segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

PINK FLOYD - ANIMALS

     Há exatos 40 anos, David Gilmour, Roger Waters, Nick Mason e Richard Wright colocavam nas prateleiras das lojas o clássico Animals. O trabalho tinha a enorme responsabilidade de suceder coisas do porte de The Dark Side of the Moon e Wish You Were Here - discos que obviamente colocaram o Pink Floyd no máximo patamar do Rock. Para tal, a banda não fez questão nenhuma de fazer algo de fácil assimilação. Tirando as duas Pigs on the Wing, que fazem introdução e encerramento de Animals, o disco apresenta três únicas músicas com duração superior a 10 minutos. Ainda assim, algo de tamanho nível de excelência não poderia dar errado. 
     A identidade sonora encontrada nos trabalhos recentes foi mantida, com doses cavalares de criticas sociais sobre a realidade inglesa da época. Todo o conceito de Animals fica claro dentro da própria capa, com o clássico porco voador entre duas das chaminés da Usina Termelétrica de Battersea, localizada em Londres. Desde então, Waters inclui o porco em todos os seus shows solos com críticas sempre pertinentes ao momento mundial. Não seria diferente com a eleição de Donald Trump, que contou com a apresentação do clássico Pigs (Three Different Ones) numa "homenagem" ao lamentavelmente agora homem mais poderoso do mundo. 
     A canção é um dos ápices do trabalho, assim como da carreira da banda. Agora se for para apontar o grande momento de Animals, eu fico com a magnífica Dogs, do alto de seus 17 minutos de duração. Nela, o Pink Floyd apresenta tudo que sabe fazer de melhor. Solos no padrão Gilmour de qualidade, letras e melodias que só Waters sabe fazer e toda a virtuose do quarteto nos mínimos detalhes, sem deixar a peteca cair por um segundo sequer. Sheep não deixa por menos, e apresenta uma explosão sonora depois da intro que arrepia qualquer fã da banda a cada audição. Não precisava de nada além disso para fazer de Animals um dos discos mais importantes da história do Rock.
     Em pleno 1977 - o ano do Punk Rock naquela mesma Inglaterra - o Pink Floyd não teve medo de apostar pesado no progressivo clássico, que naquela altura já tinha consagrado o seu nome na história do Rock. Da sua maneira, fez críticas precisas num trabalho irretocável e bombástico, que depois de 40 anos ainda consegue impressionar a cada audição. Com Animals, não houve nenhuma guinada ou revolução numa banda que já tinha alcançado vendagens recordes, mas os ingleses não perderam tempo em mostrar do que eram capazes em um trabalho indispensável e magnífico.  


