domingo, 7 de junho de 2015

SHOW DO RATOS DE PORÃO-IMPERATOR-RIO DE JANEIRO

   Antes de falar qualquer coisa sobre mais um show épico do Ratos de Porão que eu tive a oportunidade de assistir, gostaria de lembrar rapidamente da história do Imperator, casa de shows localizada no Meier onde o show ocorreu. Na década de 90, o lugar recebeu shows históricos do Pantera, Slayer, Megadeth, Dream Theater, Suicidal Tendencies, Angra, Sepultura e do próprio Ratos, lembrados até hoje com muito carinho por quem viu e viveu essa época. Num lugar de fácil acesso, comércio forte e com muita gente morando perto, ele marcou uma era, mas passou um bom tempo fechado, sendo reformado e abrindo recentemente. Recebendo todo tipo de evento na nova casa, que é um pouco menor do que aquela, mas ainda tem bastante espaço, o novo Imperator volta aos poucos a reviver a tradição de grandes shows de Rock. O primeiro que tive notícia foi do Ghost ano passado, que mesmo não sendo muito fã estive presente com a minha namorada, que ama a banda. Tive a melhor das impressões. Vários eventos independentes rolam com frequência por lá, sendo o mais notável  um com a banda carioca Statik Majik. Então chega a vez do R.D.P botar o lugar abaixo depois de tanto tempo.
   A banda ainda colhe os frutos do ótimo Século Sinistro, e volta ao Rio pela a 2a vez na atual tour. O show contou com as aberturas das bandas Protesto Suburbano e 8MM, mas cheguei ao local somente na hora da atração principal mesmo. O público era bem pequeno e decepcionante, girando em torno de 300 a 500 pessoas, o que é pouco para um lugar com capacidade para algo como 1.500 e 2.000. Durante a turnê, a banda manteve um padrão de setlist, incluindo algumas coisas de lugar para lugar, mas mantendo a base. Com isso, o show foi bem semelhante ao caos visto no Circo Voador em agosto passado, mas com novidades muito bem vindas. Quem foi agitou bastante, deixando um João Gordo visivelmente alegre e emocionado. A banda está com uma formação incrível, seguramente a melhor desde que o grande Jabá deixou o baixo do grupo depois do clássico Anarkophobia. Jão, Boka e Juninho tocam com classe a desgraceira sonora que só o R.D.P sabe fazer. 
   A brincadeira começa com a já clássica Conflito Violento, destaque do disco mais recente. Viciado Digital segue nele com categoria. Ascensão e Queda é o primeiro clássico da noite, vindo diretamente da obra-prima Anarkophobia, causando um verdadeiro caos na pista. Era a deixa para o hino máximo Crucificados Pelo Sistema, que dispensa comentários. Em seguida o grande Gordo faz um ótimo discurso, que vem de encontro com a minha opinião, a respeito da onda de boçalidade virtual espalhada pelos "revoltados onlines" extremistas que estão aos montes por ai, assim introduzindo mais um clássico, Anarkophobia. Vida Animal é a 1a do fantástico Brasil a dar as caras. Dos clássicos voltamos diretamente para o presente, com direito a alfinetadas ao futebol que tudo tem a ver com a letra de Grande Bosta. Nessa o som chega a um volume aceitável, já que no começo ele estava extremamente baixo e embolado. Numa conexão 2014-1983, vem mais clássico, com as devastadoras Morrer e Não Me Importo, duas das mais fantásticas de Crucificados Pelo Sistema.  O set faz uma viagem completa pelos trabalhos da banda, da época em que Jão era vocalista e Betinho baterista, até o Século Sinistro, com passagens amplas pelos trabalhos mais clássicos, como também por alguns dos mais esquecidos. A prova disso vem com a ótima Cérebros Atômicos, a melhor do desprezado por muitos Descanse em Paz. Vem então uma mostra categórica do ótimo Carniceria Tropical, talvez o trabalho mais extremo da banda.  Difícil de Entender, Arranca Toco e Atitude Zero vem avassaladores, sendo muito celebradas, provando a força que o disco tem e o valor que os fãs da banda dão ao trabalho icônico. Agressão/Repressão, um clássico, vem numa versão ligeiramente mais lenta, porém de extremo bom gosto, colocando fogo na pista. Toma Trouxa apresenta o ótimo Guerra Civil Canibal, mostrando a ideia dos Ratos de mostrar ao público o mais amplo e diversificado repertório. Pobreza e FMI, principalmente a última, surpreendem, sendo ótimas sacadas. Do clássico, vamos ao lado b, ou nesse caso, c.  Diet Paranoia é introduzida por João como um bom momento num disco controverso, o tal do Just Another Crime in... Massacreland,  feito numa época de abuso de drogas, com o bravíssimo Walter no baixo. Chegou a ser hilario, já que o 1o a tentar a sorte no baixo deixado pelo fundador Jabá chamava atenção por não ter documentos e não estar em sintonia com a banda em momento algum, fazendo da sua passagem algo breve e desastroso, história contada hoje de maneira divertida por Jão, Gordo e Boka. Crocodila mostra novamente aos Ratos maníacos um pouco de Carniceria Tropical. Progreria of Power e Stress Pós-Traumático são novas ainda não apresentadas aos cariocas, que tem um ótimo efeito ao vivo. Vem então em sequência as três músicas mais marcantes da trajetória da banda ao meu ver. Simplesmente Igreja Universal, com a melhor letra que já vi em português, Beber Até Morrer e Aids, Pop, Repressão não deixam ninguém vivo. Realidades da Guerra, da clássica coletânea SUB, mata os fãs old-school do coração, e da uma aula de Punk Rock para a garotada. Amazônia Nunca Mais e Terra do Carnaval encerram o set normal mostrando o poder de fogo do clássico Brasil. Para o bis, ainda no dito disco, vem a ótima Crianças Sem Futuro. Sofrer é uma grata surpresa, sendo uma das mais marcantes de Anarkophobia no meu entender. Crise Geral fecha com classe um show memorável mostrando o fantástico Cada Dia Mais Sujo e Agressivo, um dos passos definitivos na trajetória da banda. 
   Com 30 dos momentos mais gloriosos de uma banda icônica da nossa música mostrados para um público insano, que compensava a quantidade reduzida, o sábado a noite no Imperator foi especial. O set mostrou um pouco de quase todas as fazes da banda, com o merecido destaque para os seus melhores trabalhos. Isso tudo apresentado por uma formação impecável musicalmente. O Rio viu mais um grande show do Ratos de Porão, uma banda ainda forte e relevante para a música extrema desse país. 

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