domingo, 24 de julho de 2016

SHOW DO CÓLERA/MATANZA FEST - CIRCO VOADOR - RIO DE JANEIRO

    Bem, esse que vos escreve poucas vezes teve uma surpresa tão positiva dentro do Rock N'Roll como na noite de ontem. Antes de mais nada, me sinto na obrigação de elogiar o Matanza pela iniciativa de usar sua popularidade absurda capaz de entupir o Circo Voador a favor de todo um cenário da música pesada. Já fui fã, hoje não sou mais, contudo a noite de ontem foi coisa de gente grande. Eu tinha um claro temor de ver o Cólera perdido ali no meio para um público "curioso" esperando no relógio pelo show do Matanza. Fiquei na dúvida se iria ver uma abertura assim, e felizmente fiz a escolha certa. O que vi na prática foi uma quantidade considerável de "camisa amarela" circulando pelo lugar e uma roda que tomou a pista inteira com seguidores fieis de um dos maiores nomes do Punk nacional cantando cada verso. O show que poderia ser uma abertura chegou muito além disso, sendo uma verdadeira atração co-headline com o dono da festa. Uma certeza eu tenho, Redson estava presente em algum lugar em meio a pista, e depois desse show eu simplesmente não queria assistir mais nada. A noite definitivamente foi do Cólera. 
      Voltando um pouco, falemos do evento em si. O festival do Matanza contava com três bandas fora a principal. Não cheguei em tempo para ver o Mnstros do Ula Ula, e não ouvi nada de muito empolgante a respeito. Cheguei em meio ao fantástico show do Hatefulmurder. Um dos nomes mais relevantes do cenário carioca apresenta agora a grata novidade, uma vocalista fazendo muito bonito no gutural. Angelica Burns é o nome da fera, uma velha conhecida da cena que causou um verdadeiro alvoroço ao assumir os vocais da banda - já bem conhecida antes dela, e que sem dúvidas ganhou um gás extra com sua presença. Completa o time Renan Campos (guitarra), Felipe Modesto (baixo) e Thomás Martin (bateria). Mesmo não vendo a apresentação desde o início, consegui observar um público interessado e participativo, movidos por uma banda tocando um Death/Thrash Metal de 1a. Só com esse show, a noite já era muito positiva. 
      Então era momento para um breve intervalo antes do grande momento para mim. Os horários cumpridos com absurdo e magnífico rigor também merecem destaque. Então os veteranos Val (baixo) e Pierre (bateria) se juntam a Fabio (guitarra) e Wendel (vocal). A dupla de novatos simplesmente honra com classe o legado magnífico de Redson, fazendo o papel de substituir o insubstituível maravilhosamente bem. A difícil decisão de seguir com a banda depois de tamanha perda é mais que acertada. Surge junto uma leva de Punks com um objetivo claro naquela pista. Era ver o Cólera em ação, e pronto. Roda aberta, começa o show com Subúrbio Geral, de Caos Mental Geral. Já nessa, público em mãos para a sequência. Ai bastou a dobradinha de Pela Paz Em Todo Mundo formada por Não Fome/Humanidade para o pandemônio sair do controle. Deixa perfeita para Caos Mental Geral, São Paulo e Quanto Vale a Liberdade? seguirem a viagem pela gloriosa história do Cólera. Da despedida de Redson "Deixe a Terra em Paz!", não poderiam ficar de fora a faixa-título (absurdamente celebrada) e Águia Filhote, que talvez tenha sido o momento mais emocionante da noite. A homenagem a Redson com seu nome gritado pelo Circo todo foi simplesmente de matar! A surpreendente Violar suas Leis veio para matar qualquer Punk oitentista do coração.  Como o tempo não era tão grande,  fica impossível não termos ausências consideráveis do porte de Adolescente e Direitos Humanos. Essas ficam para a próxima com show completo, mas o final foi de arrepiar. Teve até uma provinha para o novo trabalho, com a sugestiva Festa no Rio. O que aconteceu na magnífica Medo foi para não sr esquecido jamais. Um furacão atravessou aquela pista sagrada, tomada por Punks de raiz. As não menos maravilhosas Dia e Noite, Noite e Dia e Pela Paz encerraram no mesmo clima uma noite inesquecível.
       Com a alma lavada, eu simplesmente não queria ver mais nada aquela noite. Era hora de recuperar o fôlego e tomar umas cervejas conversando com Pierre, Fábio e Wendel sobre a importância que o Cólera tem para a história da música brasileira. Teve até gente pedindo foto falando que conheceu a banda hoje e já ia buscar ouvir. Mesmo isso sendo difícil de acreditar, deu para notar como uma iniciativa dessas é importante na divulgação de bandas clássicas para um público que simplesmente não procura conhecer a história do próprio estilo? Enquanto isso, rolava o show do Matanza. Vi alguns trechos despretensiosamente do lado de fora da lona, curtindo a ótima versão para Iron First do Motorhead e algumas músicas antigas que ainda valem atenção - caso de Rio de Wiskey por exemplo. Mesmo estando lá, a noite já tinha acabado assim que o Cólera deixou o palco. Depois daquilo, eu só pararia para curtir mesmo um show de um Iggy Pop ou Dead Kennedys por exemplo. Chegou assim ao fim uma noite histórica de resgate da memória de Redson. Volta a falar, certamente ele estava presente em algum lugar daquele Circo Voador. 

