quarta-feira, 18 de outubro de 2017

SHOW DO PAUL MCCARTNEY - ALLIANZ PARQUE - SÃO PAULO

     Não custa lembrar alguns detalhes que envolvem qualquer apresentação desse homem. Paul McCartney é para mim o maior artista vivo e ativo. Ele tem a disposição o repertório da maior banda da história - da qual foi membro de extrema importância - além de uma carreira solo e com o também clássico Wings extremamente rica em grandes músicas. Ainda assim, não para de lançar material novo. Paul McCartney tem 75 anos, uma idade na qual muitos estão se arrastando por ai. Poderia fazer um show burocrático de 15 músicas esticadas em 1h30 e ninguém ficaria puto. Não só oferece quase 40 de seus clássicos em 2h40 sem enrolação, como faz isso transbordando energia, tocando diversos instrumentos e cantando divinamente sem nenhum recurso para facilitar sua vida - talvez com um alcance um pouco menor do que o que vimos em 2014, mas ainda muito bem. O que precisa falar desse verdadeiro fenômeno da natureza que é um show do Sir? 
       Com um Palestra transbordando de gente a cada mínimo espaço, o cenário era de louvação a um Deus do Rock, responsável pelas bases de absolutamente tudo que veio depois no estilo. Vale lembrar que o estádio do Palmeiras está a altura de algo tão grandioso. Muito bem localizado e numa estrutura invejável que inclui cadeiras de cinema na arquibancada, tava tudo perfeito para o som exatamente no ponto que rolava no palco pontualmente às 21h daquele domingo frio em São Paulo. Abe Laboriel Jr (bateria), Paul “Wix” Wickens (teclado), Brian Ray e Rusty Anderson (guitarras) são os fieis companheiros do homem há tempos, e demonstram total entrosamento no passeio pela história do Rock que estava para começar.
      Paul gosta de chegar com o pé na porta, e a escolhida da vez foi o hino A Hard Day's Night, que da nome ao 3o disco dos Beatles e ao filme mais legal dos feitos pela banda. Obviamente, o estádio veio abaixo. Junior's Farm, um rockão daqueles no auge do Wings, não deixa por menos. Para arrematar a trinca inicial, outro hino dos Beatles que é novidade na tour - Can't Buy Me Love. Era geral aquele sentimento de perplexidade. Quem estava ali era Paul McCartney amigos, e isso já basta para arrepiar a alma de qualquer fã de Rock. Com aquele carisma de sempre, misturando o português com sotaque local tirado nas tradicionais aulas pré-show com o Inglês de cavaleiro da rainha, fala o necessário para se sentir intimo daqueles 40 mil beatlemaníacos presentes, mas sem nunca tirar o foco do que interessa. 
       A brincadeira segue com Jet, parte obrigatória de todo show. A novidade no set é Drive My Car, abertura do espetacular Rubber Soul. De Beatles para Wings, Let Me Roll It mostra aquele show de riffs que Paul sempre da quando se "arrisca" na guitarra. Na mesma pegada, I've Got a Feeling nos leva direto para Let it Be. Ai damos um pulo no presente, com My Valentine sendo dedicada a atual senhora McCartney - dizem as más linguas que sua presença no set é quase uma imposição da mesma. Longe de ser próxima da preterida My Love, mas tem seu valor. Nineteen Hundred and Eighty-Five é outra que sempre aparece nos shows, mas nunca falha. Qualquer coisa de Band on the Run é sempre uma boa pedida. Com a temperatura no máximo, a magnífica Maybe I'm Amazed - escondida no 1o disco solo de Paul -, arrepia como poucas! Numa sequência de arrepiar, vemos  uma tal de We Can Work It Out, aula de melodia que os Beatles sabiam fazer com simplicidade única dos gênios. Agora chegamos num dos auges da noite. In Spite of All the Danger, como bem lembrado por Paul, remete aos primórdios. Ela é uma música do The Quarrymen, banda de Harrison, Lennon e McCartney antes dos Beatles. Naquele momento para fã de verdade, o Sir arruma um arranjo único e impecável para um verdadeiro achado no setlist. Já que o clima era de viagem até o passado mais remoto, nada mais justo que ir direto para o 1o disco dos meninos de Liverpool com Love Me Do - apresentada por Paul como a 1a gravada em Abbey Road e dedicada a um dos dois 5o's Beatles, o produtor George Martin. A gaita mais que clássica, a cargo de Paul Wickens, emociona profundamente o estádio inteiro. Era uma época crua e maravilhosamente perfeita.
      O que temos depois é a trinca acústica mais maravilhosa possível. São elas And I Love Her - "dançada" por um Paul transbordando carísma - e Blackbird - com uma letra fantástica sobre os conflitos raciais da época, devidamente apresentada por Paul como uma ode aos direitos humanos universais - dos Beatles e a épica Here Today, que nada mais é do que um tributo a Lennon. Meu amigo, não tem como conter emoção quando McCartney apresenta ela falando que a letra fala de uma conversa que nunca aconteceu. De alguma maneira, ela toca profundamente não só quem tem Lennon no coração, mas também aqueles que um dia perderam alguém importante. Depois de tanta emoção, veio uma amostra do disco mais recente. São elas as ótimas Queenie Eye e New. Nesses momentos vemos como o disco envelhece bem, sem perder fôlego ao vivo. O novo é bom, mas os anos 60 são inigualáveis. Por isso, tome Lady Madonna. Até FourFiveSeconds, recente parceria com Rihanna e Kanye West, fica muito legal.  Claro que nada comparado a pedrada emocional Eleanor Rigby, lamentavelmente a única representante da obra-prima Revolver. I Wanna Be Your Man, novidade apresentada por Paul em tom de brincadeira por sua ligação hostórica com os Stones, é mais uma dos primórdios dos Beatles a dar as caras. Ai Being for the Benefit of Mr. Kite! mostra um pouco do que o cinquentão Sgt. Pepper's representou na história do Rock. Era um ensaio de reta final numa sequência alucinante de clássicos eternos. Era vez de George Harrison ser celebrado com sua composição mais icônica, que atende pelo nome de Something - com direito a tradicional introdução com Ukulele. Se já não estivesse legal o bastante, uma bomba atômica chamada A Day in the Life vem para arrematar o show de vez, incluindo o medley com Give Peace a Chance. Ob-La-Di, Ob-La-Da anima como poucas, e Band on the Run mostra o porque de ser para mim a melhor composição do Wings no auge do fantástico disco de mesmo nome. Seu arranjo é primoroso e cada audição mais agradável. Back in the U.S.S.R. é mais um rockão com a marca 60' estampada. Para termos noção de genialidade do homem que estava naquele palco, foi ele que registrou a bateria dessa música em meio a uma breve debandada de Ringo na gravação do White Album. Let It Be está para mim naquela categoria de clássicos que, por mais "manjado" que seja, sempre devasta o coração. O espetáculo de luzes do público deixa tudo ainda mais épico. Já Live and Let Die tem a tradicional pirotecnia, que num volume no talo faz o chão da arquibancada que eu estava tremer! Ai Hey Jude fecha a parte regular nuaquele coro inigualável, nessa jornada acompanhado por placas escritas "na,na,na,na" entregues aos presentes no acesso ao estádio. O resultado emociona McCartney visivelmente, que puxa um "agora os manos" e "agora as minas" impagável ao comandar seus devotos.
       Sabemos que até o bis é farto num show do Beatle. Ele e a banda voltam com bandeiras do Brasil, Reino Unido e Arco-Iris - sempre necessária em tempos de tamanha intolerância. Começando com a incomparável Yesterday, mais uma porrada no coração do auge da simplicidade genial dos meninos de Liverpool.  Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (Reprise) vem celebrando pela última vez o icônico disco, tendo Helter Skelter - um dos primeiros legítimos Hard Rock's que se tem notícia -, chegando sem um segundo de descanso. Birthday é uma escolha peculiar, numa seleção de riffs responsáveis pela base de muito do questava por vir. Era chegado o fim, e a melhor forma de fazer isso é com a sequência final de Abbey Road - sem contar com Her Majesty, o maior lado z do Rock. Estou falando de Golden Slumbers, Carry That Weight e The End.
         Sempre arrepia o fim de um show desse senhor a cada ano que passa. O sentimento que temos ao pensar na possibilidade sempre real de ter sido o último encontro é inevitável. Estamos falando de um senhor de 75 anos que se recusa a aceitar sua idade. Ver Paul McCartney ao vivo é testemunhar um gênio que ama o que faz, não se contentando com pouca coisa. Até onde seu corpo vai aguentar o ritmo, é impossível saber. Esperamos que ainda role muitas noites como essa. Enquanto Paul McCartney estiver fazendo o que fez no Allianz Parque, teremos a certeza que o Rock ainda está vivo.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

