domingo, 5 de fevereiro de 2017

SHOW DO TITÃS - CIRCO VOADOR - RIO DE JANEIRO

     Uma banda que começou com nove integrantes há mais de 30 anos, aos poucos enxerga sua formação original cada vez mais curta. Por anos, as substituições eram feitas com nova distribuição de tarefas dentro da própria banda, mas com a saída de Charles Gavin, os veteranos foram obrigados a renovar a frota com Mario Fabre. Agora para preencher a enorme lacuna deixada por Paulo Miklos, o escolhido foi o guitarrista Beto Lee - tendo as músicas cantadas por Paulo agora divididas entre os que sobraram. Cabe então ao trio original Sergio Britto, Tony Bellotto e Branco Mello manter a chama de uma das grandes bandas de Rock do Brasil acesa. Um dos primeiros grandes testes seria no palco, de frente para um fiel público carioca que lotava cada espaço do Circo Voador. 
      Depois da abertura do caricado Supla, que teve seu nome gritado por todos depois de fazer a turma dançar e cantar alguns de seus hits oitentistas e clássicos de Beatles e David Bowie, era hora de ver a nova formação dos titãs em ação. Com um Beto Lee tocando fácil, mas ainda muito contido no canto do palco, os veteranos entraram com gás e um repertório escolhido com precisão para começar o baile. 
       Para já chegar com força, vem a faixa-título do grande disco dos Titãs - Cabeça Dinossauro. Para manter o clima, o riff sensacional de Diversão é cantado como de costume, assim como a ótima letra. São amostras dos tempos de ouro dessa grande banda. A pedrada AA UU bota todos para pular, seguida por A Melhor Banda de Todos Os Tempos da Última Semana - uma das poucas que salva do trabalho de mesmo nome. A chapadona e sensacional O Pulso e o tradicional cover para Aluga-se de Raul Seixas - precisamente dedicada ao povo mexicano - marcam um começo fantástico de show. Ai vem as gratas surpresas da noite. O espetacular e por muitas vezes esquecido Titanomaquia foi lembrado com a pedrada Será Que É Isso Que Eu Necessito - o grande momento da noite - e Nem Sempre Se Pode Ser Deus. Ver um Sergio Britto encenando crucificação com o pedestal do microfone em alusão a parte da letra foi a cereja do bolo. A clássica Sonífera Ilha bota a turma oitentista para dançar na lona, seguida pelas únicas novas (já não tão novas assim) Fardado e Chegada ao Brasil (Terra a Vista) - vindas para provar o poder de fogo de  Nheengatu. Os clássicos Televisão e Lugar Nenhum colocam um ponto numa sequência inicial espetacular. 
    Já era possível sacar qual era a desse novo Titãs. Sergio Britto e Branco Mello foram bem fazendo partes originais de Paulo, mas não tem como não sentir falta de um cara desse tamanho. Com isso já em mente, a nova versão da banda conseguiu dar conta da bronca. Beto é um ótimo músico, e se encaixou muito bem com Bellotto. Sim, ainda não está muito a vontade no palco, mas com o tempo isso vem. O guitarrista original então vem ao microfone saudar o público e fazer a grande novidade da noite. Pela 1a vez na história da banda, Tony Bellotto assume o vocal, e não decepciona com a mais ou menos Pra Dizer Adeus - dedicada a sempre presente esposa e global Malu Mader. Foi o início de uma sequência, ao meu ver, desnecessária daqueles sons mais "calmos" que tantos frutos renderam a banda ao longo dos anos. 
     Tome a insuportável Epitáfio, a versão diferentona para o clássico do Barão Vermelho Pro dia Nascer Feliz e as antigas e chatíssimas Go Back e Marvin. Entendo as escolhas por ter muitos ali querendo ouvir, mas não me cai bem. Ainda assim, méritos para a banda que conseguiu montar um set que agrada todo seu público para lá de heterogêneo. Passado isso, é hora da sequência final com grandes clássicos da carreira. Homem Primata, Polícia e Flores encerram a parte regular da brincadeira. Para o bis, uma banda feliz retorna para cantar a sensacional Desordem, sua música mais legal e eternamente atual. Bichos Escrotos, cantado a capela pelo público em todo o intervalo, chega com o reforço de Supla no palco - que basicamente fez figuração. A não menos atual Vossa Excelência fecha a conta de uma grande noite de Rock N'Roll.
      Ninguém sai impune de uma troca tão grande na formação, mas o novo Titãs ainda sabe fazer um grande show de Rock. Banda com porradas sensacionais e muita história, somada a uma ou outra baladinha chata, soube escolher coisas do agrado de todos os diferentes fãs que sempre respondem ao chamado para qualquer show. O Circo virou a casa carioca nos últimos anos, num casamento espetacular. O Titãs passou bem pelo teste do palco, agora é ver se Nheengatu terá um sucessor a altura. 

       

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