sábado, 27 de agosto de 2016

SHOW DO ANGRA - VIVO RIO - RIO DE JANEIRO

      Não é novidade que o Angra atravessa um bom momento desde que Fabio Lione entrou na banda. Com o bom Secret Garden lançado para comprovar isso, o Angra conta agora com uma estrutura invejável para o Heavy Metal nacional, ao lado da aprovação e suporte dos fãs. Isso tudo permitiu a banda celebrar como se deve os 20 anos de Holy Land, sua obra-prima e um dos discos mais importantes lançados por uma banda brasileira de Heavy Metal em todos os tempos - eu diria até o mais importante ao lado de Chaos A.D do Sepultura. 
      E quem entrava no Vivo Rio já notava a imponência do palco. Duas baterias, percussão e teclado, cenário impecável numa casa grande onde recentemente já se apresentaram Dream Theater, Judas Priest e Blind Guardian. Se não estava em sua lotação máxima, o público era mais que digno, enchendo boa parte da pista comum - e não fazendo o mesmo na desnecessária pista premium. Para a noite, Rafael Bitencourt e Marcelo Barbosa (guitarra), Fabio Lione (vocal), Bruno Barbosa (bateria) e Felipe Andreoli (baixo) ganhariam reforços de peso. Ricardo Confessori e Luis Mariutti - bateria e baixo do Holy Land -, Junior Carelli (teclado) e Dedé Reis (percussão) são os caras que, ao lado da formação atual, fariam ser possível os complexos arranjos do disco em cima do palco. O resultado foi ótimo. 
     Com o objetivo de voltar 20 anos no tempo, o show começa no presente. Newborn Me abre o espetáculo com classe, mostrando a força de Secret Garden. Então vem uma grata lembrança de Fireworks, com a magnífica Wings of Reality deixando claro que a noite prometia. Depois vem a primeira lembrança da era Falaschi, com a sempre presente Waiting Silence. Deixa para a celebração a Holy Land ter inicio. Era diferente o clima criado, mostrando a relação especial de cada um dos presentes com esse disco fundamental. O hino Nothing to Say já chega colocando o lugar abaixo. Já pesada por natureza, vira uma bomba com duas baterias no palco em perfeita sincronia. É o início da participação mais que celebrada de Ricardo Confessori. Dedé Reis também faz a sua parte, e a batucada é digna da riqueza musical de Holy Land. Dando sequência a obra, vem a maravilhosa balada Silence and Distance. Então é hora do grande momento da noite. Uma tribal jam com o trio percussão/batera dupla da um show a parte para abrir caminho a indescritível Carolina Iv - na minha opinião a melhor música da carreira do Angra. Valverde foi tomar um ar depois da introdução, deixando para Confessori as honras de comandar a bateria. O lugar ganhou ares especiais, com a viagem promovida pela música que sintetiza o espírito de Holy Land. Em seus 10 minutos de complexa execução, o ingresso já estava devidamente pago com doses cavalares de emoção. Ainda era difícil de acreditar no que estava acontecendo, mas em discos perfeitos como o celebrado na noite, não tem tempo de respirar. A antológica faixa-título é acompanhada por palmas em seu ritmo, que mesmo passados 20 anos ainda surpreende na fusão de elementos que promove. The Shaman é tomada de assalto pelos músicos convidados, que fizeram possível sua apresentação. Nela Mariutti é recebido pelo sensacional coro de "Jesus", apesar de seu cabelo já cortado. É ele que fica responsável pelo baixo nas próximas 3 músicas do disco. A belíssima Make Believe tem Rafael nos vocais, algo que se repetiria algumas vezes. O veterano da banda na ausência do Kiko se mostra cada vez mais interessando em ser vocalista pontual. Lione reassume seu papel em Z.I.T.O, outro momento indescritível da noite. Em seu final, Rafael não deixa de brincar com o mistério em torno do título dela - um dos fatos mais peculiares da história da banda. Então pega o microfone novamente para Deep Blue - não custa dizer, outro teste para cardíaco. É assim que acontece quando um disco perfeito em cada detalhe aparece com tanta raridade num show. 
      Com o disco quase completo já apresentado, Lione brinca com seus dotes vocais invejáveis e arranca aplausos de todos. é impressionante como o carisma e talento do italiano caíram bem na banda. A viagem no tempo é interrompida para um retorno ao presente - o que inclui Andreolli e Valverde de volta ao palco. Vez da já clássica Final Light agitar os presentes. O clássico Time vem depois, como única lembrança de Angels Cry na noite que era do seu sucessor. Com Andreolli mostrando em seu solo o porque de ser citado por um Alex Webster (Cannibal Corpse) como um dos mais completos baixistas do Metal, o mesmo introduz numa aula de baixo a também nova Storm of Emotions. Então Bittencourt surge com um violão isolado, lembrando que ainda falta um detalhe para fechar Holy Land. Esse detalhe atende pelo nome de Lullaby for Lucifer. Com celulares e isqueiros para cima num show de luzes, o clima criado no lugar é outro momento memorável da noite. Ainda nesse esquema, a magnífica nova Silent Call arrepia quem soube apreciar Secret Garden - essa é para mim a mais inspirada e linda canção do disco. 
     Para retomar o peso da brincadeira, Bruno mostra porque foi chamado para o Angra num solo matador de bateria. O cover para a sensacional Synchronicity II do Police é apresentado aos brasileiros, que não esteve na sua edição de Secret Garden. Versão digna de um clássico do Rock N'Roll.  Angels and Demons, outro acerto absurdo do setlist, passa mostrando todo o poder de fogo de Temple of Shadows. Para fechar a brincadeira, a dobradinha Rebirth e Nova Era, verdadeiros hinos do Angra.
      De todos os shows da atual formação do Angra que vi, esse foi de longe o melhor. Em que pese a ausência de Kiko - vale dizer que muito bem substituído por Marcelo Barbosa -, um set simplesmente matador feito para o verdadeiro fã da banda foi apresentado com perfeição pela atual formação e seus convidados. Uma aula também para certas bandas que simplesmente não conseguem vez ou outra cortar algumas músicas para prestigiar raridades. Angels Cry, Carry On e Lisbon não deixam de serem fantásticas, mas não precisam morar eternamente no setlist. Uma banda com tantas músicas fantásticas pode se dar esse direito. 

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