segunda-feira, 23 de novembro de 2015

SHOW DO PEARL JAM - MARACANÃ - RIO DE JANEIRO

   Num belo dia de 2005, este que vos escreve assistia ao Pearl Jam do alto de seus 13 anos. Se para esse garoto aquele foi um dos primeiros grandes passos dentro do Rock, para os fãs da banda era o fim de uma espera de 15 anos, já que era a estreia da banda no país. Ali foi eternizado um casamento entre Brasil e Pearl Jam, e 10 anos depois a banda liderada por Eddie Vedder chega pela 4a vez por aqui. Para mim, esse seria o 3o, e carimbado pelas experiências inesquecíveis de 2005 e 2011, já tinha uma noção que a noite de Rock N'Roll no Maracanã seria inesquecível. 
   O Pearl Jam divulga ainda o ótimo Lightning Bolt, lançado em 2013. A banda em estúdio já é ótima, mas aqui se trata definitivamente de uma banda de palco. Eddie Vedder, Jeff Ament (baixo), Stone Gossard e Mike McCready  (guitarra) e Matt Cameron - tirando o último, que entrou em 1998, formação intacta desde antes da estreia - dão a vida em cada apresentação. Para quem não conhece bem como as coisas funcionam, são mais de 30 músicas escolhidas na hora em algo próximo de 3h de show. Sonho para qualquer fã não é mesmo? Quem vai ver o Pearl Jam ao vivo, pode ouvir qualquer coisa que a banda fez, de hinos absolutos ao mais obscuro lado b. 
   A maioria dos cerca de 50 mil fãs que lotaram o Maracanã tinha perfeita noção disso ai, e a participação de cada um foi simplesmente louvável. Isso inclui também os covers, mostrando que os mesmos também apreciam um bom Lennon, Neil Young e Floyd - não mais que a obrigação, mas nem sempre isso acontece. O estádio melhorou muito para shows desde o show do Foo Fighters no começo do ano. A entrada não era tão burocrática, com objetos inofensivos sendo barrados, a oferta de bebidas era melhor ao longo da pista, entre outros detalhes. Tirando os distantes banheiros, estava tudo impecável para um grande show de Rock. O principal num show, que é o som, estava simplesmente maravilhoso para uma apresentação ao ar livre. Que comece a brincadeira.
   Sem abertura e com cerca de 1h de atraso, o show começa com uma porrada no coração logo de cara. OCEANS, nada mais que isso. Essa lindeza presente na obra-prima Ten faz a sua estreia na tour, emocionando até uma pedra e dando um começo que só a banda poderia prever. Nada mais Pearl Jam que isso. A banda sempre se notabilizou pela crueza, no som e produção em geral. O barulho típico de garagem, aquele rockão simples e sem enfeites que é a base do som - entre baladas e pancadas - está intacto. Além da música em si, a banda nunca foi de fazer grandes cenários e produções no palco. A base de tudo é a alma entregue ali, misturando grandes músicas com muita entrega. 
   Depois do baque de Oceans, o show segue com Present Tense, um lado c do também lado c No Code. Uma bela canção que raramente é lembrada em meio a tantas outras. Nessa tour, a banda faz uma curiosa opção por músicas mais lentas nas aberturas, e é assim por aqui também. O público gosta, e canta junto desde o inicio. A clássica Corduroy arrebata o Maracanã de vez, num começo sensacional. Jogo ganho, só dar sequência. Hail, Hail é outra de No Code a aparecer, essa uma das mais lembradas dele. É hora de novidades, talvez com a melhor de Lightning Boult, a pedrada Mind Your Manners. Para ficar melhor, nada mais correto do que um hino, que atende pelo nome de Do the Evolution. A música agita por natureza, fazendo todos saírem do chão enquanto entoam cada verso, com destaque para o refrão. Em shows longos assim, isso ainda é o aquecimento, tanto para o público quanto para a banda. O esquema é esse mesmo, e tudo ficaria ainda mais quente. Amongst the Waves representa o bom e relativamente recente Backspacer (2009), música que já é um marco na história da banda. Save You também pode ser chamada de clássico, justo para representar o fantástico Riot Act (2002), que merecia até mais algumas representantes. Já Even Flow dispensa apresentações, e nem é preciso reforçar como o Maracanã virou uma bomba nesse momento. A bela Who You Are é mais uma pérola escondida que a banda saca. 
