quinta-feira, 29 de setembro de 2016

IRON MAIDEN - SOMEWHERE IN TIME

     Em 1986, o Iron Maiden já era um gigante do Heavy Metal mundial. Vindo de Powerslave e de uma turnê exaustiva que deu origem ao lendário Live After Death para sua promoção, os amantes do estilo esperavam ansiosamente pelo seu próximo passo. Para Somewhere in Time, a banda ousou ao incluir sintetizadores. O que poderia ser um desastre acabou tendo um efeito positivo em forma da única coisa que a banda sabia fazer nos anos 80 - lançar obra-prima. Somewhere In Time é mais um disco com um playlist impecável. 
      O grande clássico do disco é a eternamente magnífica Wasted Years. Sua melodia inspiradíssima e variedade rítmica explodindo num refrão pronto para os estádios faz dela um dos maiores hinos do Iron Maiden. Além dela, a outra com status próximo ao longo dos anos foi Heaven Can Wait. Quem não lembra do seu coro no refrão que quando aparece ao vivo é entoado por toda a equipe em cima do palco? O mesmo foi urrado pelos fãs quando entravam no Hsbc Arena para o mais recente show da banda no Rio. Bem, de resto acontece algo peculiar. Músicas épicas e magníficas como Sea Of Madness, The Loneliness of the Long Distance Runner, Stranger in a Strange Land, Déjà Vu, Alexander the Great  e Caught Somewhere in Time se transformaram em eternos lados b da banda. Nunca foram lembrados em set algum depois da tour de promoção do disco e lamentavelmente não existem para os fãs que se limitam a ouvir Fear of the Dark e The Trooper. Seja como for, todas as citadas são algumas das melhores músicas que o Iron Maiden já fez. Se te passou despercebido, procure ouvir cada uma delas. Não vou entrar em detalhes, mas você vai se surpreender com tamanha perfeição. 
      O disco que completa 30 anos hoje é daqueles simplesmente perfeito em cada detalhe. Não tem uma música que seja menos do que maravilhosa. Preste atenção no desempenho de Bruce Dickinson em músicas como Sea of Medness e Stranger in a Strange Land, que eu diria ser alguns dos mais inspirados da carreira. Olhe também o quanto Dave Murray e Adrian Smith estão entrosados aqui, além das cavalgadas únicas de Steve Harris em parceria com a bateria de Nicko McBrain. Vimos aqui uma das maiores bandas da história no auge. Somewhere in Time merecia reconhecimento ainda maior até da própria banda. 


