domingo, 26 de junho de 2016

SHOW DO IRA! - CIRCO VOADOR - RIO DE JANEIRO

     O ano de 1986 é de rara inspiração para o Rock em geral. Na música internacional está certamente entre os mais inspirados da história, com uma quantidade de lançamentos espetaculares para agradar gregos e troianos. Melhor nem começar a citar nomes, porque se começar não acabo hoje. Em um momento não muito comum, o Brasil parecia estar na mesma vibe. Um país empolgado com o fim da ditadura, e com o impulso do 1o Rock in Rio, fez explodir alguns dos mais importantes discos do seu Heavy Metal. Tome Taurus, Azul Limão, a importantíssima coletânea Warfaee Noise, Dorsal Atlântica e Sepultura forjando o estilo hoje consagrado. Isso foram só alguns monstros em seus primeiros passos. No Rock também não foi diferente, e podemos destacar o Cabeça Dinossauro dos Titãs e Vivendo e Não Aprendendo do Ira!, o disco que seria celebrado nessa noite de 25 de junho de 2016 - 30 anos depois do ano mágico -, e mereceu toda essa introdução para pontuar a importância da noite. 
      Para abrir os trabalhos, foi chamado o rei do Punk Brega Wander Wildner, que fez uma show interessantíssimo para o papel que cumpria. Boa parte do público conhecia seu trabalho e cantou junto músicas hilárias como Um Lugar Do Caralho, Surfista Calhorda, Eu Não Consigo Ser Alegre o Tempo Inteiro e Hippie Punk Rajneesh. Uma performance enérgica muito bem recebida que acabou em gritos de "mais um". Receita para um open act de sucesso. 
     Com todos devidamente aquecidos, era hora do show da noite com o já rodado "novo" Ira!. A abertura deu o tom da ideia da banda para o show - fora a íntegra de Vivendo e Não Aprendendo. Era resgatar lados b, que dependendo do ponto de vista essa classificação é até otimista. Amor Impossível, escondido em algum lugar do mais que obscuro Meninos da Rua Paulo passou quase despercebida pelo Circo entupido de gente. Depois foi a vez da ótima Flerte Fatal relembrar os bons tempos de Acústico MTV, época que me apaixonei pela banda na turnê que vi em ação duas vezes do alto dos meus 12-13 anos. Sem Saber Pra Onde Ir ganha um feeling do grande Edgard Scandurra em mais uma noite inspirada, já que ela representa o último e fraco disco de inéditas da banda, que de tão desastroso representou o fim em briga homérica que durou 6 anos. 
    A frente estava Nasi, bem mais magro, mas numa forma vocal ainda longe do ideal. Mesmo assim, soube contornar simplificando sempre que possível e jogando para o público de vez em quando. A dupla remanescente é a alma do Ira! atual, captando toda atenção do público. Evaristo Pádua (bateria), Daniel Scandurra (baixo) e Johnny Boy (teclados) fazem muito bem seu papel, é bom lembrar, sem comprometer o resultado - para não dar chance ao saudosismo. 
    Com Tarde Vazia, o Circo solta a voz. Na sequência, ele explode de vez em Eu Quero Sempre Mais, um lado b resgatado em forma de hit máximo nos tempos do Acústico. A sequência mostra como esses tempos ainda estão vivos na memória dos fãs. Dando um pulo em Psicoacústica, vem a escondida Advogado do Diabo - sábia escolha - e o hit sensacional Rubro Zorro. A luz vermelha remete ao tema da música, criando um climão único. Então é hora de dar início ao Vivendo e Não Aprendendo. Agulha no ponto, hora do hino Envelheço na Cidade devastar a pista. Quem conhece o trabalho sabe que Casa de Papel vem em seguida. Nasi lembra que essa não saia tinha uns bons 25 anos, e não disfarçou as olhadinhas pontuais para o chão em busca de cola. Grande momento, seguido pelo hino Dias de Luta.  Tanto Quanto Eu e Vitrine Viva não tem o tamanho de outros clássicos do disco, mas são bem mais comuns e saem com desenvoltura de uma banda que brincava de tocar Rock N'Roll. Flores em Você, consagrada na trilha de alguma novela oitentista, vem dando sequência ao Vivendo. Dali pra frente, só hino do Rock nacional. A maravilhosa 15 Anos, a pedrada Nas Ruas, a arrasta quarteirão Gritos na Multidão e a indescritível Pobre Paulista devastam o Circo. 
     A última merece um parênteses. Polêmica eterna graças a um verso infeliz, normalmente não aparece no set da banda. A verdade é que quem fez foi um Edgard Scandurra adolescente naquela atitude típica de quem não tinha noção do que aquilo poderia representar. Sua orientação politica (explícita na camisa "quem viu,viu") deixa claro que o homem Edgard está do lado oposto aqueles que costumam desenvolver pensamentos preconceituosos. Ele já falou algumas vezes sobre o tema, inclusive na recente entrevista que deu para o programa virtual "Panelaço" do grande João Gordo. Resumindo, não devemos apontar dedos e acusar ele de qualquer coisa com base nisso, e sua história de vida prova que mesmo eternizada numa grande música, o trecho é de um adolescente em momento de revolta sem causa, e não de um homem velho cheio de pensamentos tortos. No show, Nasi fez questão de parar de cantar justamente na hora do verso, e no final deu um tapa com luvas de pelica na cara de um certo deputado popstar - que não me causa nenhuma simpatia -, em forma de xingamento - felizmente aplaudido pelos presentes. 
    De volta ao que interessa, a noite se encaminha para o fim com Girassol, outro lado b transformado em clássico no acústico. Então vem o momento que todos sabiam que rolaria quando Wander foi chamado para abrir os trabalhos. Ao lado do guitarrista Jimmy Joe, o autor de Bebendo Vinho - tomada para sí pelo Ira! -, subiu para celebrar esse grande clássico que faz um elo de ligação entre os dois shows da noite. Foi em forma de uma jam informal que tudo aconteceu, mas sem dúvidas foi outro grande momento. Nucleo Base chega para formar uma roda homérica na pista e fechar a conta com classe. O Ira! novato proporcionou aos cariocas uma grande noite de Rock na lona sagrada!  

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