   Em meio a tudo isso, vemos um Eddie Vedder em estado de graça. A banda é redondinha, mas é inegável que esse senhor é a alma do Pearl Jam. Sua voz maravilhosa comanda toda a brincadeira, e em meio a tudo que ele representa, isso acaba sendo apenas um detalhe. O cara é a energia e carisma em pessoa. Agita o tempo todo, bebe vinho, brinca com o público com discursos hilários e sérios em português, aproveitando como ninguém naquele estádio cada minuto do show. Não a toa, as grandes bandas em ação são aquelas que amam o que fazem, não apenas pela grana, mas acima de tudo pelo prazer que o Rock proporciona. 
  Assim sendo, nem chega a soar estranho ouvirmos Setting Forth, música de sua carreira solo. Se falarem que é uma da banda, todos acreditam. A apresentação vai caminhando para a metade com a boa Not for You, uma das muitas lembradas de Vitalogy. Infelizmente, a melhor delas - Immortality - ficou para a próxima. Sirens já é um grande hit, mais um na coleção, mostrando que o disco mais recente é bom mesmo. Given to Fly está facilmente no meu top 5 da banda. Maravilhosa como só ela, agita bastante e tem cada verso urrado pelos presentes. Junte a isso a grande sacada do telão, com imagens da cidade culminando no estádio, com imagens aéreas do público ao seu redor no dia do show. Além de receber a apresentação, não tem como negar que o Maracanã também se enquadra nos cartões postais cariocas, mesmo desconfigurado e reduzido. Todos que podem lotar esse estádio com seu talento artístico ou esportivo levam isso como um marco em sua carreira. I Want You So Hard (Boy's Bad News) é uma linda homenagem ao Eagles of Death Metal, banda lamentavelmente marcada pela tragédia da estupidez humana em Paris. A pedrada Comatose é uma das principais do disco de 2006 que leva o nome da banda, já totalmente familiar aos seus seguidores. A rapidinha Lukin chega junta da ótima Rearviewmirror, encerramento do tempo regulamentar do show.
  Para o Pearl Jam, é apenas o começo, ainda tinha muito para ver e ouvir. Eddie retorna portando um violão, para apresentar a bela nova Yellow Moon. Ainda nesse esquema, vem a clássica e maravilhosa Elderly Woman Behind the Counter in a Small Town. Just Breathe é sem dúvidas a mais amada dos últimos lançamentos, bela como só ela, foi dedicada aos casais presentes. O momento é realmente muito bonito, e explode com Imagine, a celebração universal da paz, num show de luzes de arrepiar. Depois da calmaria, é hora de plugar os amplificadores. O hino Jeremy já arrepia no clássico riff de baixo de Jeff Ament, mata alguns do coração e vê seus versos e solos cantados em uníssono. Para manter a pegada, a maravilhosa Why Go mostra a força descomunal de Ten, e sua importância incontestável na história do Rock. Para mim, a dobradinha foi o ponto máximo do show. A boa The Fixer e a porrada perfeita Porch, mais uma de Ten, encerram mais um bis de maneira matadora. 
   Nunca é demais ressaltar a felicidade de garoto do líder da banda, com uma bermuda e camisa que lembram aquele Vedder dos anos 90. Quem olha percebe claramente que o tempo não passou para ele, ainda em magnífica forma física e vocal. Hora do split final, que começa simplesmente com Last Kiss, uma letra bem triste, e igualmente emocionante. Ai vem uma dose fantástica de Pink Floyd, com a indescritível Comfortably Numb. Spin the Black Circle volta a programação normal, abrindo caminho para o hino Black, uma balada daquelas para emocionar qualquer um. Better Man em seguida simplesmente arrebata os corações de todos, que como uma boa torcida de futebol, entoam hino após hino do Pearl Jam, banda que mostra na prática seu valor na história do estilo. Ai chega o hino máximo Alive, que me fez bater cabeça como um garoto de 12 anos, época que comecei a ouvir a banda. Foi de arrepiar. Para o fim, o clássico de Neil Young Rockin' in the Free World transforma o estádio numa celebração sem fim de um púbico/banda em estado de graça. Para fechar a tampa, o tradicional fim com a pérola Yellow Ledbetter, já com as luzes acesas desde a música anterior. Nela acontece o momento mais hilário da noite. Uma sunga surge no palco, e Vedder não perde tempo. Fazendo graça, veste ela e brinca enquanto toca mais um de seus hinos.
   Que fim de festa, apoteose para uma ode ao Rock simples e direto que a banda se propõe a fazer, e faz como poucos. Um estádio lotado vai na pilha de um senhor com espírito de garoto, feliz em proporcionar ao seu público uma noite inesquecível. Mesmo quem não é fã se impressiona com shows assim, e a todos, fica a certeza que o Pearl Jam vai voltar para um show imprevisível e arrebatador num futuro bem próximo. 

