terça-feira, 18 de outubro de 2016

SHOW DO SEBASTIAN BACH - CARIOCA CLUB - SÃO PAULO

     O último final de semana foi muito especial para os fãs de Hard Rock que estavam em São Paulo. Depois do show irrepreensível do Aerosmith no sábado, era a vez de conferir outra lenda em ação no domingo. Sebastian Bach é uma das maiores vozes da história do estilo e marcou uma geração estando a frente do Skid Row. Com uma carreira solo de respeito, o vocalista propõe algo diferente para a atual turnê. Skid Row, Skid Row e mais um pouco de Skid Row no setlist - completo com alguns covers. Do seu trabalho solo, apenas American Metalhead - cover consagrado por ele no disco Angel Down (2007). Para quem como eu não viveu o auge no grupo nos anos 90, foi algo incrível.
      O nosso amigo tião mudou muito desde então. Sua voz não é aquela perfeição dos tempos áureos, mas também não chega a ser um desastre, segurando minimamente os clássicos de sua banda. Em um dia absurdamente quente, um Carioca Club cheio - mas não lotado - ganha ares de qualquer clube da Sunset Strip em 1989. O grande DJ Edu Rox aquece o pessoal com clássicos na sequência explodindo os Pa's, até cerca de trinta minutos depois do horário marcado. Aqui começa um verdadeiro desfile de hits. 
      Acompanhado por Brent Woods (guitarra, violão e voz), Rob De Luca (baixo e voz) e Bobby Jarzombek (bateria), Bach começa o show com uma versão para Little Wing de Jimi Hendrix - consagrada pelo Skid Row. Dali para frente, uma sequência alucinante de clássicos da banda. Uma coisa é importante que seja dita. O som da casa não contribuiu em nada. O microfone simplesmente sumia em vários momentos, e pior, um estrondo extremamente irritante era constante ao longo das músicas. Os problemas inclusive interromperam o show por alguns instantes, enquanto um clássico do Aerosmith distraía os  presentes. 
     Apesar disso, o show era ótimo. A magnífica Breakin' Down, presente no derradeiro Subhuman Race, chega para emocionar todos. Então a coisa fica feia de vez com o hino 18 And Life. Nesse momento, o Carioca Club era formado por uma voz só. Bach não é aquele garotão mais, agora uma coisa não mudou nada. O carisma do vocalista lembra exatamente o garoto que destruía o Brasil durante o Hollywood Rock em 1992. Aquele mesmo discurso em português claro entre cada música mostrando o quanto a relação com o país é forte. Para quem presenciou aquela bizarrice no Monsters de 96, é sempre bom retornar nos braços do seu público. Ai Wasted Time arremata de vez o coração de quem ama Skid Row. Mesmo cantando razoavelmente bem, é bom lembrar que sua versão foi encurtada justamente no final, quando o nível de dificuldade vocal é altíssimo. O mesmo ocorreu no próximo clássico, a irresistível Quicksand Jesus. I Remember You vem para fechar uma sequência daquelas. Ai chega a hora do já citado ajuste sonoro. Depois do desfile de power ballads, Bach está disposto a mostrar a face mais pesada do Skid Row na volta. Tome uma sequência destruidora com Slave to the Grind, Sweet Little Sister, Big Guns, The Threat, a solo isolada American Metalhead e Piece of Me. Para fechar essa parte do show, hora do hino Monkey Business. 
     Com uma sequência dessas, não tinha um fã da banda que não estivesse visivelmente emocionado na pista do Carioca Club. Ai tião apresenta uma versão para Tom Sawyer do Rush, como introdução para Rattlesnake Shake. Já caminhando para o fim, Bach aponta para sua tatuagem com os dizeres Youth Gone Wild, acompanhado pelo público. A música que traduz o que significa Skid Row ficou marcada também por algo inusitado e amplamente divulgado. Um "fã" que segundo relatos saiu empurrando todo mundo para chegar na grade foi gentilmente expulso por Sebastian Bach do lugar, com direito a coro puxado pelo mesmo. Do lugar que eu estava, não vi a ocorrência, mas o evento ficou claro e contou com irrestrito apoio dos presentes. Para fechar a conta, TNT do AC/DC vem como uma deixa para o fim de festa em clima de celebração. 
      Sebastian Bach não tem a voz dos tempos de ouro, mas consegue ainda entregar um bom show. A proposta deixa claro suas declarações favoráveis ao retorno da formação clássica do Skid Row dadas recentemente. Atualmente ele roda o mundo celebrando o legado da banda que transformou seu nome em lenda do Rock N'Roll. Faz isso muito bem, e por uma hora e meia mata a sede dos que cresceram ouvindo o grupo. Vamos ver se a tal reunião sai do papel agora...

