O clima de agito felizmente permaneceu no lugar, com todos agitando nas galopadas de Harris pela clássica introdução. Eu não tenho adjetivos para explicar esse número, meu preferido da banda em sua trajetória. Entoar seu maravilhoso refrão foi para arrepiar e emocionar até uma pedra. Vinda toda a emoção, hora das últimas novidades. Death or Glory crece muito ao vivo, assim como a faixa-título - extremamente celebrada pelos presentes. Nela o Eddie da tour aparece, dessa vez com característica indígena na tradicional caminhada pelo palco - interagindo principalmente com o brincalhão Gers. Dickinson no final arranca seu coração e arremessa ao público. Sensacional! Bruce vem para anunciar que acabou as novidades, sendo hora dos clássicos na parte final. Então Hallowed Be Thy Name chega com um furacão de emoções sobre os emocionados rostos. Essa não pode nem em sonho ficar de fora da tour! Fear of the Dark é daquelas para gerar grandes discussões. Todo Maiden maníaco ama odia-la, mas é inegável o clima fantástico que ela cria a cada show. Eu substituiria facilmente até por outra do mesmo trabalho, mas que ela agita bastante....bem, é inegável. Nessa eu aproveitei a roda formada para me aproximar ainda mais do palco. Vendo em detalhe as performances, me impressionou como Harris sua sua camisa a cada show. Um homem de 60 de fato parece ter 30 quando está diante de seus fãs. Para fechar a parte "regulamentar", o grito de guerra Iron Maiden. Nela o Eddie da capa do novo disco surge imponente ao fundo do palco.
     O bis da tour é mais que especial. De cara vem o hino máximo The Number of the Beast, eternamente incansável e absurdamente emocionante. Um pequeno problema com os efeitos com fogo - presentes por toda a apresentação - chega a assustar agora. Poucos repararam, mas bem ao lado da bateria de Nicko, algo deu errado. O fogo permanece por um bom tempo, causando uma certa comoção na equipe. Uns 3 jatos de extintor depois, tudo resolvido. Mesmo assim, Nicko segue tocando toda a música como se estivesse tudo nos conformes. Ai vem a maravilhosa Blood Brothers, ponto máximo do ótimo Brave New World. Num fechamento diferente, o hino Wasted Years devasta o que sobrou dos corações dos fãs.
      Impecável e magnífico. Assim se explica a performance do Iron Maiden na turnê atual, Um set que se mostrou eficiente para um público fantástico tocado por uma banda que traduz com perfeição o que é o Heavy Metal. Longa vida ao Iron Maiden, e que venha muito mais por ai!

Palco pouco antes do show do Anthrax

Harris e Murray em ação! 

domingo, 13 de março de 2016

PÚBLICO BRASILEIRO: PORQUE MUDOU TANTO?

