quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

KREATOR - GODS OF VIOLENCE

       Desde que lançou o ótimo Violent Revolution em 2001, o Kreator vive uma fase sólida. Podemos considerar ela uma espécie de fase 3, que usa toda a fúria Thrash Metal dos primeiros anos, mas de uma forma menos suja e direta, e sim com doses melódicas misturadas. Desde então, a banda da um certo intervalo para cada lançamento, compensando com extrema qualidade em cada detalhe deles - inclusive formando um set com muitas músicas mais recentes. Gods Of Violence é mais uma obra fantástica do Kreator, uma banda que se recusa terminantemente a envelhecer. 
       A abertura com World War Now não poderia ser mais espetacular. Show de riffs e batidas precisas na introdução, explodindo num refrão fantástico com aquela voz única de Mille Petrozza dando todo o peso que a música merece. Com Satan is Real, que chega numa formula de repetição do refrão para arrepiar o ouvinte, deixa o nível o mais elevado possível. Dois clássicos imediatos. Totalitarian Terror, num agudo daqueles de Mille para começar por cima uma letra espetacular e pertinente para os dias atuais, e a faixa-título conseguem uma sequência de clássicos (isso mesmo, CLÁSSICOS) para eternizar o trabalho. Os veteranos Ventor, como sempre arregaçando seu kit, e Mille seguem ditando as regras ao lado dos já plenamente estabelecidos Christian Giesler (baixo) e Sami Yli-Sirniö (guitarra). O trabalho dos dois guitarristas aqui é digno de uma dupla entrosada há tanto tempo, sendo um dos melhores desses mais de trinta anos de história da banda. O Kreator tem na formação de 16 anos um dos segredos para tanta coisa boa saindo em sequência. A épica Fallen Brother é outro destaque absoluto do trabalho, assim como seu clipe que presta homenagem a gigantes do Rock que lamentavelmente não estão mais nesse plano. Death Becomes the Light chama atenção pelo começo melódico que depois explode numa porrada Thrash daquelas - um efeito sempre ótimo. Army of Storms, Hail to the Hordes, Lion With Eagle Wings e Side By Side também merecem audição, mesmo não tendo o nível tão extraordinário quanto o das já citadas. 
         Neste começo de ano, o lançamento de mais uma obra fantástica do Kreator faz muito bem ao Heavy Metal em geral. Sempre é interessante ver um gigante em grande forma como é o caso desse baluarte alemão, terra que sabe fazer Thrash Metal como poucas no mundo. Gods of Violence é o sucessor que Phantom Antichrist pedia, nascendo com ao menos cinco músicas com total potencial para ser consagrada como clássico no futuro. Até o título é totalmente apropriado para o que representa o Kreator, banda que continua honrando o nome que tem nesse inspirado século XXI.




terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

ALGUNS MOMENTOS DE DIÁLOGO ENTRE O ROCK N'ROLL E OUTROS ESTILOS

    Poderia falar sobre o assunto mais comentado do momento no mundo do Rock citando as pataquadas históricas do Grammy - que não são poucas. A verdade é que a música pesada nunca foi levada muito a sério pela premiação. Desde uma bizarra "estatueta" de melhor performance Heavy Metal entregue ao fantástico, mas Progressivo Jethro Tull - que venceu o Metallica na ocasião -, passando pela ignorada solene dos falecimentos recentes de gente do porte de Jeff Hanneman e Nick Menza até o show de horrores que foi a edição desse ano. Sim, é inadmissível que se cometa uma gafe do tamanho de uma Master of Puppets "anunciando'' um prêmio para o Megadeth e os problemas amadores que simplesmente arrebentaram com o show do Metallica. Ainda com todo esse currículo, acho que vale a pena falar do show acima dos problemas. 
       Muito se comentou a respeito da apresentação do Metallica com a estrela Pop Lady Gaga. Tudo ficou dividido entre elogios e críticas (na maioria das vezes muito bem elaboradas, fugindo do chororô tr00 que por vezes acontece). Eu fico com os que gostaram, mesmo respeitando os muitos que acharam que a combinação não saiu como esperado. A verdade é que se era pra chamar uma estrela Pop para um dueto, a garota era a pessoa certa. Talentosa pra cacete, consegue fazer o melhor que o estilo representa, algo que 99% dos pares não faz. Nunca acompanhei seu trabalho a ponto de comprar discos e ir em shows, mas sei reconhecer quando a coisa é bem feita e quando não é. A ideia era claramente dialogar dois universos hoje tão distantes, e pelo que vi, deu muito certo.
        Além disso, ela tem um amor incondicional por Rock N'Roll. Já foi vista com integrantes de bandas como Iron Maiden, Saxon, Judas Priest, Kiss e Rolling Stones, vive indo a shows quando possível, e na noite da premiação estava radiante a tal ponto que registrou uma tatuagem para lembrar pra sempre do dia em que tocou com o Metallica, citando essa apresentação como um dos maiores momentos que já viveu no palco. Na apresentação, não da para negar que o microfone fudido de James Hetfield atrapalhou muito, mas como gênios que são, tanto a banda quanto a cantora deram um jeito de passar por cima e mostrar um resultado bem legal. Se ela se empolgou demais numa performance excêntrica, todos sabem que isso está incluso no pacote dela. 
        Agora voltando no tempo, podemos lembras de algumas parcerias épicas entre o Rock e outros estilos. O mais clássico é com o Rap. Se o Aerosmith passou pelos grandes momentos noventistas, muito se deve a lendária parceria com o Run DMC, um dos maiores nomes da história do Rap, na releitura do clássico setentista Walk This Way. Uma banda que passava por poucas e boas ao longo dos anos 80 estava pronta para voltar de vez para o topo, bastando responder com Permanent Vacation e Pump por exemplo. Outra parceria de gigantes que fez sucesso naqueles tempos foi do Anthrax com o Public Enemy em Bring the Noise. Para citar um único artista que conseguiu transitar entre os dois universos com brilhantismo, não podemos esquecer de Ice T. O Rapper que já tem uma carreira enorme no estilo ainda fez questão de formar o Body Count, fazendo com a banda uma barulheira das boas. Isso para não citar certos Faith No More e Rage Against The Machine, bandas que conseguem por si só promover uma belíssima mistureba.
        Voltando ao Pop de Lady Gaga, é impossível falar do estilo sem citar o seu maior nome. Michael Jackson concentra tudo que existe de melhor na música Pop em um único nome. O gênio não abriu mão do Rock N'Roll em alguns de seus momentos mais brilhantes. Em Beat It, talvez um dos seus três maiores clássicos, os dedos mágicos de Eddie Van Halen na guitarra ajudaram em muito no tamanho da música. Com Slash, o astro repetiu a dose em Black or White, outro enorme clássico. 
    Enfim pessoal, esses são alguns exemplos de como gênios de estilos diferentes sabem dialogar no palco pelo simples fato de serem muito bons no que fazem. No caso mais recente, uma avaliação melhor só seria possível num show onde a aparelhagem não atrapalhe tanto quanto foi agora, mas no que foi possível eu vi a voz de Lady Gaga caindo muito bem com a música do Metallica. Se essa parceria pode ir para frente numa outra oportunidade, vamos ver o que o tempo diz, mas o palco deu sinal verde no meu modo de ver. 