SHOW DO AEROSMITH - ALLIANZ PARQUE - SÃO PAULO

    Que o Aerosmith é uma das bandas mais importantes da história do Rock todos sabemos. Com tal status, uma formação que permanece praticamente a mesma por mais de 40 anos - praticamente por causa das breves saídas de Joe Perry e Brad Whitford nos anos 80 -  está numa ainda indireta turnê derradeira. Bem amigos, para quem esteve na mágica noite de 15 de outubro de 2016 no estádio do Palmeiras, isso simplesmente parece impossível. Tudo por causa da forma física invejável de todos os senhores, que desfilaram categoria em duas horas do mais puro Hard Rock. Se estão perto do fim ou não, está claro que não é por falta de condições de apresentar algo digno do nome que carrega. Com clássico suficiente para ao menos 8h horas de show, os bad boys de Boston podem muito bem se dar ao luxo de não trazer nenhum disco novo desde a última aparição por aqui. A essa altura da vida, ninguém é louco de reclamar de uma banda ainda impecável no palco escolhendo 19 de seus hinos eternos para brindar os presentes que lotavam cada pedaço do lugar. 
   Antes de tudo, tivemos o aquecimento do Sioux 66. Uma das bandas novas praticantes do Hard clássico que a noite pedia, os garotos não tremeram diante do enorme palco. Apresentaram um pouco de seu repertório cantado em inglês e português misturados até na mesma música. As letras de protesto até chegam a destoar do ritmo nunca conhecido por isso, mas o resultado é bem agradável. Rolou até uma curiosa versão para a ótima O Calibre do Paralamas do Sucesso. Com aplausos no final, a banda agrada os presentes já secos por Steven Tyler, Joe Perry, Brad Whitford, Tom Hamilton e Joey Kramer.
     E com pontualidade simplesmente invejável, o Aerosmith começa a brincadeira. Isso com surpresa no setlist, que foi algo recorrente em todo o show. O pérola Draw The Line já abre valendo cada centavo investido. E já podemos ver o único problema do show - que felizmente nada teve a ver com a banda em si. O Aerosmith tem um dos piores públicos do Rock em nível de participação, e falo isso depois de três shows. Quando rolam as baladas noventistas que fizeram a banda renascer, todo mundo pira. Nada contra, mas quando você vê que para ao menos 80% dos presentes uma banda desse tamanho se resume a isso é de matar. Em músicas mais agitadas da mesma época, a participação cai bastante, mas o pior é quando damos uns pulos em discos setentistas. Não tem simplesmente uma alma viva que se digna a cantar, fazendo com que um silêncio constrangedor tome conta do seu entorno. É normal o público de hoje conhecer pouco em shows de estádio, mas a coisa nos shows da banda conseguem piorar ainda mais. Bem, mesmo com isso tudo, nada atrapalharia a noite épica que estava começando.
     Love in an Elevator se classifica entre as "agitadas" noventistas no nível de participação. Muitos cantam, mas outros tantos desconhecem. Já aqui vemos o quanto especial seria a apresentação. Bastava olhar o que Steven Tyler fazia. Em vez de piorar com o tempo, ele conseguiu a proeza de melhorar - ao menos em relação aos shows de 2011 e 2013. Assim foi o tempo todo, com voz em dia, disposição do grande frontman que é agitando o tempo todo e sem nenhum artifício para tomar um ar. É som depois de som até o fim. Para um senhor de 68 anos, isso é simplesmente inacreditável. A banda acompanha com classe, sem errar um detalhe sequer. Mesmo com o som não tão bom quanto o que vi naquele lugar no David Gilmour, está muito longe de prejudicar algo.
     Ai agora finalmente vemos o estádio cantar como a banda merecia. Hora de Alicia Silverstone e a senhorita Tyler aparecerem de imediato na memória de quem cresceu vendo o clipe de Cryin' - pela reação, todos os 45 mil presentes. O momento foi muito emocionante, chegando ao ápice na reta final com a dupla Perry/ Whitford brincando de solar e Tyler sacando a gaita. É inegável que essas músicas marcaram época e tem o seu valor. Então ta na hora de mais surpresa. Eat The Rich é mais uma carta na manga que o Aerosmith selecionou especialmente para São Paulo. Ela nunca me encantou de fato, mas é evidente sua importância para a banda, e escuta-la ao vivo foi uma experiência fantástica! Para fechar a sequência de Get A Grip, a cantoria de Cryin' segue na irmã Crazy. Então acontece o grande momento para mim. Simplesmente Kings And Queens senhores! O que falar dessa verdadeira entidade que representa o auge de Draw The Line? Uma das músicas mais magníficas que o Aerosmith escreveu foi daquelas para arrancar minhas lágrimas, mas lamentavelmente passou despercebida para 90% do estádio. Quando vemos a mudança de reação entre ela e a anterior notamos como o público do Aero é desinteressado na história da banda.  