quinta-feira, 24 de novembro de 2016

TESTAMENT - BROTHERHOOD OF THE SNAKE

     Antes de falar algo do novo trabalho do Testament, é bom lembrar um pouco do passado recente da banda. Trazendo o genial Steve DiGiorgio no baixo como novidade na formação, a velha turma da Bay Area vem de dois lançamentos absolutamente clássicos nos últimos anos. Chuck Billy (vocal), Eric Peterson e Alex Skolnick (guitarras) e Gene Hoglan (bateria) completam esse time de lendas do Thrash Metal, que chega em Brotherhood of the Snake com absurdas expectativas. Para quem se credencia com The Formation of Damnation e Dark Roots of Earth nos últimos oito anos, é assim que funciona. Depois de algumas audições, o trabalhoso e cansativo na criação - de acordo com os integrantes -, Brotherhood of the Snake não chega nesse nível de excelência, mas é outro grande disco por cortesia do Testament. 
      No novo trabalho, não vejo uma música com o potencial absurdo de coisas como  More Than Meets the Eye, Native Blood e Rise Up, e sim um apanhado de ótimas músicas absolutamente niveladas. A faixa-título é o grande destaque para mim. Chega com um peso absurdo, flertando com aquele Testament dos tempos de The Gathering. Junta a isso uma melodia fantástica acompanhada pela aula de bateria do Sr Hoglan. Um bate-cabeça dos bons está garantido!  O nível se mantém em The Pale King. O peso é tamanho que em certos momentos flerta com o Death Metal, mas aqui o Thrash clássico é que dita o andamento. Stronghold é um dos momentos de maior flerte com o Hardcore da carreira da banda, chegando num resultado muito agradável. O disco segue com uma divisão de protagonismo entre os verdadeiros gênios do atual line up e algumas canções legais, mas sem potencial para clássicos. A arrastada Seven Seals vai te lembrar um pouco do Testament clássico, fechando a parte mais interessante do trabalho. As que vem em seguida não se destacam tanto, mas ainda assim mantém a audição extremamente agradável. 
      Sendo bem franco, o novo trabalho do Testament não é um clássico do porte dos anteriores, mas continua num nível simplesmente fantástico. Para quem não vive do passado, o que felizmente é o caso deles, a exigência ainda é grande para novos trabahos. O fato de estarmos mal acostumados deixa uma impressão que poderia ser algo ainda melhor, mas o resultado está longe de ser brochante.  Podemos considerar mais um discão daqueles que só bandas do tamanho do Testament podem proporcionar ao fã. Mais uma coleção de grandes músicas dessa verdadeira lenda do Thrash Metal!


