segunda-feira, 24 de novembro de 2014

SHOW DO METAL "SCRAPS" STARS-ESPAÇO DAS AMÉRICAS-SÃO PAULO

   A ideia de juntar uma seleção forte de nomes do Heavy Metal mundial parecia ótima. Infelizmente, apenas parecia, porque na prática, o resultado foi desastroso. Em seguida, farei um relato pessoal de quem viajou para São Paulo no intuito de assistir ao "Dream Team" do Heavy Metal mundial e acabou vendo um bailão mal ensaiado das sobras dos convidados.
   O evento anunciou um line up de peso, e a cada Cronos, Belladona, Max, Chuck Billy e Labrie anunciados, minha empolgação ia nas alturas, e tal time me motivou a comprar o ingresso. Já com passagens e ingressos comprados, minha expectativa aumentava, mas ao mesmo tempo cabia uma reflexão sobre como seria o evento. Tudo era uma grande surpresa, desde o setlist até a performance dos músicos, e foi ai que parei para pensar no obvio. A ideia é boa, mas na prática é muito complicado juntar 14 músicos que não tocam juntos, com outras bandas em atividade e pouco tempo para ensaiar, o que é o segredo para uma boa apresentação. Não adianta amigos, pode ter certeza que para cada show matador do Iron Maiden ou do Slayer, foram gastas horas dentro de uma sala com os músicos repetindo cada nota, resultando numa performance impecável. Mesmo sem saber o que seria do show, e até com dúvidas em relação a minha escolha, o coração falava mais alto que a rezão, e estar de frente com alguns dos meus maiores ídolos me fez pegar o avião com um enorme sorriso no rosto. Já chegando em São Paulo, começa na prática a deprimente apresentação.
   Amigos me enviando mensagens, e posts recentes na página do evento, traziam as más novas. Cronos não iria participar do show na Bolivia, que aconteceu no dia da minha chegada, e também do show no Brasil, e Belladona, Chuck Billy e Guns G estavam fora da Bolivia, mas ainda não oficialmente do Brasil. Os três vocalistas eram a minha maior motivação para o show, levando em consideração o fato de nunca ter visto o Testament e o Venom ao vivo. Foi um balde de água fria. A falta de profissionalismo de TODOS os envolvidos em segurar para a última hora uma noticia que seguramente já era sabida há tempos foi revoltante. Cronos disse, entre outras  coisas, que não poderia dizer que cancelou, já que nem sabia do evento e  nunca esteve confirmado. A produtora brasileira se pronunciou, falando em problemas entre a empresa que vende o evento e os artistas, sendo ela a principal responsável pelo pagamento e outras burocracias diretas que implicam na vinda das bandas. Já no sábado, Guns G, Joey Belladonna e Chuck Billy estavam definitivamente desligados do show. Já que estava lá, me restou curtir o dia com os amigos cariocas e paulistas e fazer as compras de sempre na Galeria do Rock, além de assistir aos shows das bandas de abertura e o que sobrou do Dream Team.
   Obviamente, o que já não estava muito ensaiado ficaria pior com as baixas e improvisações impostas, e eu não esperava nada de espetacular de um evento tão mal organizado. Chegando ao Espaço das Américas, percebi que a movimentação não era lá muito grande. Apesar do marketing do evento, ele sim feito com perfeição, tentar tapar o sol com a peneira falando em "últimos ingressos a venda", todos sabiam que as vendas já não eram muito significativas para uma casa com capacidade para 8 mil pessoas, e os cancelamentos causaram a desistência de muitos que já compraram suas entradas. Na prática, o público presente caberia perfeitamente no Carioca Club, e inúmeros espaços vazios se acumulavam ao redor da pista. No famoso "olhometro", calcularia umas 1500 pessoas presentes, muito pouco para uma casa do porte do Espaço das Américas. Chega então a hora dos shows.
   Cheguei durante a apresentação do Capadocia, que faz um som interessante, numa linha Death/Thrash Metal. Consegui vê-los fazendo uma ótima versão para Spirit in Black, do Slayer. Em seguida veio o Project46. Gosto da banda, com um som mais voltado para o MetalCore, mas ainda interessante. Mesmo assim, por vezes o vocalista Caio cai num discurso de adolescente revoltado, cheio de "merda, vamos tacar o foda-se" e outras inutilidades repetidas para se parecer algo "mal", ou "Pesado", sem a menor necessidade. A banda tem peso o suficiente para se impor com o som. Por falar em peso, o mesmo Caio exagera nos berros sem nexo ao vivo, ao menos nesse show, fazendo com que as ótimas letras da banda fiquem indecifráveis. Uma pena, já que o Project é a banda mais forte da nossa cena atual, contando com o apoio de nomes de peso e mexendo com a cabeça de muitos. Mesmo assim, o show foi interessante.
