quarta-feira, 16 de novembro de 2016

SHOW DO GUNS N ROSES - ENGENHÃO - RIO DE JANEIRO

     Existem muitas bandas que para toda uma geração vivem apenas no imaginário. Seja por mortes de integrantes consagrados - ou se vivos -, por brigas homéricas sem solução, muitos fãs da minha idade (24 anos) crescem apenas imaginando como seria ver tal banda ao vivo, sem nunca ter de fato essa oportunidade. O Guns N'Roses definitivamente era uma dessas até ano passado. Então sem mais nem menos, uma das reuniões mais sonhadas e impossíveis acontece de fato. Pode não ser de toda a formação original, mas sejamos francos, só um louco vai reclamar de ter a chance de ver Slash, Axl e Duff novamente juntos no mesmo palco. Então é hora de rodar o mundo dando essa chance para toda uma geração, com a tour “Not In This Lifetime”. Vale lembrar que, diferente do que já li por ai, a referência não é para uma turnê definitiva, e sim apenas uma brincadeira com a declaração dada por Axl certa vez, respondendo com um sonoro "não nessa vida" sobre a possibilidade de reunião com Slash. 
      Na cidade que em 1991 e 1992 se rendeu ao Guns N'Roses no auge da turnê Use Your Illusion, era hora de voltar de 2016 diretamente para esses anos gloriosos. A festa foi marcada para o Engenhão, um estádio que nunca foi muito querido dos cariocas. Num lugar de acesso distante, porém facilitado pela estação próxima num esquema especial de funcionamento, a relação passa longe com a do central Maracanã. Não seria isso que iria impedir os fãs de presenciar essa noite histórica. Nem mesmo o preço abusivo do ingresso. O público não chega a lotar o estádio, mas era muito bom e participativo. Antes da grande hora, vem o aquecimento com a clássica Plebe Rude.
      A banda nunca me chamou muita atenção, mas era um show que despertava certa curiosidade da minha parte. Não chega a ser um Punk Rock daqueles praticados, por exemplo, pelos Inocentes - banda original de seu atual vocalista. Muito longe disso, se aproxima muito mais do famoso BRock oitentista. Os dois hits da banda - Proteção e Até Quando Esperar - não acontecem por acaso. São de fato as duas melhores com sobras. A única minimamente ouvível fora essas é Johnny Vai a Guerra (Outra Vez). Não foi um show ruim, mas longe de chamar um mínimo de atenção numa noite como essa. 
     Então com um atrasinho mínimo, 3/5 do Guns N'Roses original sobe ao palco do Engenhão para escrever mais um capítulo da história de amor que já dura 25 anos. It’s So Easy e Mr. Brownstone, dupla matadora de Appetite For Destruction, chegam para dar aquele baque no coração de todos. Hinos eternos do Hard Rock cantados por uma banda agora digna do nome que carrega. Nesse papel, Chinese Democracy vem como um tranquilizante para todos botarem o pé na terra novamente. Já da para sacar qual vai ser da noite. Axl está numa ótima forma vocal, infinitamente superior ao que vimos em 2010 e 2011 por exemplo. Não da para comparar com o Axl de 1991, caso que se repete com 90% das grandes vozes do Rock, mas é algo para lá de digno de levar um show. Outro detalhe é que nessa volta, não existem aqueles refrescos homéricos da chamada "Axl Band". Quando o homem tira um ar, é para ver Slash e Duff brilharem. O som que destoava. Volume até aceitável, mas extremamente embolado durante toda noite. 
   Ai chega hora de todos pularem entoando cada verso do eterno hino Welcome to the Jungle. Double Talkin’ Jive vem em sequência, dando o primeiro pulo nos Use Your Illusions. Aqui é um dos muitos momentos de brilho absoluto de Slash, fazendo esse solo memorável. É bom citar também o grande papel de Richard Fortus em parceria com o homem. Better é um dos bons momentos de Chinese Democracy, sendo um dos três momentos da noite que nos fizeram lembrar que existiu vida entre 1993 e 2016. Axl se sai muito bem tocando uma daquelas músicas responsáveis por manter viva, mesmo que respirando por aparelhos, o Guns no novo milênio. Um aquecimento para a extraordinária Estranged. Falar dessa verdadeira pérola é chover no molhado. Aula de solos e riffs, versos maravilhosos e todo um arranjo que transforma essa na melhor música já feita pela banda ao meu ver. Precisa dizer o tamanho da emoção que foi escutar isso ao vivo? É bom citar, ao menos ao meu redor, a surpreendentemente boa participação do público ao longo de toda noite. Não chegou a ser uma plateia noventista, mas estava digna da banda - que respondeu no show mais longo da turnê. A indispensável versão para Live and Let Die, de Paul McCartney promove o tradicional show de efeitos. A sequência de hinos vai novamente para o disco de estreia, na magnífica Rocket Queen. Depois vem a 1a surpresa da noite. Out Ta Get Me vem agregar, sem substituir absolutamente nada! Uma daquelas surpresas impagáveis. A bombástica You Could Be Mine agita profundamente, com um papel de Axl digno da complexidade vocal que a música exige. 
     É  chegado então a hora de Duff brilhar absoluto. A alma Punk do Guns N'Roses assume os vocais para dar uma aulinha de Misfits para os desavisados com o hino Attitude. Simplesmente maravilhoso. This I Love chega acalmando os ânimos. Essa foca na figura de Axl Rose, que novamente se sai muito bem. Era hora de mais um dos grandes momentos da noite. Civil War, a épica abertura de Use Your Illusion II, ganha uma versão matadora que emociona até uma pedra. Para arrematar de vez, é chegada a hora do grande momento de toda a noite. Coma chega majestosa, do alto de seus 10 minutos da mais pura perfeição. A emoção de ver Slash solando em uma das performances mais extraordinárias de sua carreira enquanto Axl da voz aos versos únicos dessa obra-prima não cabe em palavras. Já ta bom de emoção né? Então segura o Slash fazendo seu tradicional e belíssimo solo com o icônico Godfather Theme, abrindo espaço para o eterno hino Sweet Child O’ Mine. Ai os cardíacos morreram de vez. Chega o momento da maior novidade da noite. Yesterdays faz sua estreia no giro sul-americano, e se a memória não falha, em toda a turnê de reunião. Quer prova maior que essa do relacionamento especial entre Guns N'Roses e Rio de Janeiro? A dupla Slash/Fortus apresenta uma belíssima versão instrumental para Wish You Were Here, devidamente acompanhada pelo público com os inesquecíveis versos imortalizados pelo Pink Floyd. Então a arrematadora November Rain chega para o show de balões do público, enquanto Slash faz aquele famoso solo da igreja no deserto. Axl não deixa por menos, brilhando no piano. O entrosamento do trio de ferro do Guns N'Roses chama atenção ao longo do espetáculo. Knockin’ on Heaven’s Door vem majestosa como sempre, com Slash empunhando a clássica guitarra de dois braços - impossível não se lembrar do clássico show de Paris na tour do UYI. Para fechar a parte regular, Nightrain faz o público dançar e pular como se não houvesse amanhã. 
      Já tava tudo ótim se acabasse ali, mas ainda tinha um pouco mais de Rock N'Roll legítimo. A belíssima Don’t Cry, o cover de The Seeker do The Who e o hino Hard Paradise City fazem o duro papel de encerrar uma noite memorável. Hora de voltarmos para casa cantando alegremente o famoso refrão da canção derradeira. Uma noite inimaginável era real no Engenhão. O Guns N'Roses definitivamente está de volta nos braços de seu público fiel. 

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