quarta-feira, 16 de novembro de 2016

SHOW DO GUNS N ROSES - ENGENHÃO - RIO DE JANEIRO

     Existem muitas bandas que para toda uma geração vivem apenas no imaginário. Seja por mortes de integrantes consagrados - ou se vivos -, por brigas homéricas sem solução, muitos fãs da minha idade (24 anos) crescem apenas imaginando como seria ver tal banda ao vivo, sem nunca ter de fato essa oportunidade. O Guns N'Roses definitivamente era uma dessas até ano passado. Então sem mais nem menos, uma das reuniões mais sonhadas e impossíveis acontece de fato. Pode não ser de toda a formação original, mas sejamos francos, só um louco vai reclamar de ter a chance de ver Slash, Axl e Duff novamente juntos no mesmo palco. Então é hora de rodar o mundo dando essa chance para toda uma geração, com a tour “Not In This Lifetime”. Vale lembrar que, diferente do que já li por ai, a referência não é para uma turnê definitiva, e sim apenas uma brincadeira com a declaração dada por Axl certa vez, respondendo com um sonoro "não nessa vida" sobre a possibilidade de reunião com Slash. 
      Na cidade que em 1991 e 1992 se rendeu ao Guns N'Roses no auge da turnê Use Your Illusion, era hora de voltar de 2016 diretamente para esses anos gloriosos. A festa foi marcada para o Engenhão, um estádio que nunca foi muito querido dos cariocas. Num lugar de acesso distante, porém facilitado pela estação próxima num esquema especial de funcionamento, a relação passa longe com a do central Maracanã. Não seria isso que iria impedir os fãs de presenciar essa noite histórica. Nem mesmo o preço abusivo do ingresso. O público não chega a lotar o estádio, mas era muito bom e participativo. Antes da grande hora, vem o aquecimento com a clássica Plebe Rude.
      A banda nunca me chamou muita atenção, mas era um show que despertava certa curiosidade da minha parte. Não chega a ser um Punk Rock daqueles praticados, por exemplo, pelos Inocentes - banda original de seu atual vocalista. Muito longe disso, se aproxima muito mais do famoso BRock oitentista. Os dois hits da banda - Proteção e Até Quando Esperar - não acontecem por acaso. São de fato as duas melhores com sobras. A única minimamente ouvível fora essas é Johnny Vai a Guerra (Outra Vez). Não foi um show ruim, mas longe de chamar um mínimo de atenção numa noite como essa. 
     Então com um atrasinho mínimo, 3/5 do Guns N'Roses original sobe ao palco do Engenhão para escrever mais um capítulo da história de amor que já dura 25 anos. It’s So Easy e Mr. Brownstone, dupla matadora de Appetite For Destruction, chegam para dar aquele baque no coração de todos. Hinos eternos do Hard Rock cantados por uma banda agora digna do nome que carrega. Nesse papel, Chinese Democracy vem como um tranquilizante para todos botarem o pé na terra novamente. Já da para sacar qual vai ser da noite. Axl está numa ótima forma vocal, infinitamente superior ao que vimos em 2010 e 2011 por exemplo. Não da para comparar com o Axl de 1991, caso que se repete com 90% das grandes vozes do Rock, mas é algo para lá de digno de levar um show. Outro detalhe é que nessa volta, não existem aqueles refrescos homéricos da chamada "Axl Band". Quando o homem tira um ar, é para ver Slash e Duff brilharem. O som que destoava. Volume até aceitável, mas extremamente embolado durante toda noite. 
   Ai chega hora de todos pularem entoando cada verso do eterno hino Welcome to the Jungle. Double Talkin’ Jive vem em sequência, dando o primeiro pulo nos Use Your Illusions. Aqui é um dos muitos momentos de brilho absoluto de Slash, fazendo esse solo memorável. É bom citar também o grande papel de Richard Fortus em parceria com o homem. Better é um dos bons momentos de Chinese Democracy, sendo um dos três momentos da noite que nos fizeram lembrar que existiu vida entre 1993 e 2016. Axl se sai muito bem tocando uma daquelas músicas responsáveis por manter viva, mesmo que respirando por aparelhos, o Guns no novo milênio. Um aquecimento para a extraordinária Estranged. Falar dessa verdadeira pérola é chover no molhado. Aula de solos e riffs, versos maravilhosos e todo um arranjo que transforma essa na melhor música já feita pela banda ao meu ver. Precisa dizer o tamanho da emoção que foi escutar isso ao vivo? É bom citar, ao menos ao meu redor, a surpreendentemente boa participação do público ao longo de toda noite. Não chegou a ser uma plateia noventista, mas estava digna da banda - que respondeu no show mais longo da turnê. A indispensável versão para Live and Let Die, de Paul McCartney promove o tradicional show de efeitos. A sequência de hinos vai novamente para o disco de estreia, na magnífica Rocket Queen. Depois vem a 1a surpresa da noite. Out Ta Get Me vem agregar, sem substituir absolutamente nada! Uma daquelas surpresas impagáveis. A bombástica You Could Be Mine agita profundamente, com um papel de Axl digno da complexidade vocal que a música exige. 
     É  chegado então a hora de Duff brilhar absoluto. A alma Punk do Guns N'Roses assume os vocais para dar uma aulinha de Misfits para os desavisados com o hino Attitude. Simplesmente maravilhoso. This I Love chega acalmando os ânimos. Essa foca na figura de Axl Rose, que novamente se sai muito bem. Era hora de mais um dos grandes momentos da noite. Civil War, a épica abertura de Use Your Illusion II, ganha uma versão matadora que emociona até uma pedra. Para arrematar de vez, é chegada a hora do grande momento de toda a noite. Coma chega majestosa, do alto de seus 10 minutos da mais pura perfeição. A emoção de ver Slash solando em uma das performances mais extraordinárias de sua carreira enquanto Axl da voz aos versos únicos dessa obra-prima não cabe em palavras. Já ta bom de emoção né? Então segura o Slash fazendo seu tradicional e belíssimo solo com o icônico Godfather Theme, abrindo espaço para o eterno hino Sweet Child O’ Mine. Ai os cardíacos morreram de vez. Chega o momento da maior novidade da noite. Yesterdays faz sua estreia no giro sul-americano, e se a memória não falha, em toda a turnê de reunião. Quer prova maior que essa do relacionamento especial entre Guns N'Roses e Rio de Janeiro? A dupla Slash/Fortus apresenta uma belíssima versão instrumental para Wish You Were Here, devidamente acompanhada pelo público com os inesquecíveis versos imortalizados pelo Pink Floyd. Então a arrematadora November Rain chega para o show de balões do público, enquanto Slash faz aquele famoso solo da igreja no deserto. Axl não deixa por menos, brilhando no piano. O entrosamento do trio de ferro do Guns N'Roses chama atenção ao longo do espetáculo. Knockin’ on Heaven’s Door vem majestosa como sempre, com Slash empunhando a clássica guitarra de dois braços - impossível não se lembrar do clássico show de Paris na tour do UYI. Para fechar a parte regular, Nightrain faz o público dançar e pular como se não houvesse amanhã. 
      Já tava tudo ótim se acabasse ali, mas ainda tinha um pouco mais de Rock N'Roll legítimo. A belíssima Don’t Cry, o cover de The Seeker do The Who e o hino Hard Paradise City fazem o duro papel de encerrar uma noite memorável. Hora de voltarmos para casa cantando alegremente o famoso refrão da canção derradeira. Uma noite inimaginável era real no Engenhão. O Guns N'Roses definitivamente está de volta nos braços de seu público fiel. 