quinta-feira, 21 de julho de 2016

BLACK SABBATH - MASTER OF REALITY

   Amigos, é incrível pensar na força do tempo não? Enquanto estamos vendo o Black Sabbath prestes a chegar ao Brasil para suas derradeiras apresentações no país, essa obra-prima chamada Master of Reality completa 45 anos de vida. Só a boa arte mantém uma obra viva por tanto tempo assim. Alguém se arrisca em pensar como era o mundo naquela época? Pois bem, em 1971, o Black Sabbath estava colhendo os frutos do maravilhoso ano anterior, quando colocou no mercado seus dois primeiros discos e já se firmava como um gigante no cenário do Rock mundial. O baque das inovações que, tempos depois, seriam reconhecidas como o ponto de partida do Heavy Metal não permitia descanso, e lá iam Tony Iommi, Ozzy Osbourne, Geezer Butler e Bill Ward para seu terceiro lançamento em dois anos - leia-se 3o clássico absoluto em 2 anos. 
    É bom dizer que a banda não procurou se repetir. A afinação de Iommi e Butler foi ligeiramente abaixada, entregando uma sonoridade renovada que muitos consideram ser o marco inicial do Doom Metal. Seja como for, o resultado vem em forma de um playist invejável. Momentos como a deliciosamente chapada Sweet Leaf, a reflexiva e sempre atual After Forever e Into the Void são eternos clássicos. O hino máximo Children of the Grave então dispensa apresentações, sendo uma das composições mais fortes que o Black Sabbath já apresentou. Solitude e Lord of this World fecham a conta - sem falar nas "transitórias" mas não menos ótimas Orchid (que solo inspirado!) e Embryo. 
    Em seu novo lançamento, o Sabbath dava mais um grande passo na sua carreira magnífica. A banda provou que tinha vindo para ficar e depois de 45 ainda é referência lotando arena por onde passa. Celebre o que hoje é um dos maiores lançamentos da história do Rock ouvindo esse playlist que nunca envelhece no talo! 

terça-feira, 19 de julho de 2016

DEATH ANGEL - THE EVIL DIVIDE

    Poucas cenas na história do Heavy Metal são tão ricas como a de uma certa área da baia de São Francisco. O fenômeno surgido ali em um mesmo período é realmente incrível. Junto de Slayer, Megadeth, Overkill e Anthrax - bandas de outras partes dos EUA que também surgiram com a explosão do Thrash Metal, o que Metallica, Testament, Exodus, Forbidden, Heathen, Vio-Lence e porque não Possessed fizeram naquela cidade é digno de nota. Uma dessas maravilhas surgidas por lá é o Death Angel, que segue na batalha depois de mais de 30 anos, provando com o ótimo The Evil Divide ainda estar em grande forma. 
     Passando pelas dificuldades comuns a muitas das bandas clássicas daqueles tempos, o Death Angel esperou 14 anos entre os lançamentos de Act III (1990) e The Art of Dying (2004), mas desde então vem disposto a tirar o atraso. The Evil Divide já é o 5o desde o retorno, e arrisco a dizer que é o melhor entre eles, estando digno dos lançamentos oitentistas. A banda hoje conta com Mark Osegueda (vocal), Rob Cavestany (guitarra), Ted Aguilar (guitarra), Will Carroll (bateria) e Damien Sisson (baixo), sendo Mark e Rob os dois remanescentes dos tempos de ouro. Em tal condição, a dupla comanda as ações. 
     O Thrash Metal da banda sempre foi rico em melodia e groove, característica fortíssima de The Evil Divide. A brutalidade e velocidade do estilo obviamente tem todo espaço do mundo. O disco é interessante como um todo, e não vi nenhuma parte dispensável. The Lost chama muita atenção pela performance vocal de Mark, sendo simplesmente imperdível como composição. Seu clima arrastado contrasta com perfeição da não menos fantástica Cause For Alarm - uma verdadeira bomba Thrash. O trabalho segue nessa toada, apresentando pérolas como Hell to Play, Hatred United, United Hatred e Father of Lies, só para citar algumas. 
      Para qualquer amante de Thash Metal, a audição de cada lançamento novo de uma banda como o Deah Angel é fundamental. Dessa vez, vem a garantia de bom bate-cabeça. Mergulhe em mais um clássico da discografia dessa banda magnífica sem medo! 



