terça-feira, 22 de setembro de 2015

ROCK IN RIO 6 - DIA 19

   Depois de chegar em casa por volta das 4h, e dormir por volta das 5h em decorrência da 1a noite do festival, era dia de levantar e curtir mais um dia, esse o chamado "Dia do Metal". Infelizmente, acabei acordando tarde demais para conseguir chegar a tempo de ver o grande show do Palco Sunset, a apresentação fantástica do Angra. Acabei vendo trechos pela tv mesmo, mas quem assistiu tudo garantiu que foi a melhor apresentação nacional do festival desde o clássico show do Sepultura em 1991. Rolou apresentação do novo guitarrista Marcelo Barbosa, choro de Kiko Loureiro, participações matadoras de Doro Pesch e Dee Snider e tudo mais. Uma verdadeira redenção para a apresentação que em 2011 marcou o fim da era Edu Falasch na banda, e o inicio de uma reformulação que muito bem fez a todos. Bem, infelizmente não pude ver tudo isso. 
   A apresentação do Angra era a única que me interessava antes do Motley Crue, e quando vi que nao teria como chegar, decidi ir calmamente para o evento. O industrial do Ministry nunca me interessou, apesar de respeitar tanto a banda como o estilo, assim como o trabalho do Noturnall, cercado de pormenores pouco atraentes a meu ver. Com profundas alterações no terminal alvorada, passagem obrigatória para quem não pagou o ônibus vip, as filas enormes do dia anterior encurtaram, e cheguei rapidamente ao entorno da Cidade do Rock. O entorno do lugar é um verdadeiro canteiro de obras diversas, forçando a improvisação do terminal de ônibus do retorno, e um longo caminho a pé por terra, areia e pedras para quem ia até o festival. Se chove, a coisa toda seria uma lama só.
 Cheguei durante a ótima apresentação do Gojira, um dos grandes nomes do Heavy Metal na atualidade, que foi seguramente um acerto e tanto da organização. A parte que vi, me agradou muito. Já na chegada pude perceber a enorme oferta de cerveja ao longo do gramado, em decorrência das dificuldades do dia anterior. Filas nos restaurantes também era menor. Nesse momento, uma quantidade considerável de pessoas ia até o Palco Sunset para assistir a apresentação do Korn. O show dividiu opiniões, mas para mim, a banda é uma das piores coisas que já surgiu na história do Heavy Metal, assim como 90% daquele movimento chamado New Metal. Por isso, passei longe do lugar, e fiquei tranquilamente bebendo no espaço esvaziado do palco mundo enquanto esperava pelos shows principais. Bem, fazendo justiça à banda, muita gente curtiu o peso e a intensidade do show, inegavelmente um dos mais fortes da noite. Era hora do totalmente desconhecido para o público dar as caras, a dupla Royal Blood. Honestamente, não estava disposto a assistir ao show, e o mesmo foi outro a dividir opiniões. A competência dos músicos é inegável, mas o som em si não chegou a me agradar, assim como a grande maioria dos presentes, por ser algo totalmente deslocado em relação aos headlines. Para mim naquele momento nada me chamaria atenção, porque era incalculável a ansiedade pela apresentação que viria a seguir. 
    O Motley Crue era para mim o show da noite. Além de ser uma das minhas bandas preferidas, um show no Brasil era algo quase utópico para os fãs, que só tiveram tal oportunidade numa terça ou quarta feira em São Paulo, em 2011, quando muitos (incluindo eu) não puderam estar presentes. Desde então, um show deles é uma obsessão para mim, e agora a turnê de despedida era a última chance. Pelos altos custos, era improvável um show no Brasil, mas o Rock in Rio fez isso ser possível, sendo assim a única apresentação na América do Sul. No mínimo, histórico. Muitos estavam desfilando suas camisas pelo lugar, e a partir das 10h30 da noite daquele dia 19 de setembro, estava tendo inicio um dos shows da minha vida.