ROCK IN RIO 2017

    E pela 4a vez na década, lá estava o Brasil pronto para receber uma edição de seu maior festival. Com todas as transformações desde que revolucionou tudo em 1985, o Rock in Rio nunca deixa de entregar alguns shows espetaculares para quem larga o choro de computador e comparece ao local. Dessa vez, era casa nova. A Cidade do Rock no mínimo dobrou, obrigando caminhadas longas num espaço de perder de vista onde se acumulam ginásios usados nas Olimpíadas de 2016. Quem foi deveria estar pronto para uma verdadeira jornada para fazer qualquer coisa, desde a chegada ao distante Parque Olímpico até ao próprio espaço dos shows. Nessa nova casa, também aumentavam as atrações. Além dos tradicionais brinquedos, tínhamos ginásios com estandes que criavam um outro evento dentro do Rock in Rio - por horas até parecia que não estávamos num show de Rock. Em resumo, quem pouco se importava com as bandas ainda assim teria satisfação garantida. 
    Com diferentes palcos, os destaques continuam sendo o que acontece nos já clássicos Sunset e, obviamente, Mundo. Nesses ai, tivemos um fim de semana final com headlines de impacto nos quatro dias e algumas outras atrações tão grandiosas quanto. Eu entrei nessa maratona entre 5a e domingo, basicamente dormindo, acordando, comendo e partindo para mais um dia de shows. Vamos começar a falar do que interessa, os grandes momentos do 2o fim de semana de Rock in Rio, todo do público roqueiro - um acerto da produção que visava facilitar a vida dos que viajaram até o Rio de Janeiro e se interessavam por mais de um dia de evento. 

Dia 21

     A maratona começa com o seu dia mais Hard Rock. Alice Cooper, Def Leppard e Aerosmith, três monstros sagrados do estilo, eram os donos da festa. Sim, seria ainda mais épico se Billy Idol realmente estivesse lá, e não o famigerado Fall Out Boy, mas ainda assim não tinhamos do que reclamar. O público era enorme, mas um pouco menor que nos dias que estavam por vir. Longe de deixar espaços vazios como o Slipknot em 2015, mas uma prova cabal das dificuldades de se arrumar um headline para 100 mil pessoas. Quando o assunto era alimentação e bebida (leia-se cerveja), a organização deu show de boas opções para driblar filas. Verdadeira aula para o caos entregue no Lollapalooza desse ano! Estava tudo pronto para as estrelas brilharem. 
    Cheguei lá próximo ao show do The Kills, o 3o do palco sunset do dia. Uma banda totalmente deslocada, naquela levada bem típica de 99% dos que tocam no já citado Lolla, era um estranho no ninho. Não era descartável ou ruim, apenas não atendia a necessidade de muitos que lá estavam. Como resultado, tivemos um público pequeno e desatento. Mas era depois que a coisa esquentaria de vez.

