segunda-feira, 28 de setembro de 2015

ROCK IN RIO 6 - DIA 24

   E mais uma semana no tão falado Rock In Rio chegou, dessa vez começando numa absurdamente quente quinta-feira, que por ser dia útil, complicou demais a chegada de muitos ao festival. Uma grande marca do dia foi o altíssimo nível de muitos dos shows que aconteceram, sendo "comandados" pelo System Of A Down, que pelo que vimos, provou já ter potencial para andar ao lado dos gigantes do Heavy Metal, sendo a mais promissora no quesito arena para os anos que estão por vir. Um público absurdo tomou conta do lugar desde cedo para cada apresentação ser curtida intensamente. 
   Acabei chegando depois dos shows do Project46 com John Wayne, representantes do Metalcore brasileiro, e da boa Halestorm. Minha ideia original era chegar para ver a estreia do About2crash na Rock Street, banda formada pelos monstros sagrados Aquiles Prister e Luis Mariutti, mas o caos no trânsito e no terminal alvorada não permitiram. Ai cheguei bem na hora do Lamb Of God, correndo direto pro palco sunset.
    Infelizmente, meu celular foi furtado com cerca de 40 minutos de show, e obviamente tive que dar uma circulada pela Cidade do Rock para resolver as burocracias envolvidas em casos assim. Nunca acompanhei profundamente o trabalho da banda, mas o que vi me agradou bastante. Relativamente novos para os padrões musicais nossos, a escolha foi precisa. O chamado Groove Metal praticado por eles simplesmente incendiou a pista. Pena não poder acompanhar tudo, mas vi o suficiente para tirar o chapéu para um dos maiores nomes do Heavy Metal atual. Muitos fãs que conheço simplesmente piraram com a apresentação, e só isso já prova a força da mesma. 
   O show que viria abrindo o palco mundo foi do CPM 22. No meu começo no Rock, curtia muito a banda, mas obviamente com o tempo risquei ela da minha vida. A escolha destoava do restante da noite, já que eles são um dos primeiros a se arriscar no chamado Emocore por essas terras. Todos sabemos que depois a coisa foi dali para muito pior. Muitos cresceram ouvindo, e é inegável que a banda tem uma coleção de hits que muitos se vem cantando. Com isso, a reação foi inegavelmente positiva. Contudo, preferi dar aquela descansada no gramado, comer uma batata-frita, tomar umas geladas e esperar o tempo passar. Uma banda pouco interessante sempre cai bem num festival para esse tipo de coisa.
   Depois dei uma passada na apresentação do Eminence no palco da Rock Street, com público reduzido é verdade. A banda mostrou porque é tão falada no underground, praticando um Death com toques modernos digno do legado dos colegas mineiros. A apresentação teve direito também a participação do vocalista Bruno Paraguay na roda formada próximo ao palco, cantando no centro dela. Bem interessante em geral. Enquanto isso, acontecia no Palco Sunset o show do Deftones, uma banda que nunca me agradou. Por isso, preferi distância de lá, mas muitos foram conferir a apresentação, pelo nome forte da banda dentro do New Metal.

HOLLYWOOD VAMPIRES
   O show que veio a seguir esquentou de vez a noite. O Hollywood Vampires é um projeto, um chamado supergrupo, formado por monstros sagrados do Rock N'Roll. Tem como Alice Cooper, Joe Perry, Duff Mckagan e Matt Sorum se reunirem e não dar um belo resultado? Midiaticamente, a participação excelente do grande ator Johnny Depp nas guitarras transformou a banda em noticia. Bem, não se pode negar a sua fantástica participação e o nome que ele carrega, mas convenhamos, chamar o grupo de "banda do Johnny Deep" é um absurdo sem tamanho. Quando o assunto é música, ele deve pedir licença aos companheiros, e fim de papo! 
   Esse assunto da muito pano para manga, mas prefiro ir direto ao que interessa. O show da banda, praticamente estreante em todos os quesitos, foi na verdade uma jam que durou 1h, um passeio por parte da história do Rock em interpretações de nomes que estão diretamente ligados a capítulos importantes da mesma. Alice Cooper, a voz do grupo, apresentou dois dos seus clássicos eternos, os hinos School Out e Billion Dollar Babies. Train Kept A-Rollin', música do Tiny Bradshaw que o Aerosmith tomou pra si, fez menção ao lendário grupo de Perry. Destaque também para a participação do filhão de Ringo Star na bateria, o senhor  Zak Starkey, além de Andreas Kisser, por muitos chamado de arroz de festa, mas de uma festa assim, só os grandes participam. Raise the Dead foi a música realmente da banda em meio a todo esse jam, que passou por John Lennon, The Who, Led Zeppelin, Rolling Stones, Pink Floyd (na famosa menção a Another Brick In The Wall que Cooper faz em seus shows), T Rex, Jimi Hendrix e The Doors. Bem, só citando esses nomes, já podemos dar uma bela viagem não é?
   Para resumir, foi um baita show, que caiu como uma luva em um festival assim. Vimos um projeto de monstros sagrados do Rock levando um som de primeira, infelizmente, por muitas vezes ignorado pelo grande público. Uma sacada genial para esse dia de Rock In Rio.