MOTLEY CRUE

   Mesmo tendo uma quantidade considerável de fãs no lugar, eventos assim fazem com que esses fiquem dispersos em meio a multidão de 80 mil pessoas, fazendo com que o efeito concentrado de um show individual não aconteça, já que os fãs e curiosos se misturam. Assim sendo, a participação popular foi fraca para o que o show merecia. Um tanto quanto revoltado e pilhado por isso, sai abrindo espaço, e consegui ver muito bem um dos shows da minha vida, sem medo de errar. Sendo franco, esse é aquele tipo de show no qual a emoção pura e simples dita a regra, algo semelhante ao show do Black Sabbath, onde a força e improbabilidade da apresentação fizeram com que qualquer coisa vinda valeria a pena. Ou seja, durante pouco mais de 1h, eu simplesmente não fiquei avaliando tecnicamente nada, nem atento aos riffs e acordes certos ou errados, nem reclamando de uma ausência ou outra no set. Simplesmente, o que veio foi lucro, foi 1h de verdadeiro choque ao olhar para um palco e ver Tommy Lee, Vince Neil, Nikki Sixx e Mick Mars ali, quatro dos meus maiores heróis do Rock N'Roll. E tome lágrimas, voz perdida em cada nota berrada e reações de legítima emoção a cada solo ou riff. Vendo em casa, pude perceber que a voz de Vince não anda lá essas coisas, mesmo longe de passar vergonha. Na hora mesmo, isso era um detalhe. Fora isso, irretocável instrumental, e as dançarinas/becking vocals criaram aquele clima sexual que tanto combina com a banda e com o estilo. 
   A brincadeira começou com o hino  Girls, Girls, Girls, música mais conhecida da banda. Que porrada no coração foi escutar aquele riff, cantar cada verso de uma música que escuto desde que me entendo por gente. O som não estava dos melhores, mas repetindo, tudo ali era lucro total. Mesmo muitas vezes me vendo sozinho cantando, para mim era tudo um sonho. Wild Side chega para arrematar de vez, como ela é uma das melhores para um show desse porte, foi a que teve maior participação. Durante Primal Scream a ficha começava a cair, eu começava a ver que aquilo era verdade, e eu estava diante de um show do Motley Crue. Então a 1a representante da obra-prima Dr Feelgood resolve dar as caras, com o clássico Same Ol' Situation (S.O.S.), seguida pela arrebatadora power-ballad Don't Go Away Mad (Just Go Away). Emoção pura, cada segundo era parte de um sonho se tornando realidade.  Smokin' in the Boys' Room vem para agitar ainda mais, e Looks That Kill serve para me matar do coração. A pirotecnia estava presente também, apesar de ser dito não haver tais efeitos. Fogo queimando os presentes mais distantes, baixo de Sixx cuspindo fogo, e tudo que tem direito para completar o que já seria perfeito só pela música. Anarchy in the U.K., hino do Sex Pistols, agita os que pouco conhecem da banda.  Shout at the Devil é o auge da pirotecnia, onde cada fã urrava seu famoso refrão, que da nome ao 2o e fantástico disco da banda. Então Mars faz um belo solo, do alto da superação que é para ele cada apresentação, mesmo com a saúde um tanto quanto desgastada. Saints of Los Angeles apresenta a nova fase da banda, e cai muito bem, já que pode ser considerada um novo clássico. Live Wire da inicio a reta final da brincadeira. Os hinos supremos Dr. Feelgood e Kickstart My Heart encerram a 1a parte do show com brilhantismo e mais emoção. A organização, mal preparada, já mostrava o logo do festival no telão, e iniciava uma das propagandas, quando felizmente o Crue retorna com Tommy Lee tocando a introdução da arrebatadora Home Sweet Home no piano. Ai não teve jeito amigo, as lágrimas começaram a escorrer, e o sonho chegava ao seu final de maneira irretocável. Só poderia agradecer aos céus por aquilo ter acontecido diante dos meus olhos. Agora o show do Black Sabbath tem um companheiro quando o assunto é o show da minha vida. 