sábado, 21 de novembro de 2015

SHOW DO CANNIBAL CORPSE + TESTAMENT - CIRCO VOADOR - RIO DE JANEIRO

   Amigo banger, você conhece algum camarada de som que não gosta de Death e Thrash Metal? Complicado não? Pois é, uma noite que reúne duas bandas do primeiro escalão de ambos os estilos é um prato cheio para fãs de Heavy Metal. O resultado da união de Testament e Cannibal Corpse em apenas um show foi uma verdadeira comoção na cena, desde que essa noite histórica foi anunciada. Na hora H, vimos um Circo Voador LOTADO, algo realmente notório. Uma breve volta pela Lapa já revelava um mar de camisas pretas, culminando na união de membros de várias bandas do nosso underground, figuras sempre presentes em shows e até alguns que não costumam levantar da cadeira em frente ao palco sagrado do Circo. Mais uma vez, ficou provado que público não falta em quantidade, apenas em regularidade. 
   Cheguei depois da abertura, por conta da banda Uzomi, não muito elogiada pelos poucos camaradas que viram. O primeiro gigante a subir no palco naquela noite histórica seria o Cannibal Corpse. A banda que ao lado do Death chegou ao mais alto escalão de popularidade dentro do Death Metal mundial volta a cidade depois de dois anos para divulgar o bom A Skeletal Domain, lançado ano passado. Uma grande quantidade de pessoas já estava lá dentro quando às 21.30, pontualmente, Paul Mazurkiewicz (bateria), Alex Webster (baixo), Rob Barrett e Pat O'Brien (guitarra) e George "Corpsegrinder" Fisher (vocal) começaram a carnificina. Era possível perceber que grande parte dos presentes tinha a dupla no coração, embora outros tantos tenham ido apenas por uma delas. De qualquer maneira, os dois shows contaram com um público numeroso e participativo. 
   A apresentação do Cannibal começou com a ótima Scourge of Iron, presente em Torture (2012). Demented Aggression é outra presente nesse trabalho, essa fazendo o mosh já tomar conta de toda a pista do Circo. Evisceration Plague, música que da nome ao disco lançado em 2009, mostra a ideia da banda em apresentar ótimos sons de toda a sua caminhada. Então é hora de clássico do Death Metal, com a maravilhosa Stripped, Raped and Strangled, uma das melhores de toda a noite. Difícil traduzir o que aconteceu nesse momento, onde cada verso dessa pérola foi cantado em uníssono por seus fieis seguidores. A dupla infalível Disposal of the Body/Sentenced to Burn mostra como Gallery of Suicide é uma grande obra. Depois de várias coisas de todas as fases, "Corpsegrinder" anuncia que é hora de músicas novas. Deixa para a ótima Kill or Become, para a também muito boa Sadistic Embodiment e Icepick Lobotomy.
   O set estava redondinho, com novidades e clássicos de vários trabalhos bem distribuidos. A banda está impecável ao vivo, com um som nítido e num volume perfeito. Fora o agito do grande frontman, a aula de baixo do monstro Alex Webster é o destaque. O que esse homem faz no seu instrumento é simplesmente assustador, algo que prendeu a minha atenção em quase todo o show. 
    Hora de voltar ao passeio histórico, com a faixa que da nome ao bom The Wretched Spawn (2004). Dormant Bodies Bursting, única representante do ótimo Gore Obsessed, abre espaço para o hino I Cum Blood, responsável por transformar a pista do Circo novamente num pandemônio. Unleashing The Bloodthirsty segue com a brincadeira, abrindo caminho para a fantástica Make Than Suffer. Daqui pra frente, é só clássico. A Skull Full Of Maggots e Hammer Smashed Face arrepiam qualquer fã de Death Metal, e ambas foram extremamente celebradas. Devoured by Vermin não ficou por menos, encerrando um show espetacular. 