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

SODOM - DECISION DAY

    A cada disco novo do Sodom, deveria vir um aviso ao lado mais ou menos assim: Satisfação garantida ou seu dinheiro de volta! E você pode ter certeza que nenhum thrasher que se preze vai sair decepcionado. A coisa é muito simples amigos. O Sodom é aquele tipo de banda que nunca deixa seus fãs na mão. Em seu 15o lançamento numa vasta carreira de mais de trinta anos, Tom Angelripper (vocal, baixo), Bernemann (guitarra) e Makka (bateria) entregam exatamente aquele Thash Metal vigoroso com a marca de uma lenda alemã esperada pelos fãs. 
     Fora os clássicos recentes M-16 e Sodom, a banda consegue superar aqui os já muito interessantes In War and Pieces e Epitome of Torture. Já de cara, In Retribution é aquele clássico petardo by Sodom, com tudo para ser eternizado no coração dos fãs. A voz rasgada de Angelripper comanda a brincadeira em seis minutos devastadores, explodindo de vez no grande refrão. Aquele começo que já garante os três pontos para os mestres do Thrash alemão. Já com Rolling Thunder, a brincadeira fica ainda mais veloz, pronta pra bangear. O entrosamento da nova formação fica evidente com a performance fantástica apresentada aqui. A pancadaria segue com excelentes momentos. Vale destacar a faixa-título, a matadora e já conhecida Caligula (olha o que Angelripper e Makka fazem aqui, verdadeira aula de cozinha no estilo), Blood Lions e a introspectiva Strange Lost World. Enfim, um trabalho que tem tudo para ter enorme destaque na vasta discografia do Sodom. 
     Podemos dizer que 2016 é um grande ano para o Thrash Metal. Muitos nomes que fizeram história há 30 anos seguem firmes com lançamentos grandiosos. Casos de Sodom, Anthrax, Megadeth, Metallica, Destruction, Death Angel e Testament por exemplo. Muitos outros preferiram o fim do ano passado e início do próximo, como Kreator, Slayer e Sepultura. De toda forma, é maravilhoso ver como que esse estilo fantástico continua em alta com seus maiores representantes colocando grandes obras no mercado num mesmo ano. O Sodom aproveita muito bem o momento, e prova sua importância para o estilo em mais um disco sem erro para os pescoços dos fãs que o seguem por mais de trinta anos. 


