sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

CHRIS CORNELL - TEATRO BRADESCO - RIO DE JANEIRO

     Não tem como acompanhar os acontecimentos musicais noventistas e passar batido pelo nome Chris Cornell. O homem que deu voz a três grupos seminais - Temple Of The Dog, Soundgarden e Audioslave - há tempos se da ao luxo de rodar o mundo num show voz/violão, mostrando a uma seleta parte de seus seguidores um pouco do repertório consagrado nesses últimos 25 anos. No para lá de "elegante" Teatro Bradesco, situado num shopping capaz de fazer qualquer mortal se sentir pobre, amantes da música vinda de Seattle - feita em locais bem diferentes daquele - tomam as confortáveis cadeiras vendidas por um valor "digno" do lugar. 
       O show tem uma proposta clara. Despir músicas das clássicas bandas do dono da festa até a raiz. Cornell tem a isolada companhia de Bryan Gibson, que fica no violoncelo na maior parte do tempo, mas aparece também no teclado e violão. Isso em algumas música, já que em outras a voz do Soundgarden assume tudo apenas com um violão na mão. 
      O repertório é longo. Com muita coisa de sua carreira solo, Cornell abusa de hinos eternos e outros grandes momentos não tão celebrados de suas três bandas - além de algumas covers. O início com Before We Disappear, Can't Change Me e 'Til the Sun Comes Back Around não empolga tanto assim, mas a interação no estilo papo entre amigos com a plateia é fundamental para aquecer as turbinas. A cantoria começa mesmo no cover para Nothing Compares 2 U, cortesia do saudoso Prince. No começo, o foco era todo nas músicas solos, incluindo até uma versão para o hino The Times They Are A-Changin', uma pérola de Bob Dylan, que tem sua letra alterada quase por completo. Agora foi em Fell on Black Days, eterno clássico do Soundgarden, que a coisa ficou séria de vez. O espírito simplificado da noite era esse, em versões muito diferentes das originais, mas com a magnífica voz de Cornell em absoluto destaque. O clássico do Led Zeppelin Thank You é apresentado com uma homenagem a Jimmy Page, que certa vez esteve numa apresentação de Cornell - segundo ele, se sentiu nevoso pela 1a vez em cima do palco. AI a trinca Doesn’t Remind Me, Wide Awake e Like a Stone fazem uma grata lembrança dos tempos de Audioslave. Seguindo nesse momento de celebração, é a vez do Temple Of The Dog, nas magníficas Wooden Jesus e All Night Thing. Em Blow Up the Outside World, Cornell brinca com os pedais, fazendo uma distorção vocal num dos poucos momentos onde o peso do Soundgarden foi lembrado. A belíssima versão dessa canção foi um dos pontos altos da note. 
     Depois de When I’m Down e Let Your Eyes Wander darem uma passada na carreira solo, a ótima I Am the Highway do Audioslave é cantada por todos já muito empolgados - nas limitações do lugar, é bom lembrar. A pedrada Rusty Cage fica quase irreconhecível no esquema voz/violão, mas ainda assim sempre é bem vinda. Então chega a hora de Black Hole Sun, a música que define a carreira de Cornell, com ele se esfolando para fazer sozinho todas as variações vocais que a música exige. Como em toda a noite, foi impecável. Getaway Car vem para manter a felicidade de todos, para o fechamento regular na magistral versão de A Day in the Life, hino dos Beatles. Uma das músicas que melhor define a carreira de Lennon fica ainda mais linda sendo apresentada no dia que completamos 36 anos da sua estúpida morte. A complexidade musical que ela exige foi seguida de maneira inacreditável pela dupla, criando algo sublime. 
        Para fechar, faltava outro hino definitivo de Cornell. Hunger Strike nunca poderia ficar de fora, arrepiando os grunges que aquela altura já se esbaldavam. Seasons e Higher Truth encerram a conta. Para a proposta complicada que só os grandes podem se dar ao luxo de oferecer, Cornell mostrou por que é o gigante que é. Agora os cariocas praticamente imploram um show do Soundgarden na cidade, já que não é de hoje que o homem se sente em casa por aqui. 

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