domingo, 25 de setembro de 2016

SHOW DO VIOLATOR - TEATRO ODISSEIA - RIO DE JANEIRO

    Eu poderia usar muitas palavras para descrever a noite de 24 de outubro de 2016 no Teatro Odisseia. Entre todas elas, a mais adequada é esperança. Sim, quem esteve lá saiu com esse sentimento. Os motivos? Uma banda underground até a alma, nova e sem nenhum grande tipo de apoio levou ao Odisseia um dos maiores públicos que já vi no lugar. Não que seja um orgulho as bandas que vou citar "perderem", mas a lista inclui nomes como Krisiun, Entombed, Napalm Death, DRI com Ratos de Porão, Nuclear Assault e Hypocrisy. Enfim amigos, foi uma noite para provar que da para chegar longe mesmo com todos os nossos problemas de cena. 
      Alguns fatores contribuíram para isso. A produção magnífica, o grande line up do evento, o preço acessível e principalmente a estreia do Violator no Rio de Janeiro. Muitos esperam há tempos a melhor banda que surgiu nesse país nos anos 2000 aparecer. Ela agrada em cheio fãs de Thrash Metal oitentista, sendo assim adotada de imediato por grande parte deles. Passando pelos mesmos problemas dos que ralam para tocar de vez em nunca em botecos vazios, podemos dizer que o Violator chegou numa posição maravilhosa no cenário nacional. 
      Antes porém, é impossível não citar as outras grandes bandas que se apresentaram na noite. O Vingador fez um show digno de uma das melhores bandas da cena carioca. Ainda muito cedo e com a cada enchendo no decorrer da apresentação, os cariocas mostraram um pouco do mais puro Thrash Metal que seria o ritmo de toda noite. Já surgiu um belo mosh pit, algo que raramente acontece em aberturas. Isso se explica pelo prestígio que a banda já tem na cena. Sons do porte de Yellow Crew, Dead Nazi Poem, Hellstorm, Whata Fuck Is This?! e Morrendo de Paz já garantem a diversão de quem conseguiu chegar às 5 da tarde no lugar. Os quatro saem do palco com um sorriso no rosto que nem uma rocha despencando na cabeça seria capaz de tirar. No resto da noite, foram presença constante no mosh pit.
     Seguindo com a rigidez nos horários, agora era vez de outra banda consagrada do underground carioca - mais uma sábia escolha. Farscape chega com o Odisseia já lotado disposto a dar sequência ao baile com mais Thrash Metal dos bons. Esse show eu já vi um pouco mais ao fundo da casa, onde o som já dava uma certa embolada. Mesmo assim, a banda fez exatamente o que se esperava deles. O mosh já é digno de show principal, e a banda mostra todo seu poder de fogo para um público que já a adotou como uma das preferidas da nova safra. Com muita variação, tome sons sensacionais como Wild Rocker, Demon’s Massacre, Thrash Until You Drop e Carrasco do Metal. Com dois shows desse tamanho, a noite já tava ganha por todos antes mesmo da atração principal. 
     Como se estivesse num eventinho underground para 30 pessoas em Brasilia, o Violator ajeita tudo no palco e agradece aos presentes antes mesmo do 1o acorde. A banda ainda apresenta seu 3o disco, o já não tão novo assim Scenarios of Brutality. É dele que sai a abertura da brincadeira com Death Descends (Upon This World). Não precisa mais que isso para um mosh daqueles tomar conta do lugar, assim ficando até a banda deixar o palco. Pedro "Poney" Arcanjo (Baixo e Vocal), Pedro "Capaça" Augusto (Guitarra), Marcio "Cambito" (Guitarra) e David "Batera" Araya (Bateria) vão a cada número mostrando o porque de tanto prestígio. Endless Tyrannies e Echoes of Silence fecham uma trinca  inicial de respeito. É bom lembrar que a forte veia política da banda se fez presente nos discursos sensacionais do grande Poney. A banda esteve em evidencia dividindo opiniões por simplesmente criticar um político. Independente de posições, quando uma crítica a seu politico de estimação gera uma revolta contra uma das nossas melhores bandas, percebemos como os tempos são complicados. Vale lembrar que xingamentos a esse senhor também foram bem constantes ao longo da noite. Bem, nosso assunto aqui é outro. 
     Voltando a parte boa, Deadly Sadistic Experiments apresenta Annihilation Process aos presentes. A banda se caracteriza por uma pancadaria Thrash sem uma única pisada no freio. Isso se transforma num exercício daqueles dos apaixonados thrasheiros que bangueiam sem parar no mosh. Respect Existence or Expect Resistance, com seu título maravilhoso, retorna ao disco mais recente com seu refrão sendo cantado por todos. Em meio ao caos, aparecem celular e escova de dentes perdidos no palco, em um dos momentos mais hilários da noite. Futurephobia, de Annihilation Process, soa quase como uma premonição. A música já é um dos maiores clássicos do Violator, e agita como poucas o mosh. Ai finalmente é hora do melhor disco da banda dar as caras. Ordered to Thrash mostra todo o poder de fogo que Chemical Assault tem. Um dos grandes discos da história do Metal nacional é um marco, e o maior responsável por esse público presente no lugar. Atomic Nightmare destroi o pouco que sobro depois de tanta porrada na orelha. O disco que é uma verdadeira ode ao Thrash Metal se mostra diferenciado. Então tome Brainwash Possession, Toxic Death e Thrash Maniacs - essa do ep Violent Mosh. Destined To Die e o hino UxFxTx fecham a noite com uma invasão ao palco - eu incluso nessa. Tem algo mais Thrash de raiz que isso?  
        Espero ter traduzido um pouco do que foi uma das maiores noites do underground carioca que pude presenciar. Pessoal, ela nos mostrou ser possível. Da para lotar uma casa consagrada, ter uma legião de fãs e tudo mais fazendo um som sem frescura. Um verdadeiro sopro de esperança tomou conta do Teatro Odisseia numa matinê para não ser esquecida tão cedo! 

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

MEGADETH - PEACE SELLS...BUT WHO'S BUYING?