Alice Cooper
      Mesmo com o ótimo Paranormal saindo do forno, uma das maiores lendas-vivas do Rock focou apenas em um apanhado de clássicos de seu vasto repertório para a rápida apresentação no Rock in Rio. Na hora disponível, Alice tentou reduzir seu show normal da tour para tal - incluindo a participação de Arthur Brown no final. Nesse breve tempo, entregou um dos melhores shows do festival. Todos sabem que o homem não faz uma simples apresentação musical, e sim um espetáculo teatral completo. Acompanhado de Chuck Garric (baixo), Glen Sobel (bateria), Ryan Roxie,Tommy Henriksen e da belíssima Nita Strauss (guitarras), Cooper fez o que sabe de melhor desde os anos 70. Chocou a multidão que se juntava de frente para o palco Sunset. A relativamente nova Brutal Planet começou os trabalhos, sendo seguida pelos hinos eternos No More Mr. Nice Guy, Under My Wheels e Poison. Nita mostra seus predicados antes da magnífica Halo of Flies - para mim o ponto máximo de todo o show! Escolha ousada e arrepiante num set curto. A pérola de Killer (1971) foi a deixa para um solo de bateria daqueles, seguido de Feed My Frankenstein com o próprio monstrengo no palco. Então Cold Ethyl e Only Women Bleed - outro momento de arrepiar -, apresentam ao Rock in Rio um tal de Welcome to My Nightmare. Ai a famosa decapitação de Cooper ocorre para o delírio geral, ao som de I Love The Dead. 
      Ai acaba a parte minimamente regular do show, já que o que vemos em seguida é uma verdadeira celebração de um estilo. Arthur sobe ao palco maquiado e ardendo em chamas para tocar Fire, um de seus clássicos. Não só ele, mas um pequeno reforço do headline da noite - um tal de Joe Perry. Deu para sacar o nível da brincadeira né? Para fechar a conta, toda turma brinda o público com o hino máximo  School's Out. Uma verdadeira celebração ao Hard Rock setentista! Não foram poucos os que acharam esse show o melhor do festival - e não posso tirar a razão. Uma pena termos tempo tão reduzido a ponto de não poder rolar coisas do porte de Elected, Billion Dollar Babies e I'm Eighteen, mas são coisas de festival. Que a titia volte logo num show só seu!

     Era hora de recuperar as forças depois desse verdadeiro espetáculo. Nessas horas, um show que pouco interessa cai como uma luva. Assim como foi com o Scalene - que ralou muito para estar ali, é bom lembrar -, na hora do show do Fall out Boy o corpo clamava por descanso na preparação para o que estava por vir.

DEF LEPPARD
      Ai chega o momento de mais um tremendo feito do senhor Roberto Medina. Não é algo simples poder ver o Def Leppard no Brasil. Passados 20 anos do retumbante fiasco da 1a turnê, ninguém queria arriscar uma 2a chance aos ingleses com cachê compatível ao shows de arena que fazem nos EUA. Os fãs esperam pacientemente por todo esse tempo, sonhando em quem sabe um dia ver esse gigante do Hard Rock em ação. No Rock in Rio 7, essa espera chegava ao fim. Era hora de, enfim, ver Joe Elliot (vocal), Rick Savage (baixo), Rick Allen (bateria), Vivian Campbell e Phil Collen (guitarras) em ação. 
     Os caras chegam divulgando o disco que leva o nome da banda, lançado em 2015. Com um número considerável de camisas ostentando seu nome pelo local, eu esperava participação até maior, mas o que se viu foram muito mais rostos curiosos com a forma física incrível de Phil Collen e com a eterna superação de Allen em fazer o impossível do que qualquer outra coisa. Também não podemos esquecer que quem estava ali era a fã base do Aerosmith, conhecida por não conhecer decentemente nem o próprio Aerosmith - quem dirá os outros. Seja como for, só de ter esses senhores no olhar já valia uma vida!
     Num set um pouco menor do que o usual, o recado precisava ser direto. Numa entrada discreta, o show começa com Let's Go - nova que remete diretamente ao auge da banda. Legal, mas o que todos queriam era cair de cabeça nos clássicos. O primeiro deles foi Animal, um dos grandes momentos do trintão Hysteria. A coisa fica ainda mais emocionante com Let it Go, representando a obra-prima High 'n' Dry. Quem esperou por tanto tempo simplesmente não poderia crer naquilo. Passado o susto, era possível avaliar o quanto esses caras passaram bem pelos anos de estrada e todas as dificuldades de uma história rica em tragédias. O Def Leppard continua sendo aquele que chocou o mundo com seus clássicos oitentistas.
     Seguindo o baile, hora de arrepiar a alma com Love Bites, balada que a banda sabe como poucos fazer. Ai a pedrada Armageddon It, em sua melodia única regada a uma riferama daquelas, mostra como Hysteria só melhora com o passar do tempo. Ai vem o único equivoco do setlist, e minha única crítica a apresentação. Num tiro tão curto, é duro termos a no máximo ouvível Man Enough ocupando um espaço que, pelo que vinha sendo apresentado, caberia a uma pérola como Foolin. Até entendo que é importante para a banda mostrar seus trabalhos novos, mas nessa ai faltou sensibilidade. O bom é que dali para frente, era só hino Hard. A pedrada Rocket coloca tudo em seu devido lugar, seguido pela magnífica Bringin' on the Heartbreak - que no auge de High 'N' Dry mostrou ao mundo essa faceta do Def Leppard tão bem explorada nos trabalhos seguintes. Ainda nele, vemos a perfeição instrumental de Switch 625, um dos momentos que remete diretamente a origem da banda na NWOBHM. Obra e graça de um gênio chamado Steve Clark, para mim o maior responsável pelo Def Leppard ser o que é.
      Para a reta final a coisa esquenta ainda mais. Uma seleção com alguns dos maiores sucessos da banda vem em sequência para lavar a alma de seus fãs. E nenhum deles resiste a audição de Hysteria, Let's Get Rocked, Pour Some Sugar On Me, Rock of Ages e Photograph em sequência. Foi simplesmente único poder cantar junto de Elliot essas maravilhas que marcaram nossas vidas. A justa redenção de uma banda que sempre mereceu maior atenção no Brasil finalmente acontecia. Eu duvido que mais alguém tenha a ousadia de Roberto Medina e faça isso ser possível novamente, mas só de poder ver o Def Leppard em ação na nossa casa me da um sentimento maravilhoso!