   Chega então a hora do verdadeiro show da noite, o do Korzus. Falar da banda é chover no molhado, todos sabem da maravilhosa história de 30 anos dos paulistas, um dos nomes mais representativos da história do Heavy Metal brasileiro. Quem já viu algum show deles, sabe que é matador, e esta seria a minha 1a oportunidade. Lançando o ótimo Legion, Pompeu comandou um passeio certeiro pela história do Korzus. Sem Dick Siebert, que chegou a subir no palco para falar com o público machucado, Marcello Soldado se apresentou no baixo. O mosh comeu solto durante toda a apresentação, e momentos como a recente Dicipline of Hate e o hino máximo Correria lavaram a alma dos fãs, secos pelo legítimo Heavy Metal. Ainda teve muito mais, como What Are You Looking For, Respect, Never Die e a nova Self Hate. Um show irretocável de uma banda grandiosa, para fazer valer o dinheiro investido.
   Agora era hora das "estrelas". O começo foi com Kobra Page cantando, e fazendo papel razoável, em músicas que não se encaixam na sua voz. Em homenagem ao guitarrista Ross the Boss, do Manowar, foram apresentadas Kings of Metal e Hail and Kill. Momento de extremo tédio para mim, já que nunca fui fã da banda. David Ellefson fazia o possível no baixo, mas o guitarrista "principal" errava tudo, claramente por falta de ensaio. Para o lugar de Guns G, Baffo, guitarrista e vocalista do Capadocia foi chamado, e como não teve tempo algum de ensaio, não se encontrou com o resto da banda. Vinnie Appice fica despercebido na bateria, e uma das lendas do instrumento faz o seu papel. Mesmo assim, era tudo uma bagunça. Fear of The Dark é cantada por todos, mas erros clamorosos de Ross prejudicam em muito a versão. A banda de Ellefson é lembrada, com a versão de Symphony of Destruction. Chega a vez de Geoff Tate cantar, mas até ele errou parte da letra do hino Neon Knights. Jet City Woman, clássico do Queensryche, chegou depois. Apesar do erro, o vocalista fez um ótimo papel. Agora Kiko Loureiro entrou para tentar colocar ordem na casa, e honestamente fez um trabalho ótimo. Tava complicado tocar ao lado do Boss, mas Kiko mostrou o grande guitarrista que sempre foi. James Labrie veio cantar I Got You, do seu disco solo, e a magnífica Pull Me Under, clássico do Dream Theater, mas sem Petrucci e cia não estava dando. A banda fez o possível, mas os companheiros do vocalista fizeram falta. Depois veio o único momento grandioso da apresentação, um Max Cavalera endiabrado. Visivelmente irritado com tudo que vem acontecendo, Max reclama dos problemas com sua guitarra e comanda com fogo nos olhos um público que foi a loucura ao vê-lo ali. Roooooooots Bloody Roooooooooots é cantada por todos, abrindo um mosh absolutamente matador. Depois veio Eye for an Eye, do Soulfly, menos forte, mas também bem recebida. Infelizmente, o set mais poderoso da noite teria fim, mas de maneira espetacular. Max apresenta a banda, com carinho especial por Ellefson. O vocalista pede ao baixista para mandar o clássico riff de Peace Sells, seu maior legado, uma sacada brilhante, e em seguida fala do Motorhead. Quando todos esperavam pela tradicional Orgasmatron, veio a surpreendente Ace of Spades.
   Depois de Max, se deu inicio ao interminável intervalo, já às 2h30 da madrugada. O cansaço já era maior que tudo, e a revolta com a fraca apresentação me fez sair antes mesmo do show de Zakk Wylde, que de acordo com relatos foi uma homenagem ao bom e velho Sabbath. O evento foi um fracasso de público, e principalmente, de música. Nada combinava com nada, ausências de última hora substituídas as pressas e erros amadores deram o tom geral, que junto com o horário absurdo, deixaram a noite com um gosto um tanto quanto amargo para o chamado "show do ano". Em sintesi, o público assistiu a um bailão mal ensaiado, digno das piores bandas covers de botecos baratos. Se teve algo para salvar a noite, foi o bom e velho metal nacional, representado nas figuras de Felipe Andreoli e Kiko Loureiro, Max Cavalera e Korzus. 

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