   Só o que vimos até ali já faria valer uma grande noite, mas o melhor ainda estava por vir. Depois de longos oito anos longe do Rio de Janeiro, o Testament retorna para fazer um dos shows mais aguardados do ano. A banda é uma das minhas preferidas, referência máxima quando o assunto é Thrash Metal. Ainda divulgando a obra-prima Dark Roots of the Earth, a banda vem ao Brasil numa tour especial repleta de raridades no setlist. Assim como o Cannibal, o Testament foi extremamente pontual. Chuck Billy (vocal), Steve DiGiorgio(baixo), Gene Hoglan (bateria), Alex Skolnick e Eric Peterson (guitarra) apresentam uma das melhores formações da carreira da banda, e não a toa, começam o seu show debaixo de uma lona tomada por fãs que sabem se curvar diante de um gigante do Thrash. 
   A apresentação já começa com um hino, que atende pelo nome de Over The Wall, abertura do 1o disco desses senhores da bay area. Olhar para o palco e ver essa turma tocar tal clássico foi realmente de arrepiar. Infelizmente, uma das partes mais importantes do show deixou muito a desejar ao meu ver. O som estava simplesmente lamentável, ao menos na pista - ouvi relatos mais positivos de quem viu o show do segundo andar. Num volume acima do ideal e extremamente embolado, o que se escutava era um bolo instrumental, ficando a voz de Billy em 2o plano. Não tem como negar, isso compromete, mas a força de uma banda assim faz tudo continuar maravilhoso.
   O set tem sequência com a maravilhosa Rise Up, um dos destaques do trabalho mais recente. Seu efeito ao vivo é devastador. The Preacher fecha uma trinca sensacional de abertura, fazendo o mosh sair do controle e com o público cantando até o seu solo. Uma emoção realmente única. Em seguida, uma das maiores surpresas do set. Dog Faced Gods se esconde no por muitas vezes esquecido Low (1994), um trabalho bem interessante, fazendo da escolha algo surpreendente e positivo. Henchmen Ride é a primeira das muitas de Formation of Damnation (2008) a ser lembrada.  Native Blood, um novo clássico, é a última do disco mais recente a ser lembrada. Sua recepção mostra a enorme força que tem. A porrada Legions of the Dead e a espetacular True Believer mostram o ótimo The Gathering, o disco que veio a formar a base do set. Talvez seja essa a maior surpresa que a banda preparou no seu set, muito baseado nos trabalhos mais recentes. Eles tem todos os méritos, mas o que o Testament fez nos anos 80 é insuperável. A prova disso é o ponto alto do show que estava por vir. Into The Pit formou um mosh alucinante, que não parou mais nos hinos Practice What You Preach e The New Order. D.N.R. (Do Not Resuscitate) e 3 Days in Darkness - essa uma aula de bateria de Dave Lombardo no estúdio e por consequência de Gene Hoglan ao vivo - são mais duas de Gathering que dão as caras. O hino Disciples of the Watch emociona, e a aula de riffs More Than Meets the Eye numa dobradinha com The Formation Of Damnation  encerra o curto e bom set, com direito a wall of death. 
   O show foi muito bom sim, mas para ser perfeito faltou um som melhor. A qualidade prejudicou uma audição mais atenta a grande dupla de guitarristas, e ao monstro Steve DiGiorgio no baixo. No set em si, senti falta de clássicos, como os do esquecido Souls of Black, e mais coisas de Practice What You Preach e The Legacy - ambos com apenas uma representante. Mesmo assim, foi uma apresentação memorável de uma banda incrível. 
   A noite entregou o que prometeu. Foram dois shows inesquecíveis, felizmente para um público fantástico. Tudo isso fez da noite do dia 20 de novembro de 2015 uma celebração única da cena metálica carioca, que esperamos, não pare por aqui. 