AEROSMITH
       Coube ao lendário Aerosmith a missão de fechar a noite. Acumulando visitas ao Brasil nos últimos anos, eles finalmente estreiam no Rock in Rio. Uma multidão de 100 mil pessoas se junta em frente ao palco mundo para celebrar o legado de uma das bandas mais importantes da história incrivelmente ainda com sua formação original - o que ajuda muito na performance sempre devastadora. Eles não lançam nada desde 2012, mas é daqueles casos que realmente não tem a menor necessidade. Depois de um clipe sensacional que passeia pela história da banda, Steven Tyler (vocal), Tom Hamilton (baixo), Joey Kramer (bateria), Joe Perry e Brad Whitford (guitarra) chegam dispostos a mostrar parte dela para seu público. 
      A abertura vem com Let the Music Do the Talking, uma das que se salvam de um período obscuro dos caras em meados dos anos 80. Ai a obrigatória Love in an Elevator chega para botar aquele sorriso no rosto de quem nunca cansa de ouvir esse clássico ao vivo. Cryin' é uma das poucas que cativa o povão. Não é de hoje que falo, mas não custa repetir. O público do Aerosmith é um dos piores do Rock em nível de participação e conhecimento do que a banda produziu. Sua participação sempre se limita a poucos números. Ainda assim, a banda sempre compensa com uma performance impecável. 
       Dessa vez, a participação de Tyler com voz em dia e muito agito no palco teve ainda mais impacto por tudo que descobrimos dias depois. Ainda é tudo muito incerto, mas o que podemos afirmar é que o homem não estava nada bem ao longo da tour no continente. A coisa piorou mesmo no show seguinte, em São Paulo, que dizem ter acontecido no sacrifício. Relatos de que os cuidados incluíam até sonda para Tyler urinar. O limite foi esse, e as apresentações seguintes foram canceladas por ordens médicas. Sim amigo, uma das maiores figuras que existem no meio deu mais uma prova de sua devoção ao público que faz o Aerosmith ser o que é. 
          Livin' on the Edge continuou em Get a Grip, mostrando mais uma vez como é uma das coisas mais lindas que o Aerosmith já produziu. Depois a mais que manjada Rag Doll tem o tradicional furação Tyler em ação, com direito até a selfie com um dos muitos câmeras voluntários que não largam o celular durante um minuto sequer. Falling in Love (Is Hard on the Knees) é uma das novidades no roteiro em relação as últimas visitas. Seu refrão forte fica divertido ao vivo, valendo a lembrança. Ai Joe Perry da seu show vocal na magnífica Stop Messin' Around - o único cover necessário de todo show ao meu ver. Já Oh Well poderia muito bem ser substituída por qualquer coisa dos ignorados Rocks e Draw the Line. Pelo menos serviu para mistrar os incríveis dotes do senhor Joe Perry. Crazy atende os incessantes pedidos do povão, e obviamente foi muito cantada com milhares de celulares pra cima em gravações completamente descartáveis num show transmitido ao vivo. Na mesma pegada, I Don't Want to Miss a Thing promove o espetáculo de sempre em shows, onde ela cresce muito. Mesmo com um set completamente focado nos anos 90, coisas como Amazing, Angel e Janie's Got a Gun manteriam a pegada deixando tudo muito mais interessante. A porrada Eat the Rich é outra desse período a constar no roteiro. Depois de mais um cover já tradicional, Come Together, finalmente damos uma voltinha nos anos 70 com a magnífica Sweet Emotion - muito melhor no encerramento como foi em 2016.  Dude (Looks Like a Lady), outra bem manjadona, fecha a parte regular de um set que poderia muito mais. 
        Ai vem sempre aquele momento de fazer qualquer ser decente ficar arrepiado. Estou falando de Dream On, que sempre causa uma devastação emocional quando aparece. A não menos obrigatória Walk This Way encerra essa grande noite de Hard Rock legítimo. Sim, foi de longe o setlist mais fraco que já vi nos quatro shows do Aerosmith que compareci. Sem dúvidas ele deu uma sensação brochante depois do espetáculo que vimos no Allianz Parque em 2016. Ainda assim, a alma que os caras entregam a cada show sempre faz de uma noite com Aerosmith no palco algo especial. É muito bom aproveitar enquanto aguentam o tranco. É torcer para boas notícias para a saúde de Tyler, nós precisamos de um Aerosmith ativo! Fim da 1a parte da festa, é hora de encarar a procissão que se retira do local para suas distantes casas, descansar alguma coisa e me preparar para o dia seguinte. 

