quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

MAX & IGGOR RETORN TO ROOTS - IMPERATOR - RIO DE JANEIRO

      A noite de 14 de dezembro de 2016 foi projetada para celebrar tudo que aconteceu com o Sepultura 20 anos antes. Max e Iggor Cavalera iriam tocar o clássico e derradeiro disco Roots por completo - acompanhados pelos fieis escudeiros Tony Campos (baixo) e Marc Rizzo (guitarra). Para completar o tom saudosista, o local escolhido foi o mesmo do último show do Sepultura no Brasil com a formação clássica. Há exatos 20 anos, a casa de rica história tinha uma de suas noites mais memoráveis. No mesmo lugar, só que menor, o Imperator que reabriu recentemente estava cheio de fieis seguidores da maior banda de Heavy Metal da nossa história. Não tinha como dar errado, e de fato tudo que foi prometido saiu como esperado. 
       A abertura ficou por conta da banda Incite, do enteado de Max Richie Cavalera. Cheguei com a apresentação já caminhando para o seu final, e a enorme fila da cerveja acabou tomando todo meu tempo antes do show principal. Ainda assim, pelo que escutei, parecia algo interessante, com fortes influências do Pantera. 
        Com um breve intervalo e todos já na pista, começa a celebração da história do Sepultura. O próprio anúncio com nome diferente de Cavalera Conspiracy - mesmo com sua formação completa - deixa claro que a noite não vai apresentar nada dos novos tempos de Max e Iggor. Quem lá estava pouco se importava com isso. O hino máximo Roots Bloody Roots começa os trabalhos com a esperada comoção na pista que já transborda em moshs. Então a magnífica Attitude é urrada em uníssono por todo o Imperator - com direito ao berimbau da intro tocado por Max, da mesma forma que era feito na turnê original. A participação de todos é enorme a cada número, provando total conhecimento dessa obra seminal. Cut-Throat segue o embalo, sendo mais uma das grandes músicas de Roots. Max interage muito ao longo das músicas, inflamando o público, mas não tanto nos intervalos. Quando fala, demonstra a enorme felicidade por promover esse show. Assim ele apresenta Ratamahatta. Aqui ele mostra o efeito do tempo em sua voz, infelizmente incapaz de reproduzir a complexidade desta pérola. Então cabe ao irmão brilhar intensamente na forte percussão. Por mais que pareça um tanto quanto aéreo, a performance de Iggor melhora muito, sendo claramente mais intensa em comparação a shows recentes da banda no Brasil. O Roots se caracteriza por ter um começo muito forte com seus maiores hits, e mesmo com ótimas músicas ao longo da audição, a resposta popular não costuma ser a mesma. Isso historicamente, mas no show, estava tudo na ponta da língua de verdadeiros fanáticos pelo Sepultura - algo raro e sensacional.        
     Breed Apart é outra com brilho absoluto de Iggor, e um Max ai sim fazendo um papel digno na parte técnica. Sempre incitando o público, não teve trabalho ao ver uma resposta imediata. Essa é uma das partes de Roots com maior influência no Heavy metal moderno, ou em outras palavras, New Metal, com ênfase na repetição do refrão. Straighthate mostra mais da característica sonoridade da banda em 1996, em um dos melhores momentos de todo o disco. Spit é anunciada como o momento mais Punk Rock por Max, e não podemos negar que faz certo sentido. A música é mais uma pérola escondida em Roots que tivemos o privilégio de escutar nessa noite. Lookaway, que na gravação original tem participações de  Jonathan Davis (Korn), Mike Patton (Faith No More) e DJ Lethal (Limp Bizkit), não chega a empolgar. Reação exatamente oposta acontece na magnífica Dusted. Born Stubborn também não deixa por menos. Sua letra e melodia única causa uma enorme comoção na pista. Ai chega hora de Itsári, música gravada com a tribo Xavante, momento que Max faz questão de lembrar como o mais marcante de todo o processo criativo de Roots. O público se supera, tendo a manha de cantar e brincar na pista da mesma forma que os índios na gravação. Simplesmente épico! Com Ambush a coisa volta ao normal. Endangered Species e Dictatorshit fecham a conta de Roots com chave de ouro. Essa última teve os versos "Tortura nunca mais" repetidos com força por Max, algo fundamental para os dias que vivemos. Enquanto isso, o Sepultura atual...... melhor parar por aqui.
      No fim da parte regular, fica evidente a felicidade do líder da turma nessa noite. Com a mãe vendo tudo do lado do palco, até chega a imitar o pessoal no mosh bangeando, lembrando os tempos de garoto. A parte do bis é exatamente nessa linha. Com uma breve jam para relembrar os bons tempos de Sepultura, vem  Desperate Cry, Innerself e Escape to the Void, além dos consagrados covers para Polícia (Titãs) e Orgasmatron (Motorhead). Black Sabbath e Celtic Forest também tem alguns de seus clássicos celebrados, como influências eternas de Max e Iggor Cavalera. Uma versão acelerada de Roots Bloody Roots fecha a conta, com direito a um "wall of death" puxado por um Max Cavalera em estado de graça.
      Em que pese certas limitações vocais, uma ordem de músicas que não foi projetada para shows e nenhuma citação ao presente, os irmãos Cavalera proporcionaram aos seguidores uma noite para lembrar o auge do Sepultura. Em cada detalhe, era esse o objetivo. Se Roots não é o melhor disco da banda, seguramente é um grande trabalho. Sua relevância há 20 anos é enorme, mas infelizmente tudo acabou muito antes da hora. O presente fica para próxima, já que essa noite no Imperator foi uma verdadeira homenagem a história do Sepultura, e por que não, a história da casa que recebeu o Sepultura de outrora pela última vez no seu país, para 20 anos depois dar início a tour brasileira. Missão cumprida!


quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

METALLICA - HARDWIRED TO SELF DESTRUCT

   Antes de mais nada, acho pertinente esclarecer que - para quem não sabe -, o Metallica é minha banda preferida. Tal fato me propõe um enorme desafio ao distanciar razão/emoção para avaliar qualquer coisa nova que a banda lança. Depois, devo admitir que não esperava grandes coisas desse disco novo, isso por uma série de fatores. O mais claro é que eu já não espero clássicos de bandas consagradas, mesmo que algumas delas por vezes soltem coisas ótimas. Fora isso, a enrolação acima da média para uma banda estável e em boa forma fazia parecer uma certa pane criativa. Para disfarçar, eles inventaram de tudo nesses últimos anos, mas nada de novidades. Bem, a cada música soltada, minha grata surpresa se configurava. Na minha humilde opinião, Hardwired...to Self-Destruct tem todo o potencial do mundo para ser o 6o clássico do Metallica, é de longe a melhor coisa que a banda coloca no mercado em 25 anos e entre as bandas gigantes, é a melhor coisa que escuto em muito tempo. 
     O atraso foi tirado num disco duplo, com 12 músicas tendo em sua maior parte mais de 5 minutos. Claro que nem todas são do mesmo nível, mas podemos destacar umas 8 fenomenais, o que é um número muito expressivo. Começando os trabalhos, temos a porrada Hardwired, a 1a divulgada que abalou as estrururas do Heavy Metal na internet. Bem no estilo Kill'EmAll, é a mais direta e insana. Lars Ulrich mostra um desempenho que muitos não esperavam mais nessa altura do campeonato. Em seguida já vem outra velha conhecida. Atlas, Rise! é tudo aquilo que James Hetfield faz de melhor. Uma verdadeira aula de riffs! A melodia encontrada não só nessa, é uma das marcas fantásticas desse trabalho. O refrão é o auge de tudo isso, sendo daqueles para ficar na memória. Now That We're Dead foca num andamento um pouco mais cadenciado, mas tem destaque. O solo de Kirk Hammett chama atenção. Em Moth Into Flame, outra já bem conhecida, a afirmação que estamos diante de um ótimo disco é plena. Mais uma bela cortesia de Hetfield numa melodia daquelas, ainda maiores com a participação acertadíssima de Kirk. Dream No More começa numa parceria inspirada dos dois guitarristas. Aind assim, é uma das menos inspiradas do disco - mesmo não sendo ruim. Halo On Fire cumpre muito bem o papel de fechar o 1o disco. Uma semi-balada daquelas que o Metallica sabe fazer desde Fade to Black. Um belo momento. 
      Colocando o 2o disco para rodar, começamos com uma das melhores do trabalho todo. Confusion é simplesmente fenomenal! Nela vemos o quanto Robert Trujillo está bem ao lado dos veteranos, e como essa formação do Metallica é forte. Não tem como deixar de citar o papel de Hetfield nela ao comandar a trupe. De destaque mesmo nesse lado, temos a belíssima homenagem a Lemmy com Murder One. Não é uma música Motorheadeada, e sim uma ao estilo do Metallica com citações sensacionais sobre a lenda que nos deixou no final de 2015. Ai para fechar a conta, o Metallica decide colocar o melhor no fim - vale lembrar o que o Iron Maiden fez no seu último disco. Temos grandes momentos em todo disco, mas Spit Out The Bone é o clássico definitivo. Nem vale me alongar em descrição, mas posso garantir que não faria um papel feio se aparecesse num Black Álbum ou Justice da vida. Eu honestamente não poderia imaginar que o Metallica ainda era capaz de nos oferecer músicas desse nível.
     Enfim, Hardwired To Self Destruct vai muito além do previsto. O Metallica compensou uma ausência de oito anos de maneira para lá de digna. Claro que pensar em 12 músicas sensacionais seria delírio, mas ao menos umas sete ou oito delas tem um nível muito elevado, fazendo valer o nome digante estampado na capa. É ótimo para o Heavy Metal e o Rock em geral - já que há tempos o Metallica ultrapassou todas as barreiras - ver uma banda assim em grande forma. Só nos resta apreciar como se deve!

