quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

SEPULTURA, 30 ANOS DE UMA HISTÓRIA GRANDIOSA

   Entre saídas, chegadas, dias de Chaos, conquista do planeta Heavy Metal e muito mais, a maior e mais relevante banda da história do nosso país chega aos seus 30 anos de uma gloriosa história. Não vou me aprofundar nos detalhes, mas tentarei passar brevemente pelos momentos mais marcantes. 
   Dois irmãos, que viram as suas vidas se modificarem por completo depois da perda prematura do pai, começam uma banda. A vida que era tranquila, com viagens e diversão, como numa família normal, se transforma quase de imediato. Os irmãos Max e Iggor Cavalera se revoltam com a morte, em pouco tempo começam a trabalhar como gente grande e se apaixonam pelo estilo de música que os consagraria anos depois. O show do Queen no estádio do Morumbi em 1981 acabou sendo fundamental na formação musical de ambos. Já no dia seguinte, Iggor e Max vão a procura de discos do Kiss e do Queen. Aos poucos, Black Sabbath, Venom, Possessed, Destruction, Hellhammer e Dorsal Atlântica direcionam o amor musical para o mais puro e brutal Heavy Metal. Max inclusive cita um show que assistiu do Dorsal Atlântica como fundamental no que viria a ser o Sepultura. "Quando o Carlos subiu no palco falando 'nós somos o Dorsal, foda-se quem não gostou e deus é o caralho', eu senti que era possível fazer este tipo de som (Thrash/Death Metal) no Brasil".
   No começo do Sepultura, era tudo muito amador. Os equipamentos, letras, instrumentos, maneira de tocar e tudo mais. Max já disse inclusive que foi uma grande novidade quando falaram para ele da necessidade de se afinar as cordas da sua guitarra. Na sua 1a formação, o Sepultura era formado por Max (guitarra), Paulo Jr, Vagner Lamounier (vocal) e Iggor. Vagner deixou a banda sob acusação de roubo de equipamentos e outros inúmeros problemas, para logo depois formar o Sarcófago e dar inicio a maior rivalidade de todos os tempos no Heavy Metal mundial. O fato é que são duas grandes bandas, que fizeram a fazem história em todo planeta, sendo influência para toda uma futura geração.
   A nova formação agora contava com Max cantando, além de fazer guitarra base e Jairo Guedez na guitarra solo. Num cenário mineiro já muito forte, com o Overdose sendo a principal banda, o nome do Sepultura crescia. A sonoridade do Overdose é mais voltada para o metal tradicional de Accept, Saxon, Judas Priest e Iron Maiden, e o Sepultura fazia um som mais Death Metal. A cogumelo Records, que contratara recentemente o Sepultura, promove então o clássico split Bestial Devastation, com 5 músicas do Sepultura e 3 do Overdose.
  Já em 1986, o 1o e cru álbum do Sepultura é lançado, o espetacular Morbid Visions. Uma produção suja com letras traduzidas para o inglês de forma amadora curiosamente parece fazer parte do pacote, este sendo uma verdadeira voadora no peito da cena mineira. Naqueles dias, bandas fundamentais como Chakal, Holocausto e Mutilator também davam seus primeiros passos, fazendo da cena mineira a mais importante do país. Entre elas, o Sepultura já se destacava. Troops of Doom reinava absoluta naquela estreia devastadora. O riff espetacular já apresentava o enorme potencial. Pérolas como War, Crucifixion e Funeral Rites completam o trabalho.
   Em seguida, ocorre mais uma baixa, o guitarrista Jairo Guedez. Pelo que falam, Jairo estava cansado de fazer o tipo de som que o Sepultura fazia, decidindo se aventurar no Hard Rock. Ele continua amigo de todos até hoje, tendo papel fundamental na história do Sepultura. Chega então Andreas Kisser, já de cara aterrorizando seus companheiros com seus equipamentos e técnica diferenciados. O som ganhava corpo, já indo mais em direção ao Thrash Metal, com influências do estilo tradicional e melódicas, mas sem perder a essência. Schizophrenia é lançado em 1987, levando o Sepultura a outro patamar. O disco já chegava a diferentes partes do mundo, assim como as turnês da banda. O trabalho foi o último lançado pela Cogumelo, já que ele despertou o interesse da gigante Roadrunner.
   Chega então o passo definitivo. Beneath the Remains contou com a produção de  Scott Burns, já famoso pelo trabalho com monstros do Death Metal americano, que veio ao Rio de Janeiro especialmente para fazer com a banda o trabalho. Remasterizado na Florida, o disco já colocou a banda em contato com o mercado internacional. Nessa altura, Max, Paulo, Andreas e Iggor já conheceram alguns de seus maiores ídolos, fizeram turnês memoráveis pela Europa e EUA, além de ganhar o Brasil inteiro. Clássicos como Inner Self, Stronger Than Hate e Mass Hypnosis já estavam eternizados.