   Não é de hoje que o perfil das grandes apresentações de Rock no Brasil mudou consideravelmente. Recentemente tive a oportunidade de assistir ao show dos Rolling Stones no Rio e em São Paulo (dia 27), e pude comparar como as coisas foram em ambas as praças. Em relação a banda, foram duas apresentações impecáveis e maravilhosas. O setlist, na minha avaliação , foi ligeiramente melhor na capital paulista. Em relação ao público - motivo desse texto - uma triste realidade. Vamos traçar um pouco o seu perfil a partir de agora.
   Com média de um show por ano nos anos 80, foi na década seguinte que os brasileiros se acostumaram a ver de perto os maiores shows possíveis no mercado. Durante os anos 90, e inicio dos 2000, o público brasileiro era um espetáculo a parte. Quem não teve a oportunidade de viver isso de perto (meu caso até 2004) pode ter uma noção acessando o youtube e vendo as apresentações com imagens minimamente legíveis. Podemos citar por exemplo o Skid Row em 92, Rolling Stones em 95, Iron Maiden no Rock in Rio 3, Rush em 2002, Robert Plant com Jimmy Page em 96, Pearl Jam em 2005 e Alice in Chains em 93, isso só para citar alguns que consigo me lembrar no momento. As imagens impressionam. Em 2010 ainda era possível ver algo minimamente parecido, como o que vi no Metallica. De lá para cá, a coisa mudou absurdamente. Muita coisa colaborou para tal cenário.
     A criação da maldita Pista Premium - que começou a aparecer com força a partir de 2007 no show do Police - foi o começo do fim. O velho pistão livre, onde a frente do palco era reservada ao fã mais fanático que chegava antes, estava dividida. Na frente um valor absurdo, e para o fundo algo mais barato e igualmente mais distante. A banalização da meia-entrada - desculpa dada pela organização - auxiliou no aumento gradativo do preço, chegando nos absurdos 400 e tantos que são cobrados hoje na pista mais barata. Um pensamento aparentemente lógico - e igualmente absurdo - de que taxando por cima filtra o público, deixando o mesmo mais fanático (já que a loucura é tamanha que se paga o que não tem) já se provou a morte dos shows em estádios, ao menos falando da falta de atenção do público para o que interessa. Os públicos são os mesmos, mas o estilo dele mudou radicalmente. Aquele fã fiel que respira a banda e não dispõe da fortuna cobrada no ingresso simplesmente não pode mais ver sua banda preferida. No seu lugar, alguns que amam igualmente a banda e tem mais grana conseguem ir - até pagando os absurdos 900 para ver na premium, mas o problema está na outra parcela, e sobre a qual eu queria realmente falar.
    No mercado musical em geral, a coisa mudou muito nesse tempo todo. Se um tempo atrás rolava reunião de amigos nas lojas de discos e o pessoal comprava os principais trabalhos das bandas para ouvi-los completos, hoje a história mudou. Não falo só pela venda de Cd em si, mas como muitos se limitam tendo nas mão todas as bandas do mundo de graça com apenas um clique. Quando era mais difícil, maior era o interesse por coisas novas. Vejo hoje apenas "fãs" escutando as The Trooper's e Enter Sandman's da vida. O Iron Maiden ta chegando ai, e já até imagino o cenário. Uma certa cantoria em Fear of the Dark e milhares de estatuas em Powerslave. Isso tudo também influi no show, obviamente, mas o pior são os "baladeiros".
    A troca que rolou com os preços cada vez mais salgados é bem simples. Sai o verdadeiro fã da banda sem tanta grana assim, entra o playboy com 400 contos sobrando. Esse fica de costas, fala alto, tira foto e filma o show inteiro. A músisa em sí? Isso é o que menos importa, é apenas a trilha sonora para a balada. Qualquer frequentador de shows grandes certamente já se deparou com figuras assim. Eu sempre me lembro do Paul McCartney em 2014 (450 reais a pista comum, setor onde eu estava). Enquanto o Beatle tocava simplesmente BLACKBIRD, maravilhoso clássico da banda, uma turma do meu lado falava abobrinhas como se estivesse andando na rua de bobeira. O som não estava lá essas coisas, e para completar, a música é naquele esquema voz/violão. O saldo foi o estrago de uma das melhores partes do show.
     Num patamar geral, o que vemos é um público muito mais apático do que aquele de 10 anos atrás em 90% dos shows. Nos últimos quatro anos, só duas plateias de arena me impressionaram. Sem entrar nos méritos da banda em si, os fãs de Black Sabbath e System of a Down corresponderam de acordo com o show, e completaram o espetáculo. Fora isso, o geral é realmente muito fraco. O que vi nos dois shows dos Stones foi um público absurdamente apático, e o pior, a banda notou. Jagger citou numa entrevista para o Superpop o que achou dos públicos, e suas diferenças a cada noite. Segundo ele, no Rio estava tudo mais "tranquilo", diferente do fanatismo que uruguaios e argentinos mostraram - esses sim, aconteça o que acontecer, estão eternamente alucinados. Já São Paulo, era um mar de telefones. Deu para entender né?
     Ao que parece, enquanto o preço estiver assim, e a mentalidade for essa de pouco interesse na música, a tendência é que a coisa siga como está. Aquele público lunático que vemos em vídeos citados acima infelizmente só vão existir lá. Quer ver ele na prática? Vá em shows de Metal para no máximo 4 mil pessoas. Bandas dessa linha ainda atraem verdadeiros fãs, todos no lugar realmente amam elas, já que são coisas de difícil acesso - afastando curiosos festeiros. Eu não fico preso a nenhum dos mundos, adoro bandas que tocam num estádio para 70 mil pessoas e num bar para 70. O que noto em ambos é uma absurda diferença em relação a paixão dos fãs. Muito provavelmente quem segue a mesma linha deve pensar algo parecido com isso. Será que um dia nós voltaremos a ser o que éramos? Só o tempo vai dizer...