domingo, 5 de fevereiro de 2017

SHOW DO TITÃS - CIRCO VOADOR - RIO DE JANEIRO

     Uma banda que começou com nove integrantes há mais de 30 anos, aos poucos enxerga sua formação original cada vez mais curta. Por anos, as substituições eram feitas com nova distribuição de tarefas dentro da própria banda, mas com a saída de Charles Gavin, os veteranos foram obrigados a renovar a frota com Mario Fabre. Agora para preencher a enorme lacuna deixada por Paulo Miklos, o escolhido foi o guitarrista Beto Lee - tendo as músicas cantadas por Paulo agora divididas entre os que sobraram. Cabe então ao trio original Sergio Britto, Tony Bellotto e Branco Mello manter a chama de uma das grandes bandas de Rock do Brasil acesa. Um dos primeiros grandes testes seria no palco, de frente para um fiel público carioca que lotava cada espaço do Circo Voador. 
      Depois da abertura do caricado Supla, que teve seu nome gritado por todos depois de fazer a turma dançar e cantar alguns de seus hits oitentistas e clássicos de Beatles e David Bowie, era hora de ver a nova formação dos titãs em ação. Com um Beto Lee tocando fácil, mas ainda muito contido no canto do palco, os veteranos entraram com gás e um repertório escolhido com precisão para começar o baile. 
       Para já chegar com força, vem a faixa-título do grande disco dos Titãs - Cabeça Dinossauro. Para manter o clima, o riff sensacional de Diversão é cantado como de costume, assim como a ótima letra. São amostras dos tempos de ouro dessa grande banda. A pedrada AA UU bota todos para pular, seguida por A Melhor Banda de Todos Os Tempos da Última Semana - uma das poucas que salva do trabalho de mesmo nome. A chapadona e sensacional O Pulso e o tradicional cover para Aluga-se de Raul Seixas - precisamente dedicada ao povo mexicano - marcam um começo fantástico de show. Ai vem as gratas surpresas da noite. O espetacular e por muitas vezes esquecido Titanomaquia foi lembrado com a pedrada Será Que É Isso Que Eu Necessito - o grande momento da noite - e Nem Sempre Se Pode Ser Deus. Ver um Sergio Britto encenando crucificação com o pedestal do microfone em alusão a parte da letra foi a cereja do bolo. A clássica Sonífera Ilha bota a turma oitentista para dançar na lona, seguida pelas únicas novas (já não tão novas assim) Fardado e Chegada ao Brasil (Terra a Vista) - vindas para provar o poder de fogo de  Nheengatu. Os clássicos Televisão e Lugar Nenhum colocam um ponto numa sequência inicial espetacular. 
    Já era possível sacar qual era a desse novo Titãs. Sergio Britto e Branco Mello foram bem fazendo partes originais de Paulo, mas não tem como não sentir falta de um cara desse tamanho. Com isso já em mente, a nova versão da banda conseguiu dar conta da bronca. Beto é um ótimo músico, e se encaixou muito bem com Bellotto. Sim, ainda não está muito a vontade no palco, mas com o tempo isso vem. O guitarrista original então vem ao microfone saudar o público e fazer a grande novidade da noite. Pela 1a vez na história da banda, Tony Bellotto assume o vocal, e não decepciona com a mais ou menos Pra Dizer Adeus - dedicada a sempre presente esposa e global Malu Mader. Foi o início de uma sequência, ao meu ver, desnecessária daqueles sons mais "calmos" que tantos frutos renderam a banda ao longo dos anos. 
     Tome a insuportável Epitáfio, a versão diferentona para o clássico do Barão Vermelho Pro dia Nascer Feliz e as antigas e chatíssimas Go Back e Marvin. Entendo as escolhas por ter muitos ali querendo ouvir, mas não me cai bem. Ainda assim, méritos para a banda que conseguiu montar um set que agrada todo seu público para lá de heterogêneo. Passado isso, é hora da sequência final com grandes clássicos da carreira. Homem Primata, Polícia e Flores encerram a parte regular da brincadeira. Para o bis, uma banda feliz retorna para cantar a sensacional Desordem, sua música mais legal e eternamente atual. Bichos Escrotos, cantado a capela pelo público em todo o intervalo, chega com o reforço de Supla no palco - que basicamente fez figuração. A não menos atual Vossa Excelência fecha a conta de uma grande noite de Rock N'Roll.
      Ninguém sai impune de uma troca tão grande na formação, mas o novo Titãs ainda sabe fazer um grande show de Rock. Banda com porradas sensacionais e muita história, somada a uma ou outra baladinha chata, soube escolher coisas do agrado de todos os diferentes fãs que sempre respondem ao chamado para qualquer show. O Circo virou a casa carioca nos últimos anos, num casamento espetacular. O Titãs passou bem pelo teste do palco, agora é ver se Nheengatu terá um sucessor a altura.