   Os olhos do mundo do Heavy Metal já se voltava para eles, que além de tudo vieram de uma "terra desconhecida". Arise já chegava com a banda fazendo uma apresentação memorável no segundo Rock in Rio. Se na 1a edição, Max sofria para assistir Ozzy Osbourne em casa, agora ele seria uma das maiores atrações da nova edição. Arise trazia um Thrash Metal ainda mais trabalhado e matador do que o apresentado no disco anterior. O nome do Sepultura só crescia, assim como os investimentos na banda. O clipe de Arise é até hoje um marco, e mais clássicos não saiam das vitrolas da legião de fãs, que só fazia aumentar.
   A coisa ficaria ainda mais séria agora. Chaos A.D viria a ser o álbum definitivo. Impossível descrever a sua força. Gravado na Inglaterra, num isolado castelo, aonde o Queen fez A Night at the Opera nascer, o tamanho alcançado pelo Sepultura já era assustador. O trabalho vendeu como água, e muitos já diziam que a banda tinha tudo para ser o novo Metallica. Influências brasileiras claras fariam a diferença no novo trabalho, que ia muito além do simples Tharsh Metal. As letras politizadas também chamavam atenção, assim como a instrumental Kaiowas, feita em homenagem a tribo indígena que cometeu suicídio coletivo em forma de protesto a ordem do governo de entrega das suas terras.
   No disco seguinte, as influências brasileiras foram levadas a outro nível. Assim nascia Roots. As nossas raízes sangrentas foram vividas intensamente pela banda. Em 10 anos, o Sepultura alcançava o topo do mundo do Heavy Metal. Attitude, Roots Bloody Roots e Ratamahatta já eram verdadeiros hinos, assim como Refuse/Resist, Territory e Slave New World do disco anterior. Infelizmente, vários conflitos internos fizeram as coisas mudarem, e tomarem um caminho sem volta.
   Max Cavalera surpreende a todos, e anuncia a sua saída do sepultura, algo que ninguém imaginaria que um dia fosse acontecer. Foi um choque para todos. Muitos poderiam jurar que a maior banda do Brasil e uma das maiores do mundo teria o seu fim decretado. Felizmente, não foi bem assim. Derrick Green assume os vocais, mas a banda nunca mais teria o mesmo sucesso, ou força, daqueles dias de caos.
   Derrick assumiu, mas muitos não aceitavam o Sepultura sem seu líder. A própria banda tinha dúvidas sobre o futuro com o nome. Depois de escrever novas músicas, veio a certeza de que a história do Sepultura não tinha acabado. Sem a empresaria Gloria, que era acusada de privilegiar o marido em detrimento dos outros membros, agora o Sepultura era cada vez mais uma banda de 4 pessoas. O baixo ganharia mais destaque na sonoridade. Max cita em sua biografia que muitas vezes Paulo não gravava sua parte no estúdio, apenas ao vivo, com muito custo, mas se é isso mesmo ou não, nunca saberemos.
   Against não tem a mesma força dos discos anteriores, apesar de ser um bom disco. Muitos simplesmente não aceitavam que o Sepultura não tinha mais Max, e torceram o nariz. Alguns gostam, mas o sucesso dos anteriores não foi repetido.
   Na minha opinião, tem mudanças que só são aceitas em caso de novos clássicos com os novos vocalistas, e penso nisso com base no que aconteceu em casos conhecidos. Se o Black Sabbath não soltasse de cara o Heaven And Hell, e o Angra o Rebirth, nunca mais seguiriam o caminho construído por Ozzy e André, tendo que começar do zero. No caso do sepultura aconteceu exatamente isso, e até hoje tem muita gente que decreta que a banda acabou em 96. Felizmente, muitos não ligam para isso, e continuam apoiando a banda e comprando seus discos. O que sabemos é que o baque foi forte, e a banda nunca mais voltou ao ponto em que parou.
   Veio então o ótimo Nation, que tem grandes momentos, o "esquecido" Roorback e o também bom Dante XXI, dando a cara do Sepultura no novo milênio. Uma nova grande mudança estava por vir. A saída de Iggor era uma questão de tempo, já que estamos falando de irmãos, e a reconciliação aconteceria cedo ou tarde. O momento foi considerado péssimo, já que a banda estava prestes a viajara para a Europa divulgando o novo trabalho. Foi tudo cancelado, e  Jean Dolabella assumiria o posto de baterista do Sepultura. Jean grava A-Lex, e posteriormente o magnífico Kairos.
   Em Kairos, o Sepultura apresenta o seu melhor trabalho desde que os Cavaleras deixaram a banda. Os fãs receberam de braços abertos, e porradas como Spectrum, Relentless e Born Strong serviram para calar a boca dos críticos. Quando não se esperava mais nenhuma mudança, Jean deixa a banda depois de dois discos. Para o seu lugar, chega o fantástico Eloy Casagrande, o melhor baterista do Brasil atualmente.
   Hoje o Sepultura está em grande fase. The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart é um baita disco, violento como poucos na carreira da banda, e a formação está absurda. Pude assistir a banda recentemente, e a apresentação foi absolutamente matadora. Eloy, Andreas, Paulo e Derrick parecem que nasceram para tocar juntos, e os próximos 30 anos de história começam a ser escritos com a certeza de que a banda está mais forte do que nunca.

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