sexta-feira, 11 de março de 2016

SHOW DO PICTURE + TYGERS OF PAN TANG - TEATRO ODISSEIA - RIO DE JANEIRO

     Os fanáticos pelo melhor do Heavy Metal tradicional que compareceram ao Odisseia na noite do dia 10 de março não poderiam imaginar uma noite mais espetacular. A reunião de uma lenda da NWOBHM com os holandeses que nasceram no lugar errado (o certo seria na Inglaterra do começo dos anos 80) entregou duas apresentações irretocáveis e espetaculares com o melhor que o estilo pode proporcionar. O público foi apenas razoável - previsivel dado o status "cult" das bandas por aqui - mas estava incrédulo ao longo dos shows. 
      Com um maravilhoso clima de amizade criado por muitos que se conheciam de outros carnavais metálicos na plateia, o Picture da inicio a festa com absurda pontualidade. Cerca de 5 minutos antes do previsto, Pete Lovell e sua trupe já se encontravam no palco. Com o clássico Griffons Guard The Gold, a noite não poderia começar mais fantástica. A empolgação ao longo do show da turma da Holanda foi ainda maior do que em relação ao Tygers - semelhante ao ocorrido em 2014 no show com o Grim Reaper. Os presentes agitavam o tempo todo, entoando com empolgação cada verso -  como tem que ser num bom show de Heavy Metal puro e tradicional. A matadora Message From Hell não deixa por menos, seguindo muito bem o começo espetacular. A coisa continou nesse clima, com foque maior no clássico disco Eternal Dark - com sua faixa título sendo um dos pontos máximos da noite. Clássicos como Diamond Dreamer, Heavy Metal Ears, Bombers, Battle Plan e The Blade vão surgindo, sendo tocados com perfeição no volume perfeito, e deixando a cada momento queixos caídos por todos os lados. A grande apresentação acabou em Lady Lightning, com a banda deixando o palco visivelmente feliz com o grande clima criado. Em dado momento, o baixista Rinus Vreugdenhil desceu para tocar do público - bem ao meu lado - cercado por respeitosos fãs que nem acreditavam naquilo. 
     Não tem o que falar da grande apresentação do Picture. A banda está cada vez melhor, tocando como se não houvesse amanhã para um público verdadeiramente apaixonado - coisa que sinto muita falta em shows grandes. Uma das grandes apresentações que vi na vida, jogando uma pressão enorme nas costas do Tygers of Pan Tang. Qual seria o efeito disso? Mais um show espetacular para dobrar o sentimento de felicidade dos presentes! 
     O Tygers do novo milênio mudou sua formação consideravelmente em relação aos anos dourados. DFe remanescente, temos o grande guitarrista Robb Weir. O tiozão (que antes do show circulava pela casa de camisa social, fazendo a combinação com os cabelos brancos algo comum em qualquer firma, menos numa banda de Metal) comandava a garotada ao seu lado. E que garotada marota! Todos davam conta dos hinos da NWOBHM com sobras, principalmente o ótimo vocalista Jacopo Meille. O som estava um pouco acima do ideal, mais alto em relação ao show anterior. Nada que possa comprometer o ótimo show. A pontualidade - na verdade antecipação de 5 minutos - foi exatamente a mesma. Com a clássica Euthanasia a apresentação tem inicio de maneira tão épica quanto a anterior. O show foi na verdade um passeio histórico pelos anos dourados da NWOBHM. Na sequência inicial com as indescritíveis Love Don't Stay, o hino Gangland e Wild Catz foi suficiente para ganhar o público.  E tinha muito mais. Tome Raised on Rock, Hellbound, Don't Touch Me There, Rock Candy e muito mais! A brincadeira acabou na clássica cover Rock N'Roll para Love Potion No. 9.
     Dois shows simplesmente inesquecíveis para quem teve a honra de presenciar. Lamentavelmente é complicado realizar shows assim por aqui, e mesmo com ingressos bem acessíveis o público estava longe do ideal. Previsível, mas enquanto ainda temos o privilégio de poder ver bandas clássicas perto de casa, somos verdadeiros felizardos. Estão todos de parabéns, quem foi, o Rodrigo Scelza e sua produção sempre impecável, e principalmente as bandas. Uma noite maravilhosa para os fãs do mais puro Heavy Metal! 

