sexta-feira, 24 de junho de 2016

SHOW DO NAPALM DEATH - TEATRO ODISSEIA - RIO DE JANEIRO

   Na noite de 23 de junho, os bangers cariocas com cabeça um pouco mais aberta tiveram de escolher entre Napalm Death e Dream Theater - bem no único dia do mês com show gringo. Seja como for, a nova turnê não muito atrativa pesou, e fiquei com o Napalm. Não me arrependi, e uma banda que nunca falha fez mais um show impecável na cidade. 
   De volta depois da espetacular turnê conjunta com o Hatebreed em 2014, com o ótimo Apex Predator – Easy Meat na bagagem, o Napalm Death fez exatamente o que se esperava dele. Antes disso, teve o Horroficia, que honestamente não me chamou muita atenção como show de abertura - apesar da participação performática do vocalista. Depois de um breve intervalo, era hora de um Odisseia com o seu tradicional público mediano para bom - longe de passar vergonha mas também distante de sua lotação máxima - explodir em um mosh insano de Grind.
    Com Apex Predator – Easy Meat, uma espécie de intro, tem inicio uma verdadeira aula de Grindcore com quem melhor entende do assunto. A banda opta por passear por diferentes discos e fases durante todo show, com muito material novo como foco ao lado dos clássicos indispensáveis. Silence Is Deafening - abertura de The Code Is Red...Long Live the Code (2005) vem em seguida, criando um pandemônio na pista. A fantástica When All Is Said And Done, outra de um disco razoavelmente recente, mostra como a banda tem poder de fogo por toda carreira e não ficou parada no tempo. De fato abrir o show com músicas de trabalhos recentes é uma aposta diferente, dando a tona do que seria a noite. Hora de ir para o maravilhoso trabalho mais recente, que talvez seja um dos pontos altos da carreira da banda. Smash a Single Digit é brutal bem ao estilo Napalm Death de ser, assim como a também nova Timeless Flogging. Continuing War on Stupidity é outra a viajar pelas obras do Napalm no novo século com muita classe e dignidade.
   Não tem como não falar que o repertório é original e acertado, tendo a ótima forma em estúdio devidamente comprovada ao vivo. John Cooke é a novidade, substituindo de maneira correta o lendário Mitch Harris em turnê. De resto, a já consolidada formação com os grandes Mark "Barney" Greenway (vocal), Shane Embury (baixo) e Danny Herrera (bateria) promove a destruição de sempre. O público é aquele de sempre em shows de lendas desse porte, profundo conhecedor da obra e ligado no 220 durante todos os momentos.
    Voltando ao show em si, Dear Slum Landlord... é mais uma nova interessantíssima. Fugindo da brutalidade habitual e apresentando uma certa cadência, considero essa uma das mais inspiradas do trabalho. Então a viagem moderna é interrompida para um salto direto aos clássicos que consagraram o nome Napalm Death na história do Heavy Metal. O hino Scum dispensa apresentações, dando nome a magnífica estreia que abalou as estruturas do estilo em 1987. O Odisseia era uma voz só naquele instante. Era só o começo de uma sequência daquelas. Social Sterility, uma pérola escondida no também clássico From Enslavement to Obliteration, faz a turma old school infartar. Deceiver, do alto de seus 30 segundos, mostra o espírito de Scum. Então depois de mais um dos muitos discursos inspiradíssimos de Barney sobre os perigos de misturar religião e politica, num país que tem no congresso uma famigerada bancada evangélica que tanto mal faz a nós, vem a minha música preferida da banda. Suffer the Children é um hino do disco mais Death Metal do Napalm Death, o fantástico e irresistível Harmony Corruption. Breed to Breathe explora o ótimo Inside the Torn Apart. Essa também está no meu hall de preferências da história da banda. Mentally Murdered é mais uma a representar From Enslavement to Obliteration para um Odisseia a essa altura já em estado de graça. Hora de voltar ao presente com Hierarchies, para depois surpreender a todos na escolha de The World Keeps Turning, diretamente de Utopia Banished. Então vem o cover de Conform, da banda Siege, que já é consagrada nos shows do Napalm. O clássico Lucid Fairytale e a nova How the Years Condemn passam como um furacão, para depois a inigualável You Suffer aparecer como um relâmpago numa especie de descanso da banda, causando gargalhadas nos presentes e uma expressão facial impagável no frontman Barney. Então o mesmo faz o discurso que para mim valeu a noite, apresentando o hino do Dead Kennedys Nazi Punks Fuck Off como uma música anti fascista. No atual momento do país, não consigo esconder a emoção ao ouvir isso. A nova Adversarial/Copulating Snakes fecha a conta de uma noite memorável, com a banda saindo do show com um sorriso cravado no rosto.
     As escolhas surpreendem, com um Napalm Death indo além de clássicos, passando por discos diferentes e por muitas coisas novas. O show durou aproximadamente uma hora, e ninguém espera algo mais longo de uma banda com essas características. Se algum louco tivesse vontade de correr para o não tão distante Vivo Rio e ver o Dream Theater, talvez até fosse possível - já que mesmo com um pouco de atraso, ainda eram 22:30. Era visível a expressão de felicidade dos que presenciaram tamanho espetáculo, com a certeza de que sempre que o Napalm Death estiver por aqui, a satisfação é garantida. 

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