domingo, 4 de dezembro de 2016

SHOW DO BLACK SABBATH + RIVAL SONS - PRAÇA DA APOTEOSE - RIO DE JANEIRO

     A noite de sexta, dia 2 de dezembro de 2016, nunca será esquecida pelos bangers cariocas. Era dia de ser agraciado - pela última vez - com o show de uma das maiores bandas da história do Rock. O Black Sabbath já tinha deixado tal sensação em 2013, mas felizmente os cariocas teriam direito a um bis em pleno 2016. Novamente uma Apoteose entupida de gente se preparava para reverenciar Ozzy Osbourne, Tony Iommi, Geezer Butler e o garoto Tommy Clufetos. O objetivo era claro: Celebrar o fim de uma era de ouro. 
      Todos os caminhos que levavam ao sambódromo do Rio eram tomados por camisas pretas. Já na porta do metro, se via uma verdadeira celebração de amigos bebendo a mesma cerveja vendida por 12 reais pela metade do preço. Adentrando o local, não era possível achar um espacinho sequer ao longo da pista. Talvez tenha sobrado algo na arquibancada - também cheia -, mas na pista era difícil caminhar até nos pontos mais distantes. Antes da despedida, era hora do aquecimento, com uma das aberturas mais acertadas que poderíamos ter.
      A mensagem do Sabbath ao escolher o Rival Sons para abrir seus shows ao longo da turnê era clara. Na linha do "agora é com vocês molecada, mantenha viva a chama que acendemos há mais de 40 anos". O Rival Sons é uma das ótimas bandas de uma nova safra que busca resgatar os anos 70. Podemos citar também Blues Pills e Scorpion Child nessa mesma linha. Pela reação que vi desde ontem, não são poucos os que vão passar a seguir a banda. 
     O set foi curto. Sete músicas em pouco mais de 40 minutos, mas os predicados se evidenciaram. Jay Buchanan tem uma voz fantástica, e dotes de grande frontman. Scott Holiday, (guitarra) Mike Miley (bateria) e David Beste (baixo) não deixam por menos, numa aula de Rock N'Roll clássico de quem soube beber na fonte dos pioneiros. A base do set foi o bom disco Great Western Valkyrie (2014), mas em pouco tempo, foi possível fazer uma viagem pela curta e já frutífera história da banda - com destaque para a fantástica Torture. Ficou aquela sensação que o Rock está em boas mãos para os próximos anos. Agora era hora de celebrar sua época de ouro. 
       Com um intervalo curto, o Black Sabbath toma de assalto o palco da Apoteose, observado por 30 mil olhares atentos. Antes de falar do espetáculo que estava por começar, uma coisa precisa ser dita - obviamente a parte que não dependia dos mestres. Com os valores abusivos que nos são cobrados em shows dessa magnitude, certas coisas são inaceitáveis. O mínimo que os heróis que fazem das tripas coração para arrumar um ingresso para a pista comum merecem é uma qualidade sonora do nível que vimos, por exemplo, nos recentes shows de David Gilmour e Rolling Stones no Brasil. Lamentavelmente, não é sempre assim. O que eu escutei do lado direito da pista comum foi um som em volume extremamente baixo ao longo de toda a noite, variando entre o péssimo, muito ruim e apenas ruim nos melhores momentos. A impressão que dava era a de que só vinha algo dos PA'S do palco em si, sem o fundamental reforço das caixas espalhadas ao longo da pista - o que faz a coisa chegar muito baixa mais no fundo. Era limpo, e imagino que quem estava na famigerada pista premium conseguiu escutar um som ótimo, mas cada vez mais é obrigatório que TODOS consigam ao menos escutar tudo com perfeição - já que ver algo além do telão é privilégio dos abastados com 700 reais para torrar. Isso posto, nem esse absurdo é capaz de atrapalhar um show do Black Sabbath.
