sexta-feira, 31 de março de 2017

DEF LEPPARD - ADRENALIZE

    Poucas bandas enfrentaram tantos problemas em seu auge como o Def Leppard. Depois de ver seu baterista Rick Allen perder um braço e ainda assim dar seu jeito de continuar tocando, a resposta veio com o magnífico Hysteria. Qualquer um que conheça minimamente a história da banda sabe do enorme impacto causado por esse disco. Com tudo mais ou menos no lugar, veio a trágica e precoce morte do magistral guitarrista, e também principal compositor,  Steve Clark. Isso ocorreu justamente no processo de composição de Adrenalize, adiando bastante seu lançamento - que acabou acontecendo no dia 31 de março de 1992. Várias de suas músicas ainda contam com o toque de gênio do senhor Clark como compositor, mas na gravação do disco coube a Phil Collen se esfolar sozinho na guitarra - papel feito com brilhantismo. Obviamente isso não duraria muito tempo, e Vivian Campbell foi recrutado pro posto já na turnê de divulgação.  
     Com todo esse contexto brevemente relatado, uma coisa é inegável. Adrenalize apresenta o último grande momento do Def Leppard em estúdio. Já numa época de domínio do Grunge em detrimento do Hard Rock praticado pela banda, o ótimo lançamento conseguiu grande repercussão. Pode não ter a quantidade absurda de clássicos dos antecessores, mas apresenta grandes músicas. Let's Get Rocked é o clássico definitivo eternizado no trabalho. Um refrão mais que marcante viu cada verso seu ser transformado numa espécie de grito de ordem para os fãs da banda. Heaven Is é uma daquelas que tem o toque de Clark mais que evidente. Um hardão daqueles irresistíveis que a banda sabe fazer como poucos. Make Love Like a Man, a balada Tonight, I Wanna Touch U e a sensacional Stand Up (Kick Love into Motion) são alguns dos bons momentos de Adrenalize, um legítimo disco do Def Leppard. 
      O tempo fez desse disco o último momento glorioso da história dos ingleses mais americanos de todos os tempos. O sucessor Slang foi constrangedor, e apesar de ter seu valor, Euphoria não consegue fazer sombra aos clássicos oitentistas. O resto é história, mas o certo é que o baque da morte de Clark foi insuperável no estúdio, ainda que a Vivian Campbell seja um magnífico substituto no palco e com um peso histórico que prova ser o homem certo para a ingrata missão. Basta lembrar que o homem gravou com Dio seus maiores clássicos. Mesmo assim, a banda ainda se mantém forte, e chega em pleno 2017 no Brasil para seguramente fazer um show daqueles dignos de serem lembrados por gerações. 

quarta-feira, 29 de março de 2017

SCORPIONS - BLACKOUT

     Depois de mudar sua sonoridade com o extraordinário Lovedrive e dar uma sequência muito interessante em Animal Magnetism, o Scorpions passou por poucas e boas antes de lançar o que é hoje um de seus maiores clássicos. Mais especificamente, o vocalista Klaus Meine foi o grande afetado com problemas sérios na garganta. Muitos duvidavam que uma das maiores vozes do Hard Rock conseguiria se recuperar, mas o fato é que ele parecia ter colocado cordas vocais de aço na operação a que foi submetido. O resultado foi um clássico atemporal, e até hoje sua voz está muito melhor do que a de muitos colegas de geração.  
      Blackout tem a marca do que era o Scorpions nos anos 80. Estabelecido com Klaus Meine (vocal), Francis Buchholz (baixo), Herman Rarebell (bateria), Matthias Jabs e  Rudolf Schenker (guitarra), o experimentalismo setentista, maravilhoso é bom lembrar, ficava para trás em detrimento de um Hard Rock bem mais simples e direto como a década pedia. Uma formula que tinha dado tão certo não precisava de mudanças. Dele podemos tirar hinos definitivos como No One Like You, Dynamite e a faixa-título. Não existe fã de Hard Rock nesse universo que não saiba cantar cada uma delas de trás pra frente. Isso já basta para eternizar o trabalho, mas uma audição mais detalhada nos entrega pérolas do porte de Can't Live Without You, You Give Me All I Need, China White e principalmente a extraordinária When the Smoke Is Going Down. Essa em questão para mim é a melhor do disco e uma das 5 melhores de toda a carreira da banda. Aquele tipo de power ballad que o Scorpions sabe fazer como poucos. Um playlist desses nunca poderia ter resultado diferente da fantástica vendagem e consagração definitiva. Naqueles tempos, o Scorpions garantiu participação nos maiores festivais da época e uma turnê para lá de bem sucedida. Era a coroação de uma era fantástica na carreira dos alemães. 
       Depois de 35 anos, Blackout nunca perdeu sua enorme relevância na história do Hard Rock. É um dos discos mais importantes já lançados pelo Scorpions numa era de ouro. A banda ainda viria a lançar outra pérola dois anos depois que atende pelo nome de Love at First Sting, mas isso é conversa para depois. O importante agora é celebrar o eterno legado de um trabalho como Blackout, um daqueles discos base para entendimento de um estilo de música. 