         
       DIA 22
       
       Era uma sexta-feira triste para o Rio de Janeiro. A comunidade da Rocinha estava em guerra, com seus moradores acuados diante disso. Como consequência, vias importantes foram interditadas e o trânsito deu um nó. Com tudo isso, o metrô/brt, melhor maneira de chegar ao Rock in Rio, foram lotados até o talo ao longo da tarde. Num cenário desses, a música do festival chegava para colocar um sorriso no rosto de muitos para tentar por algumas horas esquecer dos problemas dessa cidade entregue pelo poder público. Era uma noite com dono, o Bon Jovi, mas muito bem acompanhado por Tears for Fears, Alter Bridge e grande elenco. As duas principais tinham um forte apelo com a turma acima dos 40, que se misturavam aos jovens atraídos pelos hits e um ou outro legítimo fã de Hard Rock. O Bon Jovi vem se afastando do estilo de uns tempos pra cá, mas tem crédito de sobra, e da minha parte sempre terá alguma expectativa para shows. Era visível também que o público aumentou em relação ao dia anterior.
       Com toda a maratona toda que envolve o festival, acabei chegando apenas por volta das 19h por lá. Estava rolando o show daquela tragédia musical chamada Jota Quest. Impressionante como alguns músicos realmente talentosos acabam engolidos por um vocalista na profissão errada cantando letras pra lá de questionáveis num ritmo pra lá de descartável. Para completar, ver os caras em tal situação no Rock in Rio tá longe de ser uma grande novidade. Enfim, por hora preferi distância do palco mundo.
       No encerramento do Sunset, a coisa começaria de verdade. Uma união do lendário Ney Matogrosso com a grande Nação Zumbi - sempre relevante -, prometia um show daqueles. O foco do repertório era o Secos & Molhados, uma das bandas mais importantes que esse país já viu. Na prática foi um punhado de seus clássicos com alguns outros sons grandiosos da nação. A mistura de estilos funcionou, com uma multidão cantando cada verso e lotando cada espaço mínimo na área do palco. Tome S&M com Tem Gente com Fome, Delírio, Fala, Assim Assado, Amor e os hinos Sangue Latino e a arrepiante Rosa de Hiroshima. Dos pernambucanos, veio coisas como Maracatu Atômico, Cicatriz, Um sonho e o clássico Quando a Maré Encher, fechando o show. Uma grande apresentação com o fino da música brasileira tocada por mísicos pra lá de talentosos. Ponto pra organização!
      Em sequência, mais um show muito legal do dia. O Alter Bridge representa uma das coisas mais legais que surgiu no cenário do Rock N'Roll dos últimos 15 anos. Ouvindo o que o grande vocalista Myles Kennedy faz com a banda, podemos facilmente perceber muitas das referências que ele carregou nos discos que gravou com Slash. Sua voz é sem dúvidas o grande destaque do trabalho desenvolvido pelo AB, que também mostra um ótimo trabalho de riffs e solos. Num set de 10 músicas e muita emoção para os fãs que aguardam há tempos sua estreia no Brasil, rolou um breve passeio pela curta discografia da banda, tendo destaque no já marcante Blackbird. Músicas já conhecidas como Addicted to Pain, Metalingus e Open Your Eyes garantiram aos caras um grande show, e ao público um sentimento de dever cumprido depois de tanto tempo. Foi curto, intenso e deixou aquele sentimento que clama por um breve retorno com set completo. Um Rock N'Roll direto e sem firulas nunca dá errado.
     O Tears for Fears chegou abraçado pelo público. Não sou seu maior fã, longe disso, mas é inegável que os caras tem uma bela coleção de hits que cabem muito bem num festival assim. Dividiu facilmente com o Bon Jovi o status de líder da noite. Mesmo vendo de longe, para tirar aquele ar antes do próximo show, deu para sacar a vibe positiva transmitida. É um show daquele estilo Lulu Santos, onde nem que seja perdido em algum lugar sintonizado naquelas rádios de tiozão, qualquer um já ouviu umas boas 5 ou 6 músicas deles. Mesmo completamente parados no tempo, o que foi produzido já garante aquela cantoria.  Everybody Wants to Rule the World, Head Over Heels, Pale Shelter, Break It Down Again, Shout e até um cover diferentão para Creep do Radiohead garantiram ao público aquela viagem no tempo. Inegavelmente um ótimo show!

BON JOVI
     Depois de alguns ótimos números, era a vez do Bon Jovi entrar em ação. A nova formação já está aquecida, com disco novo no mesmo nível duvidoso de todos os últimos lançamentos - mas bem melhor que o trágico What About Now -, e um set bem mais interessante do que aquele fraquíssimo que vimos em 2013. O cenário era ótimo para um show digno do nome que um dia gravou New Jersey e Slippery When Wet. Obviamente que um cara como Richie Sambora faz muito falta na turma, mas é inegável que Jon acertou em cheio no substituto Phil X - inegavelmente um grande guitarrista. O agora mais líder do que nunca está ao lado dos velhos companheiros  Tico Torres (bateria), David Bryan (teclados) e Hugh McDonald (baixo). Uma banda uma tonelada mais leve do que aquela de 2013 chega pronta para divertir os presentes. 
      This House Is Not for Sale é a escolhida para dar início a brincadeira. Se passa longe de ser capaz de figurar como sobra de estúdio do New Jersey, pode ser classificada no grupo de 10 a 15 "legais" que temos nos lançamentos mais recentes, e supera com sobras o que vimos no disco anterior. Então o clássico Raise Your Hands trata de esquentar de vez as turbinas, dando aqula agitada nos presentes com o refrão contagiante. Já dava para ver que mesmo não sendo uma banda no auge da forma, era algo bem mais consistente do que vimos naquele show constrangedor de 2013. Se depois de tanto tempo, finalmente a voz de Jon sente o baque dos anos de estrada, ele tenta compensar na raça e em boas escolhas para o set. A nova Knockout passa despercebida, mas é na dobradinha infalível You Give Love a Bad Name e Born to Be My Baby que vemos a eterna força dessa grande banda. Lost Highway já virou fixa, mas pelo menos dessa vez não houve aquele exagero de coisas do disco. Dispensável mesmo é Because We Can, por mais que Jon tente agitar os presentes com seu violão. Antes que a coisa fique chata com muita novidade, a marcha sobe novamente com a sensacional I'll Sleep When I'm Dead. O chefe parece ter recuperado a alegria de tocar seus maiores clássicos, e anuncia a emblemática Runaway com um sorriso no rosto. Essa é daquelas que sempre arrepia ao vivo. We Got It Goin' On volta a uma fase mais recente, mas está na cota das coisas legais - ou ouvíveis - que rolaram nesse período. Então vemos o auge do show, com simplesmente Someday I'll Be Saturday Night - em que pese a versão acústica ainda muito legal, mas pior que a elétrica -, e a balada linda Bed of Roses. Esse é o Bon Jovi que sempre queremos ver em ação! It's My Life chega com o status de clássico que já ostenta, sendo mais que obrigatória em qualquer show. Ainda em Crush, Captain Crash & the Beauty Queen From Mars - igualmente legal -, faz mãos balançarem ao longo da pista lotada. A nova Roller Coaster é outra bem aceitável presente no disco novo, mas em meio de tanta coisa clássica acaba passando despercebida.
    Daqui pra frente a coisa ferve. Ouvir coisas do porte de Wanted Dead or Alive,  Lay Your Hands On Me (!!!), Keep The Faith e Bad Medicine na sequência sempre é de arrepiar. Ai temos a famosa pausa para o bis, cercada de expectativas pelas maravilhas que rolaram em shows da mesma tour. Infelizmente, ai vem a nota negativa. Apenas Have A Nice Day e o hino máximo Livin' on a Prayer para fechar a conta. Só do que era previsto, acabaram cortadas In These Arms e I'll Be There For You, mas a coisa fica ainda mais feia quando olhamos os outros shows e damos de cara com These Days e Blood on Blood. O público, bem "Nível Aerosmith de fã" em participação, pedia Aways sem parar, mas foi solenemente ignorado. Foi um grande show, com boas músicas e uma banda razoavelmente em forma, mas é inegável que os cortes deixaram um gosto de quero mais do tamanho de um elefante. Mesmo assim, foi uma impressão muito mais digna do que a deixada no Rock in Rio de 2013.