Livin' on the Edge representa outra época, mas sua estrutura fantástica mantém o clima incrível num dos pontos altos de todo o show. Para arrematar, outra maravilha setentista. Diretamente de Rocks, Rats in the Cellar da uma aula de Rock para um público que novamente não sabia do que se tratava. A porrada que fez a cabeça de toda uma juventude americana - que tempos depois formaria bandas como Metallica, Guns N'Roses, Testament e Slayer - ainda conta com um encerramento sensacional na alongada rifferama promovida por Joe Perry. Ai vem outro choque de realidade. A ao meu ver fraquinha Dude (Looks Like a Lady) chega e bota o estádio abaixo. Ta certo que a voz do povo é a voz de Deus, mas tem horas que ela da uma bela desafinada... Por conta disso, consigo entender a decisão da banda em mesclar o set, dando um jeito de sempre agradar quem pagou caro. O fã die hard vai ouvir raridade, o noventista vai ouvir algumas das músicas que cresceu vendo na MTV. Não preciso dizer que em Monkey on My Back - uma preciosidade pinçada em Pump -, o silêncio voltou a reinar né? Nessa altura, tal fato pouco interessava. Ver uma banda como o Aerosmith desfilando algumas maravilhas desse porte já bastava. Pink, outra totalmente dispensável, foi cantada em uníssono. A sempre presente Rag Doll agita com seu ritmo contagiante, abrindo espaço para Joe Perry brilhar. Assumindo os vocais em Stop Messin' Around, ganhamos uma verdadeira aula de Blues em uma interpretação simplesmente matadora. Ai vem um lado c. Chip Away the Stone é mais uma surpresa maravilhosa que a noite reservou, casando muito bem com o momento.
    Ai Tyler mostra uma de suas características mais marcantes. Além de ser um grande frontman, o cara é uma das figuras mais legais do Rock. Ao ver pedidos por Hole In My Soul, não fez como em 2011 que apresentou Angel completinha, mas fez questão de cantar seus primeiros versos e ainda se desculpar pela impossibilidade de leva-la por completo. Foi a introdução para I Don't Want to Miss a Thing. Essa vale alguma ressalvas. Em casa, eu não paro nem um segundo sequer para escutar. Agora ao vivo ela ganha muito. Daquela coisa meio batida de estúdio, a balada mais balada já lançada por eles fica arrepiante. Daqui até o Rock In Rio, certamente não vou escuta-la, mas lá sei que será um grande momento. Ai é hora de prestar uma homenagem a uma das maiores influências do Aerosmith. Come Together, cortesia de uma certa banda de Liverpool, ganha uma versão daquelas que todo o estádio celebra. Então Walk This Way fecha a parte regular do show. Uma das pérolas de Toys in the Attic conseguiu ser simplesmente relançada nos anos 80, na parceria clássica com o Run DMC que tirou o Aerosmith de sua pior fase para ai começar aquela sequência de lançamentos responsável pela captação de grande parte de seus fãs atuais.
      Depois disso, vem um dos encerramentos mais magníficos que já presenciei. Steven Tyler surge no piano. O homem simplesmente me puxa os versos iniciais de Home Tonight e faz uma das partes de You See Me Crying no piano. Para arrematar tudo, começa a sempre arrepiante Dream On. Humanamente impossível não se emocionar com a performance dos senhores de Boston nesse momento. Como se já não fosse o bastante, Sweet Emotion fecha a conta com chave de diamantes. É aquela hora de olhar para os amigos ao lado incrédulo com o que acabamos de presenciar. Comandados pelos toxic twins em noite de gala, o Aerosmith fez um show simplesmente memorável. Um set inspirado e cheio de surpresas apresentado por um gigante do Rock em grande forma. Uma daquelas noites para agradecemos o fato de ainda ser possível estar de frente com uma banda como o Aerosmith. Graças ao senhor, a despedida ganhou um bis. Que venha o Rock in Rio! 
      