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

VENOM - WELCOME TO HELL

     O Venom é a banda mais importante da história do Metal extremo. O motivo é bem simples e direto. A banda dos três deuses do inferno formou a base de tudo que viria a ser conhecido no estilo anos depois. Podemos considerar o Venom uma espécie de marco inicial do Thrash, Death e Black Metal, tendo sua sonoridade na base de tudo que foi feito depois. Pode perguntar para qualquer banda desses estilos, de Metallica e Slayer, passando por Sodom, Celtic Forest, Mayhem, Sepultura, Krisiun e Possessed. Pode ter certeza que o Venom será citado como influência por todas essas, e muitas outras. O fato é que Cronos, Mantas e Abaddon pegaram a fúria sonora do Motorhead com doses cavalares de satanismo sarcástico para nesse 1o e mais importante disco apresentar uma sonoridade crua e de violência ímpar. O mundo iria conhecer um tal de Welcome to Hell há exatos 35 anos. 
        A faixa-título é um hino definitivo do Heavy Metal e o ponto máximo não só do disco, mas no meu ponto de vista de toda a carreira da banda. Sim, ainda consigo achar Welcome to Hell um pouco melhor que o icônico Black Metal. Felizmente não é um momento isolado. Seguindo a mesma linha crua e suja, temos outras maravilhas do porte de Poison, Live Like an Angel (Die Like a Devil) - duvido que você não leu esse título cantando como Cronos no refrão -, Witching Hour, Angel Dust e In League with Satan. Para os amantes da banda, uma verdadeira sequência de clássicos. A verdade é que um dos power trios mais espetaculares da história se eternizou logo de cara. 
          Enfim, se você por acaso é fã de Slayer, Megadeth e Metallica, por exemplo, e nunca deu uma conferida no trabalho de um de seus principais professores, tire imediatamente esse atraso. Welcome to Hell é um dos discos mais importantes da história do Heavy Metal, e tudo que veio depois prova isso. 


sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

CHRIS CORNELL - TEATRO BRADESCO - RIO DE JANEIRO

     Não tem como acompanhar os acontecimentos musicais noventistas e passar batido pelo nome Chris Cornell. O homem que deu voz a três grupos seminais - Temple Of The Dog, Soundgarden e Audioslave - há tempos se da ao luxo de rodar o mundo num show voz/violão, mostrando a uma seleta parte de seus seguidores um pouco do repertório consagrado nesses últimos 25 anos. No para lá de "elegante" Teatro Bradesco, situado num shopping capaz de fazer qualquer mortal se sentir pobre, amantes da música vinda de Seattle - feita em locais bem diferentes daquele - tomam as confortáveis cadeiras vendidas por um valor "digno" do lugar. 
       O show tem uma proposta clara. Despir músicas das clássicas bandas do dono da festa até a raiz. Cornell tem a isolada companhia de Bryan Gibson, que fica no violoncelo na maior parte do tempo, mas aparece também no teclado e violão. Isso em algumas música, já que em outras a voz do Soundgarden assume tudo apenas com um violão na mão. 
      O repertório é longo. Com muita coisa de sua carreira solo, Cornell abusa de hinos eternos e outros grandes momentos não tão celebrados de suas três bandas - além de algumas covers. O início com Before We Disappear, Can't Change Me e 'Til the Sun Comes Back Around não empolga tanto assim, mas a interação no estilo papo entre amigos com a plateia é fundamental para aquecer as turbinas. A cantoria começa mesmo no cover para Nothing Compares 2 U, cortesia do saudoso Prince. No começo, o foco era todo nas músicas solos, incluindo até uma versão para o hino The Times They Are A-Changin', uma pérola de Bob Dylan, que tem sua letra alterada quase por completo. Agora foi em Fell on Black Days, eterno clássico do Soundgarden, que a coisa ficou séria de vez. O espírito simplificado da noite era esse, em versões muito diferentes das originais, mas com a magnífica voz de Cornell em absoluto destaque. O clássico do Led Zeppelin Thank You é apresentado com uma homenagem a Jimmy Page, que certa vez esteve numa apresentação de Cornell - segundo ele, se sentiu nevoso pela 1a vez em cima do palco. AI a trinca Doesn’t Remind Me, Wide Awake e Like a Stone fazem uma grata lembrança dos tempos de Audioslave. Seguindo nesse momento de celebração, é a vez do Temple Of The Dog, nas magníficas Wooden Jesus e All Night Thing. Em Blow Up the Outside World, Cornell brinca com os pedais, fazendo uma distorção vocal num dos poucos momentos onde o peso do Soundgarden foi lembrado. A belíssima versão dessa canção foi um dos pontos altos da note. 
     Depois de When I’m Down e Let Your Eyes Wander darem uma passada na carreira solo, a ótima I Am the Highway do Audioslave é cantada por todos já muito empolgados - nas limitações do lugar, é bom lembrar. A pedrada Rusty Cage fica quase irreconhecível no esquema voz/violão, mas ainda assim sempre é bem vinda. Então chega a hora de Black Hole Sun, a música que define a carreira de Cornell, com ele se esfolando para fazer sozinho todas as variações vocais que a música exige. Como em toda a noite, foi impecável. Getaway Car vem para manter a felicidade de todos, para o fechamento regular na magistral versão de A Day in the Life, hino dos Beatles. Uma das músicas que melhor define a carreira de Lennon fica ainda mais linda sendo apresentada no dia que completamos 36 anos da sua estúpida morte. A complexidade musical que ela exige foi seguida de maneira inacreditável pela dupla, criando algo sublime. 
        Para fechar, faltava outro hino definitivo de Cornell. Hunger Strike nunca poderia ficar de fora, arrepiando os grunges que aquela altura já se esbaldavam. Seasons e Higher Truth encerram a conta. Para a proposta complicada que só os grandes podem se dar ao luxo de oferecer, Cornell mostrou por que é o gigante que é. Agora os cariocas praticamente imploram um show do Soundgarden na cidade, já que não é de hoje que o homem se sente em casa por aqui. 

domingo, 4 de dezembro de 2016

SHOW DO BLACK SABBATH + RIVAL SONS - PRAÇA DA APOTEOSE - RIO DE JANEIRO

     A noite de sexta, dia 2 de dezembro de 2016, nunca será esquecida pelos bangers cariocas. Era dia de ser agraciado - pela última vez - com o show de uma das maiores bandas da história do Rock. O Black Sabbath já tinha deixado tal sensação em 2013, mas felizmente os cariocas teriam direito a um bis em pleno 2016. Novamente uma Apoteose entupida de gente se preparava para reverenciar Ozzy Osbourne, Tony Iommi, Geezer Butler e o garoto Tommy Clufetos. O objetivo era claro: Celebrar o fim de uma era de ouro. 
      Todos os caminhos que levavam ao sambódromo do Rio eram tomados por camisas pretas. Já na porta do metro, se via uma verdadeira celebração de amigos bebendo a mesma cerveja vendida por 12 reais pela metade do preço. Adentrando o local, não era possível achar um espacinho sequer ao longo da pista. Talvez tenha sobrado algo na arquibancada - também cheia -, mas na pista era difícil caminhar até nos pontos mais distantes. Antes da despedida, era hora do aquecimento, com uma das aberturas mais acertadas que poderíamos ter.
      A mensagem do Sabbath ao escolher o Rival Sons para abrir seus shows ao longo da turnê era clara. Na linha do "agora é com vocês molecada, mantenha viva a chama que acendemos há mais de 40 anos". O Rival Sons é uma das ótimas bandas de uma nova safra que busca resgatar os anos 70. Podemos citar também Blues Pills e Scorpion Child nessa mesma linha. Pela reação que vi desde ontem, não são poucos os que vão passar a seguir a banda. 
     O set foi curto. Sete músicas em pouco mais de 40 minutos, mas os predicados se evidenciaram. Jay Buchanan tem uma voz fantástica, e dotes de grande frontman. Scott Holiday, (guitarra) Mike Miley (bateria) e David Beste (baixo) não deixam por menos, numa aula de Rock N'Roll clássico de quem soube beber na fonte dos pioneiros. A base do set foi o bom disco Great Western Valkyrie (2014), mas em pouco tempo, foi possível fazer uma viagem pela curta e já frutífera história da banda - com destaque para a fantástica Torture. Ficou aquela sensação que o Rock está em boas mãos para os próximos anos. Agora era hora de celebrar sua época de ouro. 
       Com um intervalo curto, o Black Sabbath toma de assalto o palco da Apoteose, observado por 30 mil olhares atentos. Antes de falar do espetáculo que estava por começar, uma coisa precisa ser dita - obviamente a parte que não dependia dos mestres. Com os valores abusivos que nos são cobrados em shows dessa magnitude, certas coisas são inaceitáveis. O mínimo que os heróis que fazem das tripas coração para arrumar um ingresso para a pista comum merecem é uma qualidade sonora do nível que vimos, por exemplo, nos recentes shows de David Gilmour e Rolling Stones no Brasil. Lamentavelmente, não é sempre assim. O que eu escutei do lado direito da pista comum foi um som em volume extremamente baixo ao longo de toda a noite, variando entre o péssimo, muito ruim e apenas ruim nos melhores momentos. A impressão que dava era a de que só vinha algo dos PA'S do palco em si, sem o fundamental reforço das caixas espalhadas ao longo da pista - o que faz a coisa chegar muito baixa mais no fundo. Era limpo, e imagino que quem estava na famigerada pista premium conseguiu escutar um som ótimo, mas cada vez mais é obrigatório que TODOS consigam ao menos escutar tudo com perfeição - já que ver algo além do telão é privilégio dos abastados com 700 reais para torrar. Isso posto, nem esse absurdo é capaz de atrapalhar um show do Black Sabbath.
     A abertura foi a única possível. Efeitos de tempestade tomavam conta da Apoteose, e o mestre dos riffs puxava o mais pesado e assustador da história da música. Era Black Sabbath, a música que abre o 1o disco, e dá o recado do que estava por vir. Aquele andamento deliciosamente arrastado arranca minhas lágrimas logo de cara, valendo todo o valor investido. Ver esse trio sagrado em cima do palco em pleno 2016, colocando para jogo esse hino, é experiência para levar até nosso último dia de vida. Quem acompanha a carreira de Ozzy nos últimos anos está cansado de saber que os shows não são exatamente longos. Para essa tour, são 13 músicas, incluindo uma instrumental - velha carta na manga do homem. A grande parada é que 13 músicas do Black Sabbath valem muito mais que 50 da maioria das bandas.
     A próxima delas é uma que não sai nem mesmo dos shows solos do madman. Fairies Wear Boots, grande momento de encerramento do mais que clássico Paranoid, da sequência ao baile sabático no templo do Samba. Em seguida, vem a única novidade em relação ao show que vimos naquele mesmo lugar em 2013. After Forever faz as honras de Master of Reality, numa das letras mais inspiradas da história da banda. Ainda nesse trabalho, Iommi hipnotiza os presentes com o riff magnífico de Into The Void. Com surpreendente participação do público em todos os momentos - que inclusive "cantam" alguns dos riffs da música -, Snowblind vem como única representante do magistral Vol. 4. Não tem como não ficar arrepiado depois de escutar um dos momentos mais inspirados da carreira do Black Sabbath. Para arrematar de vez, é hora de War Pigs. Pode parecer batida, mas ela é uma das minhas preferidas da banda, e o famoso coro ao seu final acompanhando o Iron Man talvez tenha sido o ponto máximo de todo show. Behind the Wall of Sleep mostra que em shows simples e diretos como este, não existe pausa para descanso emocional. Mais um hino da banda em seu primeiro disco. Hora de Geezer Butler dar início ao solo de baixo mais importante da história do Heavy Metal. Em N.I.B, o magistral baixista brilha absoluto. Ai é hora de Rat Salad, a famosa carta na manga de Ozzy há tempos para um breve descanso. Tommy Clufetos mostra então o motivo por ter sido escolhido para substituir Bill Ward na reunião do Sabbath. O homem é um baterista simplesmente irretocável. Seu solo arrancou aplausos efusivos dos presentes, que logo em sequência iriam ouvir um dos riffs mais importantes da história do Rock. Iron Man chega arrematadora como sempre, sendo talvez a música que melhor define a carreira do Tony Iommi. Dirty Women talvez seja a escolha mais controversa do set da banda, pois vem de um disco no mínimo duvidoso - Technical Ecstasy. Uma banda prestes a se separar colocou ele para jogo, mas a performance instrumental dela para mim faz dessa uma grande música. Já Children of the Grave é outra coisa. Um hino que transborda inspiração lírica se transforma numa manifestação eterna, pois a humanidade trata de deixa-la eternamente atual.
       Um breve descanso, e o tradicional encerramento com o hino máximo Paranoid bota 30 mil pessoas para celebrar o legado do trio que estava no palco. Ozzy Osbourne, Geezer Butler e Tony Iommi se curvam diante de seus fãs, ao lado dos garotos Adam Wakeman e Tommy Clufetos. É hora de agradecermos a um gigante do Rock pelos seus serviços ao estilo. Mesmo que o som não colaborasse, ter o privilégio de assistir essa banda numa grande performance faz dessa noite uma das melhores da minha vida. Ao vermos o esforço de um Iommi ao superar uma doença devastadora e de um Ozzy cada vez mais cansado pelos anos de festa, honra é a melhor palavra para descrever a sensação de sair de casa para ver um show do Black Sabbath. A verdade é que posso ter o orgulho de falar - participei de um dos últimos capítulos da história de uma das minhas três bandas preferidas em todos os tempos. O Black Sabbath está eternamente nos nossos corações, com um destaque para o que vivenciamos nessa noite.