sábado, 14 de novembro de 2015

SHOW DO KRISIUN + RATOS DE PORÃO - CIRCO VOADOR - RIO DE JANEIRO

   Numa sexta-feira 13 onde o folclórico terror proposto se transformou na triste realidade da banalização da vida humana, os cariocas puderam ter momentos de diversão em meio ao inferno em que o mundo se transformou - coisa que só a boa música pode proporcionar. O Circo Voador iria reunir dois monstros sagrados do Heavy Metal brasileiro, os indispensáveis Krisiun e Ratos de Porão. Falar da importância de ambos no passado e principalmente no presente da nossa cena é chover no molhado, mas não custa dizer que uma reunião deste nível em uma única noite é digna de nota. 
    O público estava longe de lotar a famosa lona, mas também não fez feio, comparecendo de maneira bem honesta. Muitos tinham a dupla no coração, meu caso, e outros preferem ligeiramente um estilo a outro, mas a reunião fez da noite uma legítima celebração a música pesada brasileira. Presenças ilustres eram vistas na pista, e devidamente lembradas por Alex Camargo em certo ponto da apresentação. Gente do Hatefullmurder, Lacerated And Carbonized, Taurus (!!!) e Nervosa deixavam o público ainda mais especial. Ver bandas da importância de Krisiun e Ratos em ação numa casa como o Circo faz a tal da cena carioca pulsar, e a resposta foi extremamente positiva.
   Coube ao Krisiun dar inicio a brincadeira. A banda vem divulgando Forged In Fury, o magnífico trabalho lançado recentemente, pela 1a vez na cidade. O público estava disposto a curtir cada segundo dos dois shows, e fixava os olhares na banda mais forte do Heavy Metal brasileiro da atualidade. O que Max, Moyses e Alex fazem no palco é dificil de explicar, típica destruição sonora de um power trio infernal com tecnica apuradíssima. Já vi eles em ação algumas vezes, mas é uma experiência sempre gratificante.
   O trabalho começou com o clássico Kings Of Killing, uma das músicas mais importantes da carreira dos gaúchos, a mais relevante do deliciosamente sujo Apocalyptic Revelation. Fazendo uma ponte direta com os trabalhos mais recentes e técnicos, vem a já clássica The Will to Potency, presente em  The Great Execution. Essa já virou um tema indispensável em qualquer show. O líder Alex Camargo agradece efusivamente a presença de cada fã, citando que sem eles nada seria possível. A humildade desses caras é algo impressionante, e pude comprovar isso no show com o Cavalera Conspiracy ano passado, quando fiquei cerca de 15 minutos conversando com eles. A maravilhosa Slaying Steel é uma das novidades no set do Krisiun para a nova tour. Lembrar da obra-prima Southern Storm é sempre bom. Scars Of The Hatred vem para apresentar ao público a mais nova pedrada lançada, e já chega provando ter tudo para virar clássico. O desempenho de Moyses num riff fantástico vale ser lembrado. O mosh dava voltas na pista no ritmo do novo som, só para provar que com o Krisiun não tem erro de estúdio. Vengeance’s Revelation da sequência a panadaria. Sentenced Morning é mais uma doce lembrança de Southern Storm que não costumava aparecer nos shows da banda. Depois é a vez de Descending Abomination, outra já clássica de The Great Execution que não pode sair do repertório. A base do set mostra a força descomunal dos lançamentos mais recentes da banda. Ways Of Barbarism é a outra representante no novo disco. Ela abre espaço para o hino  Blood Of Lions, e um solo de bateria destruidor do monstro Max Kolesne. O que vem depois é um momento de pura emoção, na lembrança da lenda que vimos partir essa semana. O grande Phil Animal Taylor, assim como o Motorhead, são claríssima influência no molde do som do Krisiun, banda pela qual os gaúchos tem verdadeira devoção. A homenagem vem com No Class, música que o krisiun já toca regularmente, mas no atual momento ficou ainda mais especial. A pista viu surgir o maior mosh-pit da noite. Todos prontos para a reta final, formada pelos hinos Combustion Inferno e Vicious Wrath. Murderer é o surpreendente encerramento. O clássico Black Force Domain foi uma ausência sentida, assim como qualquer representante do ótimo Conquerors of Armageddon, mas nada disso foi capaz de comprometer um show incrível desses.
    Depois da apresentação maravilhosa do krisiun, a pressão para cima do Ratos de Porão aumentava. A banda gaúcha fez questão de lembrar a todos da honra que era dividir o palco com uma de suas maiores influências. João Gordo, Jão, Juninho e Boka - que também trazem na bagagem recente um discão de inéditas - vem disposto a fazer uma apresentação totalmente diferente do tradicional. A ideia é tocar o álbum de covers Feijoada Acidente? quase que completo. Sendo bem franco, não curti muito a iniciativa, por melhor que seja o trabalho. A real é que ele é um disco cover, e daqueles bem longos é bom lembrar. Numa apresentação de uma banda como o R.D.P, prefiro ouvir os incontáveis clássicos da banda. Na prática, minha opinião se confirmou.
   Show ruim? NÃO, não mesmo, apenas um show que tinha tudo para ser bem melhor. O disco em questão foi lançado num período onde a banda estava afundada nas drogas, já sem o baixista Jabá, e numa espécie de crise criativa. Segundo o próprio Gordo, a viagem pelas influências punks da banda foi fundamental num resgate de identidade. Isso tudo transformou o Circo num grande baile pela história do estilo, mas o público mesmo não agitava tanto quanto o normal, e por vezes clamava pelos clássicos do Ratos.
   Com uma produção de palco que nem o pano no fundo incluia, a ideia era apresentar para a galera os ditos clássicos. Gordo fazia questão de contar um pouco da história de cada banda. O público respondeu melhor nos clássicos O Dotadão Deve Morrer (Cascavelletes), Papai Noel (Garotos Podres) e John Travolta (AI-5). Fora isso, a base do show foi uma banda fortíssima ao vivo tocando para um público fiel, que curtia tudo, mas preferia ouvir outros sons.O momento que mais vibrei foi a real que o Gordo mandou sobre a extrema direita atual, lembrando que todos que ali estavam não são bem vistos por eles, fora os xingamentos aos politicos que não podem faltar. A melhor parte foi a reta final, com os hinos eternos Crise Geral, Crucificados Pelo Sistema, Beber Até Morrer e Aids, Pop, Repressão. Saldo final foi um bom show, com uma proposta original, mas que tinha tudo para ser bem melhor.
    No final das contas, vimos uma apresentação irretocável do Krisiun e um bom show diferentão do Ratos de Porão. O Krisiun inovou no repertório, com base nos trabalhos mais recentes, assim mostrando a força dos mesmos. No fnal, saiu com o título de show da noite, mas o que os fieis amantes do Heavy Metal nacional tiveram foi uma grande noite de celebração com dois monstros sagrados da nossa música. 

