quarta-feira, 21 de maio de 2014

TITÃS-NHEENGATU

  Algumas bandas já lançaram trabalhos de absoluto destaque neste ano, como o Behemoth, Hatriot, Black Label Society e o Edguy por exemplo. No mercado nacional, alem do surgimento de uma nova potência do Thrash Metal, o Jackdevil, tivemos o ''retorno'' das duas melhores bandas do Rock nacional, na minha opinião. O Raimundos lançou um disco digno do seus tempos de gloria, e felizmente o mesmo acontece agora com os Titãs.
  A banda lançou coisas fantásticas nos anos 80 e inicio dos 90, com Titanomaquia, Jesus Não Tem Dentes No País Dos Bangelas e Cabeça Dinossauro, isso para ficar em poucos nomes. Depois do Titanomaquia, a banda vem enchendo as trilhas sonoras de novelas, o bolso e o nosso saco com baladinhas chatas e que nada tem a ver com os clássicos dos grandes discos. Felizmente, com os shows que a banda fez tocando todo o Cabeça Dinossauro, uma luz bateu na cabeça dos integrantes, que entraram no estúdio para lançar o melhor disco em 20 anos. Nheengatu é recheado de letras com criticas sociais e politicas, com o peso que sempre foi a marca dos Titãs, e que o diferenciou das outras bandinhas meia-boca do BRock nos anos 80.
  De cara, uma música bem na linha do maior clássico da banda, Policia. Desta vez, a homenagem aos poliças despreparados, truculentos e corruptos, que formam uma parte considerável da corporação (vale lembrar que, obviamente, existem policiais honestos e que entregam- se de corpo e alma ao oficio para defender a população) vem na música Fardado. Essa é uma das músicas mais pesadas do trabalho, com o instrumental seguindo a letra fortíssima cantada por Sergio Britto e cheio de variações. A parte da letra que fala ''você também é explorado'' para mim resume todo o conceito que eu tenho sobre a Policia. O policial que trabalha com o coração, e depende de um salario péssimo para sustentar a família, é só mais um que sofre nas mãos do governo, o que transforma injustificável a violência gratuita contra seus semelhantes que lutam por melhorias, praticado por uma parte da corporação. Conceitos ideológicos a parte, chega então a música que para mim é a melhor do disco, e seguramente uma das melhores que a banda já fez. Mensageiro da Desgraça tem um ritmo mais lento na parte instrumental, uma bela sacada da banda, e uma letra fenomenal recitada por Paulo Miklos. Eu já escutei a música incontáveis vezes, e versos como ''Cansei da fome, do crack. Da miséria e da cachaça. Cansei de ser humilhado'' ficam na sua cabeça o dia inteiro. A letra não tem onde ser mais realista, e acaba ganhando peso com a força do tema que ela aborda. Branco Melo assume os vocais na ótima Republica dos Bananas. O ritmo é mais dançante, e a letra continua sendo uma critica social a rotina na qual os brasileiros são submetidos. Fala,Renata tem um ótimo riff feito por Tony Bellotto, cantada por Sergio Britto, que tem uma forte influência de ritmos nordestinos misturado com passagens 'rockeiras''. Cadáver Sobre Cadáver é outra canção fantástica do disco. O ritmo é bem interessante, misturado com a voz de Paulo Miklos e a letra genial. A música diz basicamente que todos somos iguais, e ninguém é melhor que o outro só por suas escolhas de vida. Uma bela mensagem para todos que se acham superiores aos demais.  Depois temos a cover de Canalha, do cantor Walter Franco, o que mostra a diversidade e o enorme conhecimento musical da banda. Pedofilia tem uma pegada bem Queens of the Stone Age, e ganha muito peso no refrão cantado com toda força por Sergio Britto, o tradicional responsável pelos vocais em músicas mais pesadas dos Titãs. Seguindo mais ou menos a mesma pegada, vem a maravilhosa Chegada Ao Brasil (Terra à Vista). Branco Mello canta outra letra pra lá de realista, sobre o que é o Brasil há pelo menos 514 anos. Eu Me Sinto Bem segue um instrumental que mistura a cadência do Ska com a velocidade do Punk/Hardcore. Ela é interessante, mas passa sem muito destaque no meio de tanta música espetacular. Flores Pra Ela critica os homens que tem uma relação de total dominação em relação a sua mulher, batendo e tratando a mesma como uma escrava ou coisa assim, e depois tentando apagar com presentes caros, fingindo que nada aconteceu. Não Pode mostra as restrições a quase tudo nessa vida imposta pela nossa sociedade, com um certo peso que dá à música um aspecto interessante. Senhor é uma sutil critica religiosa aos que fazem de tudo e pedem perdão a deus, com um instrumental muito interessante. Baião de Dois é bem pesada, e conta com uma letra marcante sobre como tudo acaba sempre na mesma por aqui, outro dos destaques do disco. Para encerrar, temos Quem São Os Animais, com uma letra fenomenal que critica todos os tipos de preconceitos que existem na nossa sociedade, com um peso fuderoso.
  Assim acaba um grande cd de Rock, com letras contestadoras e muito peso. Os Titãs realmente não lançavam há tempos algo tão bom. No momento fraquíssimo da nossa cena rockeira nacional, é de extrema importância que bandas como Raimundos e Titãs lancem trabalhos tão fortes. Isso veio na hora em que mais precisávamos, porque enquanto o Heavy Metal vai muito bem, o Rock N'Roll ''mainstream'' vai muito mal. Existe uma enorme incoerência no que é chamado ou não de Rock nos dias de hoje, e uma banda que conquistou tudo o que os Titãs conquistaram neste cenário precisava dar uma resposta dessas. Esperamos que de onde saiu isso, venha muito mais da garotada, que se influêncie menos por Restart, Fresno, Nx Zero e Detonautas, e mais por Titãs, velho e novo.

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