     A missão era clara na mente de Dave Mustaine. O Megadeth foi montado para vingar sua demissão do Metallica em forma de algo muito mais devastador. Pontuando aquele ano de 1986, era inegável que os rivais estavam bem na fita. Já partindo para Master of Puppets - seu 3o disco -, a turma de James Hetfield já gozava de enorme prestígio no cenário do Heavy Metal, estando a poucos passos de se tornar o gigante que é até hoje. O Megadeth tinha acabado de lançar seu 1o disco Killing Is My Business... and Business Is Good!. Era hora de evoluir, de entregar algo ainda melhor. O Thrash Metal vivia seu auge naquele ano, com incontáveis clássicos simultâneos. Apesar de todos os abusos que marcavam aqueles anos iniciais, o resultado entregue pelo Megadeth foi um clássico absoluto. 
      Peace Sells... but Who's Buying? mostra uma banda com sede, mostrando um som sujo na medida certa com muita velocidade e peso. Dave Mustaine, Chris Poland, David Ellefson e Gar Samuelson conseguiram tirar do caos uma coleção de clássicos. Wake Up Dead e Peace Sells - um dos hinos definitivos da banda - são os maiores, eternizados desde então no setlist. Exceção feita ao cover destoante de I Ain't Superstitious, o resto do playlist simplesmente não deixa o amante de Thrash Metal interromper seu bate-cabeça. Músicas como The Conjuring, Devil's Island, Good Mourning/Black Friday e My Last Words tem em comum letras e melodias fantásticas para o estilo e uma levada simplesmente devastadora. No ano definitivo do Thrash Metal, o Megadeth não faz feio e eterniza um clássico. 
     Ainda com esse resultado fantástico, o clima interno não permitia vôos maiores naquele instante. Dave Mustaine segue seco pela vingança e afundado em tudo quanto é tipo de droga - assim como seus colegas. Mesmo assim, o tempo eternizou Peace Sells... but Who's Buying? nas prateleiras mais gloriosas de toda a vasta discografia da banda. Para todo verdadeiro fã de Thrash Metal, hoje é dia de escutar esse playlist sensacional em alto e bom som! 


          

domingo, 18 de setembro de 2016

SHOW DO KRISIUN - TEATRO ODISSEIA - RIO DE JANEIRO

     A riqueza do Heavy Metal brasileiro não é novidade para ninguém que curte minimamente o estilo. Sua história grandiosa no passado e ainda muito forte no presente tem muitos representantes. Quando o assunto é a atualidade, na minha opinião não tem para ninguém. O Krisiun é a melhor banda brasileira hoje em dia. Lançando nos anos recentes obras-primas em sequência, os gaúchos chegam ao Teatro Odisseia para promover o espetacular Forged in Fury num Teatro Odisseia com público razoavelmente bom. Era uma noite daquelas que o consumidor investe seu dinheiro com certeza de satisfação total. Com organização mais uma vez impecável da Be Magic, o carioca que esteve presente ganhou uma enxurrada de Death Metal promovido por uma das bandas que melhor entende do assunto. 
      A noite começou muito bem. O Siriun se mostrou uma banda promissora, com um Thrash/Death Metal de 1a. Promovendo o disco de estreia In Chaos We Trust com 7 músicas no total, uma delas um cover do Vader, a banda aproveitou muito bem a oportunidade e deu seu recado. Único destaque negativo fica para o som acima do aceitável em termos de volume, o que me levou ao famoso banquinho do 2o andar da casa - único lugar que era possível curtir o show sem ficar surdo. 
      Com pontualidade britânica, Alex Camargo, Max e Moyses  Kolesne sobem ao palco às 19:30, já que mais tarde era hora de mais uma das famosas festas alternativas da casa aos sábados. Com alguns atrasados ainda entrando no lugar, a  aula de Death Metal tem inicio com Intro/Ravager - diretamente de Conquerors of Armageddon. Nada melhor que começar os trabalhos com a abertura da obra-prima da banda. Na sequência, vem um som recente que já é clássico. A maravilhosa The Will to Potency mostra exatamente o que é o Krisiun nos dias de hoje. Uma banda em eterna evolução, transbordando técnica sem perder a essência. Para manter esse começo matador, a coisa fica ainda mais séria com Combustion Inferno, talvez o hino definitivo do Krisiun. Não conseguiria imaginar uma trinca melhor para uma grande banda dar seu recado inicial. Ai é hora de mostrar a última novidade da banda. Scars of the Hatred já nasceu clássica. Posso colocar ela num top 5 do Krisiun sem medo de ser feliz, algo comum em todos os discos recentes. As variações surpreendentes e letra sensacional já estão na ponta da língua dos fãs, que agitam intensamente nela. Precisa dizer algo mais?
      Enquanto isso o frontman Alex exibe toda a sua simpatia de sempre, agradecendo profundamente a presença de todos e contando todo o orgulho de ser brasileiro - de quem está acostumado a rodar o mundo levantando nossa bandeira. Seguindo o bailão Death Metal, é hora de voltar aos primórdios da banda. Vengeances Revelation, presente no 2o disco da banda Apocalyptic Revelation, é mais uma pérola sacada para o setlist. Ela mostra um Krisiun com aquele sangue de conquistar o mundo no começo da carreira. Ways Of Barbarism retorna para o disco mais recente. Outra que tem tudo para se tornar clássico no futuro. Com essa viagem toda, é possível ver toda a diversidade da banda, mas sem nunca deixar de ter sua marca. Poucos chegam até aqui sem errar, e o Krisiun é um deles. Sentenced Morning é outra que faz menção ao magnífico Southern Storm, que sempre merece ser lembrado em qualquer show com destaque absoluto. Depois vemos mais dois hinos de The Great Execution. São eles Descending Abomination e Blood Of Lions - já no coração de qualquer fã. Ai a metraladora humana Max Kolesne mostra um pouco do que sabe num solo, seguido pela homenagem a Lemmy com Ace Of Spades. O show fecha com um retorno ao passado, na forma das sensacionais Apocalyptic Victory, Hatred Inherit e Black Force Domain - sempre pedida em coro pelos fãs.
      Já vi o Krisiun algumas vezes, mas essa conseguiu ser a melhor apresentação. Quando penso que a banda não pode melhorar, eles ainda conseguem se superar. Num setlist impecável para um público nas mãos, quem foi ao Odisseia teve uma noite gloriosa de Death Metal com, não custa repetir, a melhor banda de Heavy Metal brasileira do momento. Parabéns a todos os responsáveis por isso! 