terça-feira, 12 de julho de 2016

DESTRUCTION - ETERNAL DEVASTATION

    É de conhecimento público o tamanho da importância do ano de 1986 na história do Heavy Metal, resultado de uma infinidade de lançamentos espetaculares em todos os grandes centros do estilo no planeta - incluindo o Brasil. Nessa realidade, o Thrash Metal alemão chegava para assombrar o mundo. Kreator, Sodom e Tankard davam seus primeiros passos, lançando no dito ano discos de fundamental importância para a história do gênero. Como é de praxe em toda a trajetória do chamado Big Four alemão, o Destruction não poderia de jeito nenhum ficar para trás - procure olhar a quantidade de vezes que o quarteto lançou praticamente junto discos seminais. Depois de no ano anterior lançar o fundamental Infernal Overkill, era hora de Marcel Schmier (vocal, baixo), Mike Sifringer (guitarra) e Tommy Sandmann (bateria) darem sequência a ele. Essa continuidade vem no disco mais importante de sua história - Eternal Devastation. 
    Um instrumental ainda mais refinado entrega ao planeta uma verdadeira enxurrada de hinos eternos do Thrash Metal. Existe algum amante do estilo que resista a um Curse the Gods no talo? O até que curto playlist de 7 músicas apresenta muito mais que isso. Tome Life Without Sense, Eternal Ban e Confused Mind, para citar só algumas. Schmier já pega a banda para ele, se mostrando um vocalista cada vez melhor. O Thrash é cada vez mais limpo e técnico, algo bem diferente por exemplo dos flertes com o Black Metal do Sodom em Obsessed by Cruelty - outra cortesia de 1986. 
      Enfim, Eternal Devastation mostra um Destruction maduro, no auge de toda a sua longa carreira. Exatamente 30 anos depois de lançar essa maravilha, a banda acaba de soltar no mercado Under Attack, mais uma pérola em sua discografia - provando não sentir o peso da idade. De fato, a eterna devastação promovida em 86 ainda causa estragos! 


segunda-feira, 11 de julho de 2016

DEF LEPPARD - HIGH 'N' DRY

    Surgindo numa cena gloriosa inglesa - a NWOBHM -, o Def Leppard já deixou claro de cara não se assemelhar a vizinhos como IronMaiden, Saxon, Tygers of Pan Tang, Angel Witch, Demon e Satan. O som era voltado para outro direcionamento, ou melhor, a outro mercado. Em Halo America, do disco de estreia  On Through the Night, isso fica praticamente tatuado na testa de Joe Elliot. A história prova que realmente foi lá que o leopardo cego sempre se fez. O disco não vai mal, mas para o segundo trabalho era necessário um salto. Este salto tem nome e sobrenome: High 'n' Dry.
     A obra-prima dos ingleses forja com muito mais qualidade a base sonora da banda. Hard N'Heavy com um inegável toque Pop. Pode parecer estranha, mas tal muistura fica simplesmente magnífica aqui. High 'n' Dry apresenta um playlist com músicas diretas do porte de Let It Go, On Through the Night e a sensacional High 'n' Dry (Saturday Night) - aquela música para tocar estourando os tímpanos no momento que abre-se a 1a cerveja da noite. As Power Ballads chegam como num manual para o que viria no decorrer da década. A épica Mirror, Mirror (Look into My Eyes) é um aperitivo, mas Bringin' On the Heartbreak é exatamente como uma música do estilo deve ser. Letra "romântica" cantada e tocada com alma, pronta para fazer qualquer banger pirar de imediato. O disco ainda conta com as não menos fantásticas Another Hit and Run, a instrumental Switch 625 - uma das muitas cortesias de Steven Clark, perda que nunca foi superada -, You Got Me Runnin, Lady Strange e No No No - todas imperdíveis. 
     Se você é daqueles que insistem em ignorar essa grande banda, sugiro que comece exatamente por aqui. Tome riffs inspirados, solos sensacionais e refrões para não sair da sua cabeça o resto do dia. Nessa obra única, o Def Leppard começa a trilhar seu glorioso caminho oitentista pra valer. Joe Elliott (vocais), Steve Clarke (guitarra), Pete Willis (guitarra), Rick Savage (baixo) e Rick Allen (bateria) não estavam para brincadeira!