quinta-feira, 24 de novembro de 2016

TESTAMENT - BROTHERHOOD OF THE SNAKE

     Antes de falar algo do novo trabalho do Testament, é bom lembrar um pouco do passado recente da banda. Trazendo o genial Steve DiGiorgio no baixo como novidade na formação, a velha turma da Bay Area vem de dois lançamentos absolutamente clássicos nos últimos anos. Chuck Billy (vocal), Eric Peterson e Alex Skolnick (guitarras) e Gene Hoglan (bateria) completam esse time de lendas do Thrash Metal, que chega em Brotherhood of the Snake com absurdas expectativas. Para quem se credencia com The Formation of Damnation e Dark Roots of Earth nos últimos oito anos, é assim que funciona. Depois de algumas audições, o trabalhoso e cansativo na criação - de acordo com os integrantes -, Brotherhood of the Snake não chega nesse nível de excelência, mas é outro grande disco por cortesia do Testament. 
      No novo trabalho, não vejo uma música com o potencial absurdo de coisas como  More Than Meets the Eye, Native Blood e Rise Up, e sim um apanhado de ótimas músicas absolutamente niveladas. A faixa-título é o grande destaque para mim. Chega com um peso absurdo, flertando com aquele Testament dos tempos de The Gathering. Junta a isso uma melodia fantástica acompanhada pela aula de bateria do Sr Hoglan. Um bate-cabeça dos bons está garantido!  O nível se mantém em The Pale King. O peso é tamanho que em certos momentos flerta com o Death Metal, mas aqui o Thrash clássico é que dita o andamento. Stronghold é um dos momentos de maior flerte com o Hardcore da carreira da banda, chegando num resultado muito agradável. O disco segue com uma divisão de protagonismo entre os verdadeiros gênios do atual line up e algumas canções legais, mas sem potencial para clássicos. A arrastada Seven Seals vai te lembrar um pouco do Testament clássico, fechando a parte mais interessante do trabalho. As que vem em seguida não se destacam tanto, mas ainda assim mantém a audição extremamente agradável. 
      Sendo bem franco, o novo trabalho do Testament não é um clássico do porte dos anteriores, mas continua num nível simplesmente fantástico. Para quem não vive do passado, o que felizmente é o caso deles, a exigência ainda é grande para novos trabahos. O fato de estarmos mal acostumados deixa uma impressão que poderia ser algo ainda melhor, mas o resultado está longe de ser brochante.  Podemos considerar mais um discão daqueles que só bandas do tamanho do Testament podem proporcionar ao fã. Mais uma coleção de grandes músicas dessa verdadeira lenda do Thrash Metal!


quarta-feira, 16 de novembro de 2016

SHOW DO GUNS N ROSES - ENGENHÃO - RIO DE JANEIRO

     Existem muitas bandas que para toda uma geração vivem apenas no imaginário. Seja por mortes de integrantes consagrados - ou se vivos -, por brigas homéricas sem solução, muitos fãs da minha idade (24 anos) crescem apenas imaginando como seria ver tal banda ao vivo, sem nunca ter de fato essa oportunidade. O Guns N'Roses definitivamente era uma dessas até ano passado. Então sem mais nem menos, uma das reuniões mais sonhadas e impossíveis acontece de fato. Pode não ser de toda a formação original, mas sejamos francos, só um louco vai reclamar de ter a chance de ver Slash, Axl e Duff novamente juntos no mesmo palco. Então é hora de rodar o mundo dando essa chance para toda uma geração, com a tour “Not In This Lifetime”. Vale lembrar que, diferente do que já li por ai, a referência não é para uma turnê definitiva, e sim apenas uma brincadeira com a declaração dada por Axl certa vez, respondendo com um sonoro "não nessa vida" sobre a possibilidade de reunião com Slash. 
      Na cidade que em 1991 e 1992 se rendeu ao Guns N'Roses no auge da turnê Use Your Illusion, era hora de voltar de 2016 diretamente para esses anos gloriosos. A festa foi marcada para o Engenhão, um estádio que nunca foi muito querido dos cariocas. Num lugar de acesso distante, porém facilitado pela estação próxima num esquema especial de funcionamento, a relação passa longe com a do central Maracanã. Não seria isso que iria impedir os fãs de presenciar essa noite histórica. Nem mesmo o preço abusivo do ingresso. O público não chega a lotar o estádio, mas era muito bom e participativo. Antes da grande hora, vem o aquecimento com a clássica Plebe Rude.
      A banda nunca me chamou muita atenção, mas era um show que despertava certa curiosidade da minha parte. Não chega a ser um Punk Rock daqueles praticados, por exemplo, pelos Inocentes - banda original de seu atual vocalista. Muito longe disso, se aproxima muito mais do famoso BRock oitentista. Os dois hits da banda - Proteção e Até Quando Esperar - não acontecem por acaso. São de fato as duas melhores com sobras. A única minimamente ouvível fora essas é Johnny Vai a Guerra (Outra Vez). Não foi um show ruim, mas longe de chamar um mínimo de atenção numa noite como essa. 
     Então com um atrasinho mínimo, 3/5 do Guns N'Roses original sobe ao palco do Engenhão para escrever mais um capítulo da história de amor que já dura 25 anos. It’s So Easy e Mr. Brownstone, dupla matadora de Appetite For Destruction, chegam para dar aquele baque no coração de todos. Hinos eternos do Hard Rock cantados por uma banda agora digna do nome que carrega. Nesse papel, Chinese Democracy vem como um tranquilizante para todos botarem o pé na terra novamente. Já da para sacar qual vai ser da noite. Axl está numa ótima forma vocal, infinitamente superior ao que vimos em 2010 e 2011 por exemplo. Não da para comparar com o Axl de 1991, caso que se repete com 90% das grandes vozes do Rock, mas é algo para lá de digno de levar um show. Outro detalhe é que nessa volta, não existem aqueles refrescos homéricos da chamada "Axl Band". Quando o homem tira um ar, é para ver Slash e Duff brilharem. O som que destoava. Volume até aceitável, mas extremamente embolado durante toda noite. 
   Ai chega hora de todos pularem entoando cada verso do eterno hino Welcome to the Jungle. Double Talkin’ Jive vem em sequência, dando o primeiro pulo nos Use Your Illusions. Aqui é um dos muitos momentos de brilho absoluto de Slash, fazendo esse solo memorável. É bom citar também o grande papel de Richard Fortus em parceria com o homem. Better é um dos bons momentos de Chinese Democracy, sendo um dos três momentos da noite que nos fizeram lembrar que existiu vida entre 1993 e 2016. Axl se sai muito bem tocando uma daquelas músicas responsáveis por manter viva, mesmo que respirando por aparelhos, o Guns no novo milênio. Um aquecimento para a extraordinária Estranged. Falar dessa verdadeira pérola é chover no molhado. Aula de solos e riffs, versos maravilhosos e todo um arranjo que transforma essa na melhor música já feita pela banda ao meu ver. Precisa dizer o tamanho da emoção que foi escutar isso ao vivo? É bom citar, ao menos ao meu redor, a surpreendentemente boa participação do público ao longo de toda noite. Não chegou a ser uma plateia noventista, mas estava digna da banda - que respondeu no show mais longo da turnê. A indispensável versão para Live and Let Die, de Paul McCartney promove o tradicional show de efeitos. A sequência de hinos vai novamente para o disco de estreia, na magnífica Rocket Queen. Depois vem a 1a surpresa da noite. Out Ta Get Me vem agregar, sem substituir absolutamente nada! Uma daquelas surpresas impagáveis. A bombástica You Could Be Mine agita profundamente, com um papel de Axl digno da complexidade vocal que a música exige. 
     É  chegado então a hora de Duff brilhar absoluto. A alma Punk do Guns N'Roses assume os vocais para dar uma aulinha de Misfits para os desavisados com o hino Attitude. Simplesmente maravilhoso. This I Love chega acalmando os ânimos. Essa foca na figura de Axl Rose, que novamente se sai muito bem. Era hora de mais um dos grandes momentos da noite. Civil War, a épica abertura de Use Your Illusion II, ganha uma versão matadora que emociona até uma pedra. Para arrematar de vez, é chegada a hora do grande momento de toda a noite. Coma chega majestosa, do alto de seus 10 minutos da mais pura perfeição. A emoção de ver Slash solando em uma das performances mais extraordinárias de sua carreira enquanto Axl da voz aos versos únicos dessa obra-prima não cabe em palavras. Já ta bom de emoção né? Então segura o Slash fazendo seu tradicional e belíssimo solo com o icônico Godfather Theme, abrindo espaço para o eterno hino Sweet Child O’ Mine. Ai os cardíacos morreram de vez. Chega o momento da maior novidade da noite. Yesterdays faz sua estreia no giro sul-americano, e se a memória não falha, em toda a turnê de reunião. Quer prova maior que essa do relacionamento especial entre Guns N'Roses e Rio de Janeiro? A dupla Slash/Fortus apresenta uma belíssima versão instrumental para Wish You Were Here, devidamente acompanhada pelo público com os inesquecíveis versos imortalizados pelo Pink Floyd. Então a arrematadora November Rain chega para o show de balões do público, enquanto Slash faz aquele famoso solo da igreja no deserto. Axl não deixa por menos, brilhando no piano. O entrosamento do trio de ferro do Guns N'Roses chama atenção ao longo do espetáculo. Knockin’ on Heaven’s Door vem majestosa como sempre, com Slash empunhando a clássica guitarra de dois braços - impossível não se lembrar do clássico show de Paris na tour do UYI. Para fechar a parte regular, Nightrain faz o público dançar e pular como se não houvesse amanhã. 
      Já tava tudo ótim se acabasse ali, mas ainda tinha um pouco mais de Rock N'Roll legítimo. A belíssima Don’t Cry, o cover de The Seeker do The Who e o hino Hard Paradise City fazem o duro papel de encerrar uma noite memorável. Hora de voltarmos para casa cantando alegremente o famoso refrão da canção derradeira. Uma noite inimaginável era real no Engenhão. O Guns N'Roses definitivamente está de volta nos braços de seu público fiel. 