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

O QUE ESPERAR DO RED HOT CHILI PEPPERS NO ROCK IN RIO?

     Antes de falar da atração em si, acho que é bom comentar sobre o festival. Muitos reclamam de mesmices, sugerem uma bizarrice depois da outra e esperam que saia algo da cartola. Vejo muita gente falar em bandas que não lotam casas para 600 pessoas, em bandas com show já marcado aqui, em banda que nem em turnê está e outras até grandes, mas sem nenhuma garantia de retorno num evento para 85 mil pessoas. Amigos, depois do Medina passar anos ouvindo gritos de Slipknot e dar de cara com o menor público do festival desde o seu retorno, tudo que ele não quer é arriscar. Eu gosto de uma infinidade de bandas, e tenho a total noção do que elas são capazes em termos de público. Infelizmente, não são muitas ativas que dão conta dessa turma. No Heavy Metal, da para bancar Iron Maiden, Metallica, Black Sabbath, Ozzy Osbourne, System of A Down e talvez Judas Priest com atrações fortes ao lado. Partindo pro Hard Rock, temos Aerosmith, Guns N'Roses, Bon Jovi, AC/DC e Kiss. Entre o Classic Rock e bandas mais "normais" seguindo a linha da anunciada hoje, temos Paul McCartney, The Who, Rolling Stones, Bob Dylan, Neil Young, Roger Waters, David Gilmour, Rush (se não parou de vez), Foo Fighters, Pearl Jam e Green Day. Bem, posso ter esquecido um nome ou outro, mas se o fiz não são muitos além desses ai. Deu para notar como é complicado arrumar headline em pleno 2016? Eu também amo Slayer, Megadeth, Destruction, Sodom, Kreator, Testament, Obituary, Saxon e mais milhões de outras bandas, mas infelizmente nenhuma delas aguenta o tranco. Bem, isso tudo dito, vamos falar do Red Hot Chili Peppers. 
      A banda tem uma importância na história do Rock. Fez seu nome com aquele maravilhoso Funk de Freaky Styley e Mother's Milk. Com o clássico Blood Sugar Sex Magik, fez uma ponte entre o ainda forte "Funk Rock" e toda a melodia marcada pelos solos de John Frusciante que seria a base da banda em anos seguintes. Nessa linha, lançou discos do porte de Californication, By The Way e Stadium Arcadium. Lamentavelmente eles trocaram de guitarrista. O gênio já citado deu lugar a  Josh Klinghoffer. O estilo não tem relação alguma com o do antecessor, e ele simplesmente não consegue tocar na linha de Frusciante - principalmente quando chega a hora do solo. Isso muito tem a ver com o trabalho novo da banda, que se não é uma porcaria, hoje consigo afirmar que se trata do pior já lançado por eles. 
       Ainda que a presença de Josh e o fraco The Getaway esfriem os ânimos para mim, ver a banda ao vivo ainda é algo que eu recomendo. Flea, Anthony Kiedis e Chad Smith ainda estão muito bem, e ouvir alguns dos clássicos registrados por eles ao longo dos anos sempre é muito interessante. Pode não ser a melhor fase, mas quando o assunto é popularidade, não da para reclamar. A banda tem uma legião de fãs por aqui, e sou capaz de garantir que os caras esgotam brincando essa carga de 85 mil ingressos. Muitos falam que não é novidade, mas em 2017 completam 4 anos sem um show da banda no Brasil - um intervalo mais que digno para se justificar um retorno. Mais ainda, mesmo não sendo lá essas coisas, eles tem um disco novo para nos apresentar. Enfim, o Medina acertou sim, e teremos grandes chances de assistir a um show legal - assim como ele terá a certeza de casa cheia. 