DIA 23

     O sabadão no Rock in Rio era um dia diferente. Noite de dois headlines e público proporcional. Posso afirmar que foi o dia de Rock in Rio mais cheio que vi desde 2011. Não é possível afirmar nada da venda, mas era muito claro que o público desse dia era visivelmente maior. O que se via pela enorme Cidade do Rock era gente a cada buraco e filas maiores, mas ainda assim sob controle para quem tinha paciência de procurar a melhor opção. O motivo era simples: era uma noite com o comando singelo de The Who e Guns N'Roses. Precisa dizer algo mais? 
       Como na minha opinião o palco sunset do dia era nulo, já cheguei direto para ver o Titãs abrir os trabalhos do Mundo. Um dos nossos melhores grupos era uma escolha indiscutível. A reação de uma pista lotada era aquela cantoria tradicional num repertório tão clássico. As "de sempre" Lugar Nenhum, Televisão, Sonífera Ilha, Cabeça Dinossauro, Polícia, Homom Primata e Flores, entre outras, dividem espaço com uma escolha bem ousada. Lançar três novas antes mesmo do disco sair. A Festa, 12 Flores Amarelas e Me estuprem mostram que vem ai mais um trabalho bem legal para a coleção. No mais, temos a experiência sempre agradável de ouvir Desordem ao vivo, e um fechamento digno do atual cenário com Vossas Excelência. Um baita show para abrir uma noite histórica. 
     No Incubus, banda que nunca me chamou atenção, decidi dar uma volta pelo local e comer algo. Acabei parando no Rock District, onde num palco menor a trupe de Andreas Kisser - com destaque para o monstro Amílcar Christófaro na bateria -, desfilava clássicos de gente como Pantera, Accept, Metallica, Iron Maiden, Scorpions Black Sabbath e tantos outros. Obviamente não ia faltar um Sepultura. Como tudo naquele dia, o local estava cheio, e foi uma proposta bem agradável. Pronto, era hora de partir para ver a dupla que vale por 50 atrações. 

THE WHO
     
    O que podemos falar de um show esperado há 50 anos? É incalculável a importância de uma banda como o The Who, ainda contando com os senhores Roger Daltrey e Pete Townshend na formação,  poder tocar no Brasil em pleno 2017. E um show que tinha tudo para ser histórico não desapontou nem um pouco - na verdade foi além. Por mais que não tenha uma noite para chamar de sua, muitos estavam ali por eles. Quando botaram o pé no palco, era difícil acreditar que aquilo era mesmo verdade. Tudo ficava ainda melhor com o som mais perfeito que ouvi em todo o festival, no ponto para deixar o timbre de Pete ainda mais assustadoramente espetacular.
    Num set que se não era o regular, tinha apenas uns dois cortes, era hino depois de hino. Começando pelos primórdios, tome I Can't Explain. Substitute - também famosa na versão do Ramones -, e simplesmente Who Are You dão sequência ao baile. O que podemos falar de um começo assim? A forma vocal de Roger ainda é muito acima da média, e com  Zak Starkey (bateria) e Pino Palladino (baixo) cumprindo muito bem a missão de substituir John Entwistle e um tal de Keith Moon, temos um time perfeito. Com tudo, o destaque absoluto era o senhor Townshend. Como toca amigo, como o fdp toca! A pérola  The Kids Are Alright veio para dar aquele sutil arrepio na alma. E você acha que tem refresco? É só I Can See for Miles e uma tal de My Generation que chegam depois. Ai chega o momento de viajar até a obra-prima Who's Next - facilmente um dos 15 melhores discos da história do Rock. Pate anuncia Bargain como a melhor dele, e de fato não posso discordar da palavra do mestre. Ouvir Behind Blue Eyes num show foi uma emoção indescritível, e espero que de uma vez por todas, os perdidos descubram que a versão do Limp Bizkit nada mais é do que uma tentativa desesperada de estragar uma música perfeita - algo impossível por completo. Join Together e principalmente You Better You Bet, a melhor da fase pós-Moon, seguem uma apresentação irretocável.
      Ai surge uma breve viagem até as duas "Óperas Rock" definitivas. Primeiro vem Quadrophenia, com I'm One, 5:15 e Love, Reign O'er Me. Então um tal de Tommy chega com o pé na porta ao som de Amazing Journey, Sparks, o hino Pinball Wizard e a não menos emblemática See Me, Feel Me. Assim chegamos a reta final de 1h30 que passaram voando. Não daria para encerrar sem as duas músicas mais magníficas desses 50 anos de Rock N'Roll. Algum ser consegue resistir a Baba O'Riley e Won't Get Fooled Again sem chorar feito criança? Era real, o Brasil viu o The Who em ação no palco do Rock in Rio - talvez o único lugar possível para tal. Infelizmente o público não dava nenhuma garantia de dar conta das 100 mil entradas, inchando assim a noite com um show digno de encerramento antes da última banda, mas tá tudo certo. Todos os sons indispensáveis estavam lá no melhor show dessa edição do festival!