segunda-feira, 27 de março de 2017

SHOW DO METALLICA - LOLLAPALOOZA 2017 - SÃO PAULO

     O Lollapalooza talvez seja o festival de música internacional do calendário brasileiro mais polêmico entre o público que curte Rock. No meu entendimento, cerca de 90% das atrações praticam um som que em nada me interessa. Agora uma coisa é inegável. Desde 2012, quando aportou por aqui, o festival apresenta ao menos uma grande banda no cast - não por acaso essa grande banda costuma ser headline. Bad Religion, Pearl Jam, Soundgarden (como me arrependo de não ter visto), Robert Plant, Queens of the Stone Age e Foo Fighters são alguns desses bons exemplos. Em 2017, essa responsa ficou com o Metallica - e com o Rancid também. Finalmente acabei decidindo ir a maior festa Indie do calendário anual, e honestamente, só pretendo voltar em caso muito nobre. 
      Lamentavelmente o problema não era a tal mistura de estilos - que na verdade não me incomoda nem um pouco. Festival por si só é visto como uma mistura de gostos diferentes num lugar só, cabe a cada um escolher o que interessa. A parada é que poucas vezes eu vi uma organização de evento tão problemática. Começando pelo local, o distante e nem um pouco confortável autódromo de Interlagos - e suas ladeiras insuportáveis. Cada detalhe nele obrigava caminhadas para testar a paciência de qualquer cristão. Felizmente o tempo ajudou, já que uma chuva daquelas transformaria aquele lugar num verdadeiro mar de lama. Agora o problema mesmo era para comprar alimentos e bebidas. Nunca vi um atendimento tão caro e precário na minha vida rockeira! Qualquer um que se aventurasse a comprar uma cerveja só conseguia isso enfrentando filas de quase 1h - incluindo breves encerramentos de atendimento no pacote. Vendedores separados eram pouquíssimos, se concentrando apenas na entrada e também com belas filas ao redor. Qualquer um que costuma ir a grandes shows sabe a diferença que eles fazem para quem quer consumir algo. Na área do palco que me interessava, localizado num vale de difícil acesso, não tinha um sequer. Não adianta falar que isso é culpa dos 100 mil presentes, já que em 2011 o Rock in Rio também atendia tal demanda de maneira muito mais eficiente. Enfim, nada no lugar era atrativo, jogando toda a responsabilidade em cima das bandas. Felizmente, elas fizeram valer o ingresso. 
    Metallica e Rancid fechariam a noite no palco Skol - o único que frequentei. O público do festival é muito heterogêneo. Não é aquele de Rock In Rio que vai basicamente ver o Headline da noite. Pela diversidade, tinha de tudo ali no meio. Agora os fãs de Metallica eram maioria absoluta, quase todos com a camisa da banda. O Rancid fez ótimo casamento, e em muitos casos a dupla agradou a um público bem parecido. Eu mesmo nunca fui um grande fã dos Punks debutantes no Brasil depois de 25 anos de espera, mas fui feliz assistir a apresentação.
     Entre um bom tempo na fila e outro na pista, vi uma apresentação fantástica para o que se propunha. Colocando rodas de respeito ao redor do lugar, foi 1h de intensidade total. Destaque para os hits Ruby Soho e Time Bomb. No mais,  Tim Armstrong (Guitarra e Vocal), Lars Frederiksen (Guitarra e Vocal), Matt Freeman (Baixo e Vocal) e Branden Steineckert (Bateria) passaram seu recado Punk com pitadas de Reggae com muita correção, agradando a todos! Para quem realmente curte, foi um show memorável, e até para mim que não conheço quase nada foi interessantíssimo! 
    No intervalo me restou tomar as únicas duas cervejas que arrumei e esperar pelo motivo que me levou até São Paulo. Lá vinha o Metallica, e junto deles uma legião de fãs que tomaram de assalto a festa alternativa. Com o sensacional Hardwired... to Self-Destruct para nos apresentar, James Hetfield, Lars Ulrich, Robert Trujillo e Kirk Hammet chegavam com sangue nos olhos para lavar a alma de todos - incluindo a deles mesmos. O vale distante em meio ao autódromo via ter cada espaço ocupado na hora que essa entidade do Heavy Metal iria tocar. 
      Antes de qualquer coisa, tenho a impressão de ter escolhido o melhor local possível para ver o show. Quem viu na TV sentiu um público bem apático, mas de onde estava, achei a participação muito legal. Rodas homéricas formadas no momento certo, disco novo recebido com muito entusiasmo, hits cantados em uníssono e até um pouco menos de celulares pro alto do que o normal. Enfim, os que estavam ao meu redor mostravam profundo conhecimento sobre a banda que estava na sua frente. Com um atraso muito pequeno, era hora do Thrash Metal dar as caras no festival pela 1a vez em seis anos. 