domingo, 11 de setembro de 2016

SHOW DO SCORPIONS - METROPOLITAN - RIO DE JANEIRO

     Lá se foram 8 anos do último show do Scorpions na cidade - diante de um Hsbc Arena vazio. O tempo passou, e o cenário que vimos na histórica casa de shows Metropolitan - única classificação possível para um lugar que já recebeu shows de David Bowie, Iron Maiden, Faith No More, Dream Theater, Ozzy Osbourne, Megadeth, Def Leppard, Judas Priest, Deep Purple, Whitesnake, Motorhead, Black Sabbath (atendendo pelo nome de Heaven And Hell) e tantos outros - foi digno de um gigante do Rock. Filas davam voltas por todo o shopping onde a casa se localiza. Entrando, o cenário era uma pista já cheia com muitos ainda por entrar. Tirando a salgadíssima área vip - que tinha alguns espaços nas laterais - o que se via era gente a cada mínimo espaço do setor menos abastado. Uma tour de celebração de 50 anos de história merecia isso. 
      Com 20 minutos de atraso, que pelo movimento externo deveria até ser mais, Klaus Meine, Matthias Jabs, Rudolf Schenker, Pawel Maciwoda e o grande Mikkey Dee entraram no palco de maneira bem surpreendente em shows desse tamanho. Simplesmente as luzes apagaram sem mais nem menos e segundos depois a banda começa a tocar Going Out With a Bang. Nada de avisos ou grandes introduções, o que certamente pegou muitos de calças curtas. Por sorte já estava lá posicionado. O palco impressionava por sua estrutura. Telão digno de estádio na lateral, projeções por todo o palco e uma plataforma elevadíssima no fundo. Nessa parte era onde Dee instalou seu kit, sendo por vezes cercado pelos companheiros. Uma disposição de palco no mínimo diferente do habitual. Apesar da ótima estrutura da melhor casa de shows da cidade, o som poderia estar melhor. Começou baixo, e mesmo se acertando na 3a música não chegou a estar limpo como deveria ao longo do show. Pela qualidade da banda, isso acabou sendo apenas um detalhe. No que depende do quinteto, foi tudo impecável. 
      A já citada abertura nunca me agradou muito. Não é ruim, mas fica devendo em relação ao potencial de uma banda como o Scorpions. Sorte que com o susto, seu papel foi de acalmar todos da porrada que estava para começar. Podemos consideram o grande começo na 2a, a mais que clássica Make It Real. Esse primor de Animal Magnetism fez a legião de fãs presentes se beliscar para ter certeza que estavam mesmo diante do Scorpions. Seguindo no mesmo disco, The Zoo matou de vez qualquer fã do coração. O som estava melhor nela, e a dupla Jabs/Schenker apresentava todo seu repertório de riffs que compõe esse clássico. Era vez da dupla brilhar ainda mais com a magnífica Coast to Coast. Essa foi difícil descrever, momento realmente de arrepiar qualquer um. O tema de única inspiração instrumental transporta todos para os tempos de Lovedrive. Como o disco foi gravado por 3 guitarristas, Meine da uma forcinha nas 6 cordas. Ao seu final, a banda toda - exceção óbvia de Dee - se reúne na plataforma para a celebração dos oito mil presentes. 
    Já tava tudo pago? Então o que falar do medley setentista que estava por vir? A turnê tem clara intenção de passear por tudo que a banda já produziu. Hard's oitentistas, baladas e experimentalismo setentista - sem esquecer do disco mais recente. Assim sendo, a turma que aprecia os tempos de Uli Jon Toth não ficou desamparada. As pérolas Top of the Bill, Steamrock Fever, Speedy’s Coming e Catch Your Train mostram o começo dessa história maravilhosa da banda num momento para matar velhinho do coração. Com todos em choque, a máquina do tempo funciona a todo vapor para um retorno imediato ao presente. We Built This House se provou como a melhor nova, sendo muito bem recebida pelo público. Então é hora de Jabs mostrar seus predicados no seu solo, apelidado de Delicate Dance. Uma prévia para a hora das baladas. Com violões em riste, era vez do medley formado pela magnífica Always Somewhere, a nova Eye of the Storm e a mais que clássica Send Me an Angel serem cantadas em uníssono. Para seguir nesse clima, Wind Of Change pode ser considerada piegas por muitos, mas foi um dos momentos mais perfeitos que já presenciei ao vivo. A emoção causada a cada canto da casa é daqueles momentos para guardar pro resto da vida. Vale lembrar que mesmo seguindo o ritmo das anteriores, o hino da esperança foi tocado "eletricamente". 
       Para dar uma quebra na parte calma, a nova Rock ‘n’ Roll Band coloca a tomada no 220. Apenas um aquecimento para a clássica Dynamite apresentar Blackout para os desavisados. Então vem a surpreendente homenagem ao mestre Lemmy com Overkill - um dos hinos definitivos do Motorhead. A versão ficou ótima, e Mikkey Dee estava visivelmente honrado em homenagear o amigo. Pontos para banda ao lembrar a história do convidado mais que especial. Já que era seu momento, nada mais justo que um solo alucinante de bateria feita por um homem que carrega o Motorhead no coração. É a deixa para uma sequência final de hinos. 
      Blackout é o 1o, devastando o lugar com urros a cada vez que o refrão dava as caras. Meine então lembra do histórico show no Rock In Rio, e bota os presentes para cantar Cidade Maravilhosa antes de começar a aula prática de guitarra em No One Like You. Para fechar a parte regular, vem simplesmente Big City Nights, que ao meu ver foi a parte mais emocionante de toda a apresentação. O público seguia batendo palmas no encerramento como quem estava ali para lavar a alma. Obviamente, é inimaginável que o Scorpions saia de cena sem apresentar Still Loving You e Rock You Like a Hurricane. Com os dois hinos absolutos da banda, chega ao fim uma noite espetacular de Hard Rock. Um público que além de lotar o lugar, participou intensamente de cada momento mereceu ver o espetáculo que viu. Klaus Meine se mostra um pouco cansado no olhar, mas sua forma vocal é indescritível, estando muito melhor que 99% dos companheiros de geração nos dias de hoje. Pode perder uma nota aqui e outra ali, mas isso é simplesmente humano. Em geral, não se percebe o passar do tempo. O que impressiona de verdade é a forma física de Rudolf Schenker. O cara é um verdadeiro garotão que brinca no palco. Maior prova disso é no final do show, com ele correndo por todo o palco e girando os braços no melhor estilo Pete Townshend. Como Meine deixou claro, esse era o último show no Brasil ESSE ANO. Para quem viu ta na cara que um retorno é muito provável. Os Deuses do Rock agradecem por oportunidades como a que tivemos na noite de 10 de setembro de 2016! 

