sexta-feira, 28 de abril de 2017

SHOW DO SUICIDAL TENDENCIES - IMPERATOR - RIO DE JANEIRO

    Em algum dia daquele velho Imperator noventista, Slayer e Suicidal Tendencies faziam um show eternamente lembrado por quem viveu aquela época. De alguma forma inexplicável, a dupla se une mais de vinte anos depois no mesmo lugar. Dave Lombardo, uma eterna instituição do Slayer, junta seus dotes de maior baterista da história do Thrash Metal a uma lenda chamada Suicidal Tendencies há imprecisos dois anos. Esse é aquele tipo de casamento que é maravilhoso para todos. Lombardo estava precisando retornar a um gigante desde aquela estranha saída da banda que ajudou a fundar. Já a trupe de Mike Muir precisava de uma injeção de ânimo também depois de tantas trocas de formação. O público não preciso nem falar que simplesmente pirou. Dai veio o bom  World Gone Mad, lançado ano passado, e mais uma série de shows no Brasil.
     Para tal, um Imperator que no início da noite dava ares de incômodo vazio logo viu um ótimo número de bandanas e camisas pretas tomando conta da pista. Antes disso e ainda muito vazio, a abertura ficou por conta de um tal de La Raza. Veja bem, não é minha ideia esculhambar uma banda brasileira que batalha num underground tão complicado, mas o fato é que ao menos aos meus ouvidos seu som não agradou nem um pouco. Um New Metal com fortes doses de Hardcore e Rap formam uma verdadeira confusão sonora. O vocalista até parecia uma figura legal e comunicativa, mas não o suficiente para ganhar o público. Enfim, prefiro não me alongar muito em relação a isso.
      Por volta das 21:40, a pista já bem cheia estava pronta para receber as lendas Mike Muir e Dave Lombardo, agora acompanhados pelo já veterano Dean Pleasants na guitarra, Ra Díaz no baixo e Jeff Pogan também na guitarra. O baile começa com o hino máximo You Can’t Bring Me Down. Não precisa falar que de cara a casa veio abaixo né? A música foi bem alongada com altas doses de improviso, algo comum ao longo da noite. Mike se encontra numa forma vocal muito interessante, e ainda se movimenta no palco como garoto. Já o instrumental não errou um mínimo detalhe toda noite! Aquele baixo sempre forte, agora ao cargo de Diaz, é a base de tudo. Um Lombardo totalmente solto e adaptado ao som da nova banda era um show a parte! Ai a pancadaria  I Shot Reagan é um dos momentos mais devastadores de toda a apresentação. Nesse clima, a nova Clap Like Ozzy ganha muita força. Poucas vezes vi uma apresentação tão precisa em cima de um palco. Mike direciona um discurso político sobre o momento atual no Brasil e no mundo para arrematar o público de vez. É  a deixa perfeita para Freedumb, do disco de mesmo nome justamente lembrado. Vale lembrar, é o 1o de Dean como guitarrista da banda - hoje muito solto no papel de 2o membro mais antigo da atual formação. Trip at the Brain, mais um clássico do sensacional How Will I Laugh Tomorrow When I Can't Even Smile Today, coloca o Imperator todo numa roda daquelas. Get Your Fight On! é a outra nova a dar as caras. Living For Life seria a outra, mas no final foi limada do setlist - sendo assim a única diferença para o que a banda vem apresentando ao longo da tour. 
       Ai War Inside My Head forma a maior roda da noite até então. Sem dar um tempo mínimo para o público respirar, Subliminal devasta todos numa versão ainda mais porrada do que o clássico registro na estreia do Suicidal. Send Me Your Money chega quase como uma balada depois de tanta devastação, naquele inigualável funkeado que a banda sabe fazer como ninguém. A letra é também de sabedoria única. Ai Mike convoca os fãs para subirem no palco ao seu lado, e o que vimos foi uma zona maravilhosa. Obviamente não ia perder a oportunidade de olhar a bateria de Dave Lombardo tão de perto, e interagir com a banda toda de forma única. Difícil descrever a sensação de subir no palco de um show assim e por alguns minutos sentir exatamente o que eles sentem. Nesse clima, os clássicos Possessed to Skate e I Saw Your Mommy brindaram os sortudos fãs ali presentes. Depois de organizar a bagunça, o baile segue com Cyco Vision. Ai  How Will I Laugh Tomorrow, para mim a melhor música da carreira do Suicidal, ganha uma versão inspiradíssima como exige. Aquele show de solos, partes lentas e pesadíssimas em 6 minutos que representam o auge da banda quase fazem meu pescoço ir pro espaço! Ainda do mesmo trabalho, Pledge Your Allegiance fecha a conta com mais uma invasão minha e de vários presentes para cantar ao lado de Mike Muir. O famoso coro de ST foi puxado, e a noite fechada com chave de ouro! 
        O Suicidal Tendencies promoveu um dos shows mais impressionantes que já vi. Com um set aparentemente curto, as versões foram trabalhadas e apresentadas de maneira impecavelmente pesada. A humildade única dos caras se via do primeiro ao último minuto. com todos entregando brindes aos fãs depois do show. Para mim, o guitarrista Dean Pleasants entrega uma palheta praticamente em mãos já com o palco sendo desmontado. Era o fim de uma noite gloriosa para o Hardcore no Rio de Janeiro. Que essa nova fase fantástica do Suicidal se prolongue, a boa música precisa disso!

