segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

SHOW DOS ROLLING STONES - MARACANÃ - RIO DE JANEIRO

    Para começo de conversa, o fato de estarmos em pleno 2016 e ainda termos a oportunidade de assistir a uma banda como os Rolling Stones ao vivo é uma verdadeira dádiva dos deuses do Rock. A banda que contrariou todas a lógica possível continua ativa - com uma quantidade menor de shows é verdade, mas os mesmos possuem uma intensidade absurda. Na noite inicialmente chuvosa, mas que depois firmou, os cariocas tiveram a magnífica oportunidade de provar toda essa teoria ao vivo. Nós vimos um show tecnicamente impecável de uma das maiores bandas de Rock de todos os tempos. Isso já diz tudo.
     O começo da brincadeira foi debaixo de uma chuva torrencial, que felizmente caiu na hora certa, e parou cerca de uma hora e meia antes do show. Quem sofreu com ela foi a banda de abertura, o Ultraje a Rigor. Honestamente, gosto do som da banda, mas a figura de seu líder nunca me agradou muito, numa questão que vai muito além do partido que ele ataca, que também não me agrada nem um pouco. Digamos que algumas de suas posições mais extremas e briguinhas onlines refletem em diversos momentos, até num show de abertura para os Stones. A ocasião foi palco para mais um de seus chiliques, que felizmente não presenciei por preferir aguardar a diminuição da água tomando umas geladas num bar próximo ao estádio. Depois de tudo, sobraram reclamações para a equipe da banda, algo semelhante ao ocorrido no SWU de 2011 com a equipe de Peter Gabriel. Seria ele um perseguido isolado? Ignorando a parte desnecessária, vamos ao que interessa.
     Mesmo passando na hora certa, a chuva atrasou o show em cerca de 20 minutos, quando o estádio já estava entupido por 66 mil pessoas secas para ver uma lenda em ação. Um ótimo clipe de abertura introduz os senhores Mick Jagger, Charlie Watts, Ronnie Wood e Keith Richards ao palco do Maracanã, ao som do hino Start Me Up - mais que adequado para a abertura de um show. It’s Only Rock ‘n’ Roll (But I Like It), outro hino sagrado do estilo, arrebata a multidão de vez. A emoção era fortíssima nesse momento, já que esse simples refrão entoado por Jagger é a síntese de tudo de mais maravilhoso que esse estilo de música e vida proporciona. Tumbling Dice, pérola de Exile on Main St., faz da trinca de abertura uma das mais maravilhosas que já presenciei. Isso tudo com um som simplesmente perfeito, estando alto e nítido por toda a apresentação, proporcionando aos músicos a melhor condição possível para a brincadeira. Os mesmos não perderam tempo, com disposição de sobra e forma musical igualmente impecável. Watts é um dos raríssimos bateristas sessentistas que ainda mantém o pique por duas horas, algo digno de nota, assim como a performance vocal perfeita de Jagger. A dupla Wood/Richards não deixam por menos, e dão um show de riffs e solos ao longo da noite.
     Out of Control representa o relativamente recente Bridges to Babylon, sendo uma escolha até certo ponto surpreendente para os sets da turnê. Ela é um dos destaques do disco, e tem um efeito interessantíssimo ao vivo. Like a Rolling Stone foi a escolhida entre as 4 opções que o público fez, e o cover de Dylan que parece ser feito para os Stones caiu muito bem ao vivo. A nova Doom and Gloom é boa, inegavelmente, mas sua estreia na turnê no lugar de clássicos como Let's Spend The Night Together, apresentados em shows anteriores, foi ao meu ver o ponto fraco do set. Nada que prejudique o show. Outra grande surpresa foi a aparição da maravilhosa Angie, um belíssimo momento, mas que lamentavelmente substituiu a incomparável Wild Horses. Paint It Black foi simplesmente de arrepiar! Não consigo encontrar palavras para descrever a força dessa música com o som no talo e o timbre maravilhoso de Keith ao vivo. O mesmo teve seu momento de maior glória na noite durante o clássico Honky Tonk Women - que dizem alguns, foi feito numa fazenda no interior de São Paulo distante de todo o tipo de civilização. Sua tradicional afinação em Sol aberto apresentou nela um som absurdo, um dos mais assustadores que já presenciei em apresentações do gênero, provando que esse homem é de fato um dos grandes da história. O público que foi bem pouco participativo ao longo da noite, mesmo por vezes sendo empolgado por um dos maiores frontman's que se tem noticia. Uma banda em estado de graça merecia bem mais, só que atualmente o que mais vemos é gente mais preocupada com tecnologia do que com o show em si. Depois de Mick apresentar a banda completa, hora de Keith assumir os vocais para as duas próximas. Happy foi limada do set, mas é impossível falar algo com escolhas do porte da matadora You Got the Silver e da não menos fantástica Before They Make Me Run. Dois dos melhores momentos do show! Para arrematar, vem a tradicional Midnight Rambler, bem esticada ao vivo, com um show da veia Blues pulsante da banda. Miss You, que mesmo sendo um clássico nunca me empolgou muito, agita de vez a turma mais tímida, dando início ao desfile final de hinos eternos do Rock. Gimme Shelter dispensa apresentações, é seguramente um dos números mais maravilhosos da carreira da banda, e aqui serve para um show a parte da sensacional  Sasha Allen. A moça se divertia como poucas no palco, sempre esbanjando competência.  Brown Sugar, a clássica abertura de Sticky Fingers, bota o estádio abaixo, seguida pela espetacular Sympathy for the Devil. A narração de acontecimentos históricos em 1a pessoa pelo coisa ruim vem acompanhado de diversos pentagramas, bodes e cruzes nos telões, criando um clima fantástico para uma das músicas preferidas da galera. Seu efeito ao vivo é simplesmente devastador. Jumpin' Jack Flash, sempre agitando as coisas, não deixa por menos, e fecha com classe o set regular.
    Para o bis ficaram You Can't Always Get What You Want, tocada como no disco Let it Bleed - o que exige a presença de um coral. O escolhido foi o da universidade PUC Rio, e eles deram um show! Para fechar, vem o hino máximo Satisfection, que transforma o estádio numa verdadeira festa de celebração a uma das grandes bandas da história.
    Difícil arrumar palavras para descrever a emoção de ver os Stones ao vivo. Cantar a letra marcante de It's Only Rock 'n' Roll (But I Like It) olhando para 4 deuses do Rock, sentir as guitarras de Wood e Richards pulsantes e agitar até o fim da noite junto com Jagger é uma experiência que faz uma vida valer a pena. Felizmente ainda temos a oportunidade de ver uma lenda sessentista em ação, e mais que isso, em grande forma. Mais de 50 anos de carreira nunca parecem pesar quando vemos o quanto a turma se diverte com o show. A noite de 20 de fevereiro de 2016 nunca será esquecida pelos 66 mil sortudos presentes no Maracanã.

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