terça-feira, 8 de março de 2016

AVANTASIA - GHOSTLIGHTS

    Um dos fatos mais relevantes dentro do Heavy Metal no novo século, o Avantasia vai a cada lançamento fazendo o inusitado chegar mais longe. Quando começou a projetar Metal Opera, Tobias Samment não poderia imaginar o tamanho que ele tomaria - arrisco a dizer que superou o de sua banda original, o Edguy - nem muito menos pensar em seu 7o lançamento 15 anos depois. Ghostlights é um disco excelente, desafiando o tempo - impiedoso com muitas bandas de Power Metal. O timaço de convidados também contribuiu em muito para tal. 
   Os discos da banda são sempre de complexo entendimento, contando histórias elaboradas interpretadas por personagens - os convidados no caso. Em sua grande maioria, são velhos conhecidos dos fãs. As participações de Sharon Den Adel na romântica Isle Of Evermore, Dee Snider em The Haunting,  Geoff Tate em Seduction Of Decay e os de sempre Jorn Lande/ Michael Kiske na espetacular faixa-título fazem a diferença. Vemos muita coisa agregada ao clássico Power Metal, como Rock N'Roll e até um pouco de Doom Metal by Candlemass.  Let the Storm Descend Upon You me soou um pouco forçada em relação ao tamanho, mas pedradas bem dadas como Babylon Vampyres chegam na medida certa. A participação de Bruce Kulick na guitarra nessa é notável, não custa destacar. Mesmo assim, o Power clássico impera na maior parte do tempo, com mais uma bela coleção de refrões para grudar na cabeça. 
   Não foi dessa vez que Tobias falhou, definitivamente. É bom lembrar também que, mesmo questionado por alguns, sua voz ainda faz bonito para quem compreende a proposta. Podemos esperar um grande show por aqui em Abril sem sombra de dúvidas. Em tempos complicados para muitas bandas medíocres de Power Metal, gigantes como Blind Guardian, Nightwish, Epica, Edguy, Angra e Avantasia vão se superando a cada lançamento para manter a sua chama acesa.     