QUEENS OF THE STONE AGE
   Agora a noite já tinha engrenado de vez. Era hora de ver então um aguardado e espetacular show de Rock N'Roll puro com toques de modernidade que o Queens Of The Stone Age, um dos poucos da atual geração ainda relevante, consegue proporcionar. Desde 2001, ainda pequeno e deslocado no mesmo Rock In Rio, a banda não aparecia na cidade, o que fez crescer a expectativa pelo show nessa noite. O número considerável de fãs que a banda tem no Brasil correspondeu, criando um clima fantástico que fez da sequência com o headline um dos fortes desse festival. A banda passou o ano de folga, fora de turnê, depois do muito bem sucedido giro para divulgar o bom  Like Clockwork, 6o disco de estúdio lançado em 2013. É provável que em breve possamos ver o seu sucessor, mas nessa noite, vimos uma banda de Rock de verdade dominando com facilidade o enorme palco do festival, sem cenário ou pirotecnia, somente música. O set teve 14 músicas, com boas escolhas cobrindo toda a carreira, e pé fincado com força nas músicas mais recentes. Num show assim, senti falta de pedradas do porte de The Lost Art of Keeping a Secret, Feel Good Hit of the Summer, First It Giveth, e da magnífica Mosquito Song, mas em geral, foi interessante. 
   Começar o show com a dupla que abre o seu melhor trabalho, Songs For The Deaf, não poderia ser um acerto maior. You Think I Ain't Worth a Dollar, but I Feel Like a Millionaire e o hit maior No One Knows já incendiaram a pista do Rock In Rio, criando diversas rodas ao longo dela, um caos que só bandas de respeito conseguem armar. Nessa brincadeira, uma aparente briga próxima a mim, algo raro, abriu um clarão que me possibilitou uma enorme aproximação do palco, podendo assim assistir de perto toda a apresentação. A reação em No One Knows foi digna do status de clássico que ela já carrega. Josh Homme vai comandando sua trupe com precisão, e apresenta My God Is The Sun, uma das melhores do último disco, também muito bem recebida. Burn The Witch é a 1a a representar o ótimo Lullabies to Paralyze, com direito ao coro que o riff ótimo consegue puxar. Smooth Sailing volta ao presente, e é seguida pela clássica In My Head. Regular John vai direto para o 1o trabalho da banda, uma das escolhas mais acertadas possíveis. Sick, Sick, Sick bota mais fogo na apresentação. A sequência como a belíssima The Vampyre of Time and Memory e a inspirada If I Had a Tail mostram o orgulho que a banda tem do trabalho mais recente, não abrindo mão de várias dele nem num show de tamanha proporção. Nesse momento, o fogo não era o mesmo do começo, algo natural pelas escolhas mais recentes, mas é inegável que as músicas são interessantes. Little Sister recoloca o clima mais para cima possível, pelo enorme sucesso que fez no Brasil nos idos de 2005, quando sempre era tocada nas rádios. Nesse momento retornei aos meus primeiros passos dentro do Rock N'Roll. Fairweather Friends chega para totalizar 5 músicas do último disco. Essa poderia facilmente ser trocada por alguns dos clássicos ignorados. Para o encerramento, ficaram as bombas Go With the Flow e A Song for the Dead, que colocam fogo nas rodas, principalmente na última. 
   A impressão foi positiva, e o show foi indiscutivelmente muito bom. Por melhor que seja o trabalho mais recente, eu trocaria algumas novas por clássicos mais fortes em shows dessse tamanho, mas o saldo foi para lá de positivo. 