terça-feira, 8 de novembro de 2016

HELL IN RIO - DIAS 5 E 6 DE NOVEMBRO - TERREIRÃO DO SAMBA

     Tudo que envolve a organização do festival Hell in Rio é motivo de muito orgulho para os frequentadores da cena carioca. Uma produção impecável e idealizadora decide sonhar acordada, organizando um evento que tem tudo para virar tradição anual. O cast inaugural tem um objetivo claro, prestigiando a cena nacional. A importância dos nomes envolvidos para representar uma história de mais de trinta anos de Heavy Metal brasileiro é dada nos mínimos detalhes. Muitos consideram loucura promover algo desse tamanho apenas com bandas locais, mas casos recentes deixam claro o que acontece quando um produtor da um passo maior que a perna chamando inúmeras bandas gringas que não pode pagar. Para o começo de uma história, foi tudo feito com muita correção. Um laboratório perfeito para mostrar que é possível incorporar o festival no calendário anual de shows.
       O principal de tudo é deixar claro como a música feita no Brasil tem força, e que existem produtores capazes de fazer eventos de porte internacional. O local escolhido foi o Terreirão do Samba, que deixa claro no nome que a tradição dos eventos lá não é exatamente do nosso estilo. Uma aposta arriscada pelo tamanho, que de fato ficou exagerado para um público razoável que compareceu nos dois dias, mas incapaz de lotar uma área tão ampla. Levando para as casas tradicionais, seguramente esgotaria um Circo Voador, mas certamente o pacote final compensou a realização num lugar assim. Tirando isso, tudo que era necessário para um bom evento foi proporcionado pelo Terreirão do Samba. Inúmeras barracas para matar a fome e sede ao longo das horas de shows, estandes com muito material das bandas do festival, som de 1a, boa visualização do palco, muitos banheiros, espaço para que o público circule e uma localização central que permitia chegada e saída razoavelmente tranquila para todos. Enfim, tudo em cima para que o público curtisse intensamente cada show, que vale lembrar, começando rigorosamente no horário marcado. 


1o dia

    Apenas uma coisa saiu fora do script no começo de tudo. Uma chuva torrencial desabava sem parar ao longo do dia e noite. Mesmo assim, nada que alterasse o cronograma da festa. A qualidade do som era impecável, os horários eram cumpridos e o lugar até oferecia algumas partes cobertas para que o público se escondesse. Em função do clássico carioca que acontecia a poucos quilômetros dali, eu acabei me atrasando um pouco, depois de fazer uma jornada dupla futebol/Heavy Metal. Infelizmente não vi os primeiros shows. Reckoning Hour e Perception abriram a jornada, seguidos pelo mais que clássico Garotos Podres (atendendo pelo nome de O Satânico Dr Mao E Os Espiões Secretos) e o também muito forte Oitão. Os relatos que ouvi de ambos os shows foi extremamente positivo, como previsto. Cheguei exatamente na hora de uma das grandes atrações do festival, o Claustrofobia.