Convidados:
Instrumentistas 
Bruce Kulick (Grand Funk Railroad, ex-Kiss) – guitarra solo nas faixas 9, 10, 12
Oliver Hartmann (ex-At Vance) – guitarra solo nas faixas 2, 5, 9, 11

Vocalistas 
Jørn Lande (Jorn, ex-Masterplan)
Ronnie Atkins (Pretty Maids)
Robert Mason (Warrant)
Dee Snider (Twisted Sister)
Geoff Tate (Operation: Mindcrime, ex-Queensrÿche)
Michael Kiske (Unisonic, ex-Helloween, ex-Place Vendome)
Herbie Langhans (Sinbreed, Beyond the Bridge)
Marco Hietala (Nightwish, Tarot)
Sharon den Adel (Within Temptation)
Bob Catley (Magnum)


segunda-feira, 7 de março de 2016

SHOW DO BRUCE KULICK - TEATRO ODISSEIA - RIO DE JANEIRO

     Na noite do dia 6 de março o Teatro Odisseia recebeu uma pequena reunião de fãs do Kiss, sedentos para prestigiar um dos grandes guitarristas de sua história em ação. A casa estava com um público apenas razoável, mas que transpirava amor pelo Kiss. Desde que foi anunciada a tour, ficou claro que o seu objetivo era contemplar apenas a fase do guitarrista na banda, sem nada de seus trabalhos solos, com o Avantasia ou no Grand Funk Railroad - só para citar alguns. Para tal foi chamada uma banda cover do Kiss para acompanha-lo. 
      Tal fato divide opiniões, mas para mim a opção foi um desperdício. Tenho alguns motivos para tal, sendo o primeiro a limitadíssima qualidade da banda - teriam outras muito melhores por ai com proposta semelhante. Prefiro não entrar em mais detalhes quanto a isso, mas o fato é que a configuração do show foi uma apresentação da banda cover com participação especial de Bruce. Kulick não foi aquele tipo de integrante que participou de uma fase fraca, gravou porcarias e circula o mundo com o nome da banda pro resto da vida. O cara ficou mais de 10 anos no Kiss, gravou discos maravilhosos como Crazy Nights, Asylum e Revenge, só para citar 3, e só acabou saindo para a reunião da formação original. Só com o material que ele fez, seria um show para fã da banda nenhum botar defeito. 
      Na pratica a coisa começou só com a famigerada banda cover levando uns Love Gun's, Deunce's e Creatures of the Night's mal tocados. Depois de vários números, Bruce aparece como "convidado especial" - fazendo parecer que o público presente foi ver a banda cover em ação, e não o grande guitarrista. Finalmente era hora de ouvir um mestre das seis cordas tocando alguns de seus hits. As escolhas entre o vasto repertório de seus dias no Kiss foram Domino, Tears Are Falling, Hide Your Heart, Forever, Unholy, Crazy Nights, Turn On The Night e God Gave Rock 'n' Roll to You II. Ainda rolou Heaven's on Fire, Lick It Up, Detroit Rock City e Rock and Roll All Night. Tirando a 1a dessas, que meio que marca o começo de sua era na banda - mesmo sem ter gravado ela - essas poderiam muito bem serem trocadas por My Way, Reason to Live, King Of The Mountain e Who Wants To Be Lonely por exemplo. De qualquer maneira, os tempos de Bruce Kulick no Kiss foram explorados razoavelmente. 
     Ouvir ele tocando em meio a tudo aquilo era uma dádiva - mesmo com o "Ace Frehley" fazendo questão de ficar no palco tumultuando tudo com desnecessárias 3 guitarras. Foi bom ouvir clássicos tocados por quem os fez, mas que seria bem melhor ver Kulick com uma banda própria e redondinha passeando por toda a sua carreira, bem, sem dúvidas que seria. Seja como for, sempre vale a pena ver grandes músicos em ação. 