GUNS N'ROSES
      Não era nada fácil subir num palco logo depois de um show do The Who. Uma das poucas bandas capazes de fazer isso é esse tal de Guns N'Roses recém-reunido. A lotação era tamanha que uma simples ida ao banheiro entre os shows virava uma missão digna de filme. Era um mar de gente, num nível que só consigo retornar com a banda praticamente pronta para agir. Ninguém poderia imaginar que era só o começo de um show de 3h30, onde no encerramento o que se via era um bravo exército de zumbis resistindo até às 4 da matina.
     O começo foi basicamente o que vimos no show do ano passado no Engenhão. It's So Easy e  Mr. Brownstone dando aquele gostinho de Appetite for Destruction, seguido por  Chinese Democracy para acalmar as coisas e Welcome to the Jungle para explodir de vez. Falar da relevância de ver Duff e Slash novamente num show do Guns N'Roses é chover no molhado. Já Axl merece um capítulo a parte.
     Muitos sabem, mas não custa repetir. O vocalista usou e abusou de uma forma de cantar totalmente condenável no auge da banda. Forçou tanto que já apresentava defeito no fim da exaustiva tour do Use Your Illusion. Quando tudo acabou e a banda explodiu, Axl sumiu do mapa por anos tentando dar um novo rumo para carreira. A voz está condenada, nunca veremos ela num nível igual ao que já foi. Entretanto, a mesma apresenta altos e baixos recentes. Se no último show da Axl band antes da reunião - 2014 no HSBC Arena -, e nos primeiros da volta ela estava bem aceitável, agora já parece bem desgastada. Ele insiste em driblar as adversidades com coisas bem complexas, mas é inegável que passou longe do ideal na noite de sábado do Rock in Rio. Algo inédito? Não faltam bons exemplos de grandes vocalistas em situação semelhante hoje em dia - David Coerdale talvez seja o melhor exemplo. Poder ver o trio de ferro junto faz valer o ingresso mole!
    Double Talkin' Jive chega com a tradicional aula de Slash em seu auge. Better continua sendo uma das mais interessantes de Chinese, e Estranged a música mais impactante de toda tragetória da banda. A McCartiana Live and Let Die mantém o nível lá em cima, assim como uma tal de  Rocket Queen. Sim amigos, nada de novo em relação ao show de 2016, mesmo set na mesma sequência. Ruim? Nunca é demais ouvir esses caras cantando essas maravilhas! You Could Be Mine é um dos momentos que Axl mais sofre para cantar, mas sua força é inabalável. Ai vem o senhor Duff dar aquela aula de Punk Rock com um tributo ao Misfits. Attitude é o nome da fera. Folga dada, Axl retorna com a lenta e muito interessante This I Love. Civil War e Yesterday são muito celebradas, mas já da para sentir aquele cansaço de dois shows desse tamanho na sequência. Coma sempre será um verdadeiro teste para cardíacos que nem a corda arrebentada do cartola é capaz de atrapalhar. Não são poucos que desabam por alguns instantes ao longo da grama, e acabo sendo um desses. Muitos também vão se retirando pelo avanço dos ponteiros, transformando em legítimos fieis os que seguem com a banda.
    Mesmo morto, impossível não ressurgir das cinzas para ouvir o magnífico solo de Slash com o tema do Poderoso Chefão. Como manda o manual, um dos maiores riffs da história abre espaço para Sweet Child O' Mine. Enfim temos novidades no roteiro do ano passado. São elas Used to Love Her e a alucinante My Michelle. November Rain faz muitos arrancarem forças do inferno para ajudar Axl a cantar. Numa bela versão para Black Hole Sun, o efeito é semelhante. Knockin' on Heaven's Door e Nightrain, que me fez gastar o que restava de energia, encerram a 1a parte. Já tava bom até demais, mas não era o suficiente para um Guns N'Roses em estado de graça.
    Tome cover de AC/DC e The Who - a esperada parceria acabou não rolando -, uma inesperada Sorry,  Patience, Don't Cry e o encerraento obrigatório Paradise City. Com um sorriso cativante, o Guns sai do palco visivelmente realizado - com direito a chapéu de cangaceiro na cabeça de Axl e Slash dando piruetas. Os guerreiros que ainda estavam de pé igualmente. Foi uma noite gloriosa de dois gigantes do Rock N'Roll. Uma pena que tudo tenha que acabar tão tarde. O Palco Mundo poderia muito bem começar antes e evitar que a última banda toque num horário tão desagradável, mas seria um detalhe num festival tão interessante. Era dormir o mínimo para fechar a maratona no dia seguinte.

DIA 24


       O último dia de Rock in Rio também era o mais disputado. Tal fato se deve a uma banda com público gigante e duas com um número bem considerável de fãs. A julgar pelo público, a carga não era tão elevada quanto na véspera, mas a disputa era assustadora. Não faltava gente com plaquinha a procura de ingresso em todos os caminhos até o festival, e nem tantos cambistas assim. Tal cenário fez com que o público mais fiel dos quatro dias fosse visto ao longo das apresentações. Tudo isso se justifica com a ótima seleção de bandas nos dois palcos.
       Com toda a maratona do dia anterior, acabei chegando somente próximo a abertura do palco mundo. Antes teve os bons Ego Kill Talent e República, fora o "abastado" e onipresente Doctor Phobes - reis do "paga pra tocar" em show grande no Brasil. Acabei vendo o Capital Inicial de longe. No seu show para lá de manjado no festival, deu até para tirar certo proveito com lembranças de bons momentos como Música Urbana, Independência e Fátima.
                                                                   
SEPULTURA
     Ficou nas mãos do pra lá de tradicional show do Sepultura o papel único de representar o Heavy Metal no festival. Estou longe de reclamar dos fantásticos headlines, mas que caberia mais gente no Sunset ao menos....isso é inegável! Para tal, vímos um público grande e participativo em rodas, mas que não tinha ideia do que estava rolando no set. Tanto que as reações em Inner Self e em músicas novas era praticamente a mesma. Muita roda e pouca cantoria. Contudo, foi muito legal ver como quem estava lá se divertia profundamente. 
    Como anunciado, a base do set era o bom disco novo. I Am the Enemy, Phantom Self, Machine Messiah, Iceberg Dances, Sworn Oath e Resistant Parasites foram as escolhidas. De uma fase mais nova, teve também a já consagrada Kairos. Obviamente, não iam faltar Roots Bloody Roots, Refuse/Resist, Ratamahatta e Arise. Mais um show vigoroso de uma formação equilibrada que o Sepultura acha. Disposto a mostrar estar vivo, escolheu por apresentar o novo e não somente viver tocando os mesmos clássicos. Sem grandes surpresas, mas com aquela garantia de satisfação própria da maior banda da história desse país. Um show do Sepultura sempre vale a pena ser apreciado. 