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

BOB DYLAN: O GÊNIO DA POESIA MUSICAL

   Bob Dylan acaba de fazer história. Sim, para esse homem não é nenhuma novidade. Mesmo assim, não tem como ignorar o que representa para um músico ser condecorado com o Prêmio Nobel de Literatura. A grande questão é que a riqueza poética sempre foi a maior marca da obra de Dylan. A condecoração justificada com “criação de uma nova expressão poética dentro da grande tradição americana da canção” é de uma justiça indiscutível. 
   Traduzindo tudo isso, a força que moveu toda a obra de Bob Dylan estava exatamente nas letras. Se sua voz não tinha o alcance de um Robert Plant ou Freddie Mercury, o objetivo era exatamente esse, e a história prova que tudo foi alcançado com sucesso absoluto de um dos maiores artistas de nossos tempos. Simplificando tudo num violão, gaita e voz, o homem criou uma legítima obra literária de contestação e a musicou. Tente acompanhar os versos de Monsters of War, A hard Rain's a-gonna Fall, The Times They Are A Changin e Blowin' in the Wind e perceba a riqueza do protesto de um sonhador por um mundo melhor, e assim notamos a importância histórica de Bob Dylan para a música.
    A influência dele fica clara nas versões de suas músicas eternizadas por gente do tamanho de Rolling Stones e Guns N'Roses. Não sou louco de tentar entender um artista desse tamanho e transformar sua história em texto, mas certas colocações históricas são fundamentais para sacar o que representa esse prêmio em sua obra fenomenal por si só. A canção de protesto é a melhor que o homem pode fazer, e ninguém até hoje soube fazer isso melhor que Bob Dylan. Em tempos de guerras, ele vinha e falava exatamente o que a população sentia com uma fina ironia. Em A hard Rain's a-gonna Fall ele se superou nesse assunto, e com um amontoado de "lides musicais", criou a melhor canção de protesto feita até hoje pelos olhos de um pai que recebe de seus filhos uma descrição do apocalipse que estava diante deles. O efeito de versos de Blowin' in the Wind entoados em protestos anti-guerra mostra toda força de Dylan na prática. A força das palavras ditas na voz rouca de Dylan produzia - e ainda produz - um efeito simplesmente devastador.
     Se você ainda não se aprofundou na vasta obra do Sr Bob Dylan, esse dia de 13 de outubro de 2016 é uma boa oportunidade. Feliz de quem em vida reconheceu em forma de prêmio o significado da obra desse homem. 