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

SODOM - DECISION DAY

    A cada disco novo do Sodom, deveria vir um aviso ao lado mais ou menos assim: Satisfação garantida ou seu dinheiro de volta! E você pode ter certeza que nenhum thrasher que se preze vai sair decepcionado. A coisa é muito simples amigos. O Sodom é aquele tipo de banda que nunca deixa seus fãs na mão. Em seu 15o lançamento numa vasta carreira de mais de trinta anos, Tom Angelripper (vocal, baixo), Bernemann (guitarra) e Makka (bateria) entregam exatamente aquele Thash Metal vigoroso com a marca de uma lenda alemã esperada pelos fãs. 
     Fora os clássicos recentes M-16 e Sodom, a banda consegue superar aqui os já muito interessantes In War and Pieces e Epitome of Torture. Já de cara, In Retribution é aquele clássico petardo by Sodom, com tudo para ser eternizado no coração dos fãs. A voz rasgada de Angelripper comanda a brincadeira em seis minutos devastadores, explodindo de vez no grande refrão. Aquele começo que já garante os três pontos para os mestres do Thrash alemão. Já com Rolling Thunder, a brincadeira fica ainda mais veloz, pronta pra bangear. O entrosamento da nova formação fica evidente com a performance fantástica apresentada aqui. A pancadaria segue com excelentes momentos. Vale destacar a faixa-título, a matadora e já conhecida Caligula (olha o que Angelripper e Makka fazem aqui, verdadeira aula de cozinha no estilo), Blood Lions e a introspectiva Strange Lost World. Enfim, um trabalho que tem tudo para ter enorme destaque na vasta discografia do Sodom. 
     Podemos dizer que 2016 é um grande ano para o Thrash Metal. Muitos nomes que fizeram história há 30 anos seguem firmes com lançamentos grandiosos. Casos de Sodom, Anthrax, Megadeth, Metallica, Destruction, Death Angel e Testament por exemplo. Muitos outros preferiram o fim do ano passado e início do próximo, como Kreator, Slayer e Sepultura. De toda forma, é maravilhoso ver como que esse estilo fantástico continua em alta com seus maiores representantes colocando grandes obras no mercado num mesmo ano. O Sodom aproveita muito bem o momento, e prova sua importância para o estilo em mais um disco sem erro para os pescoços dos fãs que o seguem por mais de trinta anos. 


terça-feira, 8 de novembro de 2016

HELL IN RIO - DIAS 5 E 6 DE NOVEMBRO - TERREIRÃO DO SAMBA

     Tudo que envolve a organização do festival Hell in Rio é motivo de muito orgulho para os frequentadores da cena carioca. Uma produção impecável e idealizadora decide sonhar acordada, organizando um evento que tem tudo para virar tradição anual. O cast inaugural tem um objetivo claro, prestigiando a cena nacional. A importância dos nomes envolvidos para representar uma história de mais de trinta anos de Heavy Metal brasileiro é dada nos mínimos detalhes. Muitos consideram loucura promover algo desse tamanho apenas com bandas locais, mas casos recentes deixam claro o que acontece quando um produtor da um passo maior que a perna chamando inúmeras bandas gringas que não pode pagar. Para o começo de uma história, foi tudo feito com muita correção. Um laboratório perfeito para mostrar que é possível incorporar o festival no calendário anual de shows.
       O principal de tudo é deixar claro como a música feita no Brasil tem força, e que existem produtores capazes de fazer eventos de porte internacional. O local escolhido foi o Terreirão do Samba, que deixa claro no nome que a tradição dos eventos lá não é exatamente do nosso estilo. Uma aposta arriscada pelo tamanho, que de fato ficou exagerado para um público razoável que compareceu nos dois dias, mas incapaz de lotar uma área tão ampla. Levando para as casas tradicionais, seguramente esgotaria um Circo Voador, mas certamente o pacote final compensou a realização num lugar assim. Tirando isso, tudo que era necessário para um bom evento foi proporcionado pelo Terreirão do Samba. Inúmeras barracas para matar a fome e sede ao longo das horas de shows, estandes com muito material das bandas do festival, som de 1a, boa visualização do palco, muitos banheiros, espaço para que o público circule e uma localização central que permitia chegada e saída razoavelmente tranquila para todos. Enfim, tudo em cima para que o público curtisse intensamente cada show, que vale lembrar, começando rigorosamente no horário marcado. 


1o dia

    Apenas uma coisa saiu fora do script no começo de tudo. Uma chuva torrencial desabava sem parar ao longo do dia e noite. Mesmo assim, nada que alterasse o cronograma da festa. A qualidade do som era impecável, os horários eram cumpridos e o lugar até oferecia algumas partes cobertas para que o público se escondesse. Em função do clássico carioca que acontecia a poucos quilômetros dali, eu acabei me atrasando um pouco, depois de fazer uma jornada dupla futebol/Heavy Metal. Infelizmente não vi os primeiros shows. Reckoning Hour e Perception abriram a jornada, seguidos pelo mais que clássico Garotos Podres (atendendo pelo nome de O Satânico Dr Mao E Os Espiões Secretos) e o também muito forte Oitão. Os relatos que ouvi de ambos os shows foi extremamente positivo, como previsto. Cheguei exatamente na hora de uma das grandes atrações do festival, o Claustrofobia.

Claustrofobia - A banda paulista é uma das mais importantes no atual cenário do Heavy Metal brasileiro. Com o disco Download Hatred saindo do forno, não foram poucos os que estavam naquele 1o dia de festival com enormes expectativas para essa apresentação. Mesmo com a água que insistia em cair, se formou um enorme mosh pit do lado esquerdo do palco, onde todos tinham as letras na ponta da língua. Marcus D´Angelo (Vocal/Guitarra), Douglas Prado (Guitarra), Caio D´Angelo (Bateria) e Daniel Bonfogo (Baixo/Backing Vocal) entraram com uma garra impressionante para promover o novo trabalho. No tempo que simplesmente passou voando, a base do setlist foi formada por músicas dos dois discos mais recentes. Do já clássico Peste, coisas como a faixa-título, Matal Maloka, Bastardos do Brasil e  Pino da Granada garantiram a satisfação daqueles que não paravam de agitar um minuto na roda molhada. Enfim, uma apresentação impecável de uma banda que representa muito bem a nova safra do Heavy Metal nacional

Hibria, Almah e Dead Fish - Bem, eu não sou exatamente a pessoa mais adequada para falar muito sobre essas três bandas. O Dead Fish é um capítulo a parte, sendo para mim uma banda que destoa totalmente do festival como um todo. Entendo perfeitamente a escolha por um motivo bem simples. Eles levaram público, e certamente contribuíram bastante para que o cenário ficasse mais agradável no 1o dia de festival. O Hardcore bem mais ou menos da banda nunca me agradou, e ao vivo menos ainda. Enfim, nada muito além disso para comentar. Já o Almah e o Hibria são bandas que estão num patamar bem semelhante ao meu ver. Não sou fã de nenhuma delas, mas são shows extremamente agradáveis de assistir em um festival. A banda gaúcha é um dos maiores destaques do cenário atual, fazendo um sucesso enorme lá fora e com grande prestígio também no Brasil. O Power Metal com a voz diferente de Iuri Sanson se provou eficiente e cativante. O Hibria divulga o trabalho que leva seu nome lançado em 2015, fazendo seus fãs terem plena satisfação ao final do show. O Almah, capitaneado por Edu Falaschi - uma verdadeira lenda do Heavy Metal brasileiro - e o guitarrista Marcelo Barbosa é outra grande escolha. Mesmo nunca fazendo muito minha cabeça, é uma banda de musicalidade indiscutível e que sabe o que faz no palco. Com  E.V.O, seu 5o disco de estúdio, acabando de sair do forno, fez um dos shows mais legais da noite. O ponto máximo foi a parceria de Edu e Fabio Lione no clássico Nova Era, eternizado por Falaschi na atual banda de Lione. Fora o show de vozes, é muito legal ver a boa relação da dupla demonstrada em outras oportunidades e evidenciada na atual divisão de guitarrista. Dos tempos de Angra, ainda rolou a maravilhosa Heroes of Sand. Só por isso, já valeu a noite.

Sepultura - Coube a maior banda de Heavy Metal do Brasil fechar o 1o dia de festival. Nessa altura, o público diminuiu um pouco, restando apenas quem foi lá para reverenciar essa entidade da nossa música - claramente a maior parte dos presentes. A formação do Sepultura é fantástica há tempos, estando prestes a lançar mais um disco na carreira de mais de trinta anos. Dele veio uma provinha, a maravilhosa I Am The Enemy, mostrando que vem coisa boa por ai. O show encerra a tour de trinta anos do Sepultura, que já se prepara para rodar o mundo promovendo o novo disco.

Eis que Eloy Casagrande (bateria), Derrick Green (vocal), Andreas Kisser (guitarra) e Paulo Jr (baixo) começam a recapitular parte da gloriosa história da banda justamente pelos primórdios. Tome o memorável riff de Troops Of Doom chegando com tudo. Com um pulo no ótimo Kairos, a faixa da nome ao ótimo trabalho lançado em 2011 segue com o nível fantástico do show. Ai vem uma sequência daquelas, com coisas do porte de   Slave New World, Breed Apart, Desperate Cry e Dusted botando fogo no mosh. Dos tempos de Derrick, rolaram Convicted in Life, Dialog e The Vatican. Tudo com uma performance fantástica da atual formação. Só ver Eloy Casagrande em ação destruindo seu kit já vale o ingresso. O show seguiu para o final com hinos em sequência.  Territory,  Beneath the Remains, Arise e  Refuse/Resist são simplesmente devastadoras para quem acompanha a banda. Ainda é estranho ver a voz de Derrick em algumas dessas, mas apenas por diferenças de técnica vocal mesmo. A fraca Sepultura Under My Skin destoa, mas Ratamahatta e Roots Bloody Roots tratam de fechar a conta com correção.

Num dia de muita chuva, o saldo do Hell in Rio já era muito positivo. Público muito longe de lotar o enorme lugar, mas que passava longe de ser vergonhoso, conseguiu dar uma grande resposta em todos os shows. O festival foi impecável em todos os mínimos detalhes organizacionais, provando que com profissionalismo é possível sim realizar um grande festival no Brasil. Estava só no meio da festa, mas a satisfação de todos já era evidente. Agora era descansar para repetir a dose no dia seguinte.

2o dia

      O clima era outro no 2o dia de festival. A chuva felizmente não deu as caras, e ficou aquele tempo sensacional de festival à tarde. Um público levemente maior comparecia desde cedo, por obra e graça do line up. No 1o dia, os que levaram mais público foram Dead Fish e Sepultura. Já nesse segundo, foram três atrações. Pelo que vi de camisas e reações no show, Matanza, Angra e Korzus, com o Velhas Virgens também muito prestigiado. Meu objetivo já era ver o 1o show do dia, do Hatefullmurder, mas infelizmente não consegui chegar no horário novamente cumprido com invejável pontualidade. Sendo assim, era hora do show do Eros.

Eros - A banda volta a ativa depois de mais de vinte anos exatamente no festival. Com um disco no currículo - Road to Wisdom (1990) -, a nova formação ganha um guitarrista a mais. Themys Barros (vocal e Guitarrra), Raphael Marins (Guitarra), Gabriel Barros (Bateria) e Thomas Abrantes (Baixo) fazem um ótimo papel para um show de retorno justamente num festival desse tamanho. Apresentando um Thrash Metal clássico, divertiram bastante a turma que chegou cedo ao Terreirão do Samba. Thomas, já consagrado na cena como guitarrista do Krueger e um dos caras mais legais que conheço no meio, mostra toda a sua versatilidade na nova era do Eros. Apresentação rápida e certeira. 

