segunda-feira, 21 de setembro de 2015

ROCK IN RIO 6 - DIA 18

   Amigos, alguém minimamente iniciado e interessado em Rock N'Roll consegue passar essa época do ano sem falar no assunto Rock In Rio? Desde que ele voltou em 2011 para ficar em edições bianuais, somos assunto no país inteiro, e só por isso, vale considerar a grandiosidade do festival. Muitos amam odiar e criticar line-up e coisas do gênero, mas é inegável  que em 6 edições o senhor Roberto Medina entregou aos roqueiros em geral shows inesquecíveis de bandas lendárias. O Rock in Rio nunca foi um festival de um ritmo só, mas alguém se atreveria a contar a história do Rock no Brasil sem citar os shows do Whitesnake, Scorpions, Queen, Iron Maiden, Judas Priest, Sepultura, Megadeth, Metallica, Guns N'Roses e tantos outros no festival? O mesmo mudou a forma como se brinca com shows em 85, transformou a coisa num profissionalismo invejável, sempre entregando ao consumidor exatamente o prometido, coisa que alguns festivais recentes chegaram longe de fazer. 
   Bem, para não me alongar muito, chegamos ao 3o Rock In Rio desde 2011, e no 6o em toda a história, e para variar, algumas bandas fantásticas foram escaladas para comandar a festa. Line-up perfeito não foi, longe disso, mas dentro das possibilidades, ficou bem legal. Comecei minha maratona no festival no 1o dia, comandado pelo Queen reformulado. Foi um dia bem desequilibrado, que contou com um show razoavelmente bom do Ira! bem mais cedo, mas que se perdeu nos convidados, e num mar de lixo até a hora da atração principal. Como não estava disposto a aturar isso, optei por chegar bem mais tarde, quando o famigerado Script fazia seu show Pop de gosto bem duvidoso. A assustadora movimentação no terminal de ônibus que dava acesso ao festival dava a noção de que muitos optaram pelo mesmo expediente. Antes disso, tivemos mais um dos muitos tributos a dispensável interprete Cassia Eller, que fez sua carreira com músicas compostas por grandes nomes da música brasileira, exatamente o que vemos em botecos por toda a cidade. Um bailão com participações de nomes que iam de Ivan Lins e Ivete Sangalo até Titãs e Andreas Kisser, passando por porcarias do porte de Blitz e Jota Quest e mais um milhão de outros nomes teve seus altos e baixos. De destaque, o figurino sensacional de Ney Matogrosso, o esporro do gênio Erasmo Carlos com 30 anos de atraso para a lamentável vaia recebida na ocasião, o rockão simples e eficiente de Paralamas e Barão Vermelho e a pitoresca participação de Dinho Ouro Preto cantando Sepultura. Bem, deu para ter o tom da bagunça né? Para ficar só no mundo, ainda tivemos antes da atração da noite, a única coisa que faria valer um dia inteiro de festival, uma tortura sonora que atende pelo nome de One Republic. Nossa mãe, perto daquilo, Codiprey chega a ser apenas ruim. A fila no bar dava a ideia do interesse que o espetáculo despertava. 
   Bem, finalmente, vamos ao que interessa. Antes de qualquer coisa, ninguém em sã consciência é capaz de comparar o tributo que Roger Taylor e Brian May fazem ao Queen atualmente com a banda que fez seu nome na galeria mais nobre da história do Rock N'Roll. John Deacon, que não participa de reunião, e obviamente, Freddie Mercury são insubstituíveis, e aquela banda que se apresentou há 30 anos num palco bem próximo dali simplesmente acabou. Dai achar que qualquer vocalista desse mundo, por melhor que seja, é capaz de substituir a voz definitiva do Rock N'Roll sem deixar nada a dever é loucura. O show seria uma oportunidade para vermos dois gênios em ação, tocando um repertório irretocável feito por eles, cantado para quem pela força do antigo comandante acabaria sendo o centro das atenções. Adam Lambert não é Freddie, nunca será, mas não reconhecer seu talento vocal em músicas que exigem isso é pura implicância. Muitos podem não gostar da figura dele, um tanto espalhafatosa é verdade, mas quem como eu não liga a mínima para tanto consegue enxergar o ótimo papel dele cantando algumas das músicas mais fantásticas feitas até hoje.
