segunda-feira, 27 de março de 2017

SHOW DO METALLICA - LOLLAPALOOZA 2017 - SÃO PAULO

     O Lollapalooza talvez seja o festival de música internacional do calendário brasileiro mais polêmico entre o público que curte Rock. No meu entendimento, cerca de 90% das atrações praticam um som que em nada me interessa. Agora uma coisa é inegável. Desde 2012, quando aportou por aqui, o festival apresenta ao menos uma grande banda no cast - não por acaso essa grande banda costuma ser headline. Bad Religion, Pearl Jam, Soundgarden (como me arrependo de não ter visto), Robert Plant, Queens of the Stone Age e Foo Fighters são alguns desses bons exemplos. Em 2017, essa responsa ficou com o Metallica - e com o Rancid também. Finalmente acabei decidindo ir a maior festa Indie do calendário anual, e honestamente, só pretendo voltar em caso muito nobre. 
      Lamentavelmente o problema não era a tal mistura de estilos - que na verdade não me incomoda nem um pouco. Festival por si só é visto como uma mistura de gostos diferentes num lugar só, cabe a cada um escolher o que interessa. A parada é que poucas vezes eu vi uma organização de evento tão problemática. Começando pelo local, o distante e nem um pouco confortável autódromo de Interlagos - e suas ladeiras insuportáveis. Cada detalhe nele obrigava caminhadas para testar a paciência de qualquer cristão. Felizmente o tempo ajudou, já que uma chuva daquelas transformaria aquele lugar num verdadeiro mar de lama. Agora o problema mesmo era para comprar alimentos e bebidas. Nunca vi um atendimento tão caro e precário na minha vida rockeira! Qualquer um que se aventurasse a comprar uma cerveja só conseguia isso enfrentando filas de quase 1h - incluindo breves encerramentos de atendimento no pacote. Vendedores separados eram pouquíssimos, se concentrando apenas na entrada e também com belas filas ao redor. Qualquer um que costuma ir a grandes shows sabe a diferença que eles fazem para quem quer consumir algo. Na área do palco que me interessava, localizado num vale de difícil acesso, não tinha um sequer. Não adianta falar que isso é culpa dos 100 mil presentes, já que em 2011 o Rock in Rio também atendia tal demanda de maneira muito mais eficiente. Enfim, nada no lugar era atrativo, jogando toda a responsabilidade em cima das bandas. Felizmente, elas fizeram valer o ingresso. 
    Metallica e Rancid fechariam a noite no palco Skol - o único que frequentei. O público do festival é muito heterogêneo. Não é aquele de Rock In Rio que vai basicamente ver o Headline da noite. Pela diversidade, tinha de tudo ali no meio. Agora os fãs de Metallica eram maioria absoluta, quase todos com a camisa da banda. O Rancid fez ótimo casamento, e em muitos casos a dupla agradou a um público bem parecido. Eu mesmo nunca fui um grande fã dos Punks debutantes no Brasil depois de 25 anos de espera, mas fui feliz assistir a apresentação.
     Entre um bom tempo na fila e outro na pista, vi uma apresentação fantástica para o que se propunha. Colocando rodas de respeito ao redor do lugar, foi 1h de intensidade total. Destaque para os hits Ruby Soho e Time Bomb. No mais,  Tim Armstrong (Guitarra e Vocal), Lars Frederiksen (Guitarra e Vocal), Matt Freeman (Baixo e Vocal) e Branden Steineckert (Bateria) passaram seu recado Punk com pitadas de Reggae com muita correção, agradando a todos! Para quem realmente curte, foi um show memorável, e até para mim que não conheço quase nada foi interessantíssimo! 
    No intervalo me restou tomar as únicas duas cervejas que arrumei e esperar pelo motivo que me levou até São Paulo. Lá vinha o Metallica, e junto deles uma legião de fãs que tomaram de assalto a festa alternativa. Com o sensacional Hardwired... to Self-Destruct para nos apresentar, James Hetfield, Lars Ulrich, Robert Trujillo e Kirk Hammet chegavam com sangue nos olhos para lavar a alma de todos - incluindo a deles mesmos. O vale distante em meio ao autódromo via ter cada espaço ocupado na hora que essa entidade do Heavy Metal iria tocar. 
      Antes de qualquer coisa, tenho a impressão de ter escolhido o melhor local possível para ver o show. Quem viu na TV sentiu um público bem apático, mas de onde estava, achei a participação muito legal. Rodas homéricas formadas no momento certo, disco novo recebido com muito entusiasmo, hits cantados em uníssono e até um pouco menos de celulares pro alto do que o normal. Enfim, os que estavam ao meu redor mostravam profundo conhecimento sobre a banda que estava na sua frente. Com um atraso muito pequeno, era hora do Thrash Metal dar as caras no festival pela 1a vez em seis anos. 
