terça-feira, 28 de junho de 2016

RED HOT CHILI PEPPERS - THE GETAWAY

    Você é fã daquele Red Hot funkeado dos tempos de Mother's Milk e Blood Sugar Sex Magik - ou sendo ainda mais radical -, dos tempos de  Freaky Styley e The Uplift Mofo Party Plan?  Se sim, passe longe desse novo trabalho, pois não existe absolutamente nada daquela banda nele. Se você é daqueles que prefere coisas mais recentes, na linha de By The Way e Californication talvez se identifique com o que está ai, mas também esqueça aqueles solos inspiradíssimos do ex guitarrista John Frusciante. 
    Depois desses importantes avisos, vamos ao que o Red Hot Chili Peppers tem para brindar aos fãs em pleno 2016. Como estamos falando de uma banda que lançou coisas interessantes em tempos recentes, se espera algo do disco novo. Uma mudança nas seis cordas mudou também muita coisa no som, já que não existem grandes semelhanças ente John Frusciante e o atual Josh Klinghoffer. Sendo bem franco, o anterior está anos luz a frente em todos os sentidos, mas principalmente quando o assunto é solo. Como esse é um dos pontos que mais chama atenção, sou obrigado a falar que em Getaway a guitarra aparece muito pouco nas mais lentas. Nas um pouco mais "pesadas". Josh segue uma linha básica adotada por bandas alternativas dos anos 90/00. Para destacar seu melhor desempenho, fico com The Longest Wave. Ainda assim, Frusciante deixa saudades.
    Falando do disco como um todo, não chega a ser intragável. Temos melodias inspiradas em praticamente todas as músicas, que com um solo ou outro ganhariam contornos muito mais interessantes. O disco quase todo é composto por músicas mais lentas. Algumas são ótimas, como a já citada The Longest Wave, o hit Dark Necessities (com um toque sensacional de piano) e Goodbye Angels por exemplo. Flea e Chad Smith mostram a competência de sempre, principalmente na razoável faixa-título e em Go Robot. Vale destacar a participação do mestre Elton John no piano de Sick Love. Quando a banda engata uma 3a marcha, faz isso bem, mas puxando totalmente para um Rock alternativo simples com guitarras suja, o que acontece nas boas Detroit e This Ticonderoga - ambas sem a identidade da banda. O disco deixa claro um abandono ao funk, que em se tratando de Red Hot vem sendo ensaiado desde meados dos anos 90, mas agora o fato ganha contornos definitivos. 
     Em resumo, o disco passa longe de ser ruim, mas vindo de quem veio, se esperava algo muito melhor. Posso afirmar que é o trabalho mais fraco da banda em muito tempo, vendo ela tomar rumos completamente diferentes daquele que a consagrou, experimentando e se repetindo com coisas que caíram muito bem em Stadium Arcadium por exemplo, mas quando repetidas acabam cansando. Da para ouvir, tem bons momentos, mas a banda precisa de algo mais num próximo lançamento. Se eu fosse maldoso, diria que precisa mesmo é de um novo guitarrista, mas como não sou, ninguém leu esse trecho. 