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

R.I.P PHIL "ANIMAL" TAYLOR

   A tarde deste dia 12 de novembro começou triste para quem ama Motorhead. Chegou a noticia da morte do grande Phil "Animal" Taylor, uma porrada direta no coração semelhante a cada ataque no bumbo que o consagrou nos anos dourados de uma das bandas mais importantes da história do Rock N'Roll. Contar um pouco da história desse legítimo animal é fazer um passeio pela biografia do Motorhead, sendo esse texto uma breve homenagem para um dos meus maiores ídolos. 
   Sua trajetória começou junto com a banda. Phil era amigo de longa data do  líder Lemmy, sendo chamado para entrar na banda antes do trabalho de estreia, ainda em 1975, substituindo Lucas Fox. No segundo trabalho - o mais que clássico Overkill - a coisa ficou realmente séria para Lemmy, Phil e Eddie. O trio mortal que formam a chamada formação clássica do Motorhead ficou junto até 1984, quando Phil saiu pela 1a vez da banda. 
   Lemmy e Phil eram os clássicos tipos de casca grossa que permeiam a nossa imaginação, não dispensando diversas substâncias alucinógenas, mulheres e brigas quando necessário. É de se imaginar que duas figuras com esse perfil não consigam manter uma convivência exatamente pacífica 100% do tempo, e relatos dão conta de tretas homéricas entre a dupla. Mesmo num período onde o Motorhead conquistou seu status de gigante da música pesada em lançamentos como Bomber, Overkill, Ace of Spades e Iron Fist, a saída de Taylor era inevitável naquele momento. 
   Não muito tempo depois, o animal era chamado de volta ao posto. O grande Peter Gil - que sempre foi muito mais reconhecido pelos feitos no Saxon - não combinava exatamente com o Motorhead, e Lemmy se viu forçado a chamar o velho amigo para comandar as baquetas da banda novamente. Nessa nova fase, Eddie Clark já não estava mais lá, e o trio se tornou um quarteto com a dupla Phil Campbell e o saudoso Würzel nas guitarras. Com essa turma, o Motorhead registrou  Rock 'n' Roll e o espetacular 1916, mas no seu sucessor os antigos problemas voltaram. 
  Nas gravações de March ör Die, o desempenho fraco de Taylor no registro de "I Ain’t No Nice Guy" motivou uma nova saída, mas mesmo assim ela foi gravada no trabalho. As relações internas conturbadas seguramente motivaram outra mudança, mas não cabe a nós julgar fofocas, e sim fatos. 
   Desde então, Phil "Animal" Taylor não é mais noticia musicalmente por novos trabalhos, mas o que foi feito até então é mais do que suficiente para eterniza-lo entre as grandes lendas do Rock N'Roll ou Heavy Metal, dependendo da definição para a destruição sonora que o Motorhead sempre proporcionou. Na primeira passagem de Taylor na banda, foram registrados discos fenomenais que formam a base musical mais sólida da gloriosa carreira do Motorhead. Seguramente suas pancadas no kit estão eternizadas nos nossos corações, e daqui para frente, nos restam apenas boas memórias de mais um monstro que não está mais entre nós. 