      Hardwired, a pedrada que abre o novo trabalho, cai como uma luva na abertura também do show. Muita agitação e cantoria provam a força absurda desse magnífico lançamento. Para arrematar, vem a também muito boa Atlas, Rise! - mais trabalhada que a abertura, mas igualmente forte. Como é legal urrar esse refrão matador ao vivo! Ai é hora de voltar no tempo. O primeiro clássico da noite é a indescritível For Whom the Bell Tolls. Um dos maiores hinos da história do Heavy Metal provoca aquela agitação no riff inicial - um dos maiores trabalhos de Cliff Burton - e tem cada verso cantado por milhares de vozes. Ai vem a boa The Memory Remains como única representante dos tempos de Load/Reload da noite. Sempre gostei dela e aquele coro no final é irresistível, mas quando pensamos que a mesma veio no lugar de coisas como Creeping Death, Ride the Lightning e Welcome Home (Sanitarium), para ficar só em algumas consagradas, soa desnecessária. Ainda assim, está longe de ser um peso morto no set. Até aqui já estava provado o estado de graça que se encontrava a banda. Todos estavam visivelmente felizes, e Kirk Hammet sola pela 1a vez na noite fazendo uma esticada no último som e breves trechos de The Judas Kiss - lado c de Death Magnetic. Ai a turma ataca com a magnífica Power Ballad The Unforgiven, um dos momentos máximos do magistral Black Album. Depois de breves toques do passado, é hora do Metallica mostrar orgulhoso mais alguns momentos do novo trabalho. Now That We're Dead tem seu refrão sensacional entoado por muitos, e Moth Into Flame recebe atenção até maior que esperada. Essa talvez seja a nova com efeito mais devastador ao vivo. Infelizmente muitos deixam a pérola Harvester of Sorrow passar despercebida, mas para mim é um dos grandes momentos de todo show. Essa maravilha de ...And Justice for All sempre emociona profundamente quando apresentada ao vivo, num dos pontos altos da noite. Já Halo on Fire não fica tão legal quanto no disco quando é colocada no palco. Ganha vida mais para seu final onde temos uma aula de riffs, mas poderia ser facilmente substituída por Spit Out The Bone, Murder One e Confusion por exemplo. Aqui acaba a participação de  Hardwired... to Self-Destruct no set. 
        Então o grande baixista Robert Trujillo faz o que é quase impossível. Ele transformou um solo de baixo em algo muito legal, coisa que só quem entende muito bem do assunto consegue fazer. Um homem com Suicidal Tendencies, Ozzy Osbourne e Infectious Grooves no currículo realmente não é um qualquer. Em meio a aula, rolaram trechos de  The End of the Line e, pasmem, Anesthesia (Pulling Teeth). A turma old school arrepia até seu último pelo com essa homenagem ao mestre Burton. Ai vem a maior surpresa da noite. Simplesmente Whiplash senhores! Obviamente essa pérola do Kill 'Em All abre de imediato uma roda daquelas para a turma Thrash banguear com gosto. Foi um sentimento único em meio ao Lollapalooza poder relembrar como deveriam ser as noites de 1983 em algum bar da Bay Area. Nessas notamos como o Metallica ultrapassou todas as barreiras possíveis e se transformou num nome de tamanha relevância para encabeçar um cast desses e tomar ele para si. Um Hetfield com sorriso daqueles faz a tradicional introdução para Sad But True perguntando se "queremos peso". Como de costume, arrebenta corações e pescoços! Se não bastasse tudo isso, James tem um ataque de fúria, no melhor sentido possível, tocando sua guitarra no chão como poucas vezes pude ver. A empolgação era visível Tava aberta uma sequência de hinos para ninguém botar defeito. É possível resistir a coisas do porte de One - só com explosões falsas e sem aquele aparato dos tempos de Death Magnetic - e Master of Puppets? Depois de Whiplash a banda parece ter explodido de vez, e até senti uma vontade extra deles de mostrar o verdadeiro Rock N'Roll para quem passava por perto curioso. Kirk faz simplesmente o maior solo que já vi ele produzir, com partes de Leper Messiah e um encerramento quase incendiário nos PA'S. Simplesmente de tirar o fôlego! Ai Fade to Black, maior Power Ballad da história do Heavy Metal, vem devastando corações de qualquer fã. Ta legal? Então que tal Seek & Destroy para fechar a parte regular numa demonstração do auge do Kill 'Em All? Nem precisa dizer que o pogo pegou fogo né? 
       Qualquer fã já estava com seu ingresso pago numa coleção de hits tocados como se deve. Felizmente ainda tinha mais. A seção de pancadaria fica fora de controle com Battery. Nessa duas rodas se juntaram para formar um mosh daqueles, com direito a sinalizador no meio e tudo! Ai a dupla dinâmica Nothing Else Matters e Enter Sandman fecha a conta com um festival inteiro celebrando o legado desse gigante, e os quatro agradecendo profundamente a recepção. Seguramente esse show está entre os grandes do Metallica que já vi. A banda ganhou vida nesse novo trabalho, e chegou até aqui para fazer a diferença no festival. Numa noite de quebra de recorde de público com 100 mil pessoas em Interlagos, o Heavy Metal roubou para si o famigerado Lollapalooza. Que no caso de outro gigante do Rock N'Roll presente no Line Up em 2018, a organização atenda minimamente bem o público que paga um absurdo de caro para estar lá. A grandeza das bandas salvou um festival caríssimo que beirava o amador em estrutura. 

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