   Depois dessa introdução necessária devido aos pormenores envolvendo a apresentação da noite, vamos a ela em si. Como já foi dito, o dia foi escolhido sem muita precisão, fazendo o Queen brilhar absolutamente sozinho, algo bem diferente do que vimos 30 anos antes nas "aberturas" de Whitesnake e Iron Maiden. Isso, e mais o fato de não ser uma banda em si, e sim um grande tributo a sua história com metade da sua formação original, mostra a força do nome Queen, que inclusive foi um dos primeiros a esgotar as entradas. A brincadeira começou com clássicos em sequência, o que chega a ser redundante quando o assunto é Queen. One Vision já conquista qualquer fã, e vê a porrada Stone Cold Crazy chegar para dar sequência. Fãs de Metallica conhecem muito bem essa ai, uma das melhores de toda a carreira. Tal escolha mostra o capricho da dupla em mostrar os grandes hits, ao lado de outras pérolas escondidas em sua obra. Another One Bites the Dust é um hino definitivo, e agita os menos entendedores que constituíam uma parcela significativa do público. O mesmo se agitou mais na reta final, e na mais que trabalhada Love Of My Life. Fat Bottomed Girls representa com brilhantismo a obra-prima Jazz, e acabou sendo bastante celebrada por alguns. Bem, trabalhar com o repertório de bandas assim faz qualquer set ser a coisa mais perfeita do universo. In the Lap of the Gods... Revisited foi realmente de arrepiar, em meio a fumaça que tomava conta do palco. Ver o desempenho de May nessa pérola foi absurdo.  Seven Seas of Rhye nunca pode ficar de fora de nada relacionado ao Queen, e de fato é absurda ao vivo. Killer Queen chega para matar os fiscais de ódio com Lambert deitado em pose de legítima rainha enquanto canta. Seu papel, como disse, foi exatamente o esperado, ao cantar com correção cada uma das músicas, o que só ótimos vocalistas são capazes de fazer. O hino Don't Stop Me Now faz a cidade do Rock explodir, assim como a única I Want to Break Free. Em um dos poucos momentos de papo, Adam elogia a plateia e pergunta se alguém já encontrou o amor, e pediu ajuda para tanto. Deixa perfeita para Somebody to Love. Então é hora do dono da noite sacar seu violão e comandar 85 mil vozes em Love of My Life. Impossível não se emocionar. A banda vinha tocando regularmente a magnífica '39, mas lamentavelmente sacou a mesma do set. único ponto a lamentar na apresentação no meu ponto de vista. A Kind of Magic cativa, e abre espaço para Roger Taylor duelar  com seu filho  Rufus Tiger Taylor. Que momento belíssimo, onde Taylor pode brilhar e se mostrar em forma na função mais complexa do Rock. Mesmo com o som um pouco baixo durante todo o show, simplesmente não tinha o que falar até então. Under Pressure, que apresenta brilhantismo até no fraquíssimo Hot Space, serve para Adam mostrar seus predicados numa música consagrada no duelo de Freddie Mercury e David Bowie. Na sequência vem simplesmente Save Me, um dos pontos altos do incrível The Game. Brian pergunta se o garoto foi aprovado, com óbvia resposta positiva da audiência, e abre espaço para ele apresentar Ghost Town, música no máximo ouvível de sua carreira solo. Perto de tanta perfeição, ela fica devendo, como 99% dos mortais quando o assunto é a obra do Queen. Who Wants to Live Forever é surpreendentemente celebrada. Hora de May brilhar, mais do que já brilhava em toda apresentação. Um solo magnífico que só poderia ser apresentado por um mostro das seis cordas. Last Horizon aparece para coroar o momento. The Show Must Go On vem para emocionar qualquer coração de pedra, assim como a avassaladora I Want It All. Radio Ga Ga arrepia principalmente na clássica coreografia manual do público durante o refrão. Esse foi o momento em que o público ficou mais agitado, partindo para uma bela reta final. Crazy Little Thing Called Love  bota todo mundo para dançar, mas em seguida vem o momento da noite. Bohemian Rhapsody por si só já é matadora, sendo uma das maiores músicas da história, e com a aparição de Freddie cantando no telão fica a coisa mais linda do mundo. Num tributo a sua obra, tudo faz sentido. A dupla infalível We Will Rock You e We Are the Champions fecham a brincadeira com chave de ouro.
   Quem entendeu o espírito dessa apresentação do Queen viu um baita show, digno da força que apresentou. A primeira noite do Rock in Rio foi ótima. As filas no alvorada e certa tranquilidade na saída dos ônibus marcaram, coisa que aconteceu exatamente ao contrário no dia seguinte. Outra coisa que mudou foi a cerveja, que aparecia com facilidade no "dia do metal", e exigia uma batalha na noite de abertura. Fora isso, um som apenas aceitável e a estrutura de sempre marcaram a estreia do festival, marcado por um ótimo show de dois monstros sagrados e de um garoto talentoso que foi capaz de segurar a onda em canções fantásticas. 

Um comentário:

  1. Muito legal tua opinião. Até porque, meu cansaço não me deixou ir além da segunda música do show do Queen, que assisti em casa. Eu só estava ouvindo péssimos comentários sobre o Adam. Acredito que muitos queriam a ressuscitação do Freddie, isso é impossível! Agora sei que o cara arrebentou sem tentar ser o Freddie, isso é fantástico. Acho que o povo tem que parar de tentar comparar e curtir a novidade, que foi muito boa.

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