domingo, 26 de junho de 2016

SHOW DO IRA! - CIRCO VOADOR - RIO DE JANEIRO

     O ano de 1986 é de rara inspiração para o Rock em geral. Na música internacional está certamente entre os mais inspirados da história, com uma quantidade de lançamentos espetaculares para agradar gregos e troianos. Melhor nem começar a citar nomes, porque se começar não acabo hoje. Em um momento não muito comum, o Brasil parecia estar na mesma vibe. Um país empolgado com o fim da ditadura, e com o impulso do 1o Rock in Rio, fez explodir alguns dos mais importantes discos do seu Heavy Metal. Tome Taurus, Azul Limão, a importantíssima coletânea Warfaee Noise, Dorsal Atlântica e Sepultura forjando o estilo hoje consagrado. Isso foram só alguns monstros em seus primeiros passos. No Rock também não foi diferente, e podemos destacar o Cabeça Dinossauro dos Titãs e Vivendo e Não Aprendendo do Ira!, o disco que seria celebrado nessa noite de 25 de junho de 2016 - 30 anos depois do ano mágico -, e mereceu toda essa introdução para pontuar a importância da noite. 
      Para abrir os trabalhos, foi chamado o rei do Punk Brega Wander Wildner, que fez uma show interessantíssimo para o papel que cumpria. Boa parte do público conhecia seu trabalho e cantou junto músicas hilárias como Um Lugar Do Caralho, Surfista Calhorda, Eu Não Consigo Ser Alegre o Tempo Inteiro e Hippie Punk Rajneesh. Uma performance enérgica muito bem recebida que acabou em gritos de "mais um". Receita para um open act de sucesso. 
     Com todos devidamente aquecidos, era hora do show da noite com o já rodado "novo" Ira!. A abertura deu o tom da ideia da banda para o show - fora a íntegra de Vivendo e Não Aprendendo. Era resgatar lados b, que dependendo do ponto de vista essa classificação é até otimista. Amor Impossível, escondido em algum lugar do mais que obscuro Meninos da Rua Paulo passou quase despercebida pelo Circo entupido de gente. Depois foi a vez da ótima Flerte Fatal relembrar os bons tempos de Acústico MTV, época que me apaixonei pela banda na turnê que vi em ação duas vezes do alto dos meus 12-13 anos. Sem Saber Pra Onde Ir ganha um feeling do grande Edgard Scandurra em mais uma noite inspirada, já que ela representa o último e fraco disco de inéditas da banda, que de tão desastroso representou o fim em briga homérica que durou 6 anos. 
    A frente estava Nasi, bem mais magro, mas numa forma vocal ainda longe do ideal. Mesmo assim, soube contornar simplificando sempre que possível e jogando para o público de vez em quando. A dupla remanescente é a alma do Ira! atual, captando toda atenção do público. Evaristo Pádua (bateria), Daniel Scandurra (baixo) e Johnny Boy (teclados) fazem muito bem seu papel, é bom lembrar, sem comprometer o resultado - para não dar chance ao saudosismo. 
    Com Tarde Vazia, o Circo solta a voz. Na sequência, ele explode de vez em Eu Quero Sempre Mais, um lado b resgatado em forma de hit máximo nos tempos do Acústico. A sequência mostra como esses tempos ainda estão vivos na memória dos fãs. Dando um pulo em Psicoacústica, vem a escondida Advogado do Diabo - sábia escolha - e o hit sensacional Rubro Zorro. A luz vermelha remete ao tema da música, criando um climão único. Então é hora de dar início ao Vivendo e Não Aprendendo. Agulha no ponto, hora do hino Envelheço na Cidade devastar a pista. Quem conhece o trabalho sabe que Casa de Papel vem em seguida. Nasi lembra que essa não saia tinha uns bons 25 anos, e não disfarçou as olhadinhas pontuais para o chão em busca de cola. Grande momento, seguido pelo hino Dias de Luta.  Tanto Quanto Eu e Vitrine Viva não tem o tamanho de outros clássicos do disco, mas são bem mais comuns e saem com desenvoltura de uma banda que brincava de tocar Rock N'Roll. Flores em Você, consagrada na trilha de alguma novela oitentista, vem dando sequência ao Vivendo. Dali pra frente, só hino do Rock nacional. A maravilhosa 15 Anos, a pedrada Nas Ruas, a arrasta quarteirão Gritos na Multidão e a indescritível Pobre Paulista devastam o Circo. 
     A última merece um parênteses. Polêmica eterna graças a um verso infeliz, normalmente não aparece no set da banda. A verdade é que quem fez foi um Edgard Scandurra adolescente naquela atitude típica de quem não tinha noção do que aquilo poderia representar. Sua orientação politica (explícita na camisa "quem viu,viu") deixa claro que o homem Edgard está do lado oposto aqueles que costumam desenvolver pensamentos preconceituosos. Ele já falou algumas vezes sobre o tema, inclusive na recente entrevista que deu para o programa virtual "Panelaço" do grande João Gordo. Resumindo, não devemos apontar dedos e acusar ele de qualquer coisa com base nisso, e sua história de vida prova que mesmo eternizada numa grande música, o trecho é de um adolescente em momento de revolta sem causa, e não de um homem velho cheio de pensamentos tortos. No show, Nasi fez questão de parar de cantar justamente na hora do verso, e no final deu um tapa com luvas de pelica na cara de um certo deputado popstar - que não me causa nenhuma simpatia -, em forma de xingamento - felizmente aplaudido pelos presentes. 
    De volta ao que interessa, a noite se encaminha para o fim com Girassol, outro lado b transformado em clássico no acústico. Então vem o momento que todos sabiam que rolaria quando Wander foi chamado para abrir os trabalhos. Ao lado do guitarrista Jimmy Joe, o autor de Bebendo Vinho - tomada para sí pelo Ira! -, subiu para celebrar esse grande clássico que faz um elo de ligação entre os dois shows da noite. Foi em forma de uma jam informal que tudo aconteceu, mas sem dúvidas foi outro grande momento. Nucleo Base chega para formar uma roda homérica na pista e fechar a conta com classe. O Ira! novato proporcionou aos cariocas uma grande noite de Rock na lona sagrada!  