     A abertura foi a única possível. Efeitos de tempestade tomavam conta da Apoteose, e o mestre dos riffs puxava o mais pesado e assustador da história da música. Era Black Sabbath, a música que abre o 1o disco, e dá o recado do que estava por vir. Aquele andamento deliciosamente arrastado arranca minhas lágrimas logo de cara, valendo todo o valor investido. Ver esse trio sagrado em cima do palco em pleno 2016, colocando para jogo esse hino, é experiência para levar até nosso último dia de vida. Quem acompanha a carreira de Ozzy nos últimos anos está cansado de saber que os shows não são exatamente longos. Para essa tour, são 13 músicas, incluindo uma instrumental - velha carta na manga do homem. A grande parada é que 13 músicas do Black Sabbath valem muito mais que 50 da maioria das bandas.
     A próxima delas é uma que não sai nem mesmo dos shows solos do madman. Fairies Wear Boots, grande momento de encerramento do mais que clássico Paranoid, da sequência ao baile sabático no templo do Samba. Em seguida, vem a única novidade em relação ao show que vimos naquele mesmo lugar em 2013. After Forever faz as honras de Master of Reality, numa das letras mais inspiradas da história da banda. Ainda nesse trabalho, Iommi hipnotiza os presentes com o riff magnífico de Into The Void. Com surpreendente participação do público em todos os momentos - que inclusive "cantam" alguns dos riffs da música -, Snowblind vem como única representante do magistral Vol. 4. Não tem como não ficar arrepiado depois de escutar um dos momentos mais inspirados da carreira do Black Sabbath. Para arrematar de vez, é hora de War Pigs. Pode parecer batida, mas ela é uma das minhas preferidas da banda, e o famoso coro ao seu final acompanhando o Iron Man talvez tenha sido o ponto máximo de todo show. Behind the Wall of Sleep mostra que em shows simples e diretos como este, não existe pausa para descanso emocional. Mais um hino da banda em seu primeiro disco. Hora de Geezer Butler dar início ao solo de baixo mais importante da história do Heavy Metal. Em N.I.B, o magistral baixista brilha absoluto. Ai é hora de Rat Salad, a famosa carta na manga de Ozzy há tempos para um breve descanso. Tommy Clufetos mostra então o motivo por ter sido escolhido para substituir Bill Ward na reunião do Sabbath. O homem é um baterista simplesmente irretocável. Seu solo arrancou aplausos efusivos dos presentes, que logo em sequência iriam ouvir um dos riffs mais importantes da história do Rock. Iron Man chega arrematadora como sempre, sendo talvez a música que melhor define a carreira do Tony Iommi. Dirty Women talvez seja a escolha mais controversa do set da banda, pois vem de um disco no mínimo duvidoso - Technical Ecstasy. Uma banda prestes a se separar colocou ele para jogo, mas a performance instrumental dela para mim faz dessa uma grande música. Já Children of the Grave é outra coisa. Um hino que transborda inspiração lírica se transforma numa manifestação eterna, pois a humanidade trata de deixa-la eternamente atual.
       Um breve descanso, e o tradicional encerramento com o hino máximo Paranoid bota 30 mil pessoas para celebrar o legado do trio que estava no palco. Ozzy Osbourne, Geezer Butler e Tony Iommi se curvam diante de seus fãs, ao lado dos garotos Adam Wakeman e Tommy Clufetos. É hora de agradecermos a um gigante do Rock pelos seus serviços ao estilo. Mesmo que o som não colaborasse, ter o privilégio de assistir essa banda numa grande performance faz dessa noite uma das melhores da minha vida. Ao vermos o esforço de um Iommi ao superar uma doença devastadora e de um Ozzy cada vez mais cansado pelos anos de festa, honra é a melhor palavra para descrever a sensação de sair de casa para ver um show do Black Sabbath. A verdade é que posso ter o orgulho de falar - participei de um dos últimos capítulos da história de uma das minhas três bandas preferidas em todos os tempos. O Black Sabbath está eternamente nos nossos corações, com um destaque para o que vivenciamos nessa noite.


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