Claustrofobia - A banda paulista é uma das mais importantes no atual cenário do Heavy Metal brasileiro. Com o disco Download Hatred saindo do forno, não foram poucos os que estavam naquele 1o dia de festival com enormes expectativas para essa apresentação. Mesmo com a água que insistia em cair, se formou um enorme mosh pit do lado esquerdo do palco, onde todos tinham as letras na ponta da língua. Marcus D´Angelo (Vocal/Guitarra), Douglas Prado (Guitarra), Caio D´Angelo (Bateria) e Daniel Bonfogo (Baixo/Backing Vocal) entraram com uma garra impressionante para promover o novo trabalho. No tempo que simplesmente passou voando, a base do setlist foi formada por músicas dos dois discos mais recentes. Do já clássico Peste, coisas como a faixa-título, Matal Maloka, Bastardos do Brasil e  Pino da Granada garantiram a satisfação daqueles que não paravam de agitar um minuto na roda molhada. Enfim, uma apresentação impecável de uma banda que representa muito bem a nova safra do Heavy Metal nacional

Hibria, Almah e Dead Fish - Bem, eu não sou exatamente a pessoa mais adequada para falar muito sobre essas três bandas. O Dead Fish é um capítulo a parte, sendo para mim uma banda que destoa totalmente do festival como um todo. Entendo perfeitamente a escolha por um motivo bem simples. Eles levaram público, e certamente contribuíram bastante para que o cenário ficasse mais agradável no 1o dia de festival. O Hardcore bem mais ou menos da banda nunca me agradou, e ao vivo menos ainda. Enfim, nada muito além disso para comentar. Já o Almah e o Hibria são bandas que estão num patamar bem semelhante ao meu ver. Não sou fã de nenhuma delas, mas são shows extremamente agradáveis de assistir em um festival. A banda gaúcha é um dos maiores destaques do cenário atual, fazendo um sucesso enorme lá fora e com grande prestígio também no Brasil. O Power Metal com a voz diferente de Iuri Sanson se provou eficiente e cativante. O Hibria divulga o trabalho que leva seu nome lançado em 2015, fazendo seus fãs terem plena satisfação ao final do show. O Almah, capitaneado por Edu Falaschi - uma verdadeira lenda do Heavy Metal brasileiro - e o guitarrista Marcelo Barbosa é outra grande escolha. Mesmo nunca fazendo muito minha cabeça, é uma banda de musicalidade indiscutível e que sabe o que faz no palco. Com  E.V.O, seu 5o disco de estúdio, acabando de sair do forno, fez um dos shows mais legais da noite. O ponto máximo foi a parceria de Edu e Fabio Lione no clássico Nova Era, eternizado por Falaschi na atual banda de Lione. Fora o show de vozes, é muito legal ver a boa relação da dupla demonstrada em outras oportunidades e evidenciada na atual divisão de guitarrista. Dos tempos de Angra, ainda rolou a maravilhosa Heroes of Sand. Só por isso, já valeu a noite.

Sepultura - Coube a maior banda de Heavy Metal do Brasil fechar o 1o dia de festival. Nessa altura, o público diminuiu um pouco, restando apenas quem foi lá para reverenciar essa entidade da nossa música - claramente a maior parte dos presentes. A formação do Sepultura é fantástica há tempos, estando prestes a lançar mais um disco na carreira de mais de trinta anos. Dele veio uma provinha, a maravilhosa I Am The Enemy, mostrando que vem coisa boa por ai. O show encerra a tour de trinta anos do Sepultura, que já se prepara para rodar o mundo promovendo o novo disco.

Eis que Eloy Casagrande (bateria), Derrick Green (vocal), Andreas Kisser (guitarra) e Paulo Jr (baixo) começam a recapitular parte da gloriosa história da banda justamente pelos primórdios. Tome o memorável riff de Troops Of Doom chegando com tudo. Com um pulo no ótimo Kairos, a faixa da nome ao ótimo trabalho lançado em 2011 segue com o nível fantástico do show. Ai vem uma sequência daquelas, com coisas do porte de   Slave New World, Breed Apart, Desperate Cry e Dusted botando fogo no mosh. Dos tempos de Derrick, rolaram Convicted in Life, Dialog e The Vatican. Tudo com uma performance fantástica da atual formação. Só ver Eloy Casagrande em ação destruindo seu kit já vale o ingresso. O show seguiu para o final com hinos em sequência.  Territory,  Beneath the Remains, Arise e  Refuse/Resist são simplesmente devastadoras para quem acompanha a banda. Ainda é estranho ver a voz de Derrick em algumas dessas, mas apenas por diferenças de técnica vocal mesmo. A fraca Sepultura Under My Skin destoa, mas Ratamahatta e Roots Bloody Roots tratam de fechar a conta com correção.