domingo, 6 de março de 2016

SHOW DO TAURUS + HICSOS + MONSTRACTOR - ROCK EXPERIENCE - RIO DE JANEIRO

     A noite de sábado foi programada para reunir 3 grandes nomes do Thrash Metal carioca, se apresentando assim com uma grandiosidade única. Não tinha como dar errado, e o público que compareceu ao Rock Experience de maneira bem aceitável teve uma verdadeira noite de gala! Com destaque absoluto para um dos pioneiros do estilo no país, o Taurus - praticamente com a mesma formação que gravou Signo de Taurus - mostrou seu poder de fogo exatos 30 anos depois do lançamento de sua obra-prima. A nova geração do estilo também mostrou sua força, com duas aberturas simplesmente irretocáveis. 
      Sabendo da qualidade do trio de atrações, boa parte do público já estava no lugar para conferir o show do Monstractor. A banda de Resende entrega ao público uma verdadeira aula de Thrash Metal. Divulgando o ótimo Recycling Thrash, o Monstractor mostrou ser promissor, com músicas divertidas sobre bebedeira - Whiskey Hangover - e uma sobre o nosso querido ET de Varginha - Brazilian Roswell - vale lembrar, com um toque inegável de Megadeth no hino Hangar 18. Impressão muito boa deixada, noite aberta com classe. 
    Em seguida era a vez do Hicsos, nome consagrado da atual cena Thrash da cidade. Já com uma legião de fãs no lugar, o grupo mostrou sua força - como de costume. Várias camisas da banda eram vistas em meio ao público presente inclusive. Uma seleção do melhor dos 3 discos lançados fez a turma balançar a cabeça sem medo de ser feliz, até a única em português Pátria Amada - ou hino nacional brasileiro. Em apresentações assim o Hicsos vai se provando cada vez mais a realidade que é, já deixando de ser promessa há tempos. 
    Depois dessas duas grandes apresentações, era a vez do fechamento de gala para uma bela noite de Thrash Metal. Falar da história do Taurus é falar também da história do Heavy Metal brasileiro. A banda fez história na cena carioca oitentista, espalhando seu som furioso por todo o país. A importância fica clara nas declarações de gente como Alex Camargo (Krisiun) e Carlos Lopes (Dorsal Atlântica) no dvd lançado recentemente. 
      Quem foi ao Rock Experience simplesmente pirou assim que Otávio Augusto (vocal), Cláudio Bezz (Guitarras), Sérgio Bezz (Bateria) e no "novato" Felipe Melo (Baixo) fincaram os pés no palco. Era o começo de uma belíssima apresentação de uma referência. A banda não sente o tempo passar, fazendo os mais velhos seguramente voltarem aos tempos de Caverna II. A fúria e ótima forma vocal de Otávio chamam atenção desde o início, assim como a porrada certeira vinda dos PA'S. Fissura - faixa título do trabalho mais recente - abre os trabalhos. Em seguida é hora de hinos eternos do Thrash BR. Batalha Final cai como uma bomba, mas a coisa sai mesmo do sério depois da "Intro" que abre uma das obras mais importantes da nossa história. É hora do clássico Mundo em Alerta - para mim a melhor da banda. Simplesmente de arrepiar! O 1o mosh da noite abre nela, é bom citar também. Império Humano segue em Signo, mantendo o ótimo clima. Desordem e Regresso, essa de Fissura, mostra como a banda consegue manter o ótimo nível em estúdio. Ainda nele, Dias de Cão já pode ser considerado um novo clássico da banda. Voltando ao começo, hora de escutar os Falsos Comandos. Na fase em Inglês do Taurus, vem a não menos clássica Trapped In Lies - na qual Otávio se diz honrado ao dar voz ao clássico cantado originalmente por Jeziel de Oliveira, presente na plateia. Dando sequência a viagem cronológica por sua história, é vez de subir um pouco mais em direção a Pornography - tocando a faixa-título do trabalho. Então caminhando para a reta final da noite, a coisa sai do controle na mais que clássica Demien. O hino escondido Gladiadores é pedido e atendido. Um momento um tanto quanto especial, já que a banda não toca essa pérola há tempos. Para fechar a noite, é a vez de Massacre fazer a pista ir abaixo num hino absoluto do Metal brasileiro. 
      A Be Magic maios uma vez apresentou ao público carioca um grande evento de Heavy Metal brasileiro na tradicional produção impecável. O Taurus fez valer sua história de 30 anos, e a dupla responsável pela abertura provou que o cenário Thrash Metal carioca ainda ferve em ótimos nomes. Em resumo, uma noite daquelas para os bangers cariocas que marcaram presença na casa que já virou rotina para os mesmos. 