terça-feira, 11 de outubro de 2016

DESTRUCTION - UNDER ATTACK

    Depois de longos 4 anos, o Destruction coloca uma novidade daquelas nas prateleiras dos thrashers de plantão. E como de costume, não decepciona! Com bons lançamentos nos anos recentes, considero Under Attack um postulante a futuro clássico do Thrash Metal. É para mim o disco mais inspirado desde The Antichrist (2001), que já ostenta esse título. 
     Tudo que se espera de Schmier (vocal e baixo), Mike Sifringer (guitarra) e Vaaver (beteria) está aqui. Em faixas longas, o massacre sonoro de sempre ganha por vezes um toque de melodia acertadíssimo. Ainda assim, o que predomina é a pancadaria que eternizou o nome Destruction na história do Thrash Metal. A voz do líder Schmier já é um chamado para o bate cabeça, e as letras e melodias inspiradíssimas do disco tem nele seu ponto máximo. A faixa-título já começa muito bem. Com começo numa introdução progressiva, explode na linha frenética de bateria ao longo de seus seis minutos de duração. A coisa fica ainda melhor em Generation Nevermore. A faixa tem aquela mesma linha clássica dos discos oitentistas, e se aparece em algum deles não soaria estranha. O desempenho de Mike também merece destaque. O homem que sempre esteve lá não ia decepcionar os fãs a essa altura. Dethroned ganha contornos sensacionais com a bateria em destaque absoluto. Vaaver comanda seu andamento. Getting Used to the Evil da uma pisada no freio. Isso não quer dizer que não ficou ótima. A diversidade é muito bem vinda, e mostra como o Destruction é rico musicalmente. E assim segue a brincadeira até o final. Thrasheiras de 1a como Conductor Of The Void, Second To None e Elegant Pigs são diversão garantida para os fãs que acompanham o Destruction há mais de 30 anos. 
       Como é bom se surpreender positivamente com um disco de tamanha qualidade. O Destruction lança algo digno do nome, com momentos realmente empolgantes e com todos os predicados para se transformar num futuro clássico. É ótimo ver uma lenda do Thrash Metal vivendo um momento tão especial. 


sexta-feira, 7 de outubro de 2016

SLAYER - REIGN IN BLOOD

     O Slayer não era iniciante em 1986. Kerry King, Dave Lombardo, Jeff Hanneman e Tom Araya já tinham colocado dois clássicos no mercado - o primeiro deles na minha opinião o melhor da banda. Ainda assim, o que aconteceu naquele ano foi algo muito acima do que qualquer um poderia prever. Com Reign in Blood, o Slayer escreveu um dos capítulos mais gloriosos da história do Heavy Metal. Um disco que se transformou num verdadeiro marco na história da banda, e a eternizou nas prateleiras mais intocáveis do Thrash Metal. 
     Reign in Blood é uma avalanche de Thrash Metal. Em 30 minutos, o sentimento de qualquer ouvinte é de devastação auditiva. Aqui a marca da banda muda um pouco do que se viu em Show No Mercy e Hell Awaits. Tudo ficou alucinadamente mais veloz. Das 10 pedradas, apenas três tem duração superior a três minutos. Duas delas são os clássicos absolutos do disco e da banda. Angel Of Death e Raining Blood são hinos supremos do Thrash Metal. Uma começa e outra encerra o massacre sonoro. Riffs memoráveis, melodias incríveis e refrões eternos no coração de qualquer fã minimamente familiarizado com o estilo. Fora essas, o disco oferece um farto cardápio para uma audição insana. Piece by Piece é ao meu ver a síntese da insanidade musical promovida no trabalho. Em dois minutinhos, vimos exatamente do que o Slayer é capaz. E assim seguimos com Necrophobic, Altar of Sacrifice, Jesus Saves, Criminally Insane, Reborn e Epidemic. Postmortem forma com a faixa-título uma dobradinha imbatível - uma prova da genialidade de Hanneman. 
      O disco revolucionou tudo em relação ao Thrash Metal. Ao lado de obras como Bonded By Blood do Exodus e Kill Em All do Metallica, ele é talvez o mais importante para o estilo. Uma audição atenta para cada detalhe mostra o quanto Dave Lombardo é diferenciado em seu instrumento, Jeff Hanneman e Kerry King uma dupla imbatível de guitarristas/letristas e Tom Araya um verdadeiro frontman - aqui adotando seu estilo de cantar falando que o eternizou, se diferenciando um pouco do que fazia nos dois primeiros discos. A tempestade de sangue segue causando estragos 30 anos depois de ser jorrada. 