John Wayne e Project 46 - Tai duas bandas que não me descem. O Project 46 até já me agradou, mas depois de dois ou três shows cansa. Ainda assim, repeito muito suas conquistas em tão pouco tempo e a força que seu nome já tem na cena. E justiça seja feita, a banda evoluiu bastante para esse show. Ainda que o vocalista Caio MacBeserra continue exagerando nas frases de efeito "brutais", parece bem mais contido. A qualidade do som também é legal, e já com um público cativo, fez um show dentro do que se esperava. Destaque também para Baffo Neto no baixo, figura mais que consagrada no Capadocia  e no trabalho nos bastidores com as bandas de Max Cavalera e Angra. Um show muito legal para os fãs, apenas Metalcore definitivamente não é meu estilo preferido. Já o John Wayne foi um desastre mesmo. A começar pelos problemas técnicos com os equipamentos desde o início, passando pelo som exageradamente alto. Ai o problema mora principalmente no vocalista, passando também pelo equilíbrio sonoro. Bem, sendo bem franco, achei o show uma coisa pavorosa, mas talvez o gosto pessoal pese em tal avaliação. A banda goza de certo prestígio na cena e parece ter agradado os fãs presentes, então que fique essa impressão. 

Velhas Virgens - Ai está um show sensacional para acompanhar num festival! Comandados por Paulão Carvalho e Juliana Kosso nos vocais e paramentados com um hilário avental de cozinha, o que vimos foi um Blues daqueles bem tocados com letras de humor puro e direto. O conteúdo somado às performances da dupla de vocalistas e falas sempre engraçadas garantiram um belo show de muita diversão na tarde de domingo. A cantoria do público, que tinha as letras na cabeça e seguia o comando de Paulão também foi algo notável. Uma banda que leva a sério o que interessa, mas nunca se levou a sério, segue trinta anos depois fazendo um som de respeito com performance ótima por onde passa. Uma das gratas surpresas do festival. 

Korzus - Hora do grande momento do festival. O show mais chamativo confirmou todas as expectativas que tinha. Essa verdadeira instituição do Heavy Metal brasileiro que há tempos não pisava na cidade vem disposta a tirar o atraso. Eis que uma legião de Thrashers se reúne na frente do palco para promover uma roda daquelas, e muita cantoria. Guilty Silence, do ótimo Ties of Blood, começa o show com tudo. Raise Your Soul representa a obra-prima Discipline of Hate, mostrando que o Korzus faria seu set baseado nos ótimos discos recentes - algo normal há tempos. Eu estou para conhecer alguém que tem mais o Heavy Metal na alma do que Marcello Pompeu. A cada show com o Korzus ele se mostra mais apaixonado pelo que faz, e aqui não foi diferente. Sempre com um discurso de devoção aos presentes, também fez questão de dar a dimensão exata do que estava acontecendo nesse fim de semana no Rio de Janeiro. Um cara que sofreu na pele com aquela bizarrice chamada Metal Open Air sabe muito bem a diferença para quando a coisa é feita por quem sabe. O show segue com Never Die, do mesmo Discipline of Hate. Bleeding Pride é a 1a de Legion, ótimo disco lançado em 2014 e pela 1a vez apresentado no Rio de Janeiro. What are You Looking For como sempre é cantada em uníssono, encorporando peso ainda maior às performances de Dick Siebert (baixo), Rodrigo Oliveira (bateria), Heros Trench e Antonio Araújo (guitarras). Discipline of Hate não deixa por menos, mostrando porque é uma das melhores músicas da carreira do Korzus. Pompeu segue com a aula de como comandar uma festa. Puxa gritos de efeito, vai pra grade cantar com o público e tudo que tem direito. A sensacional nova Vampiro deixa um mosh daqueles rolando, abrindo espaço para a sempre bombástica Correria. Thruth encerra a enorme participação do disco lançado em 2012, abrindo espaço para a única viagem além dos anos 2000 na obrigatória Guerreiros do Metal, uma bela celebração aos tempos de SP Metal - coletânea diretamente responsável pela festa desse fim de semana nos primeiros dias de Heavy Metal brasileiro. Legion fecha a conta com chave de ouro. 

Senti falta de algo dos três primeiros discos, principalmente de Mass Illusion, mas nada tira o brilho de um show digno do nome Korzus. Com sobras o show do festival.

Matanza - Então ocorre uma inversão entre as últimas duas bandas da noite. Eu ainda me recuperava do Korzus, já que não sou grande fã do Matanza como um dia já fui. Ainda que não tenha saco para seus shows hoje em dia, é inegável que a banda foi responsável por arrastar ao festival boa parte dos presentes - algo que justifica plenamente sua participação. No palco, a correção de sempre de uma banda que gosta de tocar ao vivo. De destaque mesmo, fico com as sempre hilárias intervenções de Jimmy, o gigante irlandês que é praticamente dono da banda. Papel muito bem cumprido. É lógico que tem incontáveis bandas que eu preferia ver ali, mas não tem como negar que o Matanza é um dos nomes que mais leva público aos shows no Brasil. Simples assim. 

Angra - Então com toda justiça coube ao Angra fechar a conta. A banda que passou pela cidade em agosto tocando a obra-prima Holy Land completa, agora enxuga aquele show memorável em músicas e participações. Fora a já consagrada formação com Fabio Lione (vocal), Rafael Bittencourt e Marcelo Babosa (Guitarra), Felipe Andreoli (baixo) e Bruno Valverde (bateria), o show teve como único reforço o sensacional percussionista Dedé Reis - que em certo momento da um verdadeiro show de capoeira. Agora com pérolas do porte de Holy Land, Z.I.T.O e Angels And Demons no roteiro, não tinha como esse show ser algo menos que espetacular. O Angra passa por um momento ótimo, e o Hell In Rio não deixou por menos. A esperada participação de Edu Falaschi acabou não rolando, mas a coisa saiu muito bem ainda assim. Newborn Me e Final Light representaram o disco mais recente, e ao lado de coisas como Wings of Reality, Nothing to Say, Time, Waiting Silence, Make Believe, Rebirth e Nova Era, promoveram uma viagem pela história da banda com um público que respondeu a altura. Esse público pediu incessantemente Carry On, e foi atendido com um duelo de Lione com o sempre simpático apresentador da festa Bruno Sutter. Infelizmente já tinha saído do local, e não presenciei de perto tal momento. 

   O saldo do Hell In Rio é fantástico. Tudo que dependia da organização foi cumprido com invejável profissionalismo. O Rio de Janeiro teve dois dias de festa com grandes nomes do Heavy Metal brasileiro ditando o baile. O festival é um verdadeiro marco para quem vive a tal cena de perto, e olhando a felicidade nos olhos de vários amigos e conhecidos responsáveis pelo acontecimento é algo realmente emocionante. Ainda que o público não tenha conseguido lotar o enorme espaço, quem foi também fez muito bonito em cada apresentação. Numa enorme diversidade de estilos, cada um viu o que queria e respeitou as bandas que não curtia, exatamente como manda o manual. Enfim pessoal, não tenho um  reparo sequer a fazer, e o Hell In Rio está mais que aprovado no nosso robusto calendário anual de shows. 


sexta-feira, 4 de novembro de 2016

BLACK SABBATH - MOB RULES

   Em 1981, a nova era do Black Sabbath já não era tão estranha aos muitos fãs que se recusavam a acreditar que Ozzy Osbourne não era mais o vocalista do grupo. Entre esses, podemos colocar o baterista Bill Ward, que deu lugar a Vinny Appice logo depois do lançamento de Heaven And Hell. Dio conseguiu chutar para o inferno tal desconfiança com um dos maiores lançamentos da história do Heavy Metal. Uma banda refeita dos últimos anos conturbados da formação original estava pronta para dar sequência ao trabalho, e fez isso com mais um clássico no currículo. 
   É inevitável comparar Mob Rules com o antecessor. Talvez esse não tenha clássicos da potência de Neon Knights e Heaven and Hell, mas contém um playlist espetacular de maravilhas obscuras. Tony Iommi talvez tenha aqui uma de suas performances mais espetaculares da carreira. Isso proporciona em encontro com a voz inigualável de Dio momentos épicos como The Sign of the Southern Cross, Over And Over e Falling Off the Edge of the World. Poucas vezes na história uma parceria deu tão certo. Geezer Butler e Vinny Appice também mostravam grande entrosamento. Outros momentos mais diretos também marcam Mob Rules com igual correção.  Country Girl é uma daquelas músicas que fica enorme graças a Tony Iommi em mais uma exibição de gala. A faixa-título se eterniza como o hit do trabalho, seguida de perto por Voodoo, verdadeira aula de Dio. Não podemos esquecer também do começo matador proporcionado pela pedrada irresistível Turn Up the Night, para mim a melhor de Mob Rules e top 10 da história da banda. 
    Mob Ruler é um eterno clássico lado B do Black Sabbath. Quem passa com um olhar menos atento pela discografia nunca pesca algumas das maravilhas desse disco, mas os já mais acostumados com a banda tem Mob Rules numa prateleira muito especial. Surpreendentemente a banda sofre outra enorme transformação pouco tempo depois. Appice e Dio saem para voltar somente em 1991, dando lugar a Ian Gillan e novamente Bill Ward. O resto é história, mas Mob Rules cravou seu nome na história do Black Sabbath num playlist impecável. 


terça-feira, 18 de outubro de 2016

SHOW DO SEBASTIAN BACH - CARIOCA CLUB - SÃO PAULO

     O último final de semana foi muito especial para os fãs de Hard Rock que estavam em São Paulo. Depois do show irrepreensível do Aerosmith no sábado, era a vez de conferir outra lenda em ação no domingo. Sebastian Bach é uma das maiores vozes da história do estilo e marcou uma geração estando a frente do Skid Row. Com uma carreira solo de respeito, o vocalista propõe algo diferente para a atual turnê. Skid Row, Skid Row e mais um pouco de Skid Row no setlist - completo com alguns covers. Do seu trabalho solo, apenas American Metalhead - cover consagrado por ele no disco Angel Down (2007). Para quem como eu não viveu o auge no grupo nos anos 90, foi algo incrível.
      O nosso amigo tião mudou muito desde então. Sua voz não é aquela perfeição dos tempos áureos, mas também não chega a ser um desastre, segurando minimamente os clássicos de sua banda. Em um dia absurdamente quente, um Carioca Club cheio - mas não lotado - ganha ares de qualquer clube da Sunset Strip em 1989. O grande DJ Edu Rox aquece o pessoal com clássicos na sequência explodindo os Pa's, até cerca de trinta minutos depois do horário marcado. Aqui começa um verdadeiro desfile de hits. 
      Acompanhado por Brent Woods (guitarra, violão e voz), Rob De Luca (baixo e voz) e Bobby Jarzombek (bateria), Bach começa o show com uma versão para Little Wing de Jimi Hendrix - consagrada pelo Skid Row. Dali para frente, uma sequência alucinante de clássicos da banda. Uma coisa é importante que seja dita. O som da casa não contribuiu em nada. O microfone simplesmente sumia em vários momentos, e pior, um estrondo extremamente irritante era constante ao longo das músicas. Os problemas inclusive interromperam o show por alguns instantes, enquanto um clássico do Aerosmith distraía os  presentes. 
     Apesar disso, o show era ótimo. A magnífica Breakin' Down, presente no derradeiro Subhuman Race, chega para emocionar todos. Então a coisa fica feia de vez com o hino 18 And Life. Nesse momento, o Carioca Club era formado por uma voz só. Bach não é aquele garotão mais, agora uma coisa não mudou nada. O carisma do vocalista lembra exatamente o garoto que destruía o Brasil durante o Hollywood Rock em 1992. Aquele mesmo discurso em português claro entre cada música mostrando o quanto a relação com o país é forte. Para quem presenciou aquela bizarrice no Monsters de 96, é sempre bom retornar nos braços do seu público. Ai Wasted Time arremata de vez o coração de quem ama Skid Row. Mesmo cantando razoavelmente bem, é bom lembrar que sua versão foi encurtada justamente no final, quando o nível de dificuldade vocal é altíssimo. O mesmo ocorreu no próximo clássico, a irresistível Quicksand Jesus. I Remember You vem para fechar uma sequência daquelas. Ai chega a hora do já citado ajuste sonoro. Depois do desfile de power ballads, Bach está disposto a mostrar a face mais pesada do Skid Row na volta. Tome uma sequência destruidora com Slave to the Grind, Sweet Little Sister, Big Guns, The Threat, a solo isolada American Metalhead e Piece of Me. Para fechar essa parte do show, hora do hino Monkey Business. 
     Com uma sequência dessas, não tinha um fã da banda que não estivesse visivelmente emocionado na pista do Carioca Club. Ai tião apresenta uma versão para Tom Sawyer do Rush, como introdução para Rattlesnake Shake. Já caminhando para o fim, Bach aponta para sua tatuagem com os dizeres Youth Gone Wild, acompanhado pelo público. A música que traduz o que significa Skid Row ficou marcada também por algo inusitado e amplamente divulgado. Um "fã" que segundo relatos saiu empurrando todo mundo para chegar na grade foi gentilmente expulso por Sebastian Bach do lugar, com direito a coro puxado pelo mesmo. Do lugar que eu estava, não vi a ocorrência, mas o evento ficou claro e contou com irrestrito apoio dos presentes. Para fechar a conta, TNT do AC/DC vem como uma deixa para o fim de festa em clima de celebração. 
      Sebastian Bach não tem a voz dos tempos de ouro, mas consegue ainda entregar um bom show. A proposta deixa claro suas declarações favoráveis ao retorno da formação clássica do Skid Row dadas recentemente. Atualmente ele roda o mundo celebrando o legado da banda que transformou seu nome em lenda do Rock N'Roll. Faz isso muito bem, e por uma hora e meia mata a sede dos que cresceram ouvindo o grupo. Vamos ver se a tal reunião sai do papel agora...