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

DISCOGRAFIA COMENTADA - SCORPIONS

    Em mais uma turnê pelo Brasil, o Scorpions celebra sua carreira magnífica de inacreditáveis 50 anos. A banda tem diversas fases, com brilhantismo indiscutível nos anos 70 e uma mudança de direcionamento considerável e muito bem sucedida nos anos 80 - muito motivado pela saída do guitarrista Uli Roth e entrada de Matthias Jabs para atuar ao lado de Rudolf Schenker. Tem quem prefira o trabalho setentista, oitentista ou ambos igualmente, sendo nesse período inegavelmente o ouro em estado puro dos alemães. Mesmo com discos muito abaixo dos clássicos nos últimos 20 anos, a discografia tem maravilhas suficientes para eternizar o nome do Scorpions entre os mais importantes da história do Hard Rock. É nesse universo amplo que vamos mergulhar agora, classificando alguns de seus trabalhos entre "excelente", "muito bom", "bom" e "ruim". 

EXCELENTES 

Lovedrive (1979)

     Aqui ainda estamos nos anos 70, mas Lovedrive pode ser considerado o 1o disco da era oitentista do Scorpions. Com uma formação de três guitarristas - Matthias Jabs e Michael Schenker estreando ao lado do veterano Rudolf Schenker -, a banda dava um direcionamento completamente diferente ao seu som. Aqui começou a ser feito o Hard Rock que tornou-se a marca da banda. Uli não estava satisfeito com o direcionamento quando decidiu sair, mas comercialmente ele se configurou o auge - sem desmerecer de maneira alguma pérolas como In Trance, Virgin Killer e  Taken by Force. É uma decisão difícil, mas Lovedrive é para mim o melhor disco que o Scorpions gravou em toda sua trajetória. Tudo está aqui. Tem as baladas de tirar o fôlego Holiday e Aways Somewhere, sendo essa última para mim a melhor que a banda já fez. Tem Coast to Coast, uma das faixas instrumentais mais inspiradas da história do Rock. Tem as pancadas Loving You Sunday Morning - uma aula de riffs -, Can't Get Enough, Another Piece of Meat e Lovedrive. Tem até um flerte muito inspirado com o Reggae em Is There Anybody There?. Ou seja, tem um playlist impecável e diversificado.