segunda-feira, 3 de outubro de 2016

SHOW DO WHITESNAKE - METROPOLITAN - RIO DE JANEIRO

     O Whitesnake tem um casamento de 31 anos com o Rio de Janeiro. Desde o 1o Rock in Rio, o amor da banda pela cidade exposto em várias passagens futuras vai se fortalecendo. A banda nunca escondeu ter dono que faz dela praticamente uma banda solo. Esse dono é o vocalista David Coverdale. Na atual formação, o veterano é o monstro Tommy Aldridge - um dos maiores bateristas da história do Rock N'Roll. Desde 1987, foram muitas idas e vindas. Além dele, Reb Beach (Winger) já comanda as seis cordas há mais de 10 anos, e dessa vez vem acompanhado de Joel Hoekstra. Michael Devin (Baixo) e Michele Luppi fecham o time. Não é novidade para ninguém que David Coverdale está longe, muito longe mesmo, do seu auge vocal. Mesmo assim, ainda consegue contornar isso com truques certeiros e muito carisma. Vamos ser francos, o setlist magnífico da turnê faz o trabalho sozinho.
      Em dia de eleições, o Metropolitan recebeu um grande público ávido por Hard Rock. Com um atraso insignificante, a trupe de Coverdale toma de assalto o palco ao som da indescritível Bad Boys. Slide It In e  Love Ain’t No Stranger completam um dos maiores começos de show que já tive a oportunidade de assistir. Parece que o nome da turnê dos "grandes hits" ia ser levado a sério. O foco eram os trabalhos consagrados Slide It In (1984), 1987  e Slip of the Tongue (1989), sem absolutamente nada dos mais recentes Forevermore e God To Be Bad.
       The Deeper the Love é uma das novidades mais acertadas do set, sendo muito celebrada e emocionando profundamente os fãs de longa data da banda. Fool for Your Loving seguiu no mesmo Slip of the Tongue. Então Coverdale relembra sua história aqui, prometendo uma viagem ao Rock In Rio. Era hora do extraordinário medley Ain’t No Love in the Heart of the City/Judgement Day.
        Depois dessa sequência alucinante de clássicos, é hora do Sr Coverdale tomar um ar. Falando do homem, era impossível esconder sua forma vocal atual. Para contornar, os artifícios foram muitos. Botar a banda para ajudar em vários momentos, jogar para a galera em outros. Fora isso, não faltaram solos, proporcionando a famosa pausa para respirar. O primeiro foi um duelo interminável dos dois guitarristas. Depois dele, Coverdale mostra outra das famosas camisas personalizadas e retoma o interesse de todos para Slow an’ Easy - uma música que transpira Led Zeppelin. Mal encerra ela, e o dono da marca volta para os bastidores. Solo da vez? Baixo tem seu momento de brilho. Mais um retorno com um clássico - Crying in the Rain - e mais um solo. Dessa vez era O SOLO. Não tem como não se impressionar com os recursos de Tommy na bateria. O homem chega num momento que arremessa as baquetas para o público e toca somente com as mãos. Dessa vez foi algo além de uma pausa para água misturado a famosa média com os integrantes. Foi um dos pontos altos da noite!
     Dali pra frente acabou a mamata, é hora de seguir com clássicos. Is This Love, um dos hinos máximos de qualquer coletânea "Love Metal", bota o Metropolitan para cantar em uma voz só. As obrigatórias  Give Me All Your Love, Here I Go Again e Still of the Night mostram todo seu poder de fogo. Essa última poderia ser facilmente substituída por um motivo bem simples. Ela demanda uma voz em dia, sem abrir brechas para os recursos. Ou seja, fica mais que evidente a atual forma vocal do dono da banda. Ainda assim, ela é o tipo de música irresistível. Para fechar a noite, a tradicional lembrança dos tempos de Deep Purple com Burn.
      Apesar de Coverdale estar longe dos seus melhores dias, ele consegue driblar seus problemas e fazer um grande show. Uma formação magnífica e sua longa experiência no palco fazem um repertório formado exclusivamente por clássicos brilhar sozinho. O público tem a oportunidade de viajar na história do Whitesnake, e é bom ainda ser possível fazer isso em pleno 2016.