sexta-feira, 24 de junho de 2016

SHOW DO NAPALM DEATH - TEATRO ODISSEIA - RIO DE JANEIRO

   Na noite de 23 de junho, os bangers cariocas com cabeça um pouco mais aberta tiveram de escolher entre Napalm Death e Dream Theater - bem no único dia do mês com show gringo. Seja como for, a nova turnê não muito atrativa pesou, e fiquei com o Napalm. Não me arrependi, e uma banda que nunca falha fez mais um show impecável na cidade. 
   De volta depois da espetacular turnê conjunta com o Hatebreed em 2014, com o ótimo Apex Predator – Easy Meat na bagagem, o Napalm Death fez exatamente o que se esperava dele. Antes disso, teve o Horroficia, que honestamente não me chamou muita atenção como show de abertura - apesar da participação performática do vocalista. Depois de um breve intervalo, era hora de um Odisseia com o seu tradicional público mediano para bom - longe de passar vergonha mas também distante de sua lotação máxima - explodir em um mosh insano de Grind.
    Com Apex Predator – Easy Meat, uma espécie de intro, tem inicio uma verdadeira aula de Grindcore com quem melhor entende do assunto. A banda opta por passear por diferentes discos e fases durante todo show, com muito material novo como foco ao lado dos clássicos indispensáveis. Silence Is Deafening - abertura de The Code Is Red...Long Live the Code (2005) vem em seguida, criando um pandemônio na pista. A fantástica When All Is Said And Done, outra de um disco razoavelmente recente, mostra como a banda tem poder de fogo por toda carreira e não ficou parada no tempo. De fato abrir o show com músicas de trabalhos recentes é uma aposta diferente, dando a tona do que seria a noite. Hora de ir para o maravilhoso trabalho mais recente, que talvez seja um dos pontos altos da carreira da banda. Smash a Single Digit é brutal bem ao estilo Napalm Death de ser, assim como a também nova Timeless Flogging. Continuing War on Stupidity é outra a viajar pelas obras do Napalm no novo século com muita classe e dignidade.
   Não tem como não falar que o repertório é original e acertado, tendo a ótima forma em estúdio devidamente comprovada ao vivo. John Cooke é a novidade, substituindo de maneira correta o lendário Mitch Harris em turnê. De resto, a já consolidada formação com os grandes Mark "Barney" Greenway (vocal), Shane Embury (baixo) e Danny Herrera (bateria) promove a destruição de sempre. O público é aquele de sempre em shows de lendas desse porte, profundo conhecedor da obra e ligado no 220 durante todos os momentos.
    Voltando ao show em si, Dear Slum Landlord... é mais uma nova interessantíssima. Fugindo da brutalidade habitual e apresentando uma certa cadência, considero essa uma das mais inspiradas do trabalho. Então a viagem moderna é interrompida para um salto direto aos clássicos que consagraram o nome Napalm Death na história do Heavy Metal. O hino Scum dispensa apresentações, dando nome a magnífica estreia que abalou as estruturas do estilo em 1987. O Odisseia era uma voz só naquele instante. Era só o começo de uma sequência daquelas. Social Sterility, uma pérola escondida no também clássico From Enslavement to Obliteration, faz a turma old school infartar. Deceiver, do alto de seus 30 segundos, mostra o espírito de Scum. Então depois de mais um dos muitos discursos inspiradíssimos de Barney sobre os perigos de misturar religião e politica, num país que tem no congresso uma famigerada bancada evangélica que tanto mal faz a nós, vem a minha música preferida da banda. Suffer the Children é um hino do disco mais Death Metal do Napalm Death, o fantástico e irresistível Harmony Corruption. Breed to Breathe explora o ótimo Inside the Torn Apart. Essa também está no meu hall de preferências da história da banda. Mentally Murdered é mais uma a representar From Enslavement to Obliteration para um Odisseia a essa altura já em estado de graça. Hora de voltar ao presente com Hierarchies, para depois surpreender a todos na escolha de The World Keeps Turning, diretamente de Utopia Banished. Então vem o cover de Conform, da banda Siege, que já é consagrada nos shows do Napalm. O clássico Lucid Fairytale e a nova How the Years Condemn passam como um furacão, para depois a inigualável You Suffer aparecer como um relâmpago numa especie de descanso da banda, causando gargalhadas nos presentes e uma expressão facial impagável no frontman Barney. Então o mesmo faz o discurso que para mim valeu a noite, apresentando o hino do Dead Kennedys Nazi Punks Fuck Off como uma música anti fascista. No atual momento do país, não consigo esconder a emoção ao ouvir isso. A nova Adversarial/Copulating Snakes fecha a conta de uma noite memorável, com a banda saindo do show com um sorriso cravado no rosto.
     As escolhas surpreendem, com um Napalm Death indo além de clássicos, passando por discos diferentes e por muitas coisas novas. O show durou aproximadamente uma hora, e ninguém espera algo mais longo de uma banda com essas características. Se algum louco tivesse vontade de correr para o não tão distante Vivo Rio e ver o Dream Theater, talvez até fosse possível - já que mesmo com um pouco de atraso, ainda eram 22:30. Era visível a expressão de felicidade dos que presenciaram tamanho espetáculo, com a certeza de que sempre que o Napalm Death estiver por aqui, a satisfação é garantida. 