      Hardwired, a pedrada que abre o novo trabalho, cai como uma luva na abertura também do show. Muita agitação e cantoria provam a força absurda desse magnífico lançamento. Para arrematar, vem a também muito boa Atlas, Rise! - mais trabalhada que a abertura, mas igualmente forte. Como é legal urrar esse refrão matador ao vivo! Ai é hora de voltar no tempo. O primeiro clássico da noite é a indescritível For Whom the Bell Tolls. Um dos maiores hinos da história do Heavy Metal provoca aquela agitação no riff inicial - um dos maiores trabalhos de Cliff Burton - e tem cada verso cantado por milhares de vozes. Ai vem a boa The Memory Remains como única representante dos tempos de Load/Reload da noite. Sempre gostei dela e aquele coro no final é irresistível, mas quando pensamos que a mesma veio no lugar de coisas como Creeping Death, Ride the Lightning e Welcome Home (Sanitarium), para ficar só em algumas consagradas, soa desnecessária. Ainda assim, está longe de ser um peso morto no set. Até aqui já estava provado o estado de graça que se encontrava a banda. Todos estavam visivelmente felizes, e Kirk Hammet sola pela 1a vez na noite fazendo uma esticada no último som e breves trechos de The Judas Kiss - lado c de Death Magnetic. Ai a turma ataca com a magnífica Power Ballad The Unforgiven, um dos momentos máximos do magistral Black Album. Depois de breves toques do passado, é hora do Metallica mostrar orgulhoso mais alguns momentos do novo trabalho. Now That We're Dead tem seu refrão sensacional entoado por muitos, e Moth Into Flame recebe atenção até maior que esperada. Essa talvez seja a nova com efeito mais devastador ao vivo. Infelizmente muitos deixam a pérola Harvester of Sorrow passar despercebida, mas para mim é um dos grandes momentos de todo show. Essa maravilha de ...And Justice for All sempre emociona profundamente quando apresentada ao vivo, num dos pontos altos da noite. Já Halo on Fire não fica tão legal quanto no disco quando é colocada no palco. Ganha vida mais para seu final onde temos uma aula de riffs, mas poderia ser facilmente substituída por Spit Out The Bone, Murder One e Confusion por exemplo. Aqui acaba a participação de  Hardwired... to Self-Destruct no set. 
        Então o grande baixista Robert Trujillo faz o que é quase impossível. Ele transformou um solo de baixo em algo muito legal, coisa que só quem entende muito bem do assunto consegue fazer. Um homem com Suicidal Tendencies, Ozzy Osbourne e Infectious Grooves no currículo realmente não é um qualquer. Em meio a aula, rolaram trechos de  The End of the Line e, pasmem, Anesthesia (Pulling Teeth). A turma old school arrepia até seu último pelo com essa homenagem ao mestre Burton. Ai vem a maior surpresa da noite. Simplesmente Whiplash senhores! Obviamente essa pérola do Kill 'Em All abre de imediato uma roda daquelas para a turma Thrash banguear com gosto. Foi um sentimento único em meio ao Lollapalooza poder relembrar como deveriam ser as noites de 1983 em algum bar da Bay Area. Nessas notamos como o Metallica ultrapassou todas as barreiras possíveis e se transformou num nome de tamanha relevância para encabeçar um cast desses e tomar ele para si. Um Hetfield com sorriso daqueles faz a tradicional introdução para Sad But True perguntando se "queremos peso". Como de costume, arrebenta corações e pescoços! Se não bastasse tudo isso, James tem um ataque de fúria, no melhor sentido possível, tocando sua guitarra no chão como poucas vezes pude ver. A empolgação era visível Tava aberta uma sequência de hinos para ninguém botar defeito. É possível resistir a coisas do porte de One - só com explosões falsas e sem aquele aparato dos tempos de Death Magnetic - e Master of Puppets? Depois de Whiplash a banda parece ter explodido de vez, e até senti uma vontade extra deles de mostrar o verdadeiro Rock N'Roll para quem passava por perto curioso. Kirk faz simplesmente o maior solo que já vi ele produzir, com partes de Leper Messiah e um encerramento quase incendiário nos PA'S. Simplesmente de tirar o fôlego! Ai Fade to Black, maior Power Ballad da história do Heavy Metal, vem devastando corações de qualquer fã. Ta legal? Então que tal Seek & Destroy para fechar a parte regular numa demonstração do auge do Kill 'Em All? Nem precisa dizer que o pogo pegou fogo né? 
       Qualquer fã já estava com seu ingresso pago numa coleção de hits tocados como se deve. Felizmente ainda tinha mais. A seção de pancadaria fica fora de controle com Battery. Nessa duas rodas se juntaram para formar um mosh daqueles, com direito a sinalizador no meio e tudo! Ai a dupla dinâmica Nothing Else Matters e Enter Sandman fecha a conta com um festival inteiro celebrando o legado desse gigante, e os quatro agradecendo profundamente a recepção. Seguramente esse show está entre os grandes do Metallica que já vi. A banda ganhou vida nesse novo trabalho, e chegou até aqui para fazer a diferença no festival. Numa noite de quebra de recorde de público com 100 mil pessoas em Interlagos, o Heavy Metal roubou para si o famigerado Lollapalooza. Que no caso de outro gigante do Rock N'Roll presente no Line Up em 2018, a organização atenda minimamente bem o público que paga um absurdo de caro para estar lá. A grandeza das bandas salvou um festival caríssimo que beirava o amador em estrutura. 