domingo, 10 de julho de 2016

SHOW DO TORTURE SQUAD - ROCK EXPERIENCE - RIO DE JANEIRO

    Mais uma vez a Be Magic ajuda a escrever a história do Heavy Metal brasileiro no Rio de Janeiro. Depois de muito tempo ausente em terras cariocas, o Torture Saqud chega para tirar o atraso apresentando sua nova formação e o EP Return of Evil. A grande novidade era a vocalista Mayara Puertas - que já vale dizer -, fez um papel maravilhoso. O guitarrista Rene Simionato é a outra novidade precisa. Seja como for, a noite prometia ser histórica nos embalos de uma das bandas mais importantes dos últimos 25 anos, baluarte da 2a safra nacional. E de fato foi. 
     A noite teria três aberturas, mas com o cancelamento em cima do grande Blasthrash, ficamos com duas. Redentor começou os trabalhos numa mistura autodefinida de Stoner, Thrash e Groove Metal. De fato o som deles promove certa viagem, mas a semelhança física do vocalista Kirk com Phil Anselmo acaba chamando mais atenção. Com direito a homenagem ao Sepultura em forma do hino Territory, vimos uma abertura eficiente para uma noite que prometia.
     O 2o ato ficou por conta do Savant. Um show ao meu ver irretocável, cumprindo com categoria o papel de aquecer os motores para uma banda do tamanho do Torture Squad. Com seu segundo disco saindo do forno agora, a banda apresenta um Thrash Metal muito bem tocado em sons como No Hope, Evidence Elimination e Serial Killer - faixa-título do novo trabalho. Enfim, banda promissora na cena!
     Chega então a grande hora. O público é bom, mas honestamente, esperava casa ainda mais cheia para uma banda desse tamanho - é bom dizer que num preço aceitável, casa ótima e época de seca de shows. Seja como for, quem lá estava botou fogo na pista do 1o ao último minuto. A brincadeira começa com a faixa-título do novo EP. Os novatos são postos a prova e mostram porque Castor e Amílcar os convidaram. Do baterista, não tem como deixar de citar o show a parte que ele promove. Um kit que chama atenção desde que foi "descoberto" antes do show mal cabe no acanhado palco. Vê-lo de tão perto é assustador, e o que esse homem promove nele ao longo do set é uma verdadeira aula de bateria com a excelência do instrumento no país. Não são poucos que consideram Amilcar o batera mais técnico do país, é bom lembrar. 
      De volta ao set, uma Mayara endiabrada como Front"woman" esbanja categoria em Pull The Trigger - 1a lembrança do sensacional Esquadrão da Tortura, um disco fundamental também para o momento do país. Raise Your Horns, grande momento do mais que clássico Æquilibrium, causa uma verdadeira devastação no lugar. O hino Horror And Torture não deixa por menos, naquela que talvez seja a maior música da banda. Swallow Your Reality volta pro presente muito bem, abrindo espaço para Convulsion, do 2o disco da banda, Asylum of Shadows. Abduction was the Case é outro clássico presente nessa viagem pela história da banda. No Escape From Hell não deixa por menos, mostrando a importância de Esquadrão da Tortura. Dreadful Lies volta ao primeirão Shivering. Mayara fala o mínimo possível, sem deixar de ser extremamente simpática, como todo bom líder de banda deve ser. Living For the Kill é outra que não poderia faltar numa noite assim. The Unholy Spell e Chaos Corporation encerram a parte regular. O público pede mais, e a banda atende com a música que realmente faltava para fechar a noite, o hino Pandemonium. 
     Foi a deixa para encerrar com classe uma grande noite de Thrash/Death Metal com uma banda que estava precisando passar pela cidade há tempos. Quem estava lá saiu de alma lavada depois do caminhão do esquadrão da tortura atropelar quem se meteu na sua frente. Pontos para a Be Magic, mais uma noite histórica do Heavy Metal brasileiro no Rio de Janeiro! 