SHOW DO AEROSMITH - ALLIANZ PARQUE - SÃO PAULO

    Que o Aerosmith é uma das bandas mais importantes da história do Rock todos sabemos. Com tal status, uma formação que permanece praticamente a mesma por mais de 40 anos - praticamente por causa das breves saídas de Joe Perry e Brad Whitford nos anos 80 -  está numa ainda indireta turnê derradeira. Bem amigos, para quem esteve na mágica noite de 15 de outubro de 2016 no estádio do Palmeiras, isso simplesmente parece impossível. Tudo por causa da forma física invejável de todos os senhores, que desfilaram categoria em duas horas do mais puro Hard Rock. Se estão perto do fim ou não, está claro que não é por falta de condições de apresentar algo digno do nome que carrega. Com clássico suficiente para ao menos 8h horas de show, os bad boys de Boston podem muito bem se dar ao luxo de não trazer nenhum disco novo desde a última aparição por aqui. A essa altura da vida, ninguém é louco de reclamar de uma banda ainda impecável no palco escolhendo 19 de seus hinos eternos para brindar os presentes que lotavam cada pedaço do lugar. 
   Antes de tudo, tivemos o aquecimento do Sioux 66. Uma das bandas novas praticantes do Hard clássico que a noite pedia, os garotos não tremeram diante do enorme palco. Apresentaram um pouco de seu repertório cantado em inglês e português misturados até na mesma música. As letras de protesto até chegam a destoar do ritmo nunca conhecido por isso, mas o resultado é bem agradável. Rolou até uma curiosa versão para a ótima O Calibre do Paralamas do Sucesso. Com aplausos no final, a banda agrada os presentes já secos por Steven Tyler, Joe Perry, Brad Whitford, Tom Hamilton e Joey Kramer.
     E com pontualidade simplesmente invejável, o Aerosmith começa a brincadeira. Isso com surpresa no setlist, que foi algo recorrente em todo o show. O pérola Draw The Line já abre valendo cada centavo investido. E já podemos ver o único problema do show - que felizmente nada teve a ver com a banda em si. O Aerosmith tem um dos piores públicos do Rock em nível de participação, e falo isso depois de três shows. Quando rolam as baladas noventistas que fizeram a banda renascer, todo mundo pira. Nada contra, mas quando você vê que para ao menos 80% dos presentes uma banda desse tamanho se resume a isso é de matar. Em músicas mais agitadas da mesma época, a participação cai bastante, mas o pior é quando damos uns pulos em discos setentistas. Não tem simplesmente uma alma viva que se digna a cantar, fazendo com que um silêncio constrangedor tome conta do seu entorno. É normal o público de hoje conhecer pouco em shows de estádio, mas a coisa nos shows da banda conseguem piorar ainda mais. Bem, mesmo com isso tudo, nada atrapalharia a noite épica que estava começando.
     Love in an Elevator se classifica entre as "agitadas" noventistas no nível de participação. Muitos cantam, mas outros tantos desconhecem. Já aqui vemos o quanto especial seria a apresentação. Bastava olhar o que Steven Tyler fazia. Em vez de piorar com o tempo, ele conseguiu a proeza de melhorar - ao menos em relação aos shows de 2011 e 2013. Assim foi o tempo todo, com voz em dia, disposição do grande frontman que é agitando o tempo todo e sem nenhum artifício para tomar um ar. É som depois de som até o fim. Para um senhor de 68 anos, isso é simplesmente inacreditável. A banda acompanha com classe, sem errar um detalhe sequer. Mesmo com o som não tão bom quanto o que vi naquele lugar no David Gilmour, está muito longe de prejudicar algo.
     Ai agora finalmente vemos o estádio cantar como a banda merecia. Hora de Alicia Silverstone e a senhorita Tyler aparecerem de imediato na memória de quem cresceu vendo o clipe de Cryin' - pela reação, todos os 45 mil presentes. O momento foi muito emocionante, chegando ao ápice na reta final com a dupla Perry/ Whitford brincando de solar e Tyler sacando a gaita. É inegável que essas músicas marcaram época e tem o seu valor. Então ta na hora de mais surpresa. Eat The Rich é mais uma carta na manga que o Aerosmith selecionou especialmente para São Paulo. Ela nunca me encantou de fato, mas é evidente sua importância para a banda, e escuta-la ao vivo foi uma experiência fantástica! Para fechar a sequência de Get A Grip, a cantoria de Cryin' segue na irmã Crazy. Então acontece o grande momento para mim. Simplesmente Kings And Queens senhores! O que falar dessa verdadeira entidade que representa o auge de Draw The Line? Uma das músicas mais magníficas que o Aerosmith escreveu foi daquelas para arrancar minhas lágrimas, mas lamentavelmente passou despercebida para 90% do estádio. Quando vemos a mudança de reação entre ela e a anterior notamos como o público do Aero é desinteressado na história da banda.  Livin' on the Edge representa outra época, mas sua estrutura fantástica mantém o clima incrível num dos pontos altos de todo o show. Para arrematar, outra maravilha setentista. Diretamente de Rocks, Rats in the Cellar da uma aula de Rock para um público que novamente não sabia do que se tratava. A porrada que fez a cabeça de toda uma juventude americana - que tempos depois formaria bandas como Metallica, Guns N'Roses, Testament e Slayer - ainda conta com um encerramento sensacional na alongada rifferama promovida por Joe Perry. Ai vem outro choque de realidade. A ao meu ver fraquinha Dude (Looks Like a Lady) chega e bota o estádio abaixo. Ta certo que a voz do povo é a voz de Deus, mas tem horas que ela da uma bela desafinada... Por conta disso, consigo entender a decisão da banda em mesclar o set, dando um jeito de sempre agradar quem pagou caro. O fã die hard vai ouvir raridade, o noventista vai ouvir algumas das músicas que cresceu vendo na MTV. Não preciso dizer que em Monkey on My Back - uma preciosidade pinçada em Pump -, o silêncio voltou a reinar né? Nessa altura, tal fato pouco interessava. Ver uma banda como o Aerosmith desfilando algumas maravilhas desse porte já bastava. Pink, outra totalmente dispensável, foi cantada em uníssono. A sempre presente Rag Doll agita com seu ritmo contagiante, abrindo espaço para Joe Perry brilhar. Assumindo os vocais em Stop Messin' Around, ganhamos uma verdadeira aula de Blues em uma interpretação simplesmente matadora. Ai vem um lado c. Chip Away the Stone é mais uma surpresa maravilhosa que a noite reservou, casando muito bem com o momento.
    Ai Tyler mostra uma de suas características mais marcantes. Além de ser um grande frontman, o cara é uma das figuras mais legais do Rock. Ao ver pedidos por Hole In My Soul, não fez como em 2011 que apresentou Angel completinha, mas fez questão de cantar seus primeiros versos e ainda se desculpar pela impossibilidade de leva-la por completo. Foi a introdução para I Don't Want to Miss a Thing. Essa vale alguma ressalvas. Em casa, eu não paro nem um segundo sequer para escutar. Agora ao vivo ela ganha muito. Daquela coisa meio batida de estúdio, a balada mais balada já lançada por eles fica arrepiante. Daqui até o Rock In Rio, certamente não vou escuta-la, mas lá sei que será um grande momento. Ai é hora de prestar uma homenagem a uma das maiores influências do Aerosmith. Come Together, cortesia de uma certa banda de Liverpool, ganha uma versão daquelas que todo o estádio celebra. Então Walk This Way fecha a parte regular do show. Uma das pérolas de Toys in the Attic conseguiu ser simplesmente relançada nos anos 80, na parceria clássica com o Run DMC que tirou o Aerosmith de sua pior fase para ai começar aquela sequência de lançamentos responsável pela captação de grande parte de seus fãs atuais.
      Depois disso, vem um dos encerramentos mais magníficos que já presenciei. Steven Tyler surge no piano. O homem simplesmente me puxa os versos iniciais de Home Tonight e faz uma das partes de You See Me Crying no piano. Para arrematar tudo, começa a sempre arrepiante Dream On. Humanamente impossível não se emocionar com a performance dos senhores de Boston nesse momento. Como se já não fosse o bastante, Sweet Emotion fecha a conta com chave de diamantes. É aquela hora de olhar para os amigos ao lado incrédulo com o que acabamos de presenciar. Comandados pelos toxic twins em noite de gala, o Aerosmith fez um show simplesmente memorável. Um set inspirado e cheio de surpresas apresentado por um gigante do Rock em grande forma. Uma daquelas noites para agradecemos o fato de ainda ser possível estar de frente com uma banda como o Aerosmith. Graças ao senhor, a despedida ganhou um bis. Que venha o Rock in Rio! 
      