terça-feira, 10 de novembro de 2015

SOULFLY - ARCHANGEL

   Poucos nomes estão trabalhando com a intensidade de Max Cavalera nos últimos anos. Além da sua banda "principal"- o Soulfly - o homem vem se dividindo entre os "projetos" Cavalera Conspiracy e  Killer Be Killed, lançando discos com uma constância absurda. Fora o ótimo  Pandemonium, do CC, e o disco que leva o nome do Killer Be Killed - ambos lançados em 2014 - Archangel é o terceiro disco do Soulfly em 4 anos, algo raro de se ver atualmente. O fato é que depois de muito experimentalismo, o senhor Cavalera se encontrou em ótimos lançamentos recentes, chegando agora no trabalho que considero o melhor lançado por ele em muito tempo, talvez num empate técnico com o também magnífico Enslaved (2012). 
   Já faz tempo que os discos de Max estão muito mais voltado para o Death/Thrash Metal que o consagrou, deixando de lado os flertes com o Industrial, New Metal e experimentalismo em geral que marcaram os primeiros discos do Soulfly. Em Archangel, Max é acompanhado pelos fieis escudeiros Marc Rizzo (guitarra) e Tony Campos (baixo), além de seu filho Zyon -  novidade na formação. O encaixe dos 4 é inegável, e o resultado ficou irretocável. São 10 músicas ótimas ao meu ver, seguindo um padrão Death/Thrash na medida exata. Alguns toques de melodia também são vistos, criando um ótimo clima. A abertura, com o marcante título We Sould Our Souls To Metal é o ponto máximo. Uma letra fantástica num Thrash alucinante transforma essa pérola na melhor música da banda, ao meu ver empatada com Plata O Plamo. Dali a coisa só vai fluindo, sem cansar o ouvinte, e permitindo um intenso bate-cabeça. A faixa-título segue numa performance fantástica de Marc, criando um clima muito bom. Vemos um toque sutil algo que o Sepultura fez em Chaos A.D e Roots nela. Outros momentos fantásticos daqui são Ishtar Rising, Live Life Hard! e Deceiver, mas podemos ouvir as 10 faixas sem medo, são o melhor que Max Cavalera tem a nos oferecer no momento. Nos extras, uma versão da pérola de 3 segundos You Suffer, do Napalm Death, que Max disse ser uma tradicional brincadeira de estúdio que resouveu manter no disco. 
   Archangel é um marco na discografia do Soulfly, uma sequência natural aos bons discos que Max vem lançando, e uma porradaria de respeito pronta para o consumo dos seus fãs de longa data. O cara que recentemente se transformou num legítimo workaholic nos entregou mais uma coleção de petardos para sua grandiosa história de lenda máxima do Heavy Metal brasileiro. Vale lembrar que a bela arte de capa também joga muito a favor do disco, que sozinho já é muito bom. 