Num dia de muita chuva, o saldo do Hell in Rio já era muito positivo. Público muito longe de lotar o enorme lugar, mas que passava longe de ser vergonhoso, conseguiu dar uma grande resposta em todos os shows. O festival foi impecável em todos os mínimos detalhes organizacionais, provando que com profissionalismo é possível sim realizar um grande festival no Brasil. Estava só no meio da festa, mas a satisfação de todos já era evidente. Agora era descansar para repetir a dose no dia seguinte.

2o dia

      O clima era outro no 2o dia de festival. A chuva felizmente não deu as caras, e ficou aquele tempo sensacional de festival à tarde. Um público levemente maior comparecia desde cedo, por obra e graça do line up. No 1o dia, os que levaram mais público foram Dead Fish e Sepultura. Já nesse segundo, foram três atrações. Pelo que vi de camisas e reações no show, Matanza, Angra e Korzus, com o Velhas Virgens também muito prestigiado. Meu objetivo já era ver o 1o show do dia, do Hatefullmurder, mas infelizmente não consegui chegar no horário novamente cumprido com invejável pontualidade. Sendo assim, era hora do show do Eros.

Eros - A banda volta a ativa depois de mais de vinte anos exatamente no festival. Com um disco no currículo - Road to Wisdom (1990) -, a nova formação ganha um guitarrista a mais. Themys Barros (vocal e Guitarrra), Raphael Marins (Guitarra), Gabriel Barros (Bateria) e Thomas Abrantes (Baixo) fazem um ótimo papel para um show de retorno justamente num festival desse tamanho. Apresentando um Thrash Metal clássico, divertiram bastante a turma que chegou cedo ao Terreirão do Samba. Thomas, já consagrado na cena como guitarrista do Krueger e um dos caras mais legais que conheço no meio, mostra toda a sua versatilidade na nova era do Eros. Apresentação rápida e certeira. 

John Wayne e Project 46 - Tai duas bandas que não me descem. O Project 46 até já me agradou, mas depois de dois ou três shows cansa. Ainda assim, repeito muito suas conquistas em tão pouco tempo e a força que seu nome já tem na cena. E justiça seja feita, a banda evoluiu bastante para esse show. Ainda que o vocalista Caio MacBeserra continue exagerando nas frases de efeito "brutais", parece bem mais contido. A qualidade do som também é legal, e já com um público cativo, fez um show dentro do que se esperava. Destaque também para Baffo Neto no baixo, figura mais que consagrada no Capadocia  e no trabalho nos bastidores com as bandas de Max Cavalera e Angra. Um show muito legal para os fãs, apenas Metalcore definitivamente não é meu estilo preferido. Já o John Wayne foi um desastre mesmo. A começar pelos problemas técnicos com os equipamentos desde o início, passando pelo som exageradamente alto. Ai o problema mora principalmente no vocalista, passando também pelo equilíbrio sonoro. Bem, sendo bem franco, achei o show uma coisa pavorosa, mas talvez o gosto pessoal pese em tal avaliação. A banda goza de certo prestígio na cena e parece ter agradado os fãs presentes, então que fique essa impressão. 