Foto publicada no Twitter de David Coverdale.

sábado, 1 de outubro de 2016

SHOW DO RATOS DE PORÃO - CIRCO VOADOR - RIO DE JANEIRO

     Se tem uma coisa que eu já desisti é tentar classificar o som do Ratos. Punk ali, Crossover aqui, Thrash acola, Grindcore e Hardcore num olhar mais atento.... Melhor parar por aqui, mas o certo é que com essa mistura toda a banda é uma das mais importantes da nossa história. Essa história tem um glorioso capítulo no ano de 1991, com o lançamento de Anarkophobia. O disco que é na minha opinião o melhor já lançado pela banda foi celebrado numa noite indescritível de Circo Voador com um bom público. Me arrisco a dizer, o melhor show do Ratos dos muitos que já vi. 
      Antes, tivemos duas aberturas. O Enterro fez um show com Death/Black Metal ao melhor estilo Behemoth para ninguém botar defeito! Ainda com um público bem discreto, quem viu aprovou. Infelizmente eu não posso dizer o mesmo do sofrível "McRAD". Com um vocal indescritivelmente ruim, nem o reforço de Juninho no baixo deu jeito. Um Punk/Pop/Indie para lá de duvidoso tava lá fazendo sabe-se lá o que. Antes tivéssemos ficado com o ótimo show do Enterro na cabeça. 
     Indo ao que interessa, uma lona seca pela lenda Ratos de Porão explode nos primeiros acordes de Contando os Mortos. A abertura do disco mais Thrash Metal da banda é de duração incalculável para os padrões da banda. Ela é uma das minhas preferidas, e simplesmente era difícil acreditar naquilo ao vivo a a cores. Não é novidade que João Gordo, Jão, Boka e Juninho estão na ponta dos cascos. Com um set especial assim tão bem tocado, simplesmente não sobra pedra sobre pedra. Morte ao Rei - com um trecho político sensacional no lugar dos "xingamentos" registrados em disco" - e Sofrer, duas outras pérolas dessa obra-prima, mostram como seria um show do Ratos no auge. Quem estava lá sabia disso.  Ascensão e Queda relata o auge e decadência de uma banda de Rock numa letra inspirada. Felizmente não é o caso do Ratos de Porão, que depois de 35 anos ainda tem um nome para lá de pesado. Mad society e Ódio 3 dão sequência ao retorno no tempo. Nessa última Jão faz sua bela e diferentona introdução na guitarra quebrando totalmente a toada "normal" do show - de maneira fantástica é bom lembrar. A faixa-título veio com mais um toque mais que preciso de Gordo sobre o nosso momento político antes da brincadeira. Igreja Universal segue sendo a melhor letra de uma banda brasileira, retratando um câncer que depois de 25 anos segue sendo exatamente o mesmo de sempre. Cantar seus versos ao vivo é sempre de lavar a alma. Ai o cover de Commando do Ramones e a escondida Escravo da Tv encerram essa volta aos tempos de ouro de Anarkophobia. 
     Se a banda fosse pra casa agora, a noite já teria valido a pena. Vimos um dos grandes discos da história do Heavy Metal brasileiro completinho. Ainda assim, a turma ainda tinha mais cartas na manga pelos outros grandes discos registrados. E que seleção! A 1a é a melhor de Século Sinistro e já clássica Conflito Violento. Ai voltamos diretamente para Crucificados Pelo Sistema em forma do hino Morrer. A indescritivelmente suja Crocodila vem para não deixar Carniceria Tropical passar em branco. O público segue agitando como se não houvesse amanhã. Ai Crucificados Pelo Sistema destrói o que ainda existe de carcaça em meio ao insano Mosh Pit. Ai é hora de dar um pulinho em Brasil, com Amazônia Nunca Mais e Maquina Militar - duas sacadas preciosas. Paranoia Nuclear de Descanse Em Paz e  Realidades Da Guerra são gratas surpresas dos velhos tempos. 
     O encerramento vem com três clássicos indispensáveis. Tome Aids, Pop, Repressão, Beber Até Morrer e Crise Geral. Assim se encerra uma noite absolutamente memorável no Circo Voador. Volto a falar, o melhor show que o Ratos de Porão fez em muito tempo!