sexta-feira, 6 de novembro de 2015

KREATOR - COMA OF SOULS

   Os primeiros trabalhos do Kreator - lançados nos anos 80 - ajudaram a definir os rumos do Thrash Metal mundial, causando um impacto que ia muito além das fronteiras da Alemanha. Depois de quatro discos irretocáveis, Coma of Sous chega como o que é para mim o ponto máximo na trajetória dessa banda maravilhosa, uma sequência natural de tudo que foi feito entre  Endless Pain e  Extreme Aggression. Coloco o disco em questão - empatado com Pleasure To Kill - no posto de obra definitiva do Kreator. 
   Desde a sujeira maravilhosa apresentada no primeiro trabalho, a produção vem ficando mais consistente a cada disco, chegando aqui no auge nesse aspecto. Coma Of Souls apresenta 10 Thrashs esplendorosos, com toques corretos de cadência em certos momentos, o que apresenta ainda mais consistência ao disco. Em Mental Slavery - faixa de 5 minutos que encerra o trabalho - vemos um ritmo acertadamente mais arrastado em relação a petardos tradicionais, encerrando de maneira épica e estrategicamente pesada um grande trabalho. Quando o assunto é o disco como um todo, impossível não dar destaque absoluto aos hinos máximos que ele apresenta. People Of The Lie é para mim a música definitiva na carreira de Mille Petrozza e cia. Começando com um dos riffs definitivos do Thrash, e depois apresentando uma disputa fantástica de riffs e solos precisos de Mille e Frank Blackfire - "reforço" que a banda buscou no Sodom - a música é simplesmente irretocável. O papel do líder na letra e linha vocal também é sensacional aqui, fazendo de People Of The Lie uma música perfeita de Thrash Metal. Poderia falar por horas dessa maravilha, mas seguindo na linha do disco, outro hino que merece destaque é a faixa-título. Essa se aproxima mais do caos sonoro tradicional da banda, sempre presente em seus trabalhos mais relevantes. Outra música onde a dupla das seis cordas tem um desempenho simplesmente fantástico. Rob Fioretti (baixo) e Jürgen Reil (bateria) também não deixam por menos. Outros sons. como Agents of Brutality, com um toque de Death Metal no andamento, When the Sun Burns Red, a clássica Terror Zone e a maravilha thrasheira Material World Paranoia também tem a obrigação de ser degustada por qualquer thrasher que se preze, assim como cada segundo presente nesse trabalho. 
   Coma of Sous encerra a fase mais brilhante da carreira do Kreator. Nos trabalhos seguintes, que marcariam os anos 90 da banda, veio um experimentalismo para qual muitos fãs torcem o nariz, com uma certa dose de razão é bom reforçar. Nos anos 2000, a partir do ótimo Violent Revolution, a banda seguiu com o som que o consagrou numa fantástica sequência de lançamentos responsáveis por um novo gás que transformou os germânicos numa banda do presente, e não somente lembrada pelo passado glorioso. Mesmo assim, todos olham para o que foi feito até a coroação definitiva de Coma of Souls com um carinho especial. 


quinta-feira, 5 de novembro de 2015

ROLLING STONES: DATA MARCADA PARA A DESPEDIDA DE UM GIGANTE!

   Quando os shows do Rolling Stones foram acertados, tendo sua confirmação na tarde de hoje, foi inevitável fazer uma viagem de 10 anos no tempo. No histórico show de 2006, que por uma diferença de DOIS DIAS não aconteceu exatos 10 anos antes da apresentação marcada agora para o Maracanã, dei alguns dos meus primeiros passos no mundo do Rock N'Roll. Cerca de 1 milhão de pessoas se espremeram nas areias da Praia de Copacabana no maior show de Rock da história, e com 13 anos na época, eu era uma delas. Consegui ver a banda ao lado do meu pai numa distância razoável, sendo uma apresentação que lembro com carinho até hoje. Já ali, os Rolling Stones estarem ainda em cima do palco era um verdadeiro milagre, e um retorno 10 anos depois contraria a lógica de maneira estupenda. 
   Andando esses 10 anos, e chegando em fevereiro de 2016, muito aconteceu na minha vida, mas na carreira de uma das maiores bandas da história esse período foi apenas um breve capítulo. A história do estilo que tanto amamos se confunde com a da banda, presente dos primórdios ao presente de maneira ininterrupta. Em 2006, eles divulgavam A Bigger Bang, que ainda não tem um sucessor, e ao que tudo indica será o derradeiro. Ninguém é louco de exigir mais de uma banda com uma discografia tão extensa, que ainda inclui vários singles fundamentais. Pinçar cerca de 20 num universo desses é muito pouco, mas qualquer mostra é preciosa. 
   Passar por uma história de 50 anos repleta de clássicos eternos e toda forma imaginável de abuso é tarefa quase impossível, e em pleno 2015 ainda estar no palco merece estudo. Durante todo esse tempo, foram duas mudanças de guitarristas, fora a saída de um baixista substituído por um músico contratado, e basicamente só. Desde 1976, esse quarteto está lá, e pretende continuar até alguém morrer. De um tempo para cá, os shows foram pontuais, espaçados e marcados por senhores na plenitude da forma.
   A tour brasileira mesmo já foi adiada algumas vezes, devido a morte da namorada de Jagger, crises na Argentina e Brasil, entre outros motivos. Com cerca de dois anos de atraso, agora ela é realidade. Imaginar uma turnê futura nessas terras é muito complicado nesse momento, o que faz dos shows em fevereiro uma bela despedida de uma lenda do estilo. Muito obrigado por tudo Rolling Stones, meu eterno amor, nos vemos no Maracanã no 20 de fevereiro próximo, um dia que lembrarei até a morte!