quinta-feira, 9 de março de 2017

SHOW DO KREATOR + SEPULTURA + SOILWORK + ABORTED - LONDRES

    Durante uma viagem de férias na capital mundial do Rock N'Roll, tive a sorte de poder assistir um dos shows da aclamada tour europeia do Kreator. Para completar, a tour segue aquele padrão europeu de reunião de várias bandas relevantes na cena. Eram elas Sepultura, Soilwork e Aborted. Ou seja, se tratava de um mini festival. Não tinha como ser melhor. 
      A experiência de poder ver um show longe do seu país e perceber semelhanças e diferenças com ele é fantástica. O que se percebe de cara é o tamanho que essas bandas tem no velho continente. A casa tinha, de acordo com meu famoso "olhômetro", no mínimo 3 mil pessoas entupindo cada espaço dela. E era imponente aquele O2 Forum. Ele fica localizado próximo a Camden, o bairro mais Rock N'Roll de Londres, que possui uma cena incrível nas noites da cidade ao redor do incrível pub The End of The World. O local do show é um verdadeiro casarão que nada tem a ver com alguns de nossos buracos daqui. São diferentes níveis na própria pista, além do 2o andar, como uma decoração de teatro de elite no Brasil. Assisti tudo direto do mosh pit, esse sim exatamente igual ao nosso em nível de agitação. Uma peculiaridade dele certamente vocês já notaram em transmissões de todos os festivais. Sempre tem alguém o chamado surf crowding, inclusive com segurança atento pegando cada cidadão que voa pela galera e recolocando na pista. Quando dei por mim, fui um deles no show do Sepultura. Em linhas gerais, era um público fiel que idolatrava principalmente Kreator e Sepultura. Headbanger é headbanger em qualquer lugar. 
     A parte do Sepultura merece uma citação breve. Tudo que sempre ouvi falar da banda acontece de fato lá fora. Os ingleses tem verdadeira adoração pelo nosso maior expoente do Heavy Metal. Mesmo com tudo que aconteceu, a banda ainda consegue rivalizar com o Kreator em camisas, o que não é pouca coisa. No show, todos tinham os clássicos na ponta da língua, e inclusive pediam outros fora do set, como Troops of Doom por exemplo. Foi seguramente um momento que o orgulho de ser brasileiro explodiu no meu peito. Agora vamos aos shows em si. 
     A chamada pontualidade britânica realmente existe na prática. Cada apresentação foi rigorosa, o que não é fácil em um show desse tamanho. No Aborted, a casa ainda não estava em sua lotação máxima, contando com um público mais calmo em relação ao que estava por vir. Na hora h, mostraram o motivo de tanto prestígio. Um dos grandes sopros de renovação no Death Metal, os belgas desfilaram brutalidade em cerca de 40 minutos de show. O carequinha Sven "Svencho" sabia mexer com o público, sendo sempre atendido. Das oito músicas, eram quatro do mais recente disco Retrogore, mostrando que eles queriam mostrar para quem não conhecia o que é a banda hoje em dia. Claro que coisas como  Hecatomb e Meticulous Invagination não poderiam faltar. Enfim, a banda passou muito bem seu recado na abertura dos trabalhos. 
    O Death melódico do Soilwork nunca me chamou muita atenção, mas o show deles superou todas as minhas expectativas. Não é uma banda que conheço a ponto de poder avaliar muito bem seu repertório, mas num palco como aquele, os suecos crescem bastante. Eles já contaram com a casa lotada e extremamente receptiva ao seu som. A formação mostrou técnica apurada feita para shows maiores. A noite estava válida já ali.  