terça-feira, 25 de abril de 2017

SHOW DO RAIMUNDOS - CIRCO VOADOR - RIO DE JANEIRO

     Assistir show do Raimundos no Circo Voador é quase uma tradição rockeira no Rio de Janeiro. A banda que há mais de 20 anos faz história no Hardcore com peculiar toque de Forró do país, marca presença na lona sagrada pelo menos 2x por ano desde que voltou a se estabelecer com a nova formação no cenário. Assim sendo, e levando em conta que Cantigas de Roda já foi lançado há três anos, é fundamental inovar no show para motivar o sempre fiel público. Isso não vinha acontecendo nos últimos shows. Dono de uma discografia rica em ótimos momentos, Digão, Canisso, Caio e Marquim vinham fazendo praticamente um  "ctrl c ctrl v" desde a comemoração de 20 anos em 2015. Reflexo disso era um Circo ainda cheio, mas um pouco menos do que em jornadas mais recentes. Felizmente uma mudança forte no setlist aconteceu, com sábias inclusões de verdadeiras pérolas da carreira da banda. O resultado foi uma das melhores apresentações do Raimundos desde que voltou com força total ao mercado. 
       O aquecimento foi uma ótima sacada. Hey Ho, Let's Go, uma trupe de instrumentistas de sopro e percussão, tiraram alguns clássicos eternos do Rock num instrumental super original. O resultado foi diversão geral. Para completar, em meio ao show eles foram para a pista do Circo, e ai que pegou de vez. Todas entoavam as letras de coisas como Smoke On The Water, Paranoid e Highway To Hell se divertindo, e para completar, com o palco já se adiantando para a atração principal da noite. 
    Lá pela 1h da madrugada, o Raimundos estava no palco do Circo encontrando o cenário tradicional. Aquela roda firme comendo solta do início ao fim da noite. O início parecia mais uma repetição. Ainda assim, uma repetição das boas. Sempre é agradável ouvir Puteiro em João Pessoa, Bê a Bá  com leve toque de Slayer e a pedrada Nêga Jurema - todas diretamente do 1o grande disco da banda. Ai veio a 1a mudança de script. Simplesmente Bonita senhores, um dos grandes momentos do sensacional Lapadas do Povo. Para fechar um começo de show irretocável, nada melhor que dar um pulo no Lavô ta Novo com Opa! Peraí, Caceta. O ingresso estava pago! Então a banda decide voltar para o trabalho mais recente. Baculejo é um dos ótimos momentos do Cantigas, e já está no coração dos fãs. Obviamente nada comparado ao hino O Pão da Minha Prima, que sempre coloca os presentes para pular no seu ritmo único. Com um som simplesmente perfeito para proporcionar ao mais que entrosado quarteto uma performance sempre correta, é hora do grande momento da noite. A espetacular Sereia da Pedreira, raríssima nos shows da atual fase, mata qualquer verdadeiro fã da banda do coração. Para aqueles de ocasião, vem a mais que manjada Mulher de Fases, seguida da igualmente batida A Mais Pedida. O legal é que dessa vez a banda decidiu dar um certo intervalo naquelas 5 ou 6 mais "calmas" que costumam vir em sequência. Com isso, Gordelicia vai se estabelecendo como a principal do trabalho mais recente. A insuportável Reggae do Manero acaba compensada com o que vimos até ali, sendo mais um momento para merecido descanso do formigueiro.
     Ai a coisa esquenta novamente com a maravilhosa Esporrei na Manivela - precedida de uma lembrança para o aniversário do baterista Caio. Ai mais uma novidade da as caras, dessa vez a pedrada Rapante - mais uma do 1o disco da banda tocada com sangue nos olhos. Com a 5a marcha engrenada, Palhas do Coqueiro promove um wall of death de respeito na pista do Circo Voador. Vida Inteira chega com uma importante lembrança de Digão. A música é uma versão inspiradíssima para o clássico samba de Arlindo Cruz, que se encontra internado por problemas cardíacos. Digão lembrou sua gentileza, que além de liberar a música, permitiu até porcentagens para a banda. É sempre bom lembrar que a boa música não se limita ao nosso seguimento, tendo em outros estilos verdadeiros gênios. Além disso, roqueiro trevoso que deseja morte de um artista de outro estilo se achando superior é um ser humano digno de pena. Lembra quando disse que Sereia da Pedreira foi o grande momento da noite? Então esse próximo número pode dividir com honras o posto. Cintura Fina é tocada pela banda pela 1a vez na cidade em toda essa sequência de shows. A letra genial num Hardcore daqueles presente no lado c da estreia deixa qualquer fã incrédulo! Então as batidas  I Saw You Saying (That You Say That You Saw), para mim a melhor dessa leva, e Me Lambe ficam até de bom tamanho. O clássico cover para 20 e Poucos Anos de Fabio Jr sempre causa grande efeito. A tradicional e indispensável Deixa Eu Falar encerra o tempo regulamentar.
     Para o bis, Canisso sobe sozinho para o rap genial Boca de Lata. Ai um Raimundos em dia inspirado fecha a conta com os clássicos Tora Tora e Eu Quero Ver O Oco - a maior roda da noite. Foi um show surpreendentemente magnífico como há tempos o Raimundos não proporcionava. Prestes a divulgar no palco do Brasil todo seu novo DVD acústico, o show do Circo foi anunciado como despedida temporária das guitarras. Obviamente não poderia ser diferente da apresentação irretocável apresentada aos cariocas. É possível sim agradar a turma mais mainstream com sons batidos e fazer a festa da turma do hardcore - esses sim os que não perdem um show - com uma discografia da grandiosidade daquela apresentada pelo Raimundos. O Circo Voador viu mais uma grande noite, num casamento sempre perfeito. 