Love At The First Sting (1984)

     Depois de Blackout destruir o cenário musical em 1982 com um Hard Rock feroz comandado pela garganta recém-operada de Klaus Meine, o Scorpions estava no auge. Lá estando, não deixou por menos ao lançar um sucessor tão bom quanto, ou até um pouco melhor. Para começar, Love At The First Sting tem os dois maiores hits da carreira da banda. Curiosamente, são dois hits que apresentam os extremos do Scorpions, ambos feitos com muita classe e competência. Still Loving You é a balada mais marcante já feita por eles, de incrível acerto. Já Rock You Like a Hurricane é uma porrada Hard Rock digna dos alemães, obrigatória em qualquer festa do estilo e encerramento obrigatório de qualquer show. A dupla já mostra a força absurda do disco, mas o playlist é impecável. Nessa mistura de baladas extremamente acertadas e rockões, vemos maravilhas do porte de Bad Boys Running Wild, I'm Leaving You, Coming Home e As Soon as the Good Times Roll. Numa brincadeira, quase citei todo o playlist, mas todas elas estão entre as músicas mais inspiradas da carreira. Outro hit gigante é a magnífica Big City Nights - que para mim é a mais marcante do trabalho. Enfim, aqui está um legítimo apanhado de hits do Scorpions. Trabalho indispensável! 

ÓTIMOS

Blackout (1982)

     Para muitos a situação de Klaus Meine com a garganta representava um possível entrave a tudo que a banda conquistou nos anos anteriores. Isso se o Rock não tivesse seus milagres divinos, porque na tal operação o homem parece ter colocado cordas de aço. O resultado não poderia ser melhor, em um dos discos mais importantes da carreira do Scorpions. Blackout é mais um clássico oitentista de uma banda já muito bem adaptada a dupla Jabs/Schenker na guitarra, Francis Buchholz no baixo e Herman Rarebell na bateria. De música, tome clássico! A faixa-título destrói o que vê pela frente. No One Like You tem um ritmo contagiante, assim como a não menos clássica Dynamite. Fora essas, destaque absoluto para a inspiradíssima power ballad When the Smoke Is Going Down, e as pancadas Can't Live Without You e You Give Me All I Need, entre outras. Mais uma obra magnífica e indispensável! 

Taken by Force (1977)                                                               

     Voltando ao começo do Scorpions, encontramos trabalhos preciosos. Entre esses, o que me chama mais atenção é justamente o que encerra esse ciclo. Uli se despede do Scorpions por aqui, deixando sua marca na história da banda. Já flertando com o Hard N'Heavy, Taken By Force não deixava de ter sua marca progressiva. Ele antecipa tendencias sem deixar de ser extremamente justo com o som da sua época.  We'll Burn the Sky é o auge, sendo seguramente uma das cinco melhores músicas da história da banda. Não deixe de procurar pelo épico registro dela no sensacional show da banda no Wacken de 2006, em dvd com a participação de Uli nela e em mais algumas músicas dessa época. Além dela, temos a não menos impactante Steamrock Fever, presente no medley setentista da atual turnê com tudo para ser o auge do show. Com um refrão para ser cantado por dias e estrutura complexa no restante do andamento, é Scorpions setentista puro sem deixar de mostrar o que seria a banda nos anos seguintes. Outro destaque vai para a épica Born to Touch Your Feelings, de tamanha perfeição que é capaz de emocionar até uma pedra nos contornos magníficos de seu andamento. Só as três já fazem de Taken By Force um dos melhores discos de uma lenda do Rock. Se você passou por esses anos iniciais, volte imediatamente no tempo e procure escutar tudo nos mínimos detalhes. 