sábado, 11 de junho de 2016

SKID ROW - SLAVE TO THE GRIND

     Depois de estrear com o disco que leva o nome da banda e apresenta ao mundo hinos eternos do Hard Rock como 18 and Life, Youth Gone Wild e I Remember You, o mundo voltava seus olhares para o que Sebastian Bach (vocal), Dave Sabo e Scotti Hill  (guitarra), Rachel Bolan (baixo) e Rob Affuso (bateria) aprontariam dessa vez. O resultado veio com a obra-prima de breve trajetória clássica do Skid Row. Muitos torcem o nariz para a banda - como aconteceu no lamentável episódio de alguns anos depois no Monsters of Rock de 96 -,  mas a verdade é que Slave to the Grind é um disco de audição fundamental para qualquer fã de Rock N'Roll legítimo. 
    Estourando um pouco depois de alguns dos gigantes Hard's oitentistas, o Skid Row clássico se caracteriza pela voz magnífica de Sebastian Bach e os solos igualmente fantásticos de Dave Sabo na base de tudo. Nessa levada, em Slave To The Grind a banda forjou mais um punhado de clássicos. Para destacar um, citaria o encerramento com Wasted Time, uma Power Ballad daquelas que a banda sabe fazer como ninguém. Nesse mesmo esquema, temos também as não menos magníficas In a Darkened Room e Quicksand Jesus. Podemos considerar esse trio o exemplo perfeito de baladas com bom gosto, peso e criatividade. O lado mais pesado da banda vem com as pedradas Monkey Business - outro legítimo hino do Hard Rock -, a faixa-título e  Psycho Love. Deu para sentir o nível do playlist não? 
      Slave to the Grind se tornou um verdadeiro apanhado de hits da banda, um dos discos mais importantes do Hard Rock e outro dos meus trabalhos de cabeceira de uma vida. Em tempos de reuniões improváveis e algumas declarações de um Sebastian Bach claramente interessado nisso, é ótimo celebrar os 25 anos de uma obra dessa magnitude.