sábado, 9 de julho de 2016

SHOW DO METALMORPHOSE - TEATRO LEONARDO ALVES - RIO DE JANEIRO

    Para quem conhece profundamente os primeiros dias do Heavy Metal nesse país, o nome Metalmorphose é sempre parte da conversa. A banda que ao lado do Dorsal Atlântica registrou o fundamental split Ultimatum segue firme e forte, promovendo lançamentos seguidos desde seu retorno. Com planos breves de colocar no mercado o sucessor de Fúria dos Elementos - lançado ano passado - a banda hoje formada por André Delacroix (bateria), Marcos Dantas (guitarra), PP Cavalcante (guitarra), Tavinho Dodoy (vocal) e Marcelo Val (baixo) - o último substituindo André Bighinzoli, no momento com projetos fora do país -, segue quebrando tudo por onde passa. A empreitada da vez foi no Teatro Leonardo Alves, dentro de uma galeria no bairro do Catete. 
       O local vale um destaque. Completamente novo para todos, fica ao lado da clássica loja Sempre Música do bairro. Ponto de encontro de muitos presentes, ela foi base para tudo ao longo da noite. Conversa pré e pós show, cerveja, novas aquisições para as vastas discografias. Era tudo lá. No acanhado espaço vizinho de porta, o público se acomoda no exato momento que a brincadeira começa. Muitos comentaram da sua semelhança com o lendário Caverna II, mas como não peguei esses tempos não cabe a mim tal observação. O fato é que lá era bem diferente dos locais que estamos acostumados. Uma sala de Teatro clássico, com cadeiras apertadas onde todos se acomodam como se estivessem prontos para a peça. Só que o espetáculo em nada tinha a ver com O Chapeuzinho Vermelho ou Branca de Neve, e sim com a história do Heavy Metal brasileiro.
      Seguindo a banda por um tempo, cada show traz a gostosa sensação de família reunida. O público é fiel, formado por rostos mais que ilustres da cena carioca, que invariavelmente se trombam por onde role cerveja e Metal na cidade. Com isso, é basicamente uma grande reunião de amigos. Tenho a felicidade de considerar os membros não só ídolos, mas amigos. Sendo assim, a noite para mim começa na casa de sucos ao lado do Teatro comendo um sanduba com André Delacroix e Marcelo Val, servindo como um belo aquecimento para o que estava por vir. Um clima indescritível que exemplos como esse servem para ilustrar. 
      A parte que interessa é especial. A banda veio para viajar por diferentes fases. Começando com a sensacional Va Pro Inferno, do trabalho mais recente, a trinca inicial com o hino Cavaleiro Negro e Máscara - ao meu ver ponto alto de Maquina dos Sentidos -, abre com perfeição a noite. A estrutura do Teatro não incluía o melhor equipamento de som, mas a banda dribla os problemas com maestria. Na parte instrumental, som redondinho e performance impecável de sempre. Só Tavinho que acabou sofrendo com seu microfone baixo em relação ao resto, fazendo com que a voz por vezes suma em meio ao som. Nada que comprometa por completo. A brincadeira segue com a nova e já clássica Corda Bamba e No Topo do Mundo, de Maquina dos Sentidos. Está cada vez mais claro que os dois lançamentos inéditos tiraram com classe o atraso de anos, deram um gás incrível para banda. Pelas Sombras é outra do disco lançado em 2012. Luta e Gloria abre caminho para a sensacional Correntes, single oitentista que foi relançado no Maldição em 2009 - sendo para mim uma das mais inspiradas da história da banda. Um verdadeiro retrato dos tempos de ouro do nosso Metal. A noite vai seguindo com muitas raridades no roteiro, e clássicos de todas as épocas. Destaque para as indispensáveis Porrada, Jamais Desista, Desejo Imortal e Maquina dos Sentidos, em parceria com coisas do porte de Metrópole, Puro Prazer e Passados Incompletos. Teve também a lembrança ao grande Marcos Dantas, e sua história com o Azul Limão na clássica Satã Clama Metal. Minha Droga É O metal vem para fechar com chave de ouro.
      A sensação de felicidades do grupo de amigos depois de mais um show impecável do Metalmorphose é única. A banda representa o espírito do underground carioca e brasileiro como poucos, seguindo com todas as dificuldades que o estilo impõe na raça que só o Headbanger de verdade tem. Vida longa a amizade, vida longa ao Metalmorphose!