Velhas Virgens - Ai está um show sensacional para acompanhar num festival! Comandados por Paulão Carvalho e Juliana Kosso nos vocais e paramentados com um hilário avental de cozinha, o que vimos foi um Blues daqueles bem tocados com letras de humor puro e direto. O conteúdo somado às performances da dupla de vocalistas e falas sempre engraçadas garantiram um belo show de muita diversão na tarde de domingo. A cantoria do público, que tinha as letras na cabeça e seguia o comando de Paulão também foi algo notável. Uma banda que leva a sério o que interessa, mas nunca se levou a sério, segue trinta anos depois fazendo um som de respeito com performance ótima por onde passa. Uma das gratas surpresas do festival. 

Korzus - Hora do grande momento do festival. O show mais chamativo confirmou todas as expectativas que tinha. Essa verdadeira instituição do Heavy Metal brasileiro que há tempos não pisava na cidade vem disposta a tirar o atraso. Eis que uma legião de Thrashers se reúne na frente do palco para promover uma roda daquelas, e muita cantoria. Guilty Silence, do ótimo Ties of Blood, começa o show com tudo. Raise Your Soul representa a obra-prima Discipline of Hate, mostrando que o Korzus faria seu set baseado nos ótimos discos recentes - algo normal há tempos. Eu estou para conhecer alguém que tem mais o Heavy Metal na alma do que Marcello Pompeu. A cada show com o Korzus ele se mostra mais apaixonado pelo que faz, e aqui não foi diferente. Sempre com um discurso de devoção aos presentes, também fez questão de dar a dimensão exata do que estava acontecendo nesse fim de semana no Rio de Janeiro. Um cara que sofreu na pele com aquela bizarrice chamada Metal Open Air sabe muito bem a diferença para quando a coisa é feita por quem sabe. O show segue com Never Die, do mesmo Discipline of Hate. Bleeding Pride é a 1a de Legion, ótimo disco lançado em 2014 e pela 1a vez apresentado no Rio de Janeiro. What are You Looking For como sempre é cantada em uníssono, encorporando peso ainda maior às performances de Dick Siebert (baixo), Rodrigo Oliveira (bateria), Heros Trench e Antonio Araújo (guitarras). Discipline of Hate não deixa por menos, mostrando porque é uma das melhores músicas da carreira do Korzus. Pompeu segue com a aula de como comandar uma festa. Puxa gritos de efeito, vai pra grade cantar com o público e tudo que tem direito. A sensacional nova Vampiro deixa um mosh daqueles rolando, abrindo espaço para a sempre bombástica Correria. Thruth encerra a enorme participação do disco lançado em 2012, abrindo espaço para a única viagem além dos anos 2000 na obrigatória Guerreiros do Metal, uma bela celebração aos tempos de SP Metal - coletânea diretamente responsável pela festa desse fim de semana nos primeiros dias de Heavy Metal brasileiro. Legion fecha a conta com chave de ouro. 

Senti falta de algo dos três primeiros discos, principalmente de Mass Illusion, mas nada tira o brilho de um show digno do nome Korzus. Com sobras o show do festival.

Matanza - Então ocorre uma inversão entre as últimas duas bandas da noite. Eu ainda me recuperava do Korzus, já que não sou grande fã do Matanza como um dia já fui. Ainda que não tenha saco para seus shows hoje em dia, é inegável que a banda foi responsável por arrastar ao festival boa parte dos presentes - algo que justifica plenamente sua participação. No palco, a correção de sempre de uma banda que gosta de tocar ao vivo. De destaque mesmo, fico com as sempre hilárias intervenções de Jimmy, o gigante irlandês que é praticamente dono da banda. Papel muito bem cumprido. É lógico que tem incontáveis bandas que eu preferia ver ali, mas não tem como negar que o Matanza é um dos nomes que mais leva público aos shows no Brasil. Simples assim. 