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

BOB DYLAN: O GÊNIO DA POESIA MUSICAL

   Bob Dylan acaba de fazer história. Sim, para esse homem não é nenhuma novidade. Mesmo assim, não tem como ignorar o que representa para um músico ser condecorado com o Prêmio Nobel de Literatura. A grande questão é que a riqueza poética sempre foi a maior marca da obra de Dylan. A condecoração justificada com “criação de uma nova expressão poética dentro da grande tradição americana da canção” é de uma justiça indiscutível. 
   Traduzindo tudo isso, a força que moveu toda a obra de Bob Dylan estava exatamente nas letras. Se sua voz não tinha o alcance de um Robert Plant ou Freddie Mercury, o objetivo era exatamente esse, e a história prova que tudo foi alcançado com sucesso absoluto de um dos maiores artistas de nossos tempos. Simplificando tudo num violão, gaita e voz, o homem criou uma legítima obra literária de contestação e a musicou. Tente acompanhar os versos de Monsters of War, A hard Rain's a-gonna Fall, The Times They Are A Changin e Blowin' in the Wind e perceba a riqueza do protesto de um sonhador por um mundo melhor, e assim notamos a importância histórica de Bob Dylan para a música.
    A influência dele fica clara nas versões de suas músicas eternizadas por gente do tamanho de Rolling Stones e Guns N'Roses. Não sou louco de tentar entender um artista desse tamanho e transformar sua história em texto, mas certas colocações históricas são fundamentais para sacar o que representa esse prêmio em sua obra fenomenal por si só. A canção de protesto é a melhor que o homem pode fazer, e ninguém até hoje soube fazer isso melhor que Bob Dylan. Em tempos de guerras, ele vinha e falava exatamente o que a população sentia com uma fina ironia. Em A hard Rain's a-gonna Fall ele se superou nesse assunto, e com um amontoado de "lides musicais", criou a melhor canção de protesto feita até hoje pelos olhos de um pai que recebe de seus filhos uma descrição do apocalipse que estava diante deles. O efeito de versos de Blowin' in the Wind entoados em protestos anti-guerra mostra toda força de Dylan na prática. A força das palavras ditas na voz rouca de Dylan produzia - e ainda produz - um efeito simplesmente devastador.
     Se você ainda não se aprofundou na vasta obra do Sr Bob Dylan, esse dia de 13 de outubro de 2016 é uma boa oportunidade. Feliz de quem em vida reconheceu em forma de prêmio o significado da obra desse homem. 


terça-feira, 11 de outubro de 2016

DESTRUCTION - UNDER ATTACK

    Depois de longos 4 anos, o Destruction coloca uma novidade daquelas nas prateleiras dos thrashers de plantão. E como de costume, não decepciona! Com bons lançamentos nos anos recentes, considero Under Attack um postulante a futuro clássico do Thrash Metal. É para mim o disco mais inspirado desde The Antichrist (2001), que já ostenta esse título. 
     Tudo que se espera de Schmier (vocal e baixo), Mike Sifringer (guitarra) e Vaaver (beteria) está aqui. Em faixas longas, o massacre sonoro de sempre ganha por vezes um toque de melodia acertadíssimo. Ainda assim, o que predomina é a pancadaria que eternizou o nome Destruction na história do Thrash Metal. A voz do líder Schmier já é um chamado para o bate cabeça, e as letras e melodias inspiradíssimas do disco tem nele seu ponto máximo. A faixa-título já começa muito bem. Com começo numa introdução progressiva, explode na linha frenética de bateria ao longo de seus seis minutos de duração. A coisa fica ainda melhor em Generation Nevermore. A faixa tem aquela mesma linha clássica dos discos oitentistas, e se aparece em algum deles não soaria estranha. O desempenho de Mike também merece destaque. O homem que sempre esteve lá não ia decepcionar os fãs a essa altura. Dethroned ganha contornos sensacionais com a bateria em destaque absoluto. Vaaver comanda seu andamento. Getting Used to the Evil da uma pisada no freio. Isso não quer dizer que não ficou ótima. A diversidade é muito bem vinda, e mostra como o Destruction é rico musicalmente. E assim segue a brincadeira até o final. Thrasheiras de 1a como Conductor Of The Void, Second To None e Elegant Pigs são diversão garantida para os fãs que acompanham o Destruction há mais de 30 anos. 
       Como é bom se surpreender positivamente com um disco de tamanha qualidade. O Destruction lança algo digno do nome, com momentos realmente empolgantes e com todos os predicados para se transformar num futuro clássico. É ótimo ver uma lenda do Thrash Metal vivendo um momento tão especial. 


sexta-feira, 7 de outubro de 2016

SLAYER - REIGN IN BLOOD

     O Slayer não era iniciante em 1986. Kerry King, Dave Lombardo, Jeff Hanneman e Tom Araya já tinham colocado dois clássicos no mercado - o primeiro deles na minha opinião o melhor da banda. Ainda assim, o que aconteceu naquele ano foi algo muito acima do que qualquer um poderia prever. Com Reign in Blood, o Slayer escreveu um dos capítulos mais gloriosos da história do Heavy Metal. Um disco que se transformou num verdadeiro marco na história da banda, e a eternizou nas prateleiras mais intocáveis do Thrash Metal. 
     Reign in Blood é uma avalanche de Thrash Metal. Em 30 minutos, o sentimento de qualquer ouvinte é de devastação auditiva. Aqui a marca da banda muda um pouco do que se viu em Show No Mercy e Hell Awaits. Tudo ficou alucinadamente mais veloz. Das 10 pedradas, apenas três tem duração superior a três minutos. Duas delas são os clássicos absolutos do disco e da banda. Angel Of Death e Raining Blood são hinos supremos do Thrash Metal. Uma começa e outra encerra o massacre sonoro. Riffs memoráveis, melodias incríveis e refrões eternos no coração de qualquer fã minimamente familiarizado com o estilo. Fora essas, o disco oferece um farto cardápio para uma audição insana. Piece by Piece é ao meu ver a síntese da insanidade musical promovida no trabalho. Em dois minutinhos, vimos exatamente do que o Slayer é capaz. E assim seguimos com Necrophobic, Altar of Sacrifice, Jesus Saves, Criminally Insane, Reborn e Epidemic. Postmortem forma com a faixa-título uma dobradinha imbatível - uma prova da genialidade de Hanneman. 
      O disco revolucionou tudo em relação ao Thrash Metal. Ao lado de obras como Bonded By Blood do Exodus e Kill Em All do Metallica, ele é talvez o mais importante para o estilo. Uma audição atenta para cada detalhe mostra o quanto Dave Lombardo é diferenciado em seu instrumento, Jeff Hanneman e Kerry King uma dupla imbatível de guitarristas/letristas e Tom Araya um verdadeiro frontman - aqui adotando seu estilo de cantar falando que o eternizou, se diferenciando um pouco do que fazia nos dois primeiros discos. A tempestade de sangue segue causando estragos 30 anos depois de ser jorrada. 


segunda-feira, 3 de outubro de 2016

SHOW DO WHITESNAKE - METROPOLITAN - RIO DE JANEIRO

     O Whitesnake tem um casamento de 31 anos com o Rio de Janeiro. Desde o 1o Rock in Rio, o amor da banda pela cidade exposto em várias passagens futuras vai se fortalecendo. A banda nunca escondeu ter dono que faz dela praticamente uma banda solo. Esse dono é o vocalista David Coverdale. Na atual formação, o veterano é o monstro Tommy Aldridge - um dos maiores bateristas da história do Rock N'Roll. Desde 1987, foram muitas idas e vindas. Além dele, Reb Beach (Winger) já comanda as seis cordas há mais de 10 anos, e dessa vez vem acompanhado de Joel Hoekstra. Michael Devin (Baixo) e Michele Luppi fecham o time. Não é novidade para ninguém que David Coverdale está longe, muito longe mesmo, do seu auge vocal. Mesmo assim, ainda consegue contornar isso com truques certeiros e muito carisma. Vamos ser francos, o setlist magnífico da turnê faz o trabalho sozinho.
      Em dia de eleições, o Metropolitan recebeu um grande público ávido por Hard Rock. Com um atraso insignificante, a trupe de Coverdale toma de assalto o palco ao som da indescritível Bad Boys. Slide It In e  Love Ain’t No Stranger completam um dos maiores começos de show que já tive a oportunidade de assistir. Parece que o nome da turnê dos "grandes hits" ia ser levado a sério. O foco eram os trabalhos consagrados Slide It In (1984), 1987  e Slip of the Tongue (1989), sem absolutamente nada dos mais recentes Forevermore e God To Be Bad.
       The Deeper the Love é uma das novidades mais acertadas do set, sendo muito celebrada e emocionando profundamente os fãs de longa data da banda. Fool for Your Loving seguiu no mesmo Slip of the Tongue. Então Coverdale relembra sua história aqui, prometendo uma viagem ao Rock In Rio. Era hora do extraordinário medley Ain’t No Love in the Heart of the City/Judgement Day.
        Depois dessa sequência alucinante de clássicos, é hora do Sr Coverdale tomar um ar. Falando do homem, era impossível esconder sua forma vocal atual. Para contornar, os artifícios foram muitos. Botar a banda para ajudar em vários momentos, jogar para a galera em outros. Fora isso, não faltaram solos, proporcionando a famosa pausa para respirar. O primeiro foi um duelo interminável dos dois guitarristas. Depois dele, Coverdale mostra outra das famosas camisas personalizadas e retoma o interesse de todos para Slow an’ Easy - uma música que transpira Led Zeppelin. Mal encerra ela, e o dono da marca volta para os bastidores. Solo da vez? Baixo tem seu momento de brilho. Mais um retorno com um clássico - Crying in the Rain - e mais um solo. Dessa vez era O SOLO. Não tem como não se impressionar com os recursos de Tommy na bateria. O homem chega num momento que arremessa as baquetas para o público e toca somente com as mãos. Dessa vez foi algo além de uma pausa para água misturado a famosa média com os integrantes. Foi um dos pontos altos da noite!
     Dali pra frente acabou a mamata, é hora de seguir com clássicos. Is This Love, um dos hinos máximos de qualquer coletânea "Love Metal", bota o Metropolitan para cantar em uma voz só. As obrigatórias  Give Me All Your Love, Here I Go Again e Still of the Night mostram todo seu poder de fogo. Essa última poderia ser facilmente substituída por um motivo bem simples. Ela demanda uma voz em dia, sem abrir brechas para os recursos. Ou seja, fica mais que evidente a atual forma vocal do dono da banda. Ainda assim, ela é o tipo de música irresistível. Para fechar a noite, a tradicional lembrança dos tempos de Deep Purple com Burn.
      Apesar de Coverdale estar longe dos seus melhores dias, ele consegue driblar seus problemas e fazer um grande show. Uma formação magnífica e sua longa experiência no palco fazem um repertório formado exclusivamente por clássicos brilhar sozinho. O público tem a oportunidade de viajar na história do Whitesnake, e é bom ainda ser possível fazer isso em pleno 2016.