METALLICA

   Obviamente, ainda tinha um grande encerramento para aquela noite. O Metallica vem prolongando ao máximo a espera pelo sucessor de Death Magnetic, e suas constantes vindas vem tornando muita coisa repetitiva. Mesmo assim, nunca é ruim ver a banda ao vivo, é sempre algo gratificante. Com um tempinho para recuperar o fôlego e um grande acúmulo de gente em todas as direções que levavam ao palco, era hora de ver minha banda do coração em ação novamente. 
  A famosa abertura com o tema Ecstasy of Gold já estourava as caixas, quando o show começa com a dispensável Fuel, que sejamos justos, sempre agita os presentes. Deixa para o hino For Whom the Bell Tolls, que bota 80 mil para pular durante a clássica intro que eternizou a lenda Cliff Burton. Em seguida a thrasheira Battery, que abre o clássico Master Of Puppets, não deixa pedra sobre pedra no lugar. Uma das surpresas no set vem em seguida, com King Nothing, uma das ótimas músicas escondida no disco Load, que se for melhor explorado, vai apresentar bons momentos aos fãs. Bem interessante. 
   Em seguida vem o clássico Ride the Lightning, que vinha muito bem, mas já na sua reta final apresentou uma falha devastadora no som do festival. A banda continuou tocando ela até perceber o problema, e mesmo sem nada, dava para ecutar os murros que Lars Ulrich dava em seu kit. Amigos, esse tipo de situação é inédita para mim, não lembro de nada parecido nem em shows undergrounds, quanto mais em eventos desse porte.  Depois de uma paralisação para ajustes, o show segue normalmente. O curioso é que, exceção óbivia ao momento dito agora, o som durante todo o show foi um dos melhores que vi em apresentações ao ar livre. Alto, nítido, mais limpo impossível. Vai entender.
   Bem, The Unforgiven aparece depois da pausa como se nada tivesse acontecido, arrepiando os presentes numa das mais belas canções que a banda tem. Cyanide representa o disco mais recente. Ela é bem agradável ao vivo, mas acho que Death Magnetic tem canções mais interessantes para seguirem com a banda no futuro. O frontman James Hetfield se mostra, como sempre, o carisma em forma de gente, comandando com as palhetadas, riffs e voz irretocável a apresentação. Kirk e Rob seguram a onda com perfeição também, igredientes que fazem com que cada apresentação do Metallica seja especial. Wherever I May Roam e Sad But True, clássicos do aclamado Black Álbum, causam a catarse de sempre. Depois vem a melhor parte do show. Turn The Page, cover eternizada pela banda numa versão absurda é simplesmente arrepiante,e sem tempo para rspirar, vem simplesmente a raridade das raridades, a pérola The Frayed Ends of Sanity, escondida em algum lugar no meio do clássico ...And Justice For All. A apatia de grande parte do público é assustadora, e comprova que a nossa geração se limita às mesmas músicas de sempre das mesmas bandas. Até aquelas bandas poucas que recebem a atenção não tem suas obras exploradas como se deve. Durante a dita pérola, outro problema técnico acontece, dessa vez uma afinação equivocada na guitarra de James, que já no seu riff inicial se vê obrigado a começar do zero. Nada que atrapalhe o momento. Dali para frente, vem uma sequ~encia de hinos eternos do Heavy Metal que ao vivo são sempre arrebatadores. Tome One, Master Of Puppets, Fade To Black e Seek And Destroy. Ai estava o maior acerto de um set que considerei o melhor que já vi o Metallica apresentar. 
   Ali acabava o meu gás, e assisti ao bis mais de longe, degustando desesperadamente um copo de água. Whiskey In The Jar foi o acerto, curiosamente dedicada ao eterno baixista Cliff Burton. No mais, vamos ser francos. Nem o presidente do fã clube aguenta ouvir Nothing Else Matters e Enter Sandman mais. A essa hora, já me encontrava deitado no gramado, plenamente realizado por uma noite que considero a melhor da minha vida. 
   O show do Metallica talvez tenha sido o melhor que vi da banda, apesar dos problemas citados, que, a meu ver, não atrapalharam o conjunto da obra. O set foi fantástico, e a energia entregue pelos membros foi no padrão sempre oferecido pelos mesmos. Mesmo assim, fico com a apresentação arrepiante do Motley Crue como o show da noite. Já na volta, a facilidade para pegar o ônibus um dia antes foi por terra. Vimos um show de horrores no acesso ao terminal especial, com gente sendo jogada como gado nos disputadíssimos coletivos. Bem, esse foi o resumo de uma noite que ficou para a eternidade. O festival ainda não acabou, semana que vem conto para vocês o que vi nos shows dos dias 24 e 25 próximos. 


Um comentário:

  1. Por que os metaleiros cismam de não gostar de new metal? O show foi um dos melhores da noite! Meu sonho é essa discriminação boba, sinceramente coisa de criança pirracenta, acabar um dia.

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