terça-feira, 1 de março de 2016

SHOW DO VIPER - CIRCO VOADOR - RIO DE JANEIRO

     Uma das poucas bandas formada desde sempre por amigos, o Viper sempre se sustentou nessa linha. O que vimos no Circo é exatamente isso; Aquela turma de 14/15 anos que gravou Soldiers of Sunrise brincando sem parar no palco. Diferente do Angra - comparação mais que óbvia - a base de tudo sempre foi a diversão. Seja como for, alguma coisa de fantástico sempre acontece quando Pit Passarell, Andre Matos, Guilherme Martin, Felipe Machado e agora Hugo Mariutti - grande e mais que digno substituto de Yves - tocam ao vivo algumas das mais espetaculares músicas do metal brasileiro. A palhaçada por vezes é exagerada, mas com o Viper é assim que funciona. 
      Depois da bem sucedida volta com Andre Matos no vocal em 2012, a banda vem fazendo alguns shows esporádicos para divulgar o dvd feito nessa turnê. Um deles foi na noite de 28 de fevereiro, no Circo Voador, Rio de Janeiro. Um cenário que parecia ser catastrófico de público felizmente não se confirmou na hora H. Não chegou a ser bom, mas foi bem honesto. Até me arrisco a falar que tinha um pouco mais do que na recente apresentação do Exodus na cidade. O mesmo curtiu intensamente cada minuto da apresentação. Tecnicamente é uma banda que cresce muito no palco, com direito a um som alto e nítido durante todo o tempo. De ponto negativo, apenas alguns problemas técnicos com a guitarra de Felipe Machado vez ou outra.
     O repertório é mais que jogo ganho. Os clássicos de Soldiers of Sunrise e Theater of Fate, que contam com Andre Matos no vocal, agora dividem espaço com uma boa dose do excelente Evolution. Dele saiu, além da obrigatória e mais que clássica Rebel Maniac, a pedrada Coming From the Inside, The Shelter. The Spreading Soul e Dead Light. Pit lembrou seus momentos de vocalista em algumas partes, umas sérias e outras numa tosquera só em covers mal ensaiados - frutos de seu permanente estado alcoólico elevado. Tome Motorhead, Judas Priest e Dio no mais puro e etílico improviso. Algo já normal para quem acompanhou o retorno da banda, o estado de Pit por muitas vezes afeta sua performance no baixo, mas todos ali sabem que isso está incluso no pacote Viper anos 10. Não imagino que ninguém tenha ido ao show esperando muita seriedade de sua parte. Outro momento incluso no pacote é a falação de Andre Matos. Aquela tradicional no meio de Living For The Night, clássico máximo da banda, foi tão longa que fez eles até esquecerem de voltar. Depois de um Breaking the Law surpresa e muito papo, finalmente eles encerram o clássico no 220, formando dali para frente um mosh pit daqueles - obviamente um pouco mais sutil do que o que costumamos ver em shows de Thrash e Death Metal. Outro hino do metal feito em tom de brincadeira foi H.R., com um troca-troca coletivo de funções.
     Falando da parte séria, a performance de Andre Matos assusta até hoje, com o auge em A Cry from the Edge - gerando um coro final com seu nome. Clássicos como Prelude to Oblivion, Soldiers of Sunrise, Wings of the Evil, To Live Again e Knights of Destruction foram tocados de maneira irretocável por uma banda que ajuda a contar a história do Heavy Metal brasileiro em alguns de seus mais gloriosos capítulos. A brincadeira dos músicos chama muita atenção, mas não consegue atrapalhar a parte séria do espetáculo. Num somatório, o Viper entregou aos apaixonados por Heavy Metal BR um grande show com seus clássicos, e toda a brincadeira que motivou a banda desde os primórdios.