segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

SHOW DOS RAIMUNDOS E TITÃS-CITIBANK HALL-RIO DE JANEIRO

   As duas maiores bandas de Rock do Brasil, depois de terem lançado em 2014 os melhores trabalhos em anos, se juntaram para uma apresentação no Citibank Hall, a melhor e maior casa de shows da cidade (HSBC Arena é arena multiuso). Tinha tudo para ser uma noite espetacular. De fato, foi muito boa, mas a falta de trabalho de divulgação e comparecimento do público prejudicaram, assim como os setlists, que poderiam ser melhores. Mesmo assim, o saldo foi positivo, já que Raimundos e Titãs não brincam em serviço.
   Quando entrei na casa, na  época de ATL/Claro hall bem mais dedicada ao Rock, o público era assustadoramente baixo. Atualmente, raríssimos shows acontecem na casa, infelizmente. Na hora, a coisa melhorou, e cerca de 2 mil pessoas (no olhometro) deram as  caras. Muito pouco para um lugar que cabe 8 mil, e para bandas que sempre esgotam sozinhas shows no Circo Voador. Os Titãs, por exemplo, lotaram a Fundição Progresso (5 mil pessoas) em 2012. Público teria, mas um evento mal trabalhado em termos de divulgação acaba naufragando, por melhor/maior que seja a banda. Fiquei na pista premium, coisa rara, mas os 50 reais cobrados eram convidativos.
   Boa parte dos presentes estava lá pelos Raimundos, e camisas de bandas como Suicidal Tendencies, D.R.I e Metallica, além de incontáveis da banda de Digão, indicavam o perfil deles. A banda abriu a apresentação com a nova Gato da Rosinha, e com ela aquele mosh matador sempre presente. Mulher de Fases, a música mais conhecida, vem depois, como sempre cantada em uníssono. Indo diretamente para o primeiro disco, a clássica Nega Jurema aparece para o delírio dos fãs dos primórdios dos Raimundos. Já incorporada ao set há tempos, é sempre um grande momento.  Descendo na Banguela mostra a força de Cantigas de Roda, já na boca do povo, assim como o hit Baculejo. O Pão da Minha Prima é outro baita momento. Palhas do Coqueiro sempre se destaca. A noite reservou ainda BOP, Nó Suíno, Gordelícia e Importada do Interior do trabalho mais recente, além das sempre dispensáveis e infelizmente presentes A Mais Pedida, Me Lambe e Reggae do Maneiro. Tora-Tora teve uma participação ridícula de grande parte do público, que assistiu ao clássico parado. Talvez por isso, Digão falou que no seu tempo, escutavam o disco completo, e exaltou a sequência do Lavô tá Novo como o hino Eu Quero é Ver o Oco. Faltaram incontáveis clássicos, mas a presença de Mato Veio, Deixa eu Falar, 20 e Poucos Anos (com direito a brincadeiras de Digão sobre Fabio Jr) e Pintando no Kombão fizeram valer a noite, assim como o sempre clássico encerramento com Puteiro em João Pessoa. O show da banda está caindo numa repetição que poderia ser evitada, já que clássico não falta. A formação com Digão, Canisso, Caio e Marquin está consolidada, e mesmo com setlists previsíveis, o show sempre é forte. O retorno a casa aonde foram escritos capítulos gloriosos da banda, como a histórica apresentação na turnê do Só no Forévis (no youtube tem o vídeo completo), foi de certa forma emocionante para quem acompanha o Raimundos de perto. Ver a banda retornar a palcos como este depois de mais de 10 anos mostra que ela está no caminho certo.
   O público era diferente do que sempre comparece ao Circo Voador para shows isolados das duas bandas, inexplicavelmente. Muitos foram vencidos pelo cansaço, e o show dos Titãs que começou lotado foi se esvaziando. Nos Raimundos, um show nota 7, com sensação que poderia ser ainda melhor, mas que agradou em cheio aos presentes. Em ambas as apresentações, músicas que normalmente são muito celebradas foram recebidas com certa apatia.
   Era então a vez dos Titãs mostrarem sua força. Digão citou a importância da banda na história dos Raimundos, tendo os fãs de sua banda criando um mosh insâno em certos momentos da apresentação dos oitentistas. Também lançando uma obra-prima, várias novidades aparecem na apresentação, iniciada com base no trabalho. Fardado, Eu Me Sinto Bem, Cadáver Sobre Cadáver e Chegada ao Brasil (Terra à Vista) deram o pontapé inicial do show, mostrando que quando o lançamento é bom, merece ser mostrado. Policia é o 1o clássico, abrindo uma roda do tamanho da que foi comandada durante dodo o show dos Raimundos. A força única deste marco do Rock brasileiro é capaz de fazer isso. Em seguida, clássicos como Lugar Nenhum e Aluga-se, ótimo cover de Raul Seixas, deixaram um clima maravilhoso de Rock N'Roll no ar, com fãs das duas bandas celebrando o estilo. Alguns comandaram o mosh-pit durante toda a apresentação. O show mesclou músicas novas, como a magnífica Mensageiro da Desgraça, Flores Para Ela e Fala, Renata, com clássicos incontestáveis do porte de Pulsos, Cabeça Dinossauro, Flores, Bichos Escrotos, Igreja, Comida, Desordem, Vossas Excelências, AA,UU e Homem Primata. Com a inclusão de algumas baladinha desnecessária como Go Back e Epitáfio, somado o desinteresse de parte do público da própria banda, deixaram as coisas um pouco cansativas no final. O show foi legal, mas um set como o do Circo Voador e um público mais forte durante todo o show melhorariam as coisas. O encerramento com Pra Dizer Adeus foi dispensável, e acabei deixando a casa já muito cansado do bate-cabeça.
   O saldo foi positivo no final das contas. Duas ótimas apresentações, que poderiam ser ainda melhores, para um público abaixo das expectativas e cheio de altos e baixos. Um casamento de tamanha força poderia ser melhor, mas foi interessante. Acabou sendo uma boa noite de Rock N'Roll brasileiro, mas a coroação de um grande ano para essas duas lendas poderia ser mais grandiosa, se melhor trabalhada. 

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