sexta-feira, 7 de abril de 2017

WHITESNAKE 1987

    Com uma alma no Blues e doses do Hard Rock direto a moda setentista em seus primeiros lançamentos, o Whitesnake ganhava corpo a cada trabalho. A banda sempre teve no vocalista David Coverdale um líder, e praticamente como tradição as mudanças de formação - algo que nunca causou grandes estragos na música. Nesse ponto, arrisco a dizer que é a banda com mais trocas na história do Rock, ou algo próximo disso. Em 1987, a banda chegava com a obra-prima Slide It In ditando o ritmo da década e uma tour mundial que teve até o lendário show no primeiro Rock in Rio. O que fazer agora? Muito simples, apenas lançar seu clássico absoluto e um dos discos mais importantes da história do Hard Rock. Whitesnake 1987 não é um simples disco, mas sim uma verdadeira coletânea de grandes hinos do Rock N'Roll, indo das baladas até a porradaria mais direta em meio a uma aula de John Sykes (guitarras), Neil Murray (baixo) e Aynsley Dunbar (bateria) - acompanhantes do chefe na nova missão. 
       Quer baladas mais Hard oitentista possível? Aqui tem Is This Love, que é talvez a mais conhecida delas. Looking for Love e a nova roupagem para Crying in the Rain não deixam por menos. Ai está com vontade de ouvir uma aula detalhada de Rock N'Roll em solos de tirar o fôlego e interpretação vocal digna dos grandes? Toma a magnífica Still of the Night para bater cabeça durante seis minutos no auge da carreira de Coverdale. Agora porradas bem dadas no melhor que o Hard Rock verdadeiro proporciona, nada melhor que a irresistível Bad Boys, a mais que clássica Give Me All Your Love e Children of the Night. E nada melhor que o hino definitivo Here I Go Again numa versão muito melhor que a lançada pela banda anteriormente para matar de vez o coração de qualquer fã. Notou que eu só citei clássico até aqui não é? Pois bem, agora essa verdadeira obra-prima ainda nos oferece mais! Don't Turn Away, uma das melhores e mais trabalhadas do Whitesnake, Straight for the Heart e You're Gonna Break My Heart Again fecham a conta de um daqueles discos que te faz pirar a cada segundo! 
        É muito complicado falar sobre uma obra irretocável. Whitesnake 1987 é uma dessas, e completa 30 anos ainda criança para os fãs da banda. O disco passou a ser base para qualquer show até os dias de hoje, já que apresenta simplesmente um apanhado de clássicos. Se você conhece bem o estilo, já tem esse repertório na ponta da língua. Mesmo assim, não custa lembrar sua relevância nesse grande aniversário de trinta anos!


