segunda-feira, 23 de março de 2015

SHOW DO RAIMUNDOS+GANGRENA GASOSA-CIRCO VOADOR-RIO DE JANEIRO

   Se nos dias que antecederam o lançamento de Raimundos, o 1o disco, Digão e Canisso, os que continuam desde então na banda, pudessem imaginar os acontecimentos dos próximos 20 anos de vida, seguramente ficariam loucos. Uma história rica, com um sucesso meteórico e um recomeço quase do zero, de uma volta do mainstream ao underground do Rock, até uma forte retomada do sucesso de seus dias de gloria que é o presente da banda. Foi muito resumidamente assim a trajetória celebrada na noite do dia 21 de março de 2015, no Circo Voador.
    A banda que há tempos deixou aqueles anos de dúvidas quanto a sua existência e shows em lugares para lá de Underground, ainda colhe os frutos do ótimo disco novo e do público já conquistado no passado. Para a tour de 20 anos, os Raimundos disponibilizaram uma votação no seu site, estilo Metallica em 2014, e o set escolhido apareceria em todas as datas do giro. Como na experiência do Metallica, muitas das músicas escolhidas são as "de sempre", somadas a algumas ótimas novidades. O fato é que na hora, tudo saiu de maneira perfeita. A banda em dia inspirado, com o maior (e melhor) público em anos no Rio de Janeiro, é jogo ganho.
   Para a abertura, outra ótima escolha. O Gangrena Gasosa é velho conhecido na cena, sendo presença constante em aberturas de shows como as do Behemoth e Ratos de Porão, ali mesmo na lona sagrada. Os Raimundos são das bandas do chamado "Rock Nacional", a mais querida do público de Heavy Metal, com sobras. Por isso, vimos um desfile de camisas de Death e Thrash, e o show do Gangrena contou com participação ativa de muitos presentes. A experiência é sempre divertida, com tiradas ótimas do senhor Zé Pelintra, as letras tão boas quanto e toda a parafernália macumbeira. E tome moshpit ao som de Chuta Que É Macumba, Eu Não Entendi Matrix, Se Deus é 10, Satanás é 666 e Quem Gosta de Iron Maiden Também Gosta de KLB. Um show ótimo, abertura digna do espetáculo que viríamos em seguida.
   Depois de um curto intervalo, o Raimundos atual sobe ao palco para celebrar seus 20 anos, indo além do set votado e mostrando o melhor de cada época. Poucas bandas viveram metade do que eles neste tempo, e a felicidade pela boa fase é clara olhando para o palco. Canisso e Digão, que começaram tudo, estão juntos com os já de casa Marquin e Caio, que com todo respeito, não deixam ninguém sentir saudade do crentelho e do grande Fred. Já de cara, vimos que a noite seria surpreendente. O tradicional encerramento abriu os trabalhos. Puteiro em João Pessoa é a música que define o que é o Raimundos, apenas isso, e nada mais justo que começar a celebração com a música que abre o 1o disco. A lotação, se não era esgotada, era muito próxima disso, e o famoso mosh pit constânte que sempre toma conta de toda a pista do Circo nunca foi tão apertado. Com isso, a temperatura foi as alturas. A sequência inicial foi algo digno de nota. Be A Bá (com direito ao riff inicial de Raining Blood na metade) e Nega Jurêma, ambas também do disco de estreia, e mais Pintando no Kombão e Opa! Peraí, Caceta, do não menos espetacular Lavô Ta Novo, fizeram a coisa ficar realmente séria. Indescritivelmente fantástico. Então a banda sai do roteiro escolhido pelo público pela 1a vez, apresentando Baculejo, ótimo momento do disco novo. E tome mais clássico, com O Pão da Minha Prima. Infelizmente, vem o obrigatório momento de tocar as fm's que a turma mais coxinha tanto aprecia. Mulher de fases  e A Mais Pedida são as 1as a aparecer, esfriando as coisas. Gordelícia, mais nova música de trabalho, tem um ótimo efeito ao vivo, mas a coisa esfria de vez com a famigerada Reggae do Manero. O clima era tão fantástico que a força do Circo não diminuía, e a coisa explode de novo em Palhas do Coqueiro, com seu mosh tradicionalmente brutal. Então é hora de surpresas em sequência. Fique Fique vem para lembrar de Kavookavala, que segundo Digão não poderia ser deixado de fora da festa. Vamos voltar então para o magnífico Lapadas do Povo, nas duas escolhas mais acertadas dos eleitores. Baile Funky é dedicada ao "formigueiro", e me emocionou por demais, já que ela é uma das melhores da banda. Andar na Pedra não deixa por menos, sendo uma das mais cantadas da noite. Selim é uma das mais conhecidas da banda, mas muito raramente lembrada. Achei muito legal ouvi-la ao vivo, me sentindo novamente com 12, 13 anos, época que comecei a ouvir Raimundos. Papeau Nuky Doe estava fora do roteiro. Um verdadeiro lado b, c ou até d da banda foi uma sacada única do EP Cesta Básica. I Saw You Saying (That You Say That You Saw) interrompe as raridades, mas como é a que eu mais gosto entre as "de sempre", não afetou o seguimento das coisas. Importada do Interior é mais uma, a última, que lembra o disco mais novo. Ai vem a já cansativa Me Lambe, a ótima Deixa Eu Falar e a obvia para ocasião, 20 e Poucos Anos. Assim acaba a 1a parte do show, mas ainda teríamos mais. Repetindo o que foi feito no 1o show da turnê do Cantigas, Canisso canta Boca de Lata, e abre espaço para a magnífica Herbocinética. Para encerrar, vem a trinca de clássicos Esporrei na Manivela, Tora-Tora e Eu Quero é Ver o Oco.
   Já vi a banda por mais de 10 vezes, sendo que em uma delas o clássico Lavô ta Novo foi apresentado na íntegra. Seguramente, essa foi a melhor. O set foi distribuído com perfeição, e a banda estava em estado de graça. Essa celebração faz justiça a uma banda que passou por tudo que passou, tendo finalmente retornado a um ponto parecido com o que parou na mudança da formação clássica. O público só aumenta, e os anos que vem por ai ainda prometem muito mais. 

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