OFFSPRING 
      Mesmo sem novidades, um show do Offspring é sempre uma boa pedida. Isso vale ainda mais quando o assunto é um festival do porte do Rock in Rio. A questão é simples, os caras montam um set de uma hora só pinçando hit da vasta discografia. É o suficiente para formar rodas e mais rodas, além da cantoria. Tem mais, a combinação de público com o headline é assustadora. O que podemos esperar da trupe guiada por Dexter Holland e Noodles além disso? 
       You're Gonna Go Far, Kid, talvez o último som bombadão deles, foi o responsável por dar início a brincadeira. Ai tome som noventista para lembrar nosso começo no Rock. All I Want, Come Out and Play, (Can't Get My) Head Around You e Original Prankster não tem erro! Era só dar uma procurada, e logo surgiam as rodas. E que rodas amigos! Não faltavam sinalizadores e tentativas de reunir uma turma ainda maior em meio a pista. Nessas acabei vagando por umas quatro diferentes. A carência de um bom mosh estava grande. Para arrematar de vez, temos uma sequência das melhores coisas já feitas por eles. Nada menos que as traulitadas Have You Ever, Staring at the Sun, Want You Bad e Bad Habit. Foi exatamente nesse ritmo até o final, com destaque para Americana e o hit máximo The Kids Aren't Alright. O encerramento veio com Self Esteem, roda 3x maior, recorde de sinalizadores e pirâmides alucinadas. Um show para gastar toda a energia restante! Se você é muito tr00 para curtir o som dos caras, só posso lamentar. Pode não ser um Punk definido por dicionário, mas é indiscutível que é música das boas, sem rótulos. Graças a Deus o show seguinte não me interessava. Era o fraquíssimo 30 Seconds... e toda a sua parafernália. O descanso estava garantido. 

RED HOT CHILI PEPPERS
      Uma coisa eu posso afirmar. O Red Hot foi o headline com o público mais nas suas mãos até agora. Mesmo lançando seu disco mais fraco até hoje e com um guitarrista que falha em solos constantemente, é sempre bom ver Anthony Kiedis, Flea e Chad Smith em ação. Uma coisa muito legal na banda nos últimos shows é a mudança constante de set. Muita raridade inclusa e coisa manjada descartada. Mesmo num tempo relativamente curto, foi exatamente assim o show do Rock in Rio! 
      Can't Stop abre os trabalhos sendo cantada em uníssono. Snow não deixa por menos, e com 10 minutos o jogo tava ganho! The Zephyr Song foi a música que me apresentou o tal do Rock N'Roll com seu clipe na MTV. Sim, já cheguei no nível de morrer de saudades dos anos 00. Foi uma baita emoção, infelizmente cortada pela péssima mania do sr Josh de improvisar solos absolutamente nada a ver com o que foi gravado em disco. Isso corta o clima em diversos momentos. Não precisa ser uma cópia exata, mas custa seguir ao menos a linha de uma parte importante da música? O cara não é fraco tecnicamente, só se recusa terminantemente a fazer todo e qualquer solo que Frusciante eternizou. Na melhor nova,  Dark Necessities, o cara conseguiu se sentir a vontade. Com isso, não só ela, mas todas as novas ganharam muito ao vivo! Go Robot e a linda Goodbye Angels foram as escolhidas. Did I Let You Know foi outra ótima escolha para representar a atual fase. E como não arrepiar com um bom e velho Stooges, no hino I Wanna Be Your Dog, tocado coladinho com a porrada Right on Time? Californication, mesmo com o problema do solo, ainda causa comoção. O Stadium Arcadium tem coisas muito melhores que Tell Me Baby, mas é outra que não podemos reclamar. Para a reta final que temos o melhor do show.  Blood Sugar Sex Magik toma a parada de assalto com as inacreditáveis Sir Psycho Sexy e The Power of Equality - que na minha opinião pagou o ingresso. A magnífica Under the Bridge só chega para arrematar. By The Way e Give It Away fecham muito bem um show curto, mas de repertório preciso! 
     Um Red Hot acertado e direto fechou mais uma grande edição do Rock in Rio. Para ficar perfeito, só falta o senhor Josh fazer solos ao menos na linha do que a banda apresenta em seus discos mais clássicos. A mescla de clássicos e raridades foi muito bem aceita por um público fiel, que cantou como poucas vezes vi em shows desse tamanho.


    Mais uma vez, o Rock in Rio não decepciona. Tivemos quatro dias de grandes shows, alguns até impensáveis no Brasil, que vão ficar na memória dos que levantaram a bunda da cadeira para curtir o festival. Felizmente temos 2019 batendo na porta, e a certeza que a família Medina vai arrumar mais uma penca de ótimas bandas para realizar nossos sonhos. Fora a qualidade, tivemos um show de profissionalismo com os mínimos detalhes. Filas controladas na medida do possível, transporte público eficiente levando todos até um local distante e aquela garantia de entregar exatamente o line up que prometeu, salvo um headline doente de véspera e duas bandas substituídas num cenário de oito por dia nos palcos principais. Não é perfeito, mas tem sempre crédito! Meu 4o Rock in Rio chega ao fim, e só tenho a agradecer.