quinta-feira, 6 de abril de 2017

ROCK IN RIO: ENTRE ALTOS E BAIXOS, UM SALDO POSITIVO NAS ATRAÇÕES PRINCIPAIS

    Falar do Rock in Rio sempre desperta paixões e diferentes visões entre os fãs de Rock no país. Muitos sabem, mas nunca é demais lembrar que o nome do festival não remete apenas ao estilo, mas sim ao termo "festejar" em Inglês. E sim, atrações de outros estilos se fizeram presentes desde os primórdios. Já falei também aqui, mas não custa repetir que a realidade do mercado no estilo em 1985 e 1991 era completamente diferente - tanto nas paradas de sucesso quanto no número de gigantes em ação. Não pretendo me alongar muito, então vamos direto ao que interessa - a edição de 2017 do evento. 
     O festival promoveu suas bizarrices tradicionais e cometeu erros graves. É duro ver apenas o Sepultura representando o Heavy Metal no Rock in Rio, e isso como uma atração mais que manjada por lá. Se os Headlines do estilo que carregam 80 mil pessoas num dia talvez se limitem a nomes como Metallica, Iron Maiden, Ozzy Osbourne, System of a Down e quem sabe Judas Priest bem "auxiliado", nada impede que outros nomes componham o cast. Ao invés disso, foram chamadas atrações que até tem valor no seu estilo, mas que não combinam nem um pouco com o público que nomes como Aerosmith e Guns N'Roses carregam. De interessante entre os brasileiros, vi apenas o Ney Matogrosso com Nação Zumbi tocando Secos & Molhados e Titãs. Fora isso, uma coleção de nomes como Capital Inicial e Jota Quest (que tortura para o pobre fã do Bon Jovi!), mais manjados no festival que o especial de fim do ano do rei Roberto Carlos na Globo, e as tradicionais bandas "pagas" que o público não sabe de qual buraco saiu. Se tem dúvida, procure a entrevista do Doctor Phoebes assumindo a prática que rendeu para eles aberturas de, pasmem, Black Sabbath, Aerosmith, Guns N'Roses e Rolling Stones, além de participações no Lollapalooza, Monsters of Rock, Maximus e o próprio Rock In Rio. Isso são os que lembro agora, mas garanto que tem muito mais! Enfim, em relação ao palco sunset e shows brasileiros, o Rock in Rio de 2017 foi um desastre. Para não falar só em erros, um nome merece todo destaque do mundo entre os shows do dito "Palco secundário". Alice Cooper, que dispensa maiores apresentações, promete uma bela parceria com o não menos genial Arthur Brown.  
       Claro que erros também aconteceram em relação a bandas gringas. Submeter os fãs de Red Hot Chili Peppers a uma banda como 30 Seconds to Mars e o fã do Aerosmith a Fall Out Boy é brincadeira de péssimo gosto! Incubus também passa longe de me agradar, mas não chega a esse nível. Já Tears For Fears também não faz minha cabeça, mas respeito sua história e vejo como bem pertinente sua participação no dia do Bon Jovi - em que pese o lançamento de apenas um disco nos últimos 22 anos (!). Neste mesmo dia, a presença do Alter Bridge foi uma grata surpresa. Enfim, vamos falar do grande gol do Rock In Rio.
      Nesse ano, o acerto está na dupla de atrações principais de cada dia. Destaco entre todas os inacreditáveis shows do Def Leppard e The Who no Brasil, feito que só o senhor Medina é capaz de realizar. Fora eles, Offspring também faz uma bela dupla com o sempre interessante Red Hot Chili Peppers. Aerosmith E Guns N'Roses apareceram aqui ano passado mesmo, mas nunca fazem feio. Dois shows espetaculares com satisfação garantida! Já o Bon Jovi passa por um momento péssimo em estúdio, e no palco mesmo já esteve bem melhor em tempos recentes. A ausência de Sambora pesa demais, mas a história de uma banda com Slippery When Wet e New Jersey no currículo faz valer um pingo de esperança de vermos o senhor Jon, atualmente mais dono do que nunca,  numa boa jornada. Vou arriscar nessa. Em resumo, ótimos nomes para comandar o palco mundo, e erros em atrações menores, que coisas como The Who e Def Leppard minimizam. Do primeiro fim de semana, não pretendo comentar. O festival promove misturas, e de outros estilos, vale lembrar que Lady Gaga por exemplo é uma moça talentosíssima! Num total, quatro dias de Rock com grandes bandas em todos já vale a edição. 
      Entre erros e acertos, o crédito do festival em 2017 é positivo na minha avaliação. Será que em 2019 os erros serão corrigidos? Duvido muito, o festival segue uma linha muito clara de bizarrices desde sua fundação. No final, me resta agradecer a mais alguns sonhos realizados por esse festival que promove desde 1985 uma revolução no mercado brasileiro de shows.