Angra - Então com toda justiça coube ao Angra fechar a conta. A banda que passou pela cidade em agosto tocando a obra-prima Holy Land completa, agora enxuga aquele show memorável em músicas e participações. Fora a já consagrada formação com Fabio Lione (vocal), Rafael Bittencourt e Marcelo Babosa (Guitarra), Felipe Andreoli (baixo) e Bruno Valverde (bateria), o show teve como único reforço o sensacional percussionista Dedé Reis - que em certo momento da um verdadeiro show de capoeira. Agora com pérolas do porte de Holy Land, Z.I.T.O e Angels And Demons no roteiro, não tinha como esse show ser algo menos que espetacular. O Angra passa por um momento ótimo, e o Hell In Rio não deixou por menos. A esperada participação de Edu Falaschi acabou não rolando, mas a coisa saiu muito bem ainda assim. Newborn Me e Final Light representaram o disco mais recente, e ao lado de coisas como Wings of Reality, Nothing to Say, Time, Waiting Silence, Make Believe, Rebirth e Nova Era, promoveram uma viagem pela história da banda com um público que respondeu a altura. Esse público pediu incessantemente Carry On, e foi atendido com um duelo de Lione com o sempre simpático apresentador da festa Bruno Sutter. Infelizmente já tinha saído do local, e não presenciei de perto tal momento. 

   O saldo do Hell In Rio é fantástico. Tudo que dependia da organização foi cumprido com invejável profissionalismo. O Rio de Janeiro teve dois dias de festa com grandes nomes do Heavy Metal brasileiro ditando o baile. O festival é um verdadeiro marco para quem vive a tal cena de perto, e olhando a felicidade nos olhos de vários amigos e conhecidos responsáveis pelo acontecimento é algo realmente emocionante. Ainda que o público não tenha conseguido lotar o enorme espaço, quem foi também fez muito bonito em cada apresentação. Numa enorme diversidade de estilos, cada um viu o que queria e respeitou as bandas que não curtia, exatamente como manda o manual. Enfim pessoal, não tenho um  reparo sequer a fazer, e o Hell In Rio está mais que aprovado no nosso robusto calendário anual de shows. 


sexta-feira, 4 de novembro de 2016

BLACK SABBATH - MOB RULES

   Em 1981, a nova era do Black Sabbath já não era tão estranha aos muitos fãs que se recusavam a acreditar que Ozzy Osbourne não era mais o vocalista do grupo. Entre esses, podemos colocar o baterista Bill Ward, que deu lugar a Vinny Appice logo depois do lançamento de Heaven And Hell. Dio conseguiu chutar para o inferno tal desconfiança com um dos maiores lançamentos da história do Heavy Metal. Uma banda refeita dos últimos anos conturbados da formação original estava pronta para dar sequência ao trabalho, e fez isso com mais um clássico no currículo. 
   É inevitável comparar Mob Rules com o antecessor. Talvez esse não tenha clássicos da potência de Neon Knights e Heaven and Hell, mas contém um playlist espetacular de maravilhas obscuras. Tony Iommi talvez tenha aqui uma de suas performances mais espetaculares da carreira. Isso proporciona em encontro com a voz inigualável de Dio momentos épicos como The Sign of the Southern Cross, Over And Over e Falling Off the Edge of the World. Poucas vezes na história uma parceria deu tão certo. Geezer Butler e Vinny Appice também mostravam grande entrosamento. Outros momentos mais diretos também marcam Mob Rules com igual correção.  Country Girl é uma daquelas músicas que fica enorme graças a Tony Iommi em mais uma exibição de gala. A faixa-título se eterniza como o hit do trabalho, seguida de perto por Voodoo, verdadeira aula de Dio. Não podemos esquecer também do começo matador proporcionado pela pedrada irresistível Turn Up the Night, para mim a melhor de Mob Rules e top 10 da história da banda. 
    Mob Ruler é um eterno clássico lado B do Black Sabbath. Quem passa com um olhar menos atento pela discografia nunca pesca algumas das maravilhas desse disco, mas os já mais acostumados com a banda tem Mob Rules numa prateleira muito especial. Surpreendentemente a banda sofre outra enorme transformação pouco tempo depois. Appice e Dio saem para voltar somente em 1991, dando lugar a Ian Gillan e novamente Bill Ward. O resto é história, mas Mob Rules cravou seu nome na história do Black Sabbath num playlist impecável.