SYSTEM OF A DOWN
   A noite já seria muito interessante se acabasse ali, mas definitivamente o melhor ainda estava por vir. Muitos insistem em torcer o nariz, mas a apresentação do System Of A Down encerrando uma noite de Rock In Rio foi simplesmente destruidora, fantástica, espetacular, e mais um milhão de adjetivos positivos. A banda vive uma espécie de hiato em estúdio já tem 10 anos, curiosamente quando lançou o seu melhor álbum, Mezmerize, junto do também muito bom Hypnotize. Nesse ano, a banda voltou numa tour mundial, e em breve a espera por algo novo deve chegar ao fim. Para quem viria somente o 2o show por aqui, depois de 4 anos naquele mesmo palco, isso estava longe de ser um problema. A conexão de uma banda inspirada tocando para um público frenético fez do show algo realmente memorável. 
   O fogo do público, que vale lembrar, compareceu de maneira assustadoramente satisfatória ao lugar, já foi provado logo de cara. Um set divulgado no começo da tarde por meios de comunicação foi simplesmente rasgado, com algumas inclusões que há tempos não apareciam, o que mostra a disposição diferente da banda naquela noite. I.E.A.I.A.I.O simplesmente deu origem a rodas por todo o lugar, não tinha como escapar. Já nessa canção fantástica, percebia-se que o público era diferente do que se costuma ver em shows de arena, estando disposto a cantar tudo. A banda que entrou discretamente, e de cenário tem apenas um pano com seu logo, mostrou que basta a boa música para fazer um grande show para 85 mil pessoas. Um trecho de Suite-Pee vem em seguida, abrindo espaço para a porrada Attack, a bela abertura de Hypnotize, que não era tocada desde 2011. Que grata surpresa! Prison Song, algo como um clássico da banda na abertura da obra-prima Toxicity, botou fogo de vez no lugar. Hora de mais novidade, com a fantástica Know, uma das melhores do 1o disco da banda. Aerials faz tudo sair do controle, com a força de um clássico sem falso saudosismo. B.Y.O.B não fica para trás, sendo uma porrada daquelas para nem o mais extremo banger botar defeito. Soil e Dart fazem uma mostra da banda mais experimental, mas não menos impactante. Ai a belíssima Radio/Video chega para, seguindo as ordens de Daron Malakian, botar todos para dançar. Hypnotize segue com perfeição, num dos melhores momentos do show. Não tem como não comentar o quanto Daron estava inspirado naquela noite, transbordando carisma no papel de frontman e fazendo seus vocais complicados e riffs com maestria. Serj Tankian não deixa por menos, com suas indispensáveis caras e bocas, e voz totalmente em dia, coisa que alguns insistiam em criticar nas performances ao vivo da banda. A cozinha Shavo Odadjian/John Dolmayan também segura com precisão as pontas. Temper é mais uma nobre surpresa, representando o por vezes esquecido Steal This Album!. A participação até em raridades como essa do público é algo realmente notável, que sem comparação de valores das bandas, mas dos fãs em si, deveria ser copiado por alguns dos seguidores do Metallica e do Iron Maiden. CUBErt segue tal tendência. Needles já é uma espécie de hit, com seu refrão puxado por Daron no começo, caindo para uma participação épica da plateia cantando cada estrofe. Dear Dance, Brounce e Suggestion formam uma sequência simplesmente avassaladora. Daron saca então o refrão da pérola do pop oitentista Physical antes de tocar o porrada Psycho. Simplesmente hilário, e na música em questão, vimos uma pancadaria diferente de grande parte do show, com uma empolgação única. Ai Chop Suey!, outro clássico inegável, destrói de vez os pilhados fãs. Lonely Day, uma baladinha muito querida pela nova safra de rockeiros, emociona. Question! não deixa por menos.  Lost in Hollywood é minha peferida da banda, e sua apresentação foi simplesmente arrepiante, com braços para cima ao longo da Cidade do Rock. Vicinity of Obscenity é outra surpresa, sendo um lado b de Hypnotize. Tinha para todos os gostos nesse sábio setlist. Forest foi uma das mais sábias escolhas, um dos pontos fortes de Toxicity. Cigaro tem seus versos bizarros ironizados por Daron, como de costume, e seu peso descomunal causa a euforia imaginada. No clássico máximo Toxicity, o vocalista do Deftones é chamado para catar com a banda, e o público entra em transe. Daron incentiva rodas na sua reta final, e elas sairam de vez do controle causando um efeito fenomenal. Sugar vem em seguida, e fecha uma grande apresentação de Heavy Metal.
   O dia 24 do Rock in Rio teve seu auge no encerramento, num show digno de um gigante do Heavy Metal. Por mais nova que seja a banda, o efeito do seu show para um público enorme que sabe apreciar não pode nunca ser ignorado nem pelo mais tr00 banger. Uma apresentação simplesmente irretocável de um postulante a manter o legado de Iron Maiden, Metallica, Megadeth, Black Sabbath e tantos outros num futuro próximo. Um show digno de headline de um festival do tamanho do Rock In Rio. 

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