sábado, 14 de janeiro de 2017

SHOW DO ONSLAUGHT - PLANET MUSIC - RIO DE JANEIRO

    A clássica e sensacional banda de Thrash Metal Onslaught finalmente estreou no Rio de Janeiro, depois de inúmeras passagens pelo Brasil e muitos shows pensados para a cidade que não saíram do papel. Os ingleses vem prestando tributo a um dos seus melhores discos, The Force, que completou 30 anos de lançamento ano passado. Além de tocar sua íntegra, ainda rolariam mais algumas músicas de toda a carreira da banda. 
     Infelizmente, o nosso cenário oferece inúmeros desafios para quem se aventura a produzir shows assim. Com isso, a No Class - que tem a turma do Lacerated And Carbonized fazendo um trabalho sensacional para movimentar a cena - não teve alternativa viável que não fosse a acanhada casa Planet Music, e não tem como começar a falar do show sem listar os problemas dela. A localização não é ruim para chegada e saída. O problema é a casa mesmo. Para começar, não existe ar condicionado, e estamos no auge do verão carioca. Com isso, o calor fica insuportável tanto para banda quanto para o público. A estrutura básica é da pior qualidade, principalmente quando falamos do banheiro. Nunca estive no camarim, mas o que muitos falam é que ele é simplesmente podre. Outro ponto muito criticado por quem já tocou lá é a estrutura de palco para equipamentos e tudo mais, o que causa um atraso quase certo em qualquer show. Enfim, uma banda que chega diretamente da Inglaterra e cai de cabeça no auge do underground carioca fatalmente tem sua apresentação prejudicada - ainda que o som estivesse muito legal durante todo show para quem estava na pista. 
      Os problemas começam no tradicional atraso, causado pelos mais diversos problemas. A diferença é que ali não estavam as bandas brasileiras já acostumadas com os problemas que locais assim oferecem, e sim uma inglesa dando início a uma tour de 20 shows em 20 dias, com viagens continentais no meio. Só para lembrar, o show seguinte é em Belém, com voo de quatro horas até lá. Ou seja, não ia rolar de começar depois de meia-noite algo programado para 22h. Então a tradicional inversão de headline ocorreu, prejudicando as aberturas, que acabaram por tocar depois da atração principal. Nessa dai, muitos acabaram entrando com o show já em andamento, e o público visivelmente aumentou bastante ao longo da apresentação. A força de vontade da produção merece ser reconhecida. Não é fácil fazer algo acontecer naquela casa, e quando se pensa em outra mais estruturada, é quase garantia de prejuízo em show assim por diferentes fatores. 
       Ainda com a casa vazia pelos que não sabiam que o Onslaught entraria de cara, Sy Keeler (Vocal), Nige Rockett (Guitarra), Jeff Williams (Baixo), Iain GT Davies (Guitarra) e Mic Hourihan (Bateria) fincaram seus pés no palco do Planet Music. Uma coisa é indiscutível. A banda é de um profissionalismo ímpar. A situação caótica do lugar não impediu eles de tocarem sem deixar passar para o público os problemas. Passando o repertório de The Force a limpo, a abertura do disco e do show fica por conta de Let There Be Death, a pérola de seu repertório. Uma banda underground por excelência se vê diante de uma casa ainda vazia, mas toca como se estivesse no palco mundo do Rock in Rio. Seguindo por cima, é hora de Metal Forces, outra devastação sonora. Fight With the Beast, daqueles Thrashes por excelência, causa um estrago nos pescoços dos presentes. Até então a banda vai levando o show sem deixar passar os problemas ao público. Lá pelas tantas, no momento que a banda tocava Demoniac, boa parte do público entra na casa, e o panorama da pista vai ficando cada vez mais satisfatório. A banda que já vai demonstrando dificuldades. Flame of the Antichrist é quase uma tradução do que todos sentiam naquele verdadeiro forno, e o vocalista Sy Keeler é o primeiro a acusar o golpe. O show para por alguns instantes, enquanto o resto da banda ainda está no palco. É bom lembrar que o instrumento do vocalista é seu corpo, é não é simples para um sujeito com mais de trinta anos de desgaste encarar adversidades assim. Muitos falaram que a parada foi por ele estar se sentindo mal. Fora isso, parece que ele também não conseguiu escutar o retorno do som ao longo de todo show, o que dificulta absurdamente sua performance. Após a apresentação, em breves palavras que tive com ele, Sy foi direto e claro. "Foi muito difícil', com aquela voz que atesta isso. 
      Depois de um refresco, a banda retorna. Contract in Blood e Thrash Till the Death fecham o disco. Então vem uma breve passagem por outros momentos da banda. A sensacional Killing Peace representa o retorno da banda a ativa, sendo muito bem recebida pelo público já ligado no 220. Ai o baile fecha com o clássico máximo Onslaught (Power from Hell), com todos cantando cada verso e agitando bastante. Vendo sets recentes, algumas coisas acabaram cortadas, mas a banda fez além do possível naquela situação. Tocando, foram de um profissionalismo admirável, sem errar uma nota.
      A noite ainda seguia com as aberturas, mas acabei retornando para casa pelo peso do horário. Ver um show do Onslaught no Rio de Janeiro foi um feito, mas que todos merecem coisa bem melhor que o Planet Music, não há dúvidas!

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

RAMONES - LEAVE HOME

     Lá se vão 40 anos do ano definitivo para o Punk Rock. Para tal, um fato foi fundamental - o lançamento do 1o disco do Ramones em 1976. A famosa turnê da banda pela Inglaterra pouco tempo depois se mostrou uma das mais importantes da história do Rock. Isso porque alguns presentes fizeram uma revolução musical no dito ano graças ao pioneirismo dos Ramones. Não a toa, gente como Sex Pistols, The Damned e The Clash estrearam com tudo em 1977. Mesmo com certo nome na Europa, a banda de Joey, Dee Dee, Jhonny e Tommy ainda não tinha alcançado vendas espetaculares - vale dizer que eles tentaram isso por toda a década de 80. Ainda assim, sua importância e influência é incalculável. Num fenômeno curioso, certamente se estivessem vivos e ativos nos dias de hoje, tocariam em estádios. 
        Nos primeiros dias desse ano magnífico, era hora de soltar o segundo trabalho. Não houve nada de "inovador" em relação a estreia, algo que não era necessário. Temos sim mais uma coleção de ótimas músicas de três acordes em dois ou três minutos de duração. Tome clássicos eternos como Gimme Gimme Shock Treatment, Carbona Not Glue, Oh, Oh, I Love Her So, Pinhead (Gabba, Gabba Hey!), Commando e You're Gonna Kill That Girl. Qualquer Punk que se preze sabe cantar todas de trás para frente. Outra que merece ser lembrada é California Sun, um cover daqueles que a música é tomada de assalto e vira definitivamente um clássico que ninguém sabe que foi feito por terceiros. Enfim, se trata de um dos discos definitivos dos Ramones, numa coleção de grandes músicas. 
      Mesmo com o reconhecimento internacional, os Ramones seguiam tocando em clubes e tentando a todo custo o sucesso comercial. O tempo faria justiça a esse gigante. Seja como for, Leave Home é um dos discos mais importantes não só da banda, mas de toda a história do Rock.