quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

DAVID BOWIE - BLACKSTAR

    Poucos - para não dizer nenhum - discos da história tem o apelo emocional de Blackstar, a despedida que David Bowie entregou aos fãs dias antes de morrer. O que faltava para o homem megacriativo que antecipou diversas tendências e deixou uma ampla discografia de legado? A última cartada, a última inovação que sua mente brilhante poderia realizar. Transformar a dor e sofrimento de uma morte anunciada pelas desgraças da vida em arte. Foi  essa a proposta de um homem consumido pelo Câncer no disco feito de presente aos fãs. 
     Bowie escolheu ter uma vida sossegada, com a privacidade prevalecendo, nos seus últimos anos de vida. Desde a Reality Tour (2004) ele não faz mais shows, e em 2013 rompeu o silêncio com o lançamento do bom The Next Day. Mesmo assim, depois de vários ataques cardíacos e da derradeira luta de um ano e meio contra o câncer, fazia questão de lembrar que a vida na estrada já não era mais possível. Em Blackstar o silêncio foi novamente rompido, inicialmente num clima pesado dificil de explicar. Em breve a noticia de sua morte explicou muito bem.
    O disco apresenta um clima carregado, com letras profundas e geniais autobiográficas para o momento em que foram compostas. Ouvimos um murmúrio arrepiante de um homem em sofrimento, ainda assim com a espetacular voz em ótimo estado, transformando em arte seu inevitável fim. Lazarus ganhou uma nova proporção depois da noticia, com o clipe sendo o mais perfeito possível, se encaixando perfeitamente na detalhada e complexa letra. Até aquele "todo mundo me conhece agora" - de amplo significado - aparece nela. A faixa-título é outro grande destaque. Com um arranjo amplo e magnífico viajando pelos 10 minutos e uma letra inspiradíssima, simplesmente não tem erro! Fora as duas, o maior destaque ao meu ver é Dollar Days, que lembra vagamente os momentos mais inspirados de sua carreira. Fora elas, o trabalho segue uma linha jazz/experimental, com o baixo e a bateria aparecendo em primeiro plano. Dificil avaliar muito tecnicamente um trabalho feito nessas condições, com tamanha carga emocional, mas em linhas gerais achei ele bem interessante. 
     Os fãs devem sempre agradecer o presente que David Bowie fez questão de entregar em um de seus últimos atos em vida. Blackstar apresenta momentos muito interessantes para a nossa despedida da gloriosa vida artistica de um dos maiores artistas da história da música. Muito obrigado Bowie, especialmente pelo presente final! 


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