Foto publicada no Twitter de David Coverdale.

sábado, 1 de outubro de 2016

SHOW DO RATOS DE PORÃO - CIRCO VOADOR - RIO DE JANEIRO

     Se tem uma coisa que eu já desisti é tentar classificar o som do Ratos. Punk ali, Crossover aqui, Thrash acola, Grindcore e Hardcore num olhar mais atento.... Melhor parar por aqui, mas o certo é que com essa mistura toda a banda é uma das mais importantes da nossa história. Essa história tem um glorioso capítulo no ano de 1991, com o lançamento de Anarkophobia. O disco que é na minha opinião o melhor já lançado pela banda foi celebrado numa noite indescritível de Circo Voador com um bom público. Me arrisco a dizer, o melhor show do Ratos dos muitos que já vi. 
      Antes, tivemos duas aberturas. O Enterro fez um show com Death/Black Metal ao melhor estilo Behemoth para ninguém botar defeito! Ainda com um público bem discreto, quem viu aprovou. Infelizmente eu não posso dizer o mesmo do sofrível "McRAD". Com um vocal indescritivelmente ruim, nem o reforço de Juninho no baixo deu jeito. Um Punk/Pop/Indie para lá de duvidoso tava lá fazendo sabe-se lá o que. Antes tivéssemos ficado com o ótimo show do Enterro na cabeça. 
     Indo ao que interessa, uma lona seca pela lenda Ratos de Porão explode nos primeiros acordes de Contando os Mortos. A abertura do disco mais Thrash Metal da banda é de duração incalculável para os padrões da banda. Ela é uma das minhas preferidas, e simplesmente era difícil acreditar naquilo ao vivo a a cores. Não é novidade que João Gordo, Jão, Boka e Juninho estão na ponta dos cascos. Com um set especial assim tão bem tocado, simplesmente não sobra pedra sobre pedra. Morte ao Rei - com um trecho político sensacional no lugar dos "xingamentos" registrados em disco" - e Sofrer, duas outras pérolas dessa obra-prima, mostram como seria um show do Ratos no auge. Quem estava lá sabia disso.  Ascensão e Queda relata o auge e decadência de uma banda de Rock numa letra inspirada. Felizmente não é o caso do Ratos de Porão, que depois de 35 anos ainda tem um nome para lá de pesado. Mad society e Ódio 3 dão sequência ao retorno no tempo. Nessa última Jão faz sua bela e diferentona introdução na guitarra quebrando totalmente a toada "normal" do show - de maneira fantástica é bom lembrar. A faixa-título veio com mais um toque mais que preciso de Gordo sobre o nosso momento político antes da brincadeira. Igreja Universal segue sendo a melhor letra de uma banda brasileira, retratando um câncer que depois de 25 anos segue sendo exatamente o mesmo de sempre. Cantar seus versos ao vivo é sempre de lavar a alma. Ai o cover de Commando do Ramones e a escondida Escravo da Tv encerram essa volta aos tempos de ouro de Anarkophobia. 
     Se a banda fosse pra casa agora, a noite já teria valido a pena. Vimos um dos grandes discos da história do Heavy Metal brasileiro completinho. Ainda assim, a turma ainda tinha mais cartas na manga pelos outros grandes discos registrados. E que seleção! A 1a é a melhor de Século Sinistro e já clássica Conflito Violento. Ai voltamos diretamente para Crucificados Pelo Sistema em forma do hino Morrer. A indescritivelmente suja Crocodila vem para não deixar Carniceria Tropical passar em branco. O público segue agitando como se não houvesse amanhã. Ai Crucificados Pelo Sistema destrói o que ainda existe de carcaça em meio ao insano Mosh Pit. Ai é hora de dar um pulinho em Brasil, com Amazônia Nunca Mais e Maquina Militar - duas sacadas preciosas. Paranoia Nuclear de Descanse Em Paz e  Realidades Da Guerra são gratas surpresas dos velhos tempos. 
     O encerramento vem com três clássicos indispensáveis. Tome Aids, Pop, Repressão, Beber Até Morrer e Crise Geral. Assim se encerra uma noite absolutamente memorável no Circo Voador. Volto a falar, o melhor show que o Ratos de Porão fez em muito tempo! 

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

IRON MAIDEN - SOMEWHERE IN TIME

     Em 1986, o Iron Maiden já era um gigante do Heavy Metal mundial. Vindo de Powerslave e de uma turnê exaustiva que deu origem ao lendário Live After Death para sua promoção, os amantes do estilo esperavam ansiosamente pelo seu próximo passo. Para Somewhere in Time, a banda ousou ao incluir sintetizadores. O que poderia ser um desastre acabou tendo um efeito positivo em forma da única coisa que a banda sabia fazer nos anos 80 - lançar obra-prima. Somewhere In Time é mais um disco com um playlist impecável. 
      O grande clássico do disco é a eternamente magnífica Wasted Years. Sua melodia inspiradíssima e variedade rítmica explodindo num refrão pronto para os estádios faz dela um dos maiores hinos do Iron Maiden. Além dela, a outra com status próximo ao longo dos anos foi Heaven Can Wait. Quem não lembra do seu coro no refrão que quando aparece ao vivo é entoado por toda a equipe em cima do palco? O mesmo foi urrado pelos fãs quando entravam no Hsbc Arena para o mais recente show da banda no Rio. Bem, de resto acontece algo peculiar. Músicas épicas e magníficas como Sea Of Madness, The Loneliness of the Long Distance Runner, Stranger in a Strange Land, Déjà Vu, Alexander the Great  e Caught Somewhere in Time se transformaram em eternos lados b da banda. Nunca foram lembrados em set algum depois da tour de promoção do disco e lamentavelmente não existem para os fãs que se limitam a ouvir Fear of the Dark e The Trooper. Seja como for, todas as citadas são algumas das melhores músicas que o Iron Maiden já fez. Se te passou despercebido, procure ouvir cada uma delas. Não vou entrar em detalhes, mas você vai se surpreender com tamanha perfeição. 
      O disco que completa 30 anos hoje é daqueles simplesmente perfeito em cada detalhe. Não tem uma música que seja menos do que maravilhosa. Preste atenção no desempenho de Bruce Dickinson em músicas como Sea of Medness e Stranger in a Strange Land, que eu diria ser alguns dos mais inspirados da carreira. Olhe também o quanto Dave Murray e Adrian Smith estão entrosados aqui, além das cavalgadas únicas de Steve Harris em parceria com a bateria de Nicko McBrain. Vimos aqui uma das maiores bandas da história no auge. Somewhere in Time merecia reconhecimento ainda maior até da própria banda. 


domingo, 25 de setembro de 2016

SHOW DO VIOLATOR - TEATRO ODISSEIA - RIO DE JANEIRO

    Eu poderia usar muitas palavras para descrever a noite de 24 de outubro de 2016 no Teatro Odisseia. Entre todas elas, a mais adequada é esperança. Sim, quem esteve lá saiu com esse sentimento. Os motivos? Uma banda underground até a alma, nova e sem nenhum grande tipo de apoio levou ao Odisseia um dos maiores públicos que já vi no lugar. Não que seja um orgulho as bandas que vou citar "perderem", mas a lista inclui nomes como Krisiun, Entombed, Napalm Death, DRI com Ratos de Porão, Nuclear Assault e Hypocrisy. Enfim amigos, foi uma noite para provar que da para chegar longe mesmo com todos os nossos problemas de cena. 
      Alguns fatores contribuíram para isso. A produção magnífica, o grande line up do evento, o preço acessível e principalmente a estreia do Violator no Rio de Janeiro. Muitos esperam há tempos a melhor banda que surgiu nesse país nos anos 2000 aparecer. Ela agrada em cheio fãs de Thrash Metal oitentista, sendo assim adotada de imediato por grande parte deles. Passando pelos mesmos problemas dos que ralam para tocar de vez em nunca em botecos vazios, podemos dizer que o Violator chegou numa posição maravilhosa no cenário nacional. 
      Antes porém, é impossível não citar as outras grandes bandas que se apresentaram na noite. O Vingador fez um show digno de uma das melhores bandas da cena carioca. Ainda muito cedo e com a cada enchendo no decorrer da apresentação, os cariocas mostraram um pouco do mais puro Thrash Metal que seria o ritmo de toda noite. Já surgiu um belo mosh pit, algo que raramente acontece em aberturas. Isso se explica pelo prestígio que a banda já tem na cena. Sons do porte de Yellow Crew, Dead Nazi Poem, Hellstorm, Whata Fuck Is This?! e Morrendo de Paz já garantem a diversão de quem conseguiu chegar às 5 da tarde no lugar. Os quatro saem do palco com um sorriso no rosto que nem uma rocha despencando na cabeça seria capaz de tirar. No resto da noite, foram presença constante no mosh pit.
     Seguindo com a rigidez nos horários, agora era vez de outra banda consagrada do underground carioca - mais uma sábia escolha. Farscape chega com o Odisseia já lotado disposto a dar sequência ao baile com mais Thrash Metal dos bons. Esse show eu já vi um pouco mais ao fundo da casa, onde o som já dava uma certa embolada. Mesmo assim, a banda fez exatamente o que se esperava deles. O mosh já é digno de show principal, e a banda mostra todo seu poder de fogo para um público que já a adotou como uma das preferidas da nova safra. Com muita variação, tome sons sensacionais como Wild Rocker, Demon’s Massacre, Thrash Until You Drop e Carrasco do Metal. Com dois shows desse tamanho, a noite já tava ganha por todos antes mesmo da atração principal. 
     Como se estivesse num eventinho underground para 30 pessoas em Brasilia, o Violator ajeita tudo no palco e agradece aos presentes antes mesmo do 1o acorde. A banda ainda apresenta seu 3o disco, o já não tão novo assim Scenarios of Brutality. É dele que sai a abertura da brincadeira com Death Descends (Upon This World). Não precisa mais que isso para um mosh daqueles tomar conta do lugar, assim ficando até a banda deixar o palco. Pedro "Poney" Arcanjo (Baixo e Vocal), Pedro "Capaça" Augusto (Guitarra), Marcio "Cambito" (Guitarra) e David "Batera" Araya (Bateria) vão a cada número mostrando o porque de tanto prestígio. Endless Tyrannies e Echoes of Silence fecham uma trinca  inicial de respeito. É bom lembrar que a forte veia política da banda se fez presente nos discursos sensacionais do grande Poney. A banda esteve em evidencia dividindo opiniões por simplesmente criticar um político. Independente de posições, quando uma crítica a seu politico de estimação gera uma revolta contra uma das nossas melhores bandas, percebemos como os tempos são complicados. Vale lembrar que xingamentos a esse senhor também foram bem constantes ao longo da noite. Bem, nosso assunto aqui é outro. 
     Voltando a parte boa, Deadly Sadistic Experiments apresenta Annihilation Process aos presentes. A banda se caracteriza por uma pancadaria Thrash sem uma única pisada no freio. Isso se transforma num exercício daqueles dos apaixonados thrasheiros que bangueiam sem parar no mosh. Respect Existence or Expect Resistance, com seu título maravilhoso, retorna ao disco mais recente com seu refrão sendo cantado por todos. Em meio ao caos, aparecem celular e escova de dentes perdidos no palco, em um dos momentos mais hilários da noite. Futurephobia, de Annihilation Process, soa quase como uma premonição. A música já é um dos maiores clássicos do Violator, e agita como poucas o mosh. Ai finalmente é hora do melhor disco da banda dar as caras. Ordered to Thrash mostra todo o poder de fogo que Chemical Assault tem. Um dos grandes discos da história do Metal nacional é um marco, e o maior responsável por esse público presente no lugar. Atomic Nightmare destroi o pouco que sobro depois de tanta porrada na orelha. O disco que é uma verdadeira ode ao Thrash Metal se mostra diferenciado. Então tome Brainwash Possession, Toxic Death e Thrash Maniacs - essa do ep Violent Mosh. Destined To Die e o hino UxFxTx fecham a noite com uma invasão ao palco - eu incluso nessa. Tem algo mais Thrash de raiz que isso?  
        Espero ter traduzido um pouco do que foi uma das maiores noites do underground carioca que pude presenciar. Pessoal, ela nos mostrou ser possível. Da para lotar uma casa consagrada, ter uma legião de fãs e tudo mais fazendo um som sem frescura. Um verdadeiro sopro de esperança tomou conta do Teatro Odisseia numa matinê para não ser esquecida tão cedo!