BONS

Virgin Killer (1976)

       Conhece o ditado popular "não julgue o livro pela capa"? Pois é, aqui ele se aplica perfeitamente. A capa de péssimo - e bota péssimo nisso - gosto de Virgin Killer não retrata de forma alguma a obra magnífica escondida no interior do disco. Com a óbvia e justa censura, o trabalho é quase uma coleção de capas - 3 no total. Na parte que interessa, vemos menos experimentalismo e mais Hard Rock. A banda ainda com Uli na guitarra é feroz e cortante com a voz de Klaus Meine. Olha a faixa-título e tire essa conclusão. O que mais chama atenção é o começo, com a aula de riffs e solos de Pictured Life, uma das músicas mais inspiradas da carreira do Scorpions. A sequência com Catch Your Train não deixa por menos, em um som absurdamente pesado para a época. Óbvio que uma balada arrebatadora não pode faltar, e aqui In Your Park reina absoluta. Resumindo, mais uma obra-prima setentista by Scorpions. 

Crazy World (1990)

      Até o mais fanático seguidor do Scorpions deve concordar que esse aqui foi o último momento glorioso da banda. Para uma banda com história tão fantástica, não era preciso nada além disso. Crazy World tem em seus dois maiores sucessos duas baladas - Wind of Change e Send Me an Angel. Tem quem não curta ambas, mas considero elas irretocáveis. Além dessas, o disco apresenta outros grandes momentos. Tease Me Please Me, Don't Believe Her, To Be with You in Heaven, Hit Between the Eyes e a faixa-título são músicas que transbordam tudo que o Scorpions tem de melhor. Disco que fecha muito bem os anos de ouro dos alemães. 

RUIM
Eye II Eye (1999)

     A verdade é que depois de Crazy World, pouquíssimas músicas produzidas pelo Scorpions podem se comparar com os muitos clássicos que consagraram a banda. Não que seja tudo intragável, mas para uma banda assim o nível de exigência é simplesmente enorme. Um disco que representa bem essa era pouco inspirada é Eye II Eye. Aqui predomina um som mais Pop, deixando para longe o Hard Rock imposto pela banda no auge. Honestamente, me dediquei muito pouco aos últimos discos do Scorpions. Esse não é a única opção para o posto, mas pelo ódio gerado na base de fãs quando foi lançado, representa muito bem tudo isso. Não é intragável, mas uma banda assim pode bem mais. 


    É isso por hoje pessoal. De clássicos não citados, temos Lonesome Crow (1972), Fly to the Rainbow (1974), In Trance (1975), Animal Magnetism (1980) e Savage Amusement (1988). Entre a fase mais recente, podemos destacar Humanity: Hour I (2007), com boa vontade Sting in the Tail (2010) e alguns momentos de Return to Forever (2015). Completam a discografia Face the Heat (1993), Pure Instinct (1996) e Unbreakable (2004). Bom show para quem não é de São Paulo, nos vemos sábado no Metropolitan! 





























                                                                           


quinta-feira, 1 de setembro de 2016

BLIND GUARDIAN - A TWIST IN THE MYRTH

    No dia de hoje há 10 anos, o Blind Guardian colocava no mercado A Twist in the Myth. O disco divide opiniões, mas considero ele um dos mais interessantes não só da banda, mas do Heavy Metal nos últimos anos. Não da para negar que A Night At The Opera foi uma decepção - principalmente por ser o sucessor da obra-prima Nightfall in Middle-Earth. Assim sendo, a banda precisava dar a resposta. Na minha opinião, deu com sobras. 
     A música que nunca mais saiu do setlist foi Fly, quase que um clássico da banda. Gosto muito da inovação que ela promove, mas o disco ainda tem coisas melhores.  This Will Never End é aquele típico Power Metal furioso, e abre os trabalhos maravilhosamente bem. Otherland não deixa por menos, mas para mim a verdadeira pérola de A Twist in the Myrth vem em seguida. Turn The Page entra num best of de toda a carreira do Blind Guardian. Destaque absoluto para a melodia inspiradíssima, que vê seu auge no refrão. Em forma geral, André Olbrich e Marcus Siepen promovem sua tradicional aula de riffs e solos, assim como o líder Hansi Kürsch em sua sempre inspirada interpretação vocal. O estreante do disco é o baterista Frederik Ehmke, que mostra seus predicados e permanece na formação até hoje. Outra que se destaca plenamente é a magnífica balada  Skalds and Shadows. Quando o Blind Guardian se arrisca nessa modalidade, nunca sai nada menos que fantástico. The Edge e The New Order - outra mais lenta absurdamente linda - fecham muito bem a brincadeira. 
     Essas já valem, e muito, a audição. Mesmo não chegando no nível das pérolas lançadas pela banda nos anos 90, A Twist In The Myrth é um grande trabalho. Entendo os fãs que tem um pé-atrás em relação a ele, mas se você passou direto por ele, recomendo imediatamente um carinho maior por sua parte.