    Depois de duas grandes bandas relativamente novas, era chegado o momento dos dois gigantes do Thrash Metal - com mais de trinta anos nas costas - mostrarem sua relevância em 2017. O Sepultura não foi tratado em momento algum como "abertura". Para os presentes, eles eram co-headlines da noite. Eloy Casagrande (bateria), Andreas Kisser (guitarra), Derrick Green (vocal) e Paulo Xisto (baixo) já provaram em jornadas anteriores como a atual formação do Sepultura é forte ao vivo e no estúdio. A turnê tem como objetivo promover o bom Machine Messiah. O set mostrou isso, mesmo relativamente curto, com 5 músicas novas muito bem recebidas por um público que se curvava a história da banda. A abertura foi logo com duas delas, I Am the Enemy e Phantom Self - mais que aprovadas no teste do palco. Choke foi a outra representante dos "anos Derrick" além das novas, voltando ao hoje já distante Against (consegue perceber que o 1o disco com o americano já tem quase 20 anos?!). Então o público explode de vez com a mais que clássica Desperate Cry. O mosh pit era intenso, sempre com aquele "Seputhura" no melhor sotaque Inglês gritado a cada intervalo. Depois da breve volta no tempo, chega a hora de mais duas novas. Alethea e Sworn Oath mostram os bons atributos do novo trabalho, que ao meu ver passa longe de ser clássico como alguns falam, mas tem sim muita qualidade. Ai um verdadeiro hino que atende pelo nome de Inner Self instala o caos Inglês, voltando ao disco que fez o mundo se curvar diante desse entidade chamada Sepultura - Beneath the Remains. Resistant Parasites encerra a participação do novo disco na noite, que segue com uma sequência inevitável de hinos da banda. Tome Refuse/Resist, Arise, Ratamahatta e o obrigatório encerramento com Roots Bloody Roots. Ovacionado, o Sepultura parece cada vez mais disposto a viver do presente, mas obviamente celebrando também os discos que fizeram ele ser o que é. O público Inglês mostra enorme respeito com a banda atual sempre que pode, e ganhou uma grande apresentação dos brasileiros. Na minha viagem, foi um grande momento de celebração da minha terra ao lado de alguns brasileiros que pude encontrar ali, sentindo exatamente o mesmo que eu.
     Ai vem aquele breve intervalo para reconstrução das forças para nos curvarmos diante da lenda alemã Kreator. Depois de lançar o fantástico Gods of Violence, mais uma vez Mille Petrozza (guitarra e vocal), Jürgen Ventor (bateria, vocal), Christian Giesler (baixo) e Sami Yli-Sirniö (guitarra) chegam para promover a tradicional destruição. E fazem isso com uma estrutura de palco fantástica. Tinha fogo, explosão, fumaça, papel picado, serpentina e muito mais, algo raro em shows de Thrash Metal. Mais do que isso, teve um público nas mãos que sempre respondia a convocação para o mosh pit - tradição da lenda Mille Petrozza ao longo do show. Assim como na última turnê, o Kreator segue dando uma atenção enorme aos lançamentos posteriores a Violent Revolution na hora de formar seu setlist. Não tem como reclamar, já que as mais recentes trabalhos são fantásticas e o resultado ao vivo é sempre indescritível, seja no Carioca Club ou no O2 Forum.
    A abertura vem com a ótima e já permanente no set Hordes of Chaos - um dos refrões mais fortes da banda. Phobia vem representando os controversos anos 90, mas se é para lembrar de algo relevante feito ali, que seja esse sensacional som. Ao vivo ela cresce muito, e sempre acaba se tornando um dos momentos mais interessantes do show. Com esse começo sensacional, já era jogo ganho para mostrar algumas novidades de Gods of Violence. Nesse momento, dei uma corrida no banheiro para tentar dar um jeito no sangramento no nariz proveniente de um esbarrão sutil no mosh, mas mesmo mais de longe é possível notar como Satan Is Real chega imponente no palco. Então Gods of Violence vem para provar de vez como a banda esteve inspirada num disco que já de cara pode ser apontado como um dos melhores de 2017. A grande forma de estúdio sempre passa para o palco, e nesse assunto, poucos dominam como o frontman do Kreator. Além da voz inconfundível e das palhetadas certeiras, ele sabe como e quando falar com o público, botando ainda mais fogo na explosão em forma de roda que toma conta da pista.
     Ai chega o momento de fazer uma viagem no tempo até os anos de ouro do Kreator. O hino definitivo People of the Lie é a única representante da obra-prima Coma of Souls. A que é para mim a melhor música da carreira do Kreator tem cada verso urrado tanto pelos fãs mais novos quanto pela turma old school. Para arrematar de vez, vem a mais grata surpresa do set. Total Death, uma verdadeira pérola da destruidora estreia que atende pelo nome de Endless Pain vem para arrepiar qualquer um que tem o Thrash Metal no coração. Urrar versos como "Try to run or hide from the death" junto com Petrozza é um verdadeiro sonho para qualquer fã do estilo. Facilmente essa dupla pode ser apontada como o maior momento da noite. Em sequência vem a faixa título de Phantom Antichrist, que mesmo não sendo o disco da tour, ainda tem enorme espaço no setlist. Quando ele começa a "envelhecer", da para sacar de fato qual é a dele, e o tempo vai eternizando o mesmo como um dos grandes trabalhos do Kreator. É a deixa para a fantástica nova Fallen Brother, com aquele clipe sensacional em homenagem a grandes nomes da música que nos deixaram. Ele engrandece ainda mais esse som simplesmente único. Enemy of God, outra dos tempos mais recentes já com lugar cativo no set, deixa forte o discurso da banda contra os abusos polítocos e da igreja - sempre lembrados por Mille antes de toca-la. From Flood into Fire, mais uma maravilha de  Phantom Antichrist, faz por merecer ser novamente lembrada na tour seguinte. Boa deixa para World War Now, a pedrada que abre o novo trabalho como um de seus grandes momentos. Já Hail to the Hordes
eu achei um tanto forçada para o momento, fazendo muitos pararem rapidamente para tomar um ar. Para ficar no disco novo, eu teria escolhido Totalitarian Terror por exemplo. O momento pedia um clássico, e ele veio com a indispensável Extreme Aggression, que colocou fogo na pista. Então Civilization Collapse, a melhor de Phantom Antichrist, mantém a empolgação para fechar a parte regular do show. Então Violent Revolution abre o bis para celebrar o marco que é na história da banda - um verdadeiro renascimento de uma lenda. Para fechar a conta, é hora de clássicos oitentistas. Com a tradicional bandeira em punhos, Mille anuncia a irresistível Flag of Hate, num medley com a gratíssima surpresa Under the Guillotine - uma pérola escondida em Pleasure to Kill. Como não tem cabimento o Kreator deixar o palco sem tocar seu maior clássico, cabe a Pleasure to Kill fechar um grande show de Thrash Metal. 
     Nessa nova turnê, o Kreator celebra sua história sem ficar preso no passado. A banda valoriza muito o que foi feito nos discos mais recentes, e em cima deles forma a base do setlist. Mesmo sentindo falta de coisas como Coma of Souls, Endless Pain ou qualquer uma do esquecido Terrible Certainty, não tem como reclamar de um show como esses. Além da sempre grata experiência de ver uma banda como o Kreator em ação, poder compartilhar isso num país tão distante é ainda mais gratificante. Da terra da rainha, só tenho boas lembranças, e a prova de que headbanger é igual em